domingo, 28 de fevereiro de 2016

POLICIÁRIO 1282



OS 95 ANOS DO NASCIMENTO DE
SETE DE ESPADAS

Cumpriram-se no passado dia 1 de Fevereiro, 95 anos sobre o nascimento da figura mais importante do Policiário português. Sempre que falamos de Policiário, a referência ao Sete de Espadas aparece como uma inevitabilidade, tal a sua importância primeiro para a divulgação e depois para a consolidação deste passatempo exemplar, amplamente reconhecido como um veículo importante para estimular a leitura, a interpretação, a análise, o poder de síntese, o espírito observador e científico.
O Sete de Espadas nasceu no Ribatejo, na vila da Chamusca em 1 de Fevereiro de 1921 e desde muito jovem começou a interessar-se pelo policial, lendo tudo o que sobre esse tema lhe passava ao alcance. Nesses tempos, como é óbvio, não havia as facilidades de hoje no acesso à informação e aos livros.
Em 12 de Janeiro de 1947 iniciava a sua actividade como orientador de um espaço policiário, no Jornal de Sintra, com o título Mistério e Aventura, que ele mesmo definia, em subtítulo, como uma “secção policial orientada por Sete de Espadas”.
Depois foi um nunca mais acabar, na divulgação da literatura policial e, sobretudo, na vertente da competição policial.
Que me desculpem os confrades mais antigos, aqueles que viveram com ele as aventuras do Clube de Literatura Policial, das secções no Camarada, no Cavaleiro Andante e em tantos locais, mas nós apontamos um marco que nos parece decisivo em toda a História do Policiário: O dia 13 de Março de 1975.

Nesse dia, em todas as papelarias, quiosques, pontos de venda de jornais e revistas, apareceu, apenas, mais um número do “Mundo de Aventuras”, uma revista de histórias aos quadradinhos, editada pela Agência Portuguesa de Revistas, que já vinha dos anos 40 do século XX, mas que trazia algo de novo: As últimas páginas eram identificadas como “Mistério… Policiário” e assinadas por um não menos misterioso “Sete de Espadas”!
Foi, podemos dizê-lo com toda a propriedade, o virar de página de toda uma geração de jovens, muito jovens mesmo, na casa dos 13, 14 anos, que apareceram em enorme explosão, criando um movimento imparável que nos trouxe até aos dias de hoje.
Muitos dos actuais policiaristas são produtos dessa época, eram leitores de histórias aos quadradinhos e descobriram o policiário, tornando-se detectives!
O primeiro sinal de que algo se movia, foi a grande afluência à literatura policial, a corrida aos alfarrabistas, a ânsia de ler os clássicos do policial, antes da procura dos modernos escritores. Depois, foi a quantidade de malta nova a tratar-se por nomes escolhidos pelos próprios, que podiam ser de uma personagem dos quadradinhos, de um detective da literatura, de uma abreviatura do próprio nome, de uma invenção pura… Tudo servia para nos identificarmos perante os outros. Era o Detective Invisível, o Inspector Moisés, o Ubro Hmet ou o Satanás… Poucos sabiam o nome real do confrade que estava à sua frente, nem isso era importante! Poucos sabiam o que faziam os outros na vida profissional, mas também não era necessário! O importante era o facto de estarem todos irmanados no mesmo gosto pela dedução, pelo exercício das “células cinzentas”, estarem disponíveis para se reunirem em Tertúlias Policiárias e todos os meses percorrerem o país para os Convívios, na altura única forma de travarmos conhecimento para além das fronteiras próximas.
Recorda-se, ainda hoje, uma semana em que um dos números do Mundo de Aventuras não apresentou o já habitual espaço policiário, por motivos de paginação, ou semelhante e houve um coro de protestos de tal dimensão que a Agência Portuguesa de Revistas foi obrigada a vir a terreiro prometer que não se repetiria tal ausência!
No centro de tudo, a figura simpática de um homem de barbas brancas, cabelo ralo, sorriso aberto e simpático: O Sete de Espadas.
Nos dias dos Convívios, era digno de ser visto o número de pais que chegavam perto do Sete e lhe confiavam os miúdos de 11 ou 12 anos, como se confia a um avô e lhe diziam que eram os próprios miúdos que insistiam em ir e não aceitavam um não como resposta! E o Sete, com a calma e o espírito positivo que sempre teve, lá os tranquilizava, dizendo-lhes que na tribo policiária eles estavam no local certo para crescerem, num são convívio, numa camaradagem exemplar.
Ainda hoje sentimos isso. Mesmo nós, muitos já avós, ainda olhamos para o exemplo do Sete como um aspecto importantíssimo no nosso processo de desenvolvimento. Todos crescemos muito com ele e com o Policiário. Todos lhe devemos muito daquilo que conseguimos ser. O seu exemplo, de persistência na demonstração dos benefícios do exercício de uma actividade tão saudável para o desenvolvimento harmonioso de um espírito científico, como é o caso do Policiário, em contraposição com as opiniões veiculadas em sentido contrário, de que falar de crime é incitar à violência, merece ser sempre realçado.
Daí a justeza desta recordação, numa altura em que se aproxima a passos largos uma data que passará a ser parte integrante da nossa História Policiária, quando no dia 1 de Julho de 2017, daqui a pouco mais de um ano, completarmos – se pudermos e conseguirmos – 25 anos ininterruptos de Policiário do PÚBLICO, uma tarefa que parecia impossível quando iniciámos a caminhada! É que esta secção, se teve o seu nascimento formal no dia 1 de Julho de 1992, verdadeiramente nasceu muitos anos antes, algures pelo ano de 1975, quando o Inspector Fidalgo encontrou o Sete de Espadas e ficou fascinado com o Mundo que este lhe abriu!
Mais tarde foi o XYZ Magazine, uma revista ecléctica em que o Sete de Espadas cumpriu um dos seus sonhos maiores, por entre dificuldades extremas, relacionadas com a falta de financiamento e de aposta do movimento editorial da época, que o fez avançar completamente de peito feito, sem meios financeiros, sem qualquer rede, numa aposta que encerrou uma certa dose de loucura. Foi com base no Clube dos Amigos do XYZ que o Magazine foi sobrevivendo, enviado pelo correio aos assinantes, contando com a colaboração de alguns amigos que se reuniam em sua casa, junto dos Estúdios da Tóbis, no Lumiar, fazendo o endereçamento e envio pelos Correios, em maratonas que hoje, a esta distância temporal, aparecem como recordações deliciosas de um tempo em que fazíamos as coisas acontecer, sempre com a relevância da Amizade e da Camaradagem.
Foi no dia 10 de Dezembro de 2008 que a notícia do seu falecimento correu no seio da imensa família policiária, que assim viu partir o seu principal divulgador, deixando um rasto de pesar entre a imensa legião daqueles que com ele cresceram física e mentalmente.


sábado, 27 de fevereiro de 2016

OS 95 ANOS DO "SETE DE ESPADAS"

NO PASSADO DIA 1 DE FEVEREIRO COMPLETARAM-SE 95 ANOS DO NASCIMENTO DO NOSSO MESTRE E AMIGO "SETE DE ESPADAS"

A EFEMÉRIDE NÃO FICOU ESQUECIDA, MAS DIVERSOS CONSTRANGIMENTOS DE ÍNDOLE PESSOAL IMPEDIRAM QUE PEDESSEMOS ASSINALAR O FACTO, EM DEVIDO TEMPO.

A SECÇÃO DO PÚBLICO DE AMANHÃ VAI SER SOBRE O MESTRE "SETE DE ESPADAS" E A SUA IMPORTÂNCIA NO POLICIÁRIO.

O SETE DE ESPADAS JAMAIS SERÁ ESQUECIDO!




II TORNEIO NACIONAL - CLUBE LITERATURA POLICIAL - SOLUÇÃO PROBLEMA 3

               
                                                                                                                                 

II TORNEIO NACIONAL DE PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA

Solução do problema n.º 3                           Publicado na revista “FLAMA” # 520
                                                                                   em 21 de Fevereiro de 1958
O MISTÉRIO DO TRIDENTE FATAL
Apresentada pelo autor: Mr. Jartur

         Não existem dúvidas de que a solução deste problema é clara e única. Para a conseguir nada mais é preciso do que pura dedução, confrontando as declarações dos depoentes com as coisas e os factos que o detective viu e foram descritas no problema.
         Ora, temos como culpado, aliás como culpada, a noiva de Alfredo. Para uma acusação mais concreta, há que ter em atenção o numero de mentiras existentes nas suas declarações e, também, o número de pormenores que ditam a sua culpabilidade. Inicialmente vou focá-los todos, sem ordem. Depois, mais adiante, farei a reconstituição do caso apontando, então, outros pormenores devidamente explicados.
         a) Primeiro que tudo, há a anotar o facto de Maria José ter dito que ouvira uma detonação. - Este é o seu primeiro erro, visto que os arpões de caça submarina são disparados por força de elásticos e nunca por qualquer carga explosiva. Um possível silvo do tridente não lhe chegaria aos ouvidos, visto que, por muito calmo que o mar estivesse, o rumor das ondas o abafaria. Como adiante se prova, a rapariga andava com a cabeça protegida por uma carapuça, o que mais ainda dificultaria a audição.
         b) Marcos Dias viu que o arpão estava encurvado pelo meio, o que prova que este não fora disparado por qualquer «zarabatana», visto que estas possuem umas guias para dar direcção ao projéctil e, a ser assim, a haste do tridente não deslizaria.
c)    Depois de disparado, o arpão não se entortaria, pois a pressão exercida seria centrada
no sentido longitudinal e nunca transversal de modo a encurvar-se.
         d) Mas, o pormenor mais acusador, é aquele que a jovem construiu ao afirmar que estivera chorando abraçada ao noivo. Acusador, digo eu, pois «as lágrimas caíam-lhe nas pernas e rolavam pela pele limpa e sedosa, confundindo-se com algumas gotas de água que o calor ainda não evaporara». Comparando a afirmação e o facto, deparamos com os seguintes erros: A ter estado ela abraçada ao corpo, por conseguinte deitada no chão, além de a areia fina lhe secar as coxas e as pernas que assentara no solo, ter-lhe ia ficado, colada à pele húmida, uma grande quantidade de areia que nós sabemos ser fina e alourada. Mais atesta a veracidade desta dedução, o facto de, como diz o autor do problema, os cotovelos estarem sobre as pernas agora impecavelmente belas, pois já secara toda a água.    
         e) Outro pormenor bastante acusador, é o facto de «à volta do corpo nada de anormal se encontrar». Isto desmente a rapariga ao dizer que não entrara na barraca pois, como sabemos, ela metera na saca o barrete de natação quando ali entrara a ver se faltaria alguma coisa, como o detective lhe indicou. Ora, se ela tinha a carapuça na cabeça, como atestam os seus cabelos soltos ao vento; se não a tinha nas mãos, o que sabemos porque ao correr ela acenava com os braços; nem, como já disse, se encontrava à volta do corpo, é porque a Maria José já havia colocado esse objecto dentro da barraca. Para o fazer, podia na realidade não ter entrado antes na barraca; porém, a mentira continua, visto que ela afirmou ter corrido para o corpo e ter ficado abraçada a ele até ao momento em que se erguera para correr para a estrada.
         Então como é que pôs o barrete dentro da barraca, pois não há dúvida de que nadara com ele? A prová-lo está a carapuça molhada e os cabelos soltos. No caso de ter nadado sem o capacete - o que é improvável sabendo-se que o seu cabelo é comprido - este estaria empastado e não lhe chicotearia o colo e os ombros.
         f) A ter estado a jovem abraçada ao corpo, os seus cabelos longos teriam, sem dúvida, chegado ao sangue e então ficariam manchados, como devia ficar também o «maillot» ou o corpo da rapariga.
                                                                                                                                                   
         g) O arpão, entortado, prova-nos que fora espetado por alguém que o agarrara pela haste e, ao desferi-lo sobre a vítima, lhe dera, sem querer, um movimento lateral que motivara o empeno.
         Quanto a pormenores acusadores, ficar-nos-emos por aqui, se bem que poderíamos ainda expor algumas hipóteses que nos provariam a anormalidade do caso, como por exemplo o facto de Maria José ter ficado abraçada ao corpo, quando a sua reacção deveria ser de horror, o que a levaria a procurar, desde logo, alguém que a auxiliasse. Esperar junto do defunto que o acaso trouxesse alguém para a ajudar, é ter muita calma, uma calma da qual não dera provas durante a presença do investigador.
É, pois, a altura de reconstituir o caso, expondo o raciocínio que me pareceu mais lógico.
         Terminado o passeio pela praia, que sem dúvida fizeram após a sesta, Maria José foi, na realidade, para a água onde viu, boiando, um peixe morto com um tridente espetado no ventre. Então, assaltou-lhe a mente uma ideia: desfazer-se do noivo, ao qual desde há muito vinha sugando dinheiro, e de quem agora já se sentia cansada. Extraiu o arpão do corpo do peixe e, saindo da água, colocou o tridente sobre a areia, em sítio onde a água não chegasse.
         O noivo, futura vítima, continuava interessado pela obra de uma boa escritora. Assim a jovem pôde, durante alguns minutos, estudar mesmo enquanto nadava, a maneira de cometer o delito sem se inculpar. E, então a ideia chegou.
         Saindo da água, a cantora tirou da cabeça o barrete de borracha e com ele agarrou o tridente quase enxuto. Razão pela qual nele não havia impressões digitais. Subiu a praia, silenciosa, e aproximando-se de Alfredo que nada notava, já pelo interesse concentrado na leitura, já pelo ruído quase nulo dos passos da criminosa. (Podia até ter-lhe falado, o que, aliás, o não surpreenderia nem o faria mudar de posição). Curvou-se um pouco, apontou o tridente e... A vítima nem se mexeu, pois os bicos da arma fatal, dera-lhe morte imediata. (Se repararmos na posição do livro e das mãos da vítima, fácil nos será concluí-lo). A rapariga olhou mais uma vez à sua volta e aproximou-se da barraca na intenção de «surripiar» o que quer que fosse. Naturalmente sem notar que o fazia, pousou a carapuça. Mal tinha acabado o seu trabalho, ouviu-se na estrada o deslizar do automóvel. Teve uma ideia súbita e correu, acenando aos ocupantes do veículo.
         Esta hipótese, que é a mais lógica, pode, no entanto, divergir em alguns pontos, o que não influi na boa e única solução do caso para o qual devem ser tomados em conta todos os pormenores focados nas alíneas a), b), c), d), e),f) e g), e ainda os apontados na reconstituição do caso.
                   Quanto ao outro suspeito, nada tem a ver com o crime. As suas declarações nada têm de duvidoso e há ainda a salientar o facto de ter estado na praia, a dormir, como comprovarão as pessoas que ele disse terem estado na praia e que, por certo, são suas conhecidas.
                                                                                          «Mr. JARTUR»


Nota do Jartur:

Agora que reli este meu problema, mais de cinquenta anos depois da sua criação, encontro, particularmente na solução que elaborei, algumas pequenas/grandes falhas que me levam a sorrir, desculpando a inocência e a falta de conhecimentos científicos do jovem e inculto autor.
Perdoem-lhe, e corrijam, criticando-lhe as ignorâncias.





segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

II TORNEIO NACIONAL - CLUBE LITERATURA POLICIAL - PROBLEMA 3

           Caros Amigos:
Parece que foi ontem. O problema que hoje vos envio, o 3.º do II TNPP, foi publicado, imaginem, precisamente "hoje" - 21 de Fevereiro - mas de 1958, por conseguinte já lá vão, passados, 58 anos.
Obrigado pela vossa atenção, que recompenso com um forte abraço.
E se quiserem critiquem, pois vão encontrar as inocência que eu já detectei.
Jartur 
                
                                                                                                                      
II TORNEIO NACIONAL DE PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA
Problema n.º 3
O MISTÉRIO DO TRIDENTE FATAL
Original de: Mr. Jartur

Publicado na revista “FLAMA” # 520 / em 21 de Fevereiro de 1958

Atirámos as sacas para o banco posterior do carro, e entrámos depois, puxando para nós as portas que o sol tornara escaldantes.
     Entre o mar e a estrada por onde o potente veículo quase voava, estendia-se a praia. Era uma centena de metros de areia fina e alourada, formando graciosas dunas que o astro rei embelezava com maravilhosos reflexos.
     Transposta a suave curva duma duna que dois rochedos coroavam, surgia, a alguns metros, um vulto feminil que corria para a estrada, acenando com os braços na nossa direcção. Marcos e eu entreolhámo-nos, enquanto ele fazia parar o carro junto à berma da estrada, na intenção de saber o significado daqueles sinais que tão formosa rapariga fazia, correndo na nossa direcção.
     Era bastante esbelta e bela a jovem que parou junto a nós, extenuada, com os compridos cabelos loiros soltos ao vento, chicoteando-lhe os ombros e o colo que o "maillot" deixava a descoberto. Após alguns momentos em que tentou refazer-se da fadiga, a escultural mulher pediu-nos que a auxiliássemos, pois algo de terrível acontecera ao seu noivo.
     Enquanto nos acompanhava ao local do drama, uma barraca de tecido multicolor montada atrás duma pequena duna, a jovem foi contando o que acontecera.
     - Cheguei de manhã, com meu noivo, e aqui tencionávamos passar o resto do dia, devendo regressar a casa com um amigo que por aqui passaria nesse propósito. Depois de termos dado um passeio pela beira do mar, o Alfredo foi-se deitar a ler junto à barraca, enquanto eu fui refrescar-me um pouco. Mergulhando no mar afastei-me da praia e, tão distraída andava praticando o desporto que mais admiro, que não dei pelo que se passava ao pé da barraca. De súbito, ouvi uma detonação. Olhei na direcção da praia e vi um homem, de pé, no sítio onde o meu noivo ficara. Notando que não se tratava do Alfredo, gritei e nadei para terra, enquanto o homem fugia, correndo, em direcção à estrada. Só quando saí da água, é que vi que meu o meu noivo estava no mesmo sítio, deitado, mas com qualquer coisa espetada na cabeça. Corri para junto dele, gritando o seu nome, mas não obtive resposta. Então, baixando-me e encostando o ouvido às suas costas, notei com horror que estava morto. Desatei a chorar, abraçada a ele, e só me levantei quando ouvi o ruido do vosso carro. Então, corri esbaforida e... o resto já os senhores o sabem.


       



                                                                                                                                                                                                 

Entretanto havíamos chegado junto à barraca, e a jovem tentou reter um soluço que por fim soltou, fitando sem ver, o corpo daquele que fora seu noivo. Enquanto eu tentava consolar a pobre moça, o meu amigo ajoelhou-se junto ao cadáver, e colou-lhe o ouvido um pouco abaixo da omoplata esquerda, chegando também à conclusão que a rapariga citara.
      Depois, olhando o corpo apenas coberto por um calção de tecido elástico, Marcos Dias observou com atenção o tridente que ao chegar vira espetado na nuca do desventurado banhista. Dos três orifícios abertos em linha, onde mergulhavam as pontas do arpão, saía ainda algum sangue que, escorrendo pelo pescoço, se ía juntar ao outro que a areia fina já absorvera. Com cerca de setenta centímetros de comprimento, aquele instrumento de caça submarina estava encurvado a meio, e tinha ainda presa, no extremo, uma ponta de fio de pesca. Impressões digitais, não as havia.
     Na areia, à roda do corpo, nada de anormal se notava. Pègadas, havia-as por toda a parte, mas seria impossível atribuí-las aos respectivos pés, já que todas eram disformes e idênticas, por causa da inconsistência do terreno.
     Marcos prosseguia nas suas perscrutadoras observações, e eu continuava a minha missão consoladora. Fiz sentar a jovem junto da barraca, e tentei fazer estancar as lágrimas que, deslizando pelas faces que o sol já bronzeara um pouco, lhe caíam nas pernas e rolavam pela pele limpa e sedosa, confundindo-se com algumas gotas de água marinha que o calor ainda não evaporara.
Desviando o olhar do pequeno caderno onde fizera alguns apontamentos, Marcos volveu-o para mim e perguntou, dirigindo-se à jovem:
    - Sabe se o seu noivo teria alguém interessado na morte dele?
     - Creio bem que... não!... Apesar de que... ele é muito rico. Nunca se sabe...
     - Sim, compreendo! - cortou o detective, enviando um olhar mais atento, pela primeira vez, ao corpo harmonioso da linda rapariga. E depois, continuou: - Vejamos. A menina sabe se lhe roubaram alguma coisa? Talvez da barraca?!...
     - Não sei!... Depois que vim do mar, ainda não entrei nela.
     Marcos Dias parou junto de mim. Curvou-se para entrar na barraca e começou a remexer no seu conteúdo, pedindo à rapariga que visse se faltaria alguma coisa.
     - Parece que está tudo - afirmou endireitando a roupa sobre o colchão pneumático, e metendo na saca cilíndrica o barrete de natação ainda húmido.
     Terminado o exame no interior da barraca, Marcos saíu e voltou a examinar o cadáver, impelido por súbito pensamento. A cabeça do assassinado caía sobre um romance de Françoise Sagan, que as suas mãos crispadas seguravam ainda.
     - A senhora... - Ia a dizer o investigador.
     - Oh! Desculpe não lhe ter dito ainda. Chamo-me Maria José e vivo a poucos quilómetros daqui. Canto no restaurante "Oásis".
     - A senhora... - Recomeçou a dizer Marcos Dias - não reparou se o homem que se afastava era alguém seu conhecido? Posso até lembrá-la, de que poderia tratar-se do amigo que viria buscá-los para os conduzir a casa.
      - Oh! Creio que não. Mas se o senhor quiser interrogá-lo, ele é o director da orquestra que me acompanha. Poderá encontrá-lo no "Oásis", pois nesta ocasião deve estar a ensaiar.
     Marcos expeliu pelas narinas uma certa porção de ar e, aproximando-se de mim, disse qualquer coisa que me deixou incrédulo.
     - Não! Não pode ser - repliquei quando recuperei a fala. - Ele...
 
                                                                                                                                                   

   Mas, Marcos fez-me interromper a frase. Olhando a jovem, que continuava sentada na areia, com a cabeça entre as mãos e os cotovelos sobre as pernas, agora impecàvelmente belas, pois já secara a água, disse-me ele, com uma expressão caricata que só eu compreendia.
     - Bem! Têm que ficar aqui um bocado, enquanto eu vou ao "Oásis" falar com o senhor suspeito. Depois irei buscar uma ambulância e as autoridades locais, pois os senhores da Polícia costumam querer cumprir as formalidades usuais.
      O meu amigo afastou-se, pela praia, em direcção ao automóvel, e eu, colocando sobre o cadáver uma colorida toalha que tirara da barraca, disse à jovem, ensaiando uma pronúncia cativante:
- Vá!... Não chore mais. Em breve o caso ficará resolvido, e o criminoso será castigado.
     Premiando-me com um olhar misto de serenidade e receio, a jovem puxou os cabelos por cima do ombro esquerdo e reclinou-se na areia, onde os seus cabelos aloirados colocaram uma mancha brilhante.
     Aproveitando o tempo que Marcos levaria a regressar da cidade, resolvi refrescar-me um pouco, e convidei a rapariga a acompanhar-me. Maria José rejeitou o convite, pois pretendia descansar alguns minutos. Do lado oposto da duna, oculto da "viúva", despi o dispensável.
     Segundos depois, corri pelo suave declive da areia e lancei-me no mar, aproveitando uma vaga que corria para a praia. Ao entrar na água, senti a cabeça bater em qualquer coisa que me pareceu um rochedo, mas que afinal não passava de um grande peixe. Agarrei-o, julgando-o vivo.
Porém, logo notei que estava morto e quase em decomposição, com as tripas a sair por um rasgão que tinha no ventre. Segurando no peixe e nadando com uma das mãos, tal como Camões salvando "Os Lusíadas", voltei à praia, onde o coloquei com cuidado, pois pensava pregar uma partida ao Marcos, quando ele regressasse.
  
                                                * * * * *


Entretanto Marcos Dias chegava ao "Oásis". Mandou chamar o director da orquestra, que o gerente do restaurante disse ter chegado poucos minutos antes, e perguntou, sem rodeios:
     - O senhor pode dizer-me porque só agora chega, para o ensaio, quando afinal já há mais tempo aqui devia estar? Creio que isso terá alguma relação, com um crime que há algum tempo cometeram e que eu tenho que resolver.
      - Perdão, senhor! Não sei do que se trata. Quanto ao meu atraso, confesso que não tenho provas do que lhe vou afirmar. Fui-me deitar um pouco na praia, depois do almoço, e sem querer adormeci. Quando acordei, já eram seis horas, e vim logo para aqui.
     - Pois bem, - exclamou Marcos Dias - o noivo da Maria José foi morto num lugar quase deserto, junto ao mar, e o senhor era o único que sabia onde eles se encontravam.
                                                                                                                                          

      - Isso é verdade! - respondeu o outro: - Mas também é verdade que o sítio onde eu estive fica muito distante do lugar onde fiquei de ir buscar a cantora e o Alfredo.
                             - Está bem! Depois veremos isso. Para já, faça o favor de me acompanhar... Ah! A propósito. O senhor não se dedica à caça submarina?
        - Não, senhor detective. E, por sorte, nem sequer sei nadar.
     - Pronto, vamos. - E, abrindo a porta do Mercedes, Marcos Dias disse ao seu interlocutor: - Passaremos pela Polícia, e levaremos uma ambulância para remover o cadáver.
     O carro arrancou velozmente, provocando no músico algumas contracções que expressavam receio. Quando o carro, cada vez mais veloz, entrou na estrada principal, João da Laura, assim se chamava o chefe da orquestra, exclamou:
      - Lamento imenso a morte do meu amigo, a tal ponto que serei capaz de dispender algum dinheiro para que seja feita justiça. Quanto a mim, as pessoas que me viram na praia deverão comprovar as minhas afirmações.
     - Sim! Deixe-me pensar um pouco... Depois veremos.

                                                      * * * * * * * * *

      Uma hora depois, enquanto o criminoso era conduzido ao quartel da "Judiciária", Marcos Dias e Jartur aproximavam-se da cidade.
       No olhar dos dois amigos, um atento à estrada, e o outro à paisagem que se estendia em redor, reflectia-se a alegria do dever cumprido.

    

                                                           *  *  *

    PERGUNTA -SE:
     - Quem foi o criminoso?
     - Quais foram os pormenores acusadores, encontrados pelo detective?
     - Como se teria passado o caso?
     - Exponha o seu raciocínio.

oOoOoOoOo

NOTA:
As ilustrações que acompanham este texto, acompanhavam a página original, mas não influem na resolução do mistério                                                       



                                                                                                          Jarturice II TNPP – 003

Divulgada em 21.Fevereiro.2016

domingo, 21 de fevereiro de 2016

II TORNEIO NACIONAL - CLUBE LITERATURA POLICIAL

   
                                                                                                                                              
II TORNEIO NACIONAL DE PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA

Solução do problema n.º 2           

  Publicado na revista “FLAMA” # 517 / em 31 de Janeiro de 1958

UM CASO SIMPLES
Apresentada pelo autor: «Sherlock Amador»

            No caso que o Inspector Arsil teve que investigar, referente à morte do professor Idalécio, constatou - para prisão da testemunha presente - os seguintes factos:
            Em primeiro lugar, se a vítima vivia como um eremita, isto é, só… como conseguiu o amigo do morto entrar na vivenda? Não declarara ele que, ao renovar as suas visitas, deparara com aquela triste cena? Se assim é, quem lhe abriu a porta, pois o próprio Inspector teve de esperar que lha abrissem para poder entrar? Logicamente, a testemunha mentia.
            Em segundo lugar, aparece ao Inspector a posição do corpo que, de forma alguma, podia corresponder ao desenrolar dos factos. Se o corpo estava ajoelhado e debruçado sobre a pequena mesa, e se o sangue que jorrava da ferida tingia o tampo da mesa, como poderia ver-se sangue nos sapatos do morto? Mesmo que o sangue tivesse escorrido para o chão - facto que o Inspector verificou não se ter dado - nunca esse sangue chegaria aos sapatos, visto a sua posição não condizer com a perpendicular do bordo da mesa.
            Tudo isto levou o Inspector a pensar que, se houve delito, ele devia ter sido praticado noutro local qualquer. O facto de o corpo estar debruçado sobre a pequena mesa que estava debaixo do oratório - o qual, de uma maneira geral, está sempre colocado numa parede não havendo, deste modo, espaço para a manobra do atacante - mais reforçou a ideia de Arsil.

                As manchas viscosas encontradas no quarto deram-lhe a confirmação do facto, embora ele fingisse, perante a testemunha, que não lhe interessavam.
            Também o pormenor de a vítima estar em mangas de camisa lhe chamou a atenção. Com o frio que fazia, tanto fora como dentro de casa - o próprio Inspector teve de aconchegar-se melhor quando se dirigiu à janela que estava aberta - era lógico que o professor estivesse agasalhado, visto tratar-se de um indivíduo já duma certa idade. Também o facto de a janela estar aberta chamou a atenção do Inspector para a esperteza do culpado. Este, ao abrir a dita janela, apenas teve uma ideia: procurar fazer o arrefecimento da sala para que se produzisse a rigidez cadavérica o mais rapidamente possível, a fim de dar a ideia de que a morte se dera algumas horas antes.
            Mas, em face das manchas encontradas ainda estarem viscosas, permitiu ao Inspector deduzir que o ataque fora praticado havia pouco tempo. Logo, forçosamente, se notaria o espasmo cadavérico produzido pela contracção muscular no empunhar da arma. Ora o que o Inspector verificou foi que o morto tinha a mão espalmada sobre a pistola, donde se deduz que aquela fora ali colocada propositadamente.
            A reforçar toda esta teoria do Inspector, vieram as declarações do amigo do amigo do morto quando, ao referir-se à arma, disse ter visto várias vezes o professor Idalécio carregar o «tambor» com seis balas de aço. Sucede, porém, que sendo a arma encontrada uma automática Browning, nunca a testemunha poderia ter visto tal operação. Como é do conhecimento geral, uma automática não possui tambor, mas sim carregador, fazendo aquele parte dos revólveres e não das pistolas.
            Para completar as suas deduções, existia o facto de a vítima ser, relativamente leve para que o atacante pudesse, com relativa facilidade, transportá-la do local do crime - quarto de dormir - para a sala onde foi encontrada, seguindo-se a composição da «mise-en-scène».

                                                           «Sherlock Amador»      


                                                                                                          Jarturice II TNPP – 002.2

Divulgada em 18.Fevereiro.2016

POLICIÁRIO 1281



O POLICIÁRIO EM MOVIMENTO

E ESCLARECIMENTOS SOBRE COMPETIÇÕES

Uma vez concluída a publicação dos dois problemas que constituíram a prova n.º 1 do Campeonato Nacional desta época de 2016 e enquanto decorre o prazo para envio das propostas de solução, vamos debruçar-nos sobre algumas questões práticas, sobretudo dirigidas aos novos concorrentes e falar da actividade que o Policiário vai desenvolvendo, a nível da imprensa e da internet.

SOBRE A TAÇA DE PORTUGAL


A Taça é uma prova a eliminar. Portanto, a regra geral é a de que há um sorteio entre os confrades que estão em prova, de forma que cada um deles defronte outro e apenas esse. Assim, se um confrade, por sorteio, tem como opositor um outro, passará à eliminatória seguinte desde que obtenha uma pontuação superior ou, em caso de igualdade, uma solução mais conseguida, sob a óptica do orientador.
A única excepção a essa regra é na primeira eliminatória em que não haverá confrontos directos, mas sim o apuramento para a segunda eliminatória dos 512 “detectives” que elaborarem as melhores soluções. Daí o nosso apelo para que os “detectives” tenham especial cuidado na elaboração da resposta ao primeiro desafio, precisamente aquele para que está agora a decorrer prazo até às 24 horas do dia 29 de Fevereiro.
No caso de um dos opositores faltar à prova, não enviando proposta de solução, será eliminado, em favor do seu opositor, desde que este tenha comparecido.
Nos casos em que ambos faltam, será apurado, por repescagem, o titular da melhor solução entre todos os “detectives” eliminados nessa prova.
Exemplo prático: Nos quartos-de-final, portanto com 8 “detectives” em prova e portanto com 4 confrontos, faltam os dois contendores de um dos confrontos. Ora, nos restantes 3 confrontos serão encontrados, com naturalidade, os 3 apurados para as meias-finais, sendo o último participante, o autor da melhor solução apresentada pelos 3 confrades que seriam eliminados nesses confrontos.
Num caso extremo, por exemplo de faltarem muitos “detectives”, haverá sempre o apuramento dos que forem possíveis, mas em caso algum haverá repescagem de provas anteriores. Um exemplo: Com os mesmos 8 concorrentes em prova, faltavam 6. Apenas ficariam apurados os 2 respondentes, que passavam imediatamente à final. Se faltassem 7, ficava encontrado o vencedor da Taça e se faltassem todos, não havia vencedor, a Taça não era, pura e simplesmente, atribuída!


PRAZOS DE ENVIO DE SOLUÇÕES


Como já referimos, cada prova decorrerá num mês completo. Assim, tendo como exemplo a prova n.º 1, que decorre, as soluções dos dois desafios têm que ser enviada até às 24 horas do dia 29 de Fevereiro.
Se nos envios por meios electrónicos e nas entregas em mão, esse prazo é facilmente verificável, já nos envios pelos Correios, embora actualmente seja bastante residual, a situação muda de figura. Neste caso é sempre aconselhável que o “detective” tome as suas precauções, quer enviando com alguma antecedência, quer verificando na Estação dos Correios se a data aposta no sobrescrito é a do último dia do prazo, sob pena de ver o seu esforço anulado. De qualquer forma, nenhum confrade será excluído se puder provar que o envio foi anterior ao término do prazo, independentemente de chegar depois.


O POLICIÁRIO EM MOVIMENTO

Para além deste nosso espaço, o Policiário é vivido em outras publicações, sítios e blogues, que podem constituir bons locais para os confrades procurarem mais informação sobre o nosso passatempo.

CORREIO POLICIAL

Secção que semanalmente é publicada no semanário regional Correio do Ribatejo, que se publica em Santarém.
O espaço é gerido por um dos “monstros sagrados” do Policiário, o confrade Inspector Aranha (d.cabral@sapo.pt), diversas vezes premiado e titulado como campeão nacional e vencedor da Taça de Portugal. Privilegia a publicação de contos policiais e problemas, de antigamente e de agora, fazendo a divulgação do policial nas suas múltiplas dimensões.

CLUBE DE DETECTIVES

É o sítio de autoria do confrade Daniel Falcão, confrade de Braga, também campeão nacional e vencedor da Taça de Portugal, que disponibiliza imensa informação, quer do andamento das competições, quer dos problemas publicados e respectivas soluções. É, aliás, de acompanhamento obrigatório para todos os “detectives” que participam nos nossos torneios, para ficarem sempre ao corrente do que se vai passando.
Pode ser acedido em http://clubededetectives.pt.

CRIME PÚBLICO

É o blogue que está associado a esta nossa secção, servindo de seu suporte, no sentido de fornecer informação atempada, que uma secção semanal não permite. Notícias, classificações, informações, alguma da nossa história, tudo vai passando pelo blogue, agora também com muita informação sobre o Arquivo Histórico da Problemística Policiária Portuguesa, a cargo das investigações do confrade Jartur, que nos confere o privilégio da sua divulgação.
O Crime Público está em http://blogs.publico.pt/policiario.
    

POLICIÁRIO DE BOLSO

Um blogue de grande qualidade, feito a partir de Santarém pela Detective Jeremias, uma das policiaristas mais importantes do novo policiário, campeã nacional em título. Por este blogue passou a divulgação de alguma da imensa obra do nosso mestre Manuel Constantino e agora decorre uma série de crónicas ficcionadas de autoria do confrade A. Raposo, que têm como base as aventuras e desventuras de um cabo de esquadra, o cabo Jeremias.


POLICIARISMO

Um blogue especialmente dirigido à memória do Policiário que por cá se fez no após 1975, ou seja, na fase do regresso em força, pela mão do inevitável Sete de Espadas. São memórias de convívios, de competições, de problemas, de todo um mundo que fervilhou nas décadas de 70 e 80 do século passado.
Para reviver memórias ou tomar conhecimento dessa realidade, em http://policiarismo.blogspot.pt.



domingo, 14 de fevereiro de 2016

FALECIMENTO DE LÍLIA SOL - POLICIARISTA DA VIDIGUEIRA


O texto que se segue é tradutor daquilo que o Policiário representa, como espaço de convívio e abraço entre pessoas que podem não se conhecer pessoalmente, mas estão sempre irmanadas neste Mundo Policiário.
Trata-se de um texto de um e-mail enviado pelo confrade CACDias ao confrade JARTUR, aqui reproduzido pela sua natureza semi-pública, já que foi remetido com conhecimento a todos os participantes nas JARTURICES. Que os visados nos perdoem a publicação, mas não resistimos... até porque fica em "família"!

A propósito do falecimento de LÍLIA SOL, policiarista de outros tempos, da Vidigueira, Maria Josefa de Almeida, de seu nome:

LILIA SOL
 (n. 27/02/1932  f. 21/01/2016)


Meu caro Jartur,

Este novo envio, após toda a azáfama originada pelo falecimento da Lília Sol, tem-me levado a meditar sobre o fenómeno deste grupo ou tertúlia.
A verdade é que, por mim, conheço pessoalmente pouquíssimos dos seus elementos. E, se calhar, serão poucos os que conhecem todos.
Mas isto não impede que haja uma notável coesão entre a "família". E tudo se deve ao esforço, à pertinácia, à disponibilidade e ao dinamismo do Jartur - com ou sem"Mr." antes do nome.
Eu, por exemplo - que sou, talvez, um pouco "bicho do mato", não apreciando muito a notoriedade e metido comigo mesmo - eu, por mim, reparo que, como devo ter permanecido naquele período de hibernação problemística entre o "Camarada" e o "Mundo de Aventuras", com novo adormecimento a seguir a este, não me lembro nada das prestações da Lília Sol. Mas não há dúvida que fiquei pesaroso e emocionado com a notícia daquele que poderia ter sido o seu falecimento. E segui interessado a gigantesca onda de solidariedade que se levantou para tentar resolver o problema e saber se deveríamos estar todos de luto ou não. Foi um movimento extraordinário este, ao qual me associei, sem poder fazer mais nada a não ser aguardar.
Chegou ao fim, Paz à sua alma, e que o Senhor a guarde.

Um novo abraço, meu caro jartur, e até à próxima rodada desta tertúlia... computadorizada.

CACDias