terça-feira, 28 de outubro de 2008

DITADURA DOS ORIENTADORES?

Os comentários da Arnes sugerem-nos algumas reflexões que vamos procurar levar a cabo.
Talvez algumas das questões não sejam as mais urgentes para serem discutidas, mas não queremos deixar passar esta oportunidade, um pouco ao correr da pena e por isso carecendo, em certos aspectos, talvez da necessária coerência.

PARTE I

O Policiário enquanto espaço lúdico, na sua vertente competitiva tem, desde sempre, algumas especificidades estruturais, que o tornam um pouco diferente de todos os outros desportos intelectuais.
No Xadrez, nas Cruzadas, nas Charadas, etc., há sempre uma componente mensurável, regras matemáticas para avaliação dos desempenhos. Em todos estes desportos há uma intervenção única e absoluta dos participantes, sem necessidade de regulação. Em cada jogo, em cada desafio, há um acertar ou um errar, há um tudo ou um nada; há um branco ou um preto e essa característica elimina a conflitualidade.
Pode pôr-se em causa se uma charada só tem aquela solução, se umas Cruzadas só admitem uma palavra, etc., mas a discussão nunca ultrapassa esse âmbito restrito e localizado, quase sempre resolúvel pela intervenção de documentos escritos (dicionários) aceites por todos, não dependendo, assim, de uma interpretação pessoal, sempre arbitrária.
Ora, uma das riquezas do Policiário reside precisamente aí. E aí reside, também, um dos seus pontos mais frágeis.
Falamos da dependência do subjectivo das avaliações efectuadas pelos orientadores dos espaços, factor responsável pela quase totalidade dos conflitos existentes.
Um produtor elabora o seu desafio. Este é lido e interpretado pelo orientador, que define o critério de avaliação e o aplica, prova a prova, sem necessariamente ser igual em todas. Depois, cada decifrador encontra o seu caminho, define as suas prioridades, cria a sua própria avaliação, na maior parte das vezes diversa da do orientador, desenvolve as suas expectativas, que o orientador pode vir a frustrar, bem ou mal.
E o choque pode acontecer.
A fragilidade maior é, pois, a excessiva dependência de uma só cabeça (do orientador), na definição das classificações.
Temos, pois, uma riqueza que é a nossa diversidade, a variedade de temas e de abordagens, quase até ao infinito, mas temos como contrapartida um poder excessivo de uma só pessoa na análise das situações.

PARTE II

Ao longo dos tempos foram procuradas soluções para estas questões: Júris de selecção das provas; júris de definição de critérios; obrigatoriedade de serem os autores a definir como querem que os seus desafios sejam classificados; indicação nas soluções dos pontos que cada pormenor ou situação vale; etc.
De uma forma ou de outra, todas as tentativas produziram algum efeito, mas mantiveram a sua subjectividade. Não é por um autor definir o seu critério que ele passará a ser mais justo; muito menos se não houver um elemento que concilie e dê uma unidade ao conjunto dos problemas que fazem um qualquer torneio.
Não nos chega que os concorrentes diagnostiquem as dificuldades, precisamos, isso sim, de propostas para as solucionar. E, com toda a franqueza, ainda as não encontrámos.
Júri para seleccionar as provas e definir critérios de classificação?
As experiências do passado não resultaram e não foi por os seus membros não terem qualidade ou sensibilidade. Outros factores relacionados com o trabalho de equipa emperraram sistematicamente o sistema, tornaram-no ingovernável e após algumas tentativas estavam apenas um ou dois dos membros em actividade, acabando por ser o orientador a terminar o trabalho sob pena de nem haver torneios. Também o alargamento do número de pessoas com conhecimento da totalidade das provas levantou sistematicamente suspeitas – acreditamos que infundadas, mas sempre suspeitas! – de haver fugas de informação.
Quanto à definição pelo próprio autor dos critérios, a falta de coerência será, sempre, uma realidade. Cada autor define as suas prioridades, pode valorizar factores menos certeiros, criar conflitos extra, em cada prova e, pior que isso, encontrar vencedores artificiais, com base em pormenores duvidosos.
Pergunta-se, neste caso, se a intervenção do orientador seria legítima ou viável, para repor alguma unidade de procedimentos? Não seria uma ingerência nos critérios do autor?

PARTE III

Chegamos às situações colocadas no blogue.
Numa primeira fase a ARNES, levanta a questão de um maior rigor do orientador da secção na avaliação dos seus próprios desafios, em detrimento da que faz nos dos outros.
É pertinente essa questão.
Um autor sabe o que quer fazer com o seu problema e o que quer que os outros façam com ele. Tudo bem.
Mas a questão colocada é derivada mais das hecatombes classificativas, que a ARNES refere que seriam semelhantes se os outros problemas fossem avaliados com o mesmo rigor.
Para nós, a questão é simples: Cada problema é um problema.
A maioria dos desafios publicados ultimamente são dos chamados de "caça aos erros", em que os seus autores espalham pelo texto muitos erros e pretendem que estes sejam penalizados. Ora, o nosso critério de classificação varia entre os 7 e os 10 pontos, ou seja, há apenas um desnível de 4 pontos entre quem marca presença e diz alguma coisa, mesmo que totalmente errada e aquele que responde cabalmente a tudo. Nessa conformidade, como classificar 9 ou 10 pormenores de erros? Com o rigor de 1 pontos por cada é impossível; pelo seu agrupamento pode ser penalizador para alguns; depois há os pormenores que verdadeiramente o não são, mas que os autores pretendem que sejam; também há os que são, mas não estão devidamente enquadrados no texto, para que os decifradores lá cheguem; e qual a margem que podemos conceder pelo seu (do pormenor) enquadramento na solução mais vasta, porque uma solução não pode ser apenas o mencionar de 10 erros, sem mais?
Um problema de índole absolutamente dedutível, tem que ser avaliado com muito mais rigor porque o que está em causa não é o esquecimento de um pormenor, mas sim a decisão de todo um raciocínio! O falhanço de uma análise pode conduzir ao erro completo das conclusões e isso tem que ser penalizado fortemente, porque se isso se passasse na vida real, um detective investigava mal, acusava pior, atirava uma pessoa para uma prisão, indevidamente!
Num problema de erros, o decifrador pode chegar ao criminoso apontando 9 ou 10 factos que o incriminam, dos quais 5 não são apontados pelo autor, mas esquece 2 ou 3 que o autor lá coloca.
Como devemos classificá-lo?
Atribuímos-lhe os 7 pontos, sem mais? Vamos dar-lhe os 10 pontos porque ainda foi além do autor em 2 ou 3 pormenores?

PARTE IV

Em resumo, na questão dos problemas e da sua gestão, o sistema ideal ainda não chegou, como em quase tudo na nossa vida. O ideal, ideal, seria que os problemas fossem analisados por peritos de mérito reconhecido, que testassem completamente todos os pormenores e situações e avaliassem concretamente o peso de cada indício, elaborando uma tabela para classificação. Claro que seria aleatória, subjectiva, mas era a que serviria para todo o torneio.
Essa comissão de peritos, apontaria erros e recomendaria aos autores alterações aos problemas e /ou às soluções, para que nada escapasse.
Depois, perante a selecção efectuada, seriam publicados. Mais tarde, seriam avaliadas as propostas de solução segundo o critério definido para cada caso.
Não existindo nenhum destes órgãos periciais, será o orientador que continuará a definir as provas, enquadrar os pormenores que merecerão ser penalizados e a aplicar as grelhas que ele mesmo define para que ninguém saia prejudicado, assumindo claramente que é muito mais rigoroso nas questões de raciocínio e de análise do que no acertar de 10 ou 12 falhas que haja no texto do problema.

domingo, 26 de outubro de 2008

SOLUÇÃO DA PROVA N.º 8

CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL
SOLUÇÃO DA PROVA N.º 8
O INSP. FIDALGO E A MORTE NA AJUDA

A vizinha esteve em permanente plantão e tomou nota de todos os movimentos em redor, pelo que não lhe poderia escapar qualquer aproximação de um estranho, nomeadamente no período em que o cão não esteve por lá, ou seja, entre as 14 e as 16, mais coisa, menos coisa, intervalo em que ela mesma assinala que o filho da vítima lá foi buscar e levar o cão.
Face às suas próprias afirmações, ninguém poderia entrar ou sair sem ela ver. Viu, inclusivamente, o Januário bater à porta e não obter resposta, deixando uma nota por baixo da porta.
Não havendo qualquer indício de coligação entre a vizinha, o Januário, ou o filho da vítima, o depoimento dela iliba completamente o visitante, apesar de ele também ter algumas lacunas no seu depoimento, nomeadamente ao afirmar não estranhar o cão não estar lá fora, no quintal, porque às vezes o metiam lá dentro, mas também não estranhar que ele não lhe ladrasse lá de dentro (se lá estivesse) quando bateu à porta, ou afirmar que a campainha não tocava, sem explicitar o porquê:
- Seria por saber que não havia corrente eléctrica?
- Ou seria por a campainha estar pendente, presa pelos fios e presumir que não funcionava?
- Ou ainda, seria por ter conhecimento de que ela nunca tocava?
Apesar dessas falhas, fosse ele mentiroso ou apenas distraído, isso não faz dele criminoso e, neste caso, sem qualquer oportunidade para cometer o crime, debaixo da vigilância cerrada da vizinha atenta.
O Januário está, pois, fora da lista dos suspeitos.
A vizinha curiosa é a suspeita seguinte.
Teve oportunidade e tempo bastante para cometer o crime.
Assistiu à partida do cão e logo aí teve a sua oportunidade. Poderia descer, bater à porta, esperar que o idoso lhe franquiasse o acesso e depois, por qualquer factor que não nos é dito, consumar o atentado contra a sua vida. Como não temos descrição da sua compleição física temos de aceitar essa probabilidade.
Só que o filho da vítima afirma que foi devolver o cão depois das 15.45 horas e entrou para dizer ao pai que o animal já lá estava e que não devia brincar com ele. Portanto, pela afirmação do filho, o pai estava vivo àquela hora.
Para poder cometer o crime após essa hora, outros obstáculos havia:
- Em primeiro lugar, o cão já lá estava, o que, não sendo um impedimento absoluto (não sabemos que relação tem essa vizinha com ele, até podia ser pacífica), certamente ele reagiria quando fosse para ela sair, porque qualquer cão detecta o mal feito aos seus donos.
- Em segundo lugar e isso é determinante, o filho da vítima afirma que deixou o pai a temperar uns bifes para o jantar, antes das 16.00 horas (hora a que refere já estar no emprego, certamente confirmado posteriormente), mas a descrição feita pelo Inspector Fidalgo depois das 20.00 horas indica que há dois bifes prontos para cozinhar, com lâminas de alho, sal grosso e aparas de folha de louro, o que é incompatível com tantas horas de exposição, sobretudo no que se refere ao sal grosso, que em contacto com a carne já não poderia ser visível. Ora, mesmo que a vizinha cometesse o crime apenas alguns minutos antes da chegada do filho da vítima e fosse ela a reforçar o sal nos bifes (embora esse acto não fizesse nenhum sentido), o tempo decorrido até à chegada do Inspector (o filho chega, vê o que se passa, chama a polícia, espera por ela, vai ajudar a agarrar o cão, espera pelo Inspector...) era mais que suficiente para que o sal desaparecesse de cima dos bifes.
Portanto, a hipótese da vizinha ser a responsável pelo crime cai por terra, também por não ser imaginável que um filho ao ver o pai morto inesperadamente e de forma violenta fosse, ele mesmo, preocupar-se com o tempero de uns bifes, minutos antes da chegada do Inspector.
A vizinha é, assim, completamente ilibada.
Afastada a hipótese de alguém exterior ter ido cometer o crime, pela vigilância da vizinha e de esta o cometer, restam-nos as hipóteses do suicídio, do acidente ou do homicídio cometido pelo filho.
Relativamente ao suicídio e ao acidente, a natureza e a localização do ferimento, bem como o instrumento agressor não são compatíveis.
O bastão tinha sangue e cabelos numa ponta, algumas crateras a meio, parecendo marcas dos dentes de cão. Aventou-se a hipótese de o sangue e cabelos poderem ser do ferimento do cão, mas nem ele entrou em casa nem o velho veio à rua depois do filho sair de manhã, como confirmam as várias fontes e por isso, em momento algum o bastão e o cão se cruzaram naquele dia. O próprio filho refere que entrou em casa apenas para dizer ao pai que o cão já lá estava e recomendar que não brincasse com ele e mais tarde diz que, ao chegar do trabalho, ficou alguns instantes com o Rex a ver se estava tudo bem e depois entrou… As marcas certamente eram dos dentes do cão, mas feitas anteriormente, nas brincadeiras que os vizinhos descrevem. O sangue e os cabelos foram provocados pelo ataque à vítima.
Para além de não existirem quaisquer indicadores de suicídio, a localização do ferimento, na zona da nuca, inviabiliza essa hipótese, tanto mais que o bastão aparece num canto da cozinha e não junto da mão da vítima. A hipótese de acidente padece dos mesmos constrangimentos. Não é crível que alguém bata acidentalmente contra um bastão num extremo de uma cozinha e vá cair de bruços a alguma distância. Poderia, isso sim, ter escorregado e caído com violência com a nuca sobre o bastão, mas nunca o corpo ficaria de bruços e muito menos o bastão a tal distância.
Resta-nos o homicídio, praticado pelo filho.
Ele é o único que tem a oportunidade e comete alguns deslizes comprometedores.
A casa tem abastecimento de água de um furo accionado electricamente. Se a corrente esteve interrompida, o motor não pôde funcionar. No caso, haveria um depósito com alguma capacidade porque o filho afirma que se zangou com o pai por este estar a regar o jardim (por isso esgotar a água do reservatório), ao ponto de ele só poder tomar um duche e nem para lavar os dentes sobrar!
A conclusão é de que não tinham ligação à rede pública (terão passado por muitas dificuldades há uns anos, como refere a vizinha), pois nesse caso não havendo água do furo, haveria da rede.
Com a água completamente esgotada (nem um simples copo para lavar os dentes), a pergunta a fazer é qual a origem da que se encontra dentro da panela que aguarda as batatas. O velho não veio mais à rua, o filho não levou nenhuma vasilha quando lá foi e a luz eléctrica só regressou após as 20 horas, ou seja mais ou menos pela altura em que o filho diz ter encontrado o pai morto. Portanto, apenas ele poderia ter enchido a panela, depois da luz regressar.
A mesma situação com o tempero dos bifes, que apenas foi feito naquele momento e já como encenação do que ia ser exibido à polícia.
Depois, apenas ao seu dono principal, digamos assim, o cão perdoaria ter feito mal ao seu outro dono, apesar de estar muito excitado, ao ponto de ter sido difícil prendê-lo com mais vigor para permitir a entrada da polícia.
A conclusão é, pois, óbvia: O filho eliminou o próprio pai.

TERTÚLIA POLICIÁRIA DA LIBERDADE

Depois de muitos "estudos e projectos", a Tertúlia da Liberdade tomou algumas decisões que entram em vigor já no próximo mês de Novembro, a saber:
- Passa a reunir na primeira quarta-feira de cada mês e não na última, como era habitual, sendo a sessão inaugural já no dia 5 de Novembro, a partir das 12.00 horas.
- Muda o seu local de reunião para o restaurante/esplanada das instalações do Museu do Teatro, sito na Estrada do Lumiar, n.º 10, paredes-meias com a Igreja do Lumiar, que "fornece" o espaço para estacionamento.
Segundo os decisores, esta solução é amplamente vantajosa para todos os confrades interessados, por haver ganhos de qualidade no serviço e ainda acessos e estacionamento mais fáceis.
No dia 5 de Novembro, vamos todos testar essas melhorias, comparecendo em grande número e praticando uma das nossas vertentes mais importantes: o Convívio!

sábado, 25 de outubro de 2008

SOLUÇÃO NO DOMINGO!

O caso do Inspector Fidalgo na Ajuda, vai ser resolvido nas páginas do PÚBLICO, na nossa secção Policiário, já no próximo domingo, dia 26 de Outubro!
Depois de muitos atrasos, vai ver a luz do dia!
O Inspector chama a atenção de todos os "detectives" para o modo como a investigação foi conduzida e por isso vai publicar aqui mesmo essa solução para que todos possamos discuti-la.
Num problema que quase todos os participantes consideraram muito acessível, ao ponto de alguns considerarem que não parecia ser do Inspector Fidalgo e até que não teria dignidade para encerrar o Campeonato Nacional, certamente vai haver muitas surpresas e os resultados vão dar conta disso.
Uma vez mais referimos que não é preciso grandes temas nem grandes pormenores para se produzirem desafios capazes de causar mossas classificativas.
Este problema foi construido para ser a demonstração disso mesmo. Tinhamos a quase certeza de que a enorme maioria dos nossos "detectives" iam facilitar, avançado deliberadamente para as conclusões, sem seguirem o rumo correcto da investigação, acabando por não provar nem ilibar correctamente. Partindo de um caso corriqueiro, banal, com todos os pormenores à vista, com poucos intervenientes e com um assassino óbvio, o Inspector Fidalgo desenvolve a sua investigação de forma sistemática e elabora um relatório com deduções seguras, a que a esmagadora maioria dos "detectives" não deu atenção ou chegou a desprezar.
Uma investigação só se pode dar por terminada no exacto momento em que todas as questões estejam respondidas, em que todas as hipóteses tenham sido consideradas e eliminadas, em que inequivocamente tenhamos chegado ao criminoso, com provas seguras e inatacáveis.
É essa a beleza do nosso passatempo!
O Inspector Fidalgo espera ter conseguido aguçar o apetite dos nossos confrades para a discussão que está desde já marcada, aqui, a partir de domingo, com a presença de todos!
Até lá!

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

O INSPECTOR FIDALGO E A MORTE NA AJUDA

Caros confrades:
Publicamos hoje a última prova do Campeonato Nacional da época passada, a que se seguirá, nos próximos dias, a respectiva solução.
Como vai ser assim com todas as provas da presente época, esta publicação servirá de um teste para que os confrades verifiquem aquilo que pretendemos ao colocar em debate os problemas e as soluções.
Ora tomem nota:



CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL
PROVA N.º 8
O INSP. FIDALGO E A MORTE NA AJUDA
DE: INSP. FIDALGO (MARINHAIS)




Naquele dia de calor, de um mês de Junho particularmente quente, o Inspector Fidalgo foi chamado a uma vivenda modesta, na zona da Ajuda, em Lisboa, onde ocorrera uma morte violenta, ao que dizia o agente da polícia que tomou conta da ocorrência.
O que se deparou ao Inspector Fidalgo não era agradável. A casa era simples, térrea e com uma traça que indiciava ter-se tratado de construção para habitação social. Em redor, um pequeno jardim, mal arranjado, excepto nas traseiras em que havia uma horta minimamente cuidada - onde se via, num extremo, um contador eléctrico, com a porta danificada, que alimentava o motor do furo da água -, que contornava toda a casa, onde se encontrava um cão amarrado por uma forte corrente, ensanguentado na zona do pescoço, não sendo possível saber, naquele momento, se foi originado pela luta para o agarrar, se pela corrente a que se encontrava preso, se por outro motivo qualquer.
- Foi muito difícil prendê-lo, sr. Inspector, muito mesmo… - referiu o guarda.
O muro exterior, bastante degradado, mostrava uma cancela que já vira melhores dias e a campainha suspensa pelos próprios fios eléctricos, não funcionava, como o Inspector testou. De resto, durante todo o dia não houve energia eléctrica, por causa de uma avaria qualquer numa central e só depois das 20 horas regressou.
Lá dentro, na cozinha pequena, o corpo da vítima estava estendido de bruços, ostentando um ferimento na zona da nuca, muito violento e profundo, certamente a causa da morte.
Em cima da bancada, de limpeza muito duvidosa, dentro de um prato raso, dois bifes temperados e prontos para cozinhar, com alho cortado em lâminas e sal grosso, com umas aparas de folha de louro. Mais adiante, algumas batatas no lava louças, aguardando a preparação, certamente para cozer, já que uma panela com água estava colocada em cima de um dos bicos do fogão, esperando apenas que a chama fosse accionada.
Num dos cantos da cozinha, um tronco de madeira, de forma semelhante a um bastão, ostentava, num dos extremos, sangue e cabelos, certamente da vítima. Mais ou menos a meio, viam-se pequenas incisões e crateras, que o Inspector Fidalgo pensou serem marcas dos dentes do cão. Parecia ter sido a arma do crime, mas também podia ser, apenas, a causa do ferimento do cão.
Questionados os vizinhos, estes confirmaram que o velho vivia com um filho e não souberam apontar qualquer atrito que houvesse entre eles, bem pelo contrário, parecia que o filho era trabalhador e delicado e que se davam muito bem, sendo frequente vê-los a brincarem com o cão, atirando-lhe um pau que ele ia buscar de imediato.
Uma vizinha apercebeu-se, durante a tarde, que o cão não esteve lá entre as 14 e as 16 horas, mais coisa, menos coisa, porque o filho o foi buscar e mais tarde devolvê-lo. Disse, também, que o velho não saiu de casa depois do filho sair de manhã, nem abriu a porta a um vizinho, chamado Januário, que lá foi bater e até escreveu um papel que meteu por baixo da porta.
Depois assistiu a toda a confusão, com a polícia a chegar. Tinha a certeza de que ninguém podia entrar ou sair daquela casa sem que ela notasse, porque do local onde estava tinha uma visão completa das portas e janelas.
- Não sei o que dizer… É muito triste tudo isto. O meu pai não fazia mal a uma mosca e não conheço ninguém que lhe quisesse mal. Hoje, o dia não correu nada bem. Logo de manhã, quando acordei, já não havia electricidade. Tomei um banho a correr porque o meu pai, andava a regar a horta que tem nas traseiras e zanguei-me com ele porque nem tive já água para lavar os dentes! Depois, fui trabalhar, como sempre faço. Mais ou menos às 14 horas vim buscar o Rex, o meu cão, para ir ao veterinário. Estive lá com ele até por volta das 15 e 45 e assim que o veterinário acabou o tratamento do animal, trouxe-o para casa. Entrei só por um instante para dizer ao meu pai que o Rex já ali estava e que ele devia ter cuidado com as brincadeiras com ele porque levou alguns pontos junto ao pescoço, no local em que lhe tirou um quisto bem grande. Ele ficou na cozinha, quando me fui embora, a temperar uns bifes para o nosso jantar.
Mais ou menos às 16 horas já eu estava no emprego e estive lá até às 19 e 30. Fui beber uma cerveja com os meus amigos e mais ou menos às 20 horas já estava em casa. Estive alguns momentos com o Rex a verificar se estava tudo em ordem e depois entrei e dei com o meu pai assim. Telefonei logo para a Polícia e esperei pelos agentes. Não mexi em nada e só lá fui fora para agarrar o Rex para os agentes poderem entrar.
Ah! É verdade. Quando cheguei há um bocado estava este bilhete debaixo da porta…
Mostrou ao Inspector Fidalgo uma folha de papel que dizia:
" Sr. Morais, estive cá hoje para lhe falar. Não posso continuar zangado consigo. Certamente que se falarmos tudo direitinho, vamos chegar à conclusão que tudo não passou de um malentendido e que podemos ser amigos como sempre fomos durante mais de 40 anos.
Peço-lhe que me ligue logo que possa para acabarmos com esta zanga sem pés nem cabeça. Januário (telefone…)".
Convocado o sr. Januário, este mostrou-se muito incomodado por ser a polícia a ir buscá-lo a casa e apresentou-se muito apreensivo…
- O sr. Morais apresentou queixa contra mim? Mas eu só vim para fazer as pazes com ele, nada mais. Só entrei porque a campainha não funciona e por isso bati à porta duas ou três vezes. Não me lembro a que horas foi…Como ele não abriu a porta, deixei um bilhete, mais nada. Eu não fiz mais nada, juro…
A nossa zanga foi por causa do cão dele que passava a vida a fazer desacatos na minha horta, quando andava à solta. Agora isso já não acontece e o cão está sempre no jardim dele. Já não havia razão para mais zangas… Não achei estranho o cão não estar cá fora, porque às vezes ele punha-o dentro de casa, acho que por causa do calor, não sei…
Quando foi confrontado com a morte do Morais, pareceu ficar em estado de choque e não conseguiu dizer mais nada, apenas balbuciava "não fui eu, não fui eu!".
A vizinha que tudo notava e via, estava inconsolável. Então não era que tinha acontecido uma desgraça, ali mesmo, ao pé da sua janela e não deu conta de nada? Como é que isso poderia ter acontecido?
Já à guisa de despedida, ainda acrescentou para o Inspector Fidalgo, em surdina:
- Sabe, era boa pessoa e o filho também, mas a vida não lhes foi fácil. Há uns anitos estiveram quase a perder a casa, mas lá conseguiram dar a volta. Sabe o que acho? Isto foi obra do diabo…

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

FOTOS COM HISTÓRIA

Duas fotos com história. A primeira é do SETE DE ESPADAS na sua tarefa de fotografar os outros!
A outra foto vale por muitas palavras!
Tirada ainda nos anos 70 ou princípios de 80 do século passado.
De uma só assentada, temos o SETE DE ESPADAS com a barba branca; a PAL, de Algés (grande Mulher e Camarada, sempre disponível, infelizmente já falecida) a mostrar-se atrás; o DETECTIVE MISTERIOSO, atrás, de óculos, outro exemplo magnífico de amizade e camaradagem, de Cacilhas, também já falecido, precisamente num domingo em que o coração o traíu quando saia de casa para um Convívio Policiário; o confrade O GRÁFICO, de Almada, no extrmo oposto, um dos policiaristas mais completos, que foi seccionista durante alguns anos em que manteve, praticamente sózinho, bem acesa a chama do Policiário.


Completam a foto dois confrades que não conseguimos identificar. Quem é a outra senhora? E o confrade ao centro (Apuleius?), quem será? Alguém nos ajuda?
Memórias...

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

ESTE BLOGUE

A criação deste blogue teve subjacente a ideia de que há muitas coisas no Policiário que ficam à margem da imensa maioria dos participantes neste passatempo.
Uma das coisas que mais marcava pela ausência, era a discussão dos problemas, a admissão aos leitores de propostas alternativas e divergentes em relação às conclusões retiradas pelo autor. Umas vezes – quase sempre - por manifesta falta de espaço, mas muitas vezes para não alimentar polémicas infindáveis.
Com este blogue, tudo muda radicalmente e vamos passar a ter o espaço necessário para aprofundarmos todos os temas que pretendermos.
Assim, já nesta época 2008/2009 - que abriu agora no Policiário do PÚBLICO e cujo primeiro desafio foi publicado em 2008.10.12 -, vamos também publicar todos os desafios que saírem no jornal.
Depois, terminado o prazo para envio das propostas de solução e encerrada a recepção das mesmas, após a publicação da solução oficial no jornal, colocaremos aqui as soluções mais relevantes – desde que nos sejam enviadas em suporte informático – e iniciaremos um debate sobre o próprio desafio.
Não haverá barreiras à discussão e, com ela, esperamos poder apontar novos caminhos, dar sugestões a próximos produtores, apontar alternativas que poderiam ter sido aproveitadas pelo autor para melhor concretizar o seu desafio. Mas também dar oportunidade ao produtor de se defender das críticas que lhe forem feitas.
Pretendemos que haja polémica, bem alicerçada em argumentos válidos e sérios.
Queremos que os policiaristas mais experientes ponham ao serviço dos restantes a sua prática de decifração.
Queremos, em suma, que todos venham a terreiro expor os seus pontos de vista, para que todos possamos ficar a ganhar.

PROVA N.º 1

O Campeonato Nacional 2008/2009 começou esta semana.
Aqui fica a primeira prova, de autoria de MR. IGNOTUS:


CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL

PROVA N.º 1 - "UM CRIME NO OUTONO" - Original de Mr. Ignotus

Se há coisa que detesto é obrigarem a concentrar-me totalmente em situações nada agradáveis, (como sempre acontece quando se investiga um homicídio) quando o que apetece é deixar-me absorver por toda a magestática beleza da natureza. Acresce que sou particularmente sensível e estas deambulações contemplativas quando um belo dia outonal nos convida a percorrer os jardins, atapetados de folhas de mil cores, em que o sol, coado por entre as ramagens, cria um ambiente de tonalidades impares, dignas da tela de qualquer mestre pintor.
Foi por isso que fiquei furioso quando, num dia assim, recebi uma chamada, convocando-me com urgência à cena de um crime, que acabava de chegar ao conhecimento de um meu amigo, Inspector da Judiciária. Não fora o "bichinho" que sempre tive por mistérios e não trocaria a alameda do parque, por onde extasiado passeava, pelo táxi que me levaria à moradia onde o caso ocorrera.
É claro quer ia de mau humor e, por isso, em vez da conversa que habitualmente tinha com o Inspector, antes de me por a coscuvilhar tudo e a dar palpites, limitei-me a pedir-lhe que me mostrasse as notas que já tinha recolhido, de onde me ressaltou logo a particularidade dos nomes de todos os envolvidos começarem pela letra "B":
Bártolo chamava-se a vítima. Era um professor/investigador de história, já aposentado, que granjeara fama internacional na leitura de códigos, cifras e outras formas de ocultar mensagens, que os respectivos autores consideravam importante só serem do conhecimento de alguns;
Bárbara era o nome da governanta, que trabalhava para a vítima há mais de vinte anos. Mulher possante e com ar laborioso, andava pelos cinquenta anos. Era a dona da casa, desde a morte da patroa. Fora ela que descobrira o cadáver, cerca das 12 h., e logo chamara a polícia, jurando que em nada mexera.
Basílio, sobrinho da vítima, tinha boa figura física e melhor aparência. Andaria pelos 35 anos, bem vividos à custa da fortuna herdada por morte dos pais. Presença assídua junto do jet-set, mantinha-se solteiro e, ultimamente, constava que atravessava uma fase difícil em resultado de maus investimentos que fizera.
Belmiro era, em tudo, a antítese do primo: fisicamente baixote, usava óculos de lentes fortíssimas, que lhe desfeavam o rosto. Modesto funcionário público vivia em permanentes dificuldades para sustentar a família. Desde a morte dos pais era o tio que muitas vezes o ajudava economicamente, pois possuía amplos recursos para o fazer.
Quanto à hora da morte estimava-se que ocorrera cerca do meio-dia, provocada por traumatismo craniano resultante de forte pancada, com objecto ainda não identificado, na tempora direita, considerando o médico legista que a morte ocorrera mais de uma hora depois da agressão.
O crime acontecera no escritório, que estava impecavelmente limpo e arrumado. Era uma sala de rés-do-chão, recoberta de estantes com livros, com uma porta para o hall de entrada e uma janela para o exterior, junto da qual estava a secretária onde Bártolo tombara morto, como que adormecido sobre alguns papeis, ainda segurando a caneta.
O interrogatório preliminar pouco acrescentava: Bárbara, após servir o pequeno-almoço e com o patrão já no escritório, saíra cerca das dez e tal para fazer compras, regressando poucos minutos antes de ter chamado a polícia; Basílio indicou o nome de uma amiga com quem estivera a tomar café e a conversar, entre as dez e as doze e Belmiro dissera ter estado a trabalhar desde as nove e trinta até à hora de saída para almoço. O Inspector já mandara conferir os três álibis, aguardando os resultados das diligências.
A casa já fora passadas a pente fino e não fora encontrada a arma do crime. No exterior, junto à janela do escritório, as folhas mortas sobre o pequeno canteiro tinham marcas de terem sido pisadas, sendo notória a força exercida pela biqueira dos sapatos. Na secretária, sob o cadáver, estava uma folha manuscrita, em letra algo trémula, com algumas frases, aparentando ser apontamentos recordatórios:
- Os reis magos ofertaram mirra; Primeiro foi mulher de João Lourenço da Cunha; Consultar "Quadros da História de Portugal" e "A Inquisição"( que estava aberto, na secretária); A Santa era filha de D. Pedro III de Aragão; Casou com o Imperador Carlos V (Alemanha); Confirmar citações em "O Príncipe Perfeito" e "Os Filhos de D. João I"; Apenas três Papas escolheram este nome (393/1154).
Pedi ao meu amigo que inquirisse de Bárbara se a janela do escritório estava aberta ou fechada e, entretanto, fui dando uma vista de olhos pelas lombadas dos livros.
- "Quando regressei estava fechada, declarou. Mas em dias assim o Senhor Dr. tinha-a sempre aberta Eu até estranhei quando, da rua, a vi assim".
Pouco depois soube o resultado das diligências: ambos os sobrinhos e únicos parentes da vítima mentiram, pois não tinham justificação para o que haviam feito durante meia hora, do período definido pelo médico legista. Mais, o café distava cerca de cinco minutos da moradia e o emprego ficava a dez minutos.
Juntei estes elementos às notas que possuía, consultei um dos livros da biblioteca, escrevi mais alguns apontamentos e depois de alguma concentração declarei ao meu amigo já saber quem era o criminoso e como algumas coisas ocorreram.
São para elaborar estas conclusões que convido os nossos confrades.

E pronto.
A tarefa seguinte é elaborarem as propostas de solução para este enigma e enviá-las, impreterivelmente até ao próximo dia 28 do corrente mês de Outubro, para o que poderão usar um dos seguintes meios:
- Pelos Correios para PÚBLICO-Policiário, Rua Viriato, 13, 1069-315 Lisboa;
- Por e-mail para policiario@publico.pt;
- Por entrega em mão na redacção do PÚBLICO, na morada acima indicada;
- Por entrega em mão ao orientador da secção, onde quer que o encontrem.
Boas deduções!

domingo, 12 de outubro de 2008

COIMBRA 1976







Dezenas de miúdos rendidos ao Policiário, pela mão do SETE DE ESPADAS.
De Lisboa partiu um autocarro e os pais da miudagem foram levá-los ao Martim Moniz, para os recomendarem ao SETE, que viam pela primeira vez!
O SETE, qual avô de toda aquela malta sedenta de convívio e de Policiário, para todos deixava o seu sorriso franco, desarmante. Nenhum pai partia com dúvidas ou receios: Com o SETE estavam todos bem!
Coimbra 1976, mês de Março.
A secção do SETE - na revista MUNDO DE AVENTURAS, uma publicação de Histórias aos Quadradinhos da Agência Portuguesa de Revistas - que se chamava MISTÉRIO...POLICIÁRIO, festejava o I Aniversário e eram centenas os concorrentes, na sua maioria jovens estudantes.
Numa época em que ler ainda era quase uma aventura, o SETE era uma âncora para toda a miudagem...
Uma aventura de sucesso, que faz com que o SETE seja, ainda hoje, acarinhado e elogiado pela grande maioria destes miúdos, hoje mulheres e homens que o guardam num cantinho das suas recordações, como peça importantíssima no seu processo de formação.
Muitos ainda se mantém no Policiário, outros seguem-no à distância, mas a recordação desses tempos está lá.
Mais de 30 anos depois, quem se reconhece nestas fotos e quem reconhece quem?

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

CONVÍVIOS POLICIÁRIOS


Os Convívios eram, para o SETE DE ESPADAS, uma das componentes principais do "seu" Policiário. O conhecimento das pessoas era essencial.
Desde muito cedo começou a organizar encontros e as três primeiras fotos documentam aquele que foi o Primeiro Convívio Policiário ocorrido em Portugal, há mais de seis décadas!
Foi em Ponte de Sôr e o SETE DE ESPADAS esta lá, de casaco de trespasse e bigodinho!
A outra fotografia documenta o primeiro convívio depois do reaparecimento do Policiário, em 1975, em Santarém, onde estiveram SETE confrades, a quem o nosso SETE DE ESPADAS apelidou de "Os Sete Magníficos"!
Sob o signo do SETE, quem sabe dizer quem esteve em Ponte de Sôr e quem esteve em Santarém?
Memórias que ficam de muitos confrades que já partiram na sua derradeira viagem...

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

PRIMEIRA SECÇÃO


Assim começou o SETE DE ESPADAS uma longa e ainda não terminada carreira de seccionista policiário!

Foi no Jornal de Sintra e decorria o ano de 1947, mês de Janeiro, dia 12!

Começou uma nova era que veio até aos nossos dias!

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

PRIMÓRDIOS DO POLICIÁRIO


M. Constantino, um ensaísta e estudioso do Policiário, na sua obra "O Grande Livro da Problemística Policiária", edição da Associação Policiária Portuguesa, revela que tudo começou com uns "Foto Mistérios" trazidos por Gentil Marques, o Repórter Mistério, para a "Vida Mundial Ilustrada", em meados da dácada de 40 do século passado.

Mas foi pela mão do inevitável SETE DE ESPADAS que o Policiário se impôs como modalidade de desporto intelectual, com imensa participação da juventude, quer no Camarada, publicação da Mocidade Portuguesa, quer no Cavaleiro Andante, revista de Histórias aos Quadradinhos e, mais tarde, no Mundo de Aventuras, onde quase todos nos iniciámos.

O Sete de Espadas, para nós apenas o SETE, é o PAI do Policiário moderno, participativo, que não se limitava a ser apenas para ser lido e respondido, mas também para ser acompanhado, quer em Tertúlias Policiárias, nas cidades, vilas e até aldeias, quer em Convívios levados a cabo um pouco por todo o país, organizados pelas Tertúlias e a que compareciam dezenas de confrades. Esse Policiário à imagem do "Mestre", essa filosofia, é a mesma que conseguiu chegar até aos dias de hoje.

A ele, a nossa homenagem!

terça-feira, 7 de outubro de 2008

SETE DE ESPADAS


É incontornável a referencia a Sete de Espadas, o decano dos orientadores de secções policiárias e o grande responsável, no bom sentido, claro, pelo que é hoje o Policiário.

Com uma vida cheia, foram dele os grandes passos em frente que a modalidade deu, desde sempre.

Em breve teremos muitos apontamentos sobre a história do Policiário e, como é óbvio, do Sete de Espadas.

Para ele, o nosso obrigado!

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

ANÚNCIO

Dentro de algumas horas vai estar na rua o PÚBLICO deste domingo dia 5 de Outubro, que vai dar a notícia da criação deste blog.
Queremos que este novo espaço seja também uma nova casa para todos os "detectives" que amam o Policiário e por isso damos as boas-vindas a todos os companheiros de viagem por estes caminhos que trilhamos em conjunto.
Para que cumpramos os objectivos que nos nortearam neste passo que agora damos, é indispensável que daqui se faça um imenso ponto de encontro, onde todos nos sintamos completamente em casa.
Será uma espécie de complemento da nossa secção Policiário das edições dominicais do jornal, mas queremos ser mais do que um local onde se "despeja" a informação que não cabe lá. Também queremos estar aqui para discutir temas, para dar voz aos "detectives", para publicar o que todos têm para nos dizer sobre Policiário.
Estamos cá!
Esperamos por todos vós!
Luís Pessoa/Insp. Fidalgo

REGULAMENTOS 2007/2008

REGULAMENTO DO CAMPEONATO NACIONAL 2008/2009


1- O Campeonato Nacional (CN) é uma prova aberta a todos os leitores, não necessitando de inscrição prévia;
2- O torneio terá oito provas, cada uma composta por um problema policiário;
3- Cada solução dos problemas será classificada entre 5 e 10 pontos, correspondendo 5 à simples presença e 10 à solução integral do enigma. As classificações intermédias serão definidas de acordo com o grau de resolução;
4- Em cada prova serão seleccionados cinco participantes, pelo orientador, autores das melhores soluções apresentadas, que somarão 5, 4, 3, 2 e 1 pontos especiais, que não contarão para a classificação final do CN, mas servirão para desempate em caso de igualdade, ficando em vantagem o concorrente que mais destes pontos acumular;
5- Com o mesmo critério e finalidade, estabelecidos no ponto 4, serão seleccionadas cinco soluções mais originais, que somarão 5, 4, 3, 2 e 1 pontos originais;
6- Será Campeão Nacional o concorrente que no final das 8 provas acumule o maior número dos pontos referidos em 3;
7- Em caso nenhum poderá haver mais que um Campeão Nacional. Em caso de igualdade pontual, será vencedor, pela ordem, o concorrente que:
a)- Somar mais pontos especiais, referidos em 4;
b)- Somar mais pontos originais, referidos em 5;
c)- Tenha tido mais vezes a pontuação máxima de 10 pontos;
d)- Tenha mais vezes obtido a pontuação máxima dos pontos especiais;
e)- Tenha mais vezes obtido a pontuação máxima dos pontos originais;
f)- Mais vezes tenha pontuado nos pontos especiais;
g)- Mais vezes tenha pontuado nos pontos originais;
h)- Elabore a melhor solução numa prova suplementar a levar a cabo em oportunidade a definir.
8- Prémios: Troféu para o Campeão Nacional; Taças para os classificados até ao 5º lugar; Medalhas para os classificados entre o 6º e o 20º lugar; Taça para o primeiro classificado nos pontos especiais e medalhas para o 2º e 3º; Taça para o primeiro classificado nos pontos originais e medalhas para o 2º e 3º.
9- Todos os casos omissos serão resolvidos pelo orientador, depois de auscultar quem entender, não havendo recurso das decisões tomadas.


REGULAMENTO DA TAÇA DE PORTUGAL


1- A Taça de Portugal (TP) é uma prova que decorre paralelamente ao Campeonato Nacional, usando os mesmos problemas;
2- Concorrerão todos os leitores que respondam à primeira prova do CN;
3- Nessa primeira prova serão seleccionados os 128 concorrentes que melhores soluções apresentem, que passarão à 2ª eliminatória da Taça;
4- Antes de cada eliminatória, excepto a primeira, haverá um sorteio que definirá os confrontos directos entre cada dois concorrentes, passando à eliminatória seguinte o que obtiver melhor pontuação ou, em caso de igualdade, aquele que o orientador considere ser autor de melhor solução;
5- A prova nº 8 do CN, será a final da TP;
6- Prémios: O vencedor receberá a TP; o finalista vencido receberá uma réplica; os dois semi-finalistas vencidos receberão taças; os concorrentes eliminados nos quartos e oitavos de final, receberão medalhas;
7- Todos os casos omissos serão resolvidos tal como o estabelecido no ponto 9 do Regulamento do CN.


REGULAMENTO DO CAMPEONATO NACIONAL DE PRODUÇÃO


1- Todas as produções que sejam publicadas como provas do CN, ficarão automaticamente apuradas para o Campeonato Nacional de Produções (CNP);
2- Para o efeito, todos os candidatos a produzirem desafios para o CN podem desde já enviar as suas propostas para a secção, não havendo prazo limite para o seu envio.
3- Cada produção não poderá ter mais de 6500 caracteres, com espaços e deverão ser enviadas preferencialmente em cd-rom, dvd ou por e-mail, neste caso para pessoa_luis@hotlmail.com .
4- Cada produtor pode enviar os desafios que entender, mas apenas poderá será publicado um de cada produtor, se este for simultaneamente concorrente em decifração.
5- A classificação final do CNP será estabelecida pelo somatório dos pontos a atribuir pelos decifradores que pretendam votar, desde que tenham respondido a todas as provas, independentemente das pontuações obtidas.
6- Os produtores têm direito a voto, desde que cumpram com o número anterior.
7- Prémios: Troféu para o Campeão Nacional de Produção: Taças do 2º ao 5º lugar; medalhas para os restantes.
8- Todos os casos omissos serão resolvidos de acordo com o estabelecido no ponto 9 de Regulamento do CN.


REGULAMENTO DO TROFÉU “POLICIARISTA DO ANO”


1- O “Policiarista do Ano” é definido pelo somatório das pontuações obtidas ao longo da época, da seguinte forma: 2 pontos por cada um obtido no CN;
2- Quando numa prova o número de acertantes for igual ou superior a 5%, mas inferior a 10% do total de participantes, todos os acertantes receberão, não os 20 pontos, mas sim 25. Se o número de acertantes for inferior a 5%, mas igual ou superior a 2 concorrentes, cada acertante terá 30 pontos; se apenas houver 1 acertante, este receberá 40 pontos. Para estes cálculos, não conta o autor do problema, que no entanto receberá os mesmos pontos dos acertantes;
3- No final do CN, o vencedor receberá 100 pontos, o 2º - 90, o 3º - 85, o 4º - 80, o 5º - 75, o 6º - 70, o 7º - 69, o 8º - 68 e assim por diante até ao 75º que receberá 1 ponto;
4- Em caso de igualdade na tabela classificativa do CN, serão somados os pontos de todos os concorrentes empatados e o seu somatório dividido pelo seu número, recebendo, assim, cada um deles, a média aritmética, arredondada sempre por excesso;
5- Cada eliminatória da TP superada com êxito renderá 10 pontos. No final, o vencedor da TP receberá 20 pontos, o finalista vencido 10 e cada um dos dois semi-finalistas vencidos, 5 pontos;
6- O Campeão Nacional de Produção receberá 20 pontos, o 2º - 10 e o 3º - 5;
7- Prémios: Troféu de Policiarista do Ano para o mais pontuado; medalhas para o 2º e 3º classificados;
8- Todos os casos omissos serão resolvidos de acordo com o estabelecido no ponto 9 do Regulamento do CN.


REGULAMENTO DO RANKING “PÚBLICO-POLICIÁRIO”


As pontuações são exactamente iguais às do Policiarista do Ano, mas haverá uma pontuação que transita do “ranking” anterior, correspondente a 20%, sempre arredondada por excesso.
Prémios: Troféu de Nº 1 do Ranking para mais pontuado no final da época; medalhas para o 2º e 3º classificados.
Todos os casos omissos serão resolvidos da mesma forma que os restantes Regulamentos.

ESTES REGULAMENTOS DIZEM RESPEITO ÀS COMPETIÇÕES LEVADAS A CABO NO JORNAL DIÁRIO "PÚBLICO" NA SECÇÃO "POLICIÁRIO", QUE SAI TODOS OS DOMINGOS NO CADERNO P2.
AS COMPETIÇÕES INICIAM-SE NA PRÓXIMA SECÇÃO, NÚMERO 899 A SER PUBLICADA NO PRÓXIMO DIA 12 DE OUTUBRO.

CRIME PÚBLICO

Caríssimos Detectives:

Há muito que planeavamos criar um espaço que pudesse ser o elo de ligação entre todos os amantes destas coisas do Policiário.
Após mais de 16 anos ininterruptos nas páginas do PÚBLICO, com o Policiário, é chegado o momento de complementarmos tudo o que por lá se escreve com algo mais.
Desde logo, libertarmo-nos de um flagelo chamado classificações! Cerca de 2000 pseudónimos uma série de vezes por ano! Este será o espaço onde alas irão passar a cair, a partir de agora.
Mas também o outro flagelo vai deixar de o ser: O da crónica falta de espaço! Uma página de um jornal, por mais que a estiquemos, jamais passará disso mesmo. Agora, vamos poder publicar soluções, não apenas a do autor dos desafios, mas as melhores, as mais originais, aquelas que o orientador do espaço entender serem merecedoras de tal publicação e servirem de modelo para todos os detectives, para o futuro.
Este espaço vai ser uma página oficial da secção Policiário do PÚBLICO e como tal anunciada no próprio jornal.
Estamos convictos que algo mais será acrescentado ao nosso passatempo, sem qualquer atrito ou confusão com os restantes espaços internáuticos que existam. A colaboração excelente com o CLUBE DE DETECTIVES do confrade Daniel Falcão vai certamente prosseguir e aprofundar-se, sabendo nós de antemão que ali estará sempre um espaço à disposição de todo o Policiário, como aliás sempre esteve.
Ainda estamos numa fase experimental e como tal muito sujeita a erros e amadorismos, que vamos procurar ir eliminando, com a ajuda de todos.
Saudações Policiárias
Luís Pessoa / Insp. Fidalgo

LITERATURA POLICIAL

Mário Soares, Jorge Sampaio, o que podem ter em comum para além das coisas públicas que todos lhes conhecemos?
Pois bem, ambos se confessaram e assumiram como leitores atentos de livros policiais!
Com um pouco de ginástica mental, podemos imaginar Mário Soares como admirador de um Maigret desengonçado e pesadão, ou Jorge Sampaio a seguir, deliciado, um caso do mais "cabeça de ovo" da História do Policial, o sempre actuante Poirot!
O que faz dos romances policiais uma das leituras mais apreciadas em todo o Mundo e em todas as épocas? Que sortilégio terá? Será apenas a sua vertente desafiante da inteligência, ou, mais que isso, um misto de Aventura e Mistério, com uma porção de raciocínio, q.b .?
Digamos em abono da verdade que nada no Policial foi – ou é – pacífico. A começar pela paternidade, em que se degladiam diversas correntes de opinião, que nos remetem para a Bíblia ou para escritos chineses ou, mais modernamente, para Voltaire ou Dostoievsky. Mais aceite é, no entanto, Edgar Alan Pöe, como o pai do romance policial com características dedutivas, em 1841, com a publicação de "Os Crimes da Rua da Morgue" no "Graham’s Magazine".
Seja como for, o Policial acaba por carregar um fardo como "casa mal frequentada", porque nasce de um alcoólico Pöe, prolonga-se e atinge um grau de popularidade inimaginável com um Sherlock Holmes consumidor de cocaína; se implanta e desenvolve em Portugal, tendo como cultores um Fernando Pessoa com problemas alcoólicos ou um Reinaldo Ferreira (Repórter X) morfinómano...
De literatura de cordel, que foi considerada durante longo tempo, até às declarações de um Prémio Nobel da Literatura, José Saramago, de que vai escrever um romance policial, o caminho foi longo e difícil, cá como no resto do mundo.
A uma literatura incipiente, sensacionalista, um tanto aventureira, seguiu-se um período de grande esplendor, usando quase sempre a fórmula de duplas que se tornaram famosas: Monsieur Dupin e o seu amigo desconhecido, de Alan Pöe; Sherlock Holmes e Dr. Watson, de Arthur Conan Doyle; Hercule Poirot e Capitão Hastings, de Agatha Christie.
Outros, muitos outros detectives famosos seguiram o trilho – para não dizermos que imitaram – Dupin e Pöe. Destacamos Ellery Queen, produto de dois primos, Frederick Danny e Manfred Lee; Philo Vance de S. S. Van Dine; Philip Marlowe de Raymond Chandler; Sam Spade de Dashiell Hammett; Hercule Poirot ou Miss Marple de Agatha Christie.
Numa tentativa de sistematização, poderíamos dizer que as três grandes "escolas" policiais trataram os seus mais emblemáticos escritores de forma bastante profissional, apoiada num "marketing" eficiente. A "escola" britânica reune-se em torno de Sherlock e mais tarde de Poirot e Miss Marple; a "escola" franco-belga cerra fileiras em redor de Maigret, inspector e mais tarde Comissário criado por Georges Simenon; a "escola" americana arrisca em Chandler, mais tarde em Ellery Queen e finalmente em Patricia Higsmith que acaba "arrasando" a concorrência com as histórias de Mr. Ripley.
Pelo meio, lutando contra cada um destes centralismos, uma imensidão de autores e detectives procuram o seu espaço, em muitos casos bem merecido.
Sherlock Holmes faz com que em França surja Arsène Lupin, uma criação de Maurice Leblanc, um ladrão muito fino, que depois vai servir de modelo a Simon Templar (Santo), de Leslie Charteris. Pelo meio, Émile Gaboriau faz nascer o Monsieu Lecoq, também em França. Mais tarde, já em 1911, aparece um padre com grandes capacidades dedutivas, Father Brown, uma criação de Gilbert Keith Chesterton.
Nesse mesmo ano, na América, Melville Davisson Post escreve os primeiros contos do Tio Abner, enquanto se vai demonstrando que a "escola" americana não consegue rivalizar minimamente com o que se faz deste lado do Atlântico! E.C. Bentley publica "O Último Caso Trent" e Freeman aparece com "O Osso", ao mesmo tempo que Earl Derr Biggers faz nascer Charlie Chan, um chinês apaixonado por Confúcio, que o cita a toda a hora. Mas em Inglaterra os consagrados dão cartas, bem secundados por Max Carrados, de Ernest Bramah.
Nos anos 20 do século passado são as mulheres que mais se distinguem, com Agatha Christie e Dorothy Sayers que nos apresenta Lord Peter Wimsey.
Edgar Wallace cria o pequenito e perspicaz Mr. Reeder; Margery Alling oferece-nos Albert Campion; Ellery Queen um detective "caixa de óculos" com o mesmo nome; Dashiell Hammett um modelo de detective particular à sua semelhança, Sam Spade; o americano John Dickson Carr – também Carter Dickson -, especialista de enigmas tipo "quarto fechado" que trata como ninguém, traz-nos o Dr. Gideon Fell; Simenon assume a sua revolta contra os detectives por conta própria e faz nascer o Inspector Maigret, mais tarde Comissário; Rex Stout avança com o oposto de Maigret, um tipo gordíssimo que nunca sai de casa, Nero Wolfe, que conta para tudo com o seu braço direito Archie Goodwin; na América, Erle Stanley Garner cria Perry Mason, um advogado de sucesso.
Os anos 30 são atravessados por todos estes heróis e autores, com altos e baixos. Finalmente pode dizer-se que o romance policial é já tão americano como europeu.
Nos anos 40 assiste-se ao aparecimento de antologias, uma inglesa, a "Line Up" e uma americana, a primeira coordenada por Ellery Queen, que reune, de uma só vez, Hammett, Chandler e Ellery.
Estes terão sido os anos de ouro do romance policial, tal o número e qualidade de autores e personagens, que verdadeiramente desenvolveram a sua actividade ao longo de décadas, renovando sempre as suas propostas e actualizando processos. Tal longevidade, ao invés de criar saturação, produziu um efeito contrário, seduzindo legiões de novos leitores. O velho romance sem sentido, aventureiro e sensacional, era agora respeitado. Cada vez mais catedráticos e homens de letras faziam incursões no mundo do romance policial.
Os novos rumos conduzem-nos a uma indefinição sobre o que poderá vir a ser o Romance Policial do futuro.
O processo criativo que aconteceu nos anos de ouro, ainda não deixou de estender os seus tentáculos e ninguém hoje consegue ignorar Sherlock, Poirot, Ellery ou Maigret, que continuam omnipresentes e apresentados como modelo, apesar da vetusta idade. Novos modelos de violência protagonizados por Mike Hammer de Mickey Spilane ou Lew Archer de Ross Macdonald, ao bom estilo de "olho por olho..." não parecem trilhar o caminho do futuro.
Resta-nos como verdadeiro bálsamo para o espírito, a magnífica obra policial global de Manuel Vásquez Montalbán, escritor catalão multifacetado que é já um modelo da nova Literatura Policial.
Por cá, o Policial segue a tendência, a alguma distância, claro. Colecções como a Vampiro, Xis, Romano Torres e outras, traziam tudo o que de melhor se publicava no mundo, criando em muitos leitores o desejo de escreverem os seus romances. O policial português é rico naquilo que se conhece, já que muitos autores foram obrigados a optar por pseudónimos para poderem publicar as suas obras. Alguns são hoje conhecidos, outros, possivelmente nunca o serão. Um exemplo bem flagrante é o de Mário Domingues, historiador, jornalista, editor e tradutor, que usou qualquer coisa como cerca de 150 pseudónimos, a maioria dos quais desconhecidos hoje em dia, o que o transformou no português que mais romances escreveu e editou!
Aquele que é considerado o pai do romance policial português é Francisco Leite Barros, nascido em Lisboa no ano de 1841 e falecido em 1886. A coincidência de ter nascido no mesmo ano em que Pöe publicava a primeira novela policial, parece ter influenciado este autor, que escreveu "O Incendiário da Patriarcal", "O Crime de Mata Lobos", "O Crime do Corregedor" e "As Aventuras do Homem Pardo".
Nome fundamental do policial português é o de António Andrade Albuquerque, que assina as suas obras com o pseudónimo de Dick Haskins e que é o autor português mais editado no estrangeiro, com obras traduzidas em dezenas de países e passadas para o cinema.
Também Reinaldo Ferreira merece destaque com os pseudónimos Repórter X e Repórter Kiá. Com uma obra extensa, deixou marcas no policial português, nas décadas de 20 e 30, até ao seu falecimento em 1935.
Roussado Pinto é outro autor importante, não só pela extensa lista de cerca de 75 pseudónimos que usou até à sua morte, mas também pelo modo como organizou antologias policiais de boa qualidade. Ross Pynn é o seu pseudónimo mais conhecido.
Outros nomes varreram o panorama policial, de que destacamos:
Adolfo Coelho com o pseudónimo J. Stew, nos anos 20; Américo Faria como Adam Fulton e Ans. Shouldmarke; António Carlos Pereira da Silva, como Simon Ganett ou Barney Kilbane; Dinis Machado, como Dennis Mc Shade, tendo como personagem Peter Maynard; Fernando Luso Soares com os seus personagens Inspector Boaventura e Dr. Castro; Fernando Pessoa que criou os personagens Dr. Abílio Fernandes Quaresma, Tio Porco e Chefe Guedes; Francisco Valério Almeida Azevedo, com o pseudónimo de W. Strong Ross e personagem Inspector Ryan; Gentil Marques, com os pseudónimos de Charles Berry, James Stron (criador de Rangú), Marcel Damar, Herbert Gibbons; D. G. Richter e muitos outros; Guedes de Amorim, como Edgar Powel; José da Natividade Gaspar, como Sam Brown ou J. Fergusson Knight; Luís Campos, como Frank Gold; Mariália Marques, como John S. Falk, Hugh Mc Benett ou Ossman Matzyk; Mascarenhas Barreto, como Van Der Bart.
Na moderna Literatura Policial Portuguesa vivem-se momentos de alguma acalmia. Algumas felizes incursões de autores consagrados, como José Cardoso Pires em "Balada da Praia dos Cães", Agustina Bessa Luís em "Aquário e Sagitário", Clara Pinto Correia em "Adeus Princesa" ou Francisco José Viegas, em "As Duas Águas do Mar", não conseguem agitar o meio, que continua placidamente a viver de alguns novos valores como Maria do Céu Carvalho, Manuel Grilo, Miguel Miranda, Ana Teresa Pereira ou Henrique Nicolau.
Sem conseguir afirmar-se como uma "escola", a verdade é que o Policial Português sempre conseguiu encontrar o seu espaço, com recurso a pseudónimos estrangeiros ou não.
E mesmo fora do movimento editorial, há mais de onze anos que milhares de pessoas escrevem sobre o policial, desafios e suas propostas de resolução, nas páginas da edição dominical do Público, que vem funcionando como um verdadeiro "ponto de encontro" dos amantes do Policial.

Luis Pessoa