segunda-feira, 28 de março de 2016

PRAZO MAIS ALARGADO...


Dificuldades inesperadas obrigam-nos a prolongar por uns dias o prazo para envio das propostas de solução da prova n.º 2 do Campeonato Nacional - 2016.

Para além das razões habituais e recorrentes, de grande afluência e dificuldade de alinhamento dos confrades para a 2.ª eliminatória da taça, sendo sabido que nunca poderá haver o fim de um prazo sem que seja conhecido o sorteio da eliminatória seguinte, junta-se ainda a circunstância de o final do mês coincidir com a época da Páscoa, o que causou alguma perturbação em termos de rotinas...

Aos nossos confrades, apresentamos desculpas e... revelamos o novo prazo:
 
DIA 8 DE ABRIL!

domingo, 27 de março de 2016

POLICIÁRIO 1286



PROBLEMAS POLICIÁRIOS

Começaram as nossas competições e com elas, os desafios policiários que assumem importância vital no nosso passatempo. Logo no primeiro desafio, houve vozes que se levantaram contra a solução oficial, defendendo que qualquer das hipóteses era válida.
Naturalmente, as discussões sobre policiário são recorrentes, sobretudo quando o que está em causa são primeiros problemas, de novos produtores, muitas vezes sem o “calo” que permita evitar os conflitos.
Mas, hoje não nos vamos debruçar sobre o problema publicado, mas sim apontar alguns aspectos que poderão ser úteis para os candidatos a produtores, que nunca devem desistir, mas antes aperfeiçoarem os seus métodos.
Como é óbvio e natural, todas as capacidades dedutivas dos confrades têm que ser postas em actividade máxima para responderem aos problemas que são propostos. Estes, produzidos também no seio da nossa “tribo policiária”, encerrarão elementos que são obrigatórios, nomeadamente retractarem situações verosímeis e haver uma componente de mistério para decifrar.
Quando um autor apresenta um problema, sabe de antemão que vai ser escrutinado e alvo de críticas, que poderão ter fundamento ou nem por isso.
No processo de feitura, o autor deve ter bem presente a chave que pretende para o problema, ou seja, a solução que quer que os solucionistas lhe venham a dar. Assim, deve conferir, desde logo, se essa solução é absolutamente correcta ou não. Em muitos casos, acontece que os factos são empíricos e não verificáveis e depois aparecem várias opiniões e conclusões para o mesmo acto. Por exemplo, se a solução se vai basear no facto de um cão ladrar a estranhos e não aos donos, isso terá se ser concretamente vertido no texto, sob pena de não ser uma conclusão óbvia e certa. Há cães que ladram a todos, outros que não ladram a ninguém, outros ainda que ladram de modo diferente conforme o seu humor e o destinatário! O autor teria, pois, que nos fornecer todos os dados sobre o animal, disfarçadamente, ao longo do texto, para que pudesse ser retirada a conclusão que pretende.
Uma vez certificada a solução pretendida, o autor deve enroupar a acção, ou seja, descrever com o pormenor necessário, toda a cena, personagens e ambientes, tendo sempre presente as conclusões de chegada.
Uma vez elaborado todo o problema, o autor deve testar a solução, aplicando-a e fazendo a leitura “ao contrário”, ou seja, da conclusão para os pressupostos e verificar se a mesma confere na íntegra e se ao longo de todo o processo não aparecem “portas” alternativas que possam conduzir a conclusões diversas. Se em qualquer momento se abrirem alternativas, há que seguir cada uma delas para verificar se mais à frente elas ficam inviabilizadas. Neste caso, o problema ficará perfeito, uma vez que apenas terá aquela solução, mas diversos caminhos que vão podendo ser seguidos pelos decifradores, para serem todos eliminados mais à frente.
Em resumo, um produtor de problemas policiários deverá construir o seu caso para concluir na solução escolhida e única e testar o desafio para que não aceite mais nenhuma alternativa válida.
Um dos maiores obstáculos que hoje se apresenta aos candidatos a produtores, é a questão do espaço disponível. Em tempos não muito distantes, a questão do espaço não era um problema candente e todos os que já temos uns anitos disto nos lembramos dos desafios publicados no Mundo de Aventuras, pela mão do Sete de Espadas, ou na revista Passatempo, a cargo do Inspector Aranha, com várias páginas, muita descrição de cenas e personagens, muito texto para dissimular os pormenores que faziam a solução. A simples leitura do problema já era um exercício bem complicado e a sua interpretação era obtida em leituras “à linha” ou “ao parágrafo”, para poderem ser absorvidos todos os indícios. Hoje, o espaço disponível é reduzido e os problemas têm um número máximo de caracteres que obrigam os produtores a um exercício suplementar de síntese, causando uma concentração de pormenores e indícios que acabam facilitando a tarefa dos decifradores, para além de dificultarem a parte literária do próprio texto.
Alguns confrades entendem que deveríamos explorar outros caminhos, desde a publicação de desafios mais extensos em duas partes, em semanas consecutivas, até à publicação no blogue Crime Público, onde as limitações de espaço não existem.
Se a primeira sugestão não reúne as preferências dos confrades, que já em diversas ocasiões fizeram saber que a perda da unidade do problema pela publicação “em prestações” não era boa solução, no caso do blogue ainda mais vozes se levantam, por conduzir à exclusão de muitos leitores que seguem fielmente o PÚBLICO, mas ignoram completamente a informática e as novas tecnologias.
Enfim, temos de usar aquilo que é posto à nossa disposição, mesmo com as limitações existentes e continuarmos a levar aos “detectives” os casos criminais e policiais que todos gostamos de ler e decifrar, independentemente das restrições existentes.

CLASSIFICAÇÕES DA PROVA N.º 1

Como é do conhecimento generalizado e de acordo com os regulamentos, nos sorteios da Taça de Portugal cada confrade deve saber quem é o seu opositor, antes de terminar o prazo para resolução dos enigmas.
Recorrentemente, aquando da primeira prova, a tarefa é de dificuldade máxima, sobretudo porque o que está em causa não é a competição do “um contra um” que depois a Taça de Portugal passa a ser, mas sim a escolha das melhores 512 propostas de solução para definir quem são os 512 confrades que irão prosseguir em competição.
Esse trabalho, sempre muito moroso e difícil, está a ser feito e será divulgado no blogue Crime Público, em http://blogs.publico.pt/policiario, a tempo de cada concorrente apurado saber quem é o seu opositor directo. Lá encontrarão, pois, os 256 confrontos para a segunda eliminatória que terá como pano de fundo os problemas da prova n.º 2, cujo prazo limite para resposta é o dia 31 do corrente mês de Março.



terça-feira, 22 de março de 2016

FALECEU O CONFRADE AVLIS E SNITRAM - O POLICIÁRIO ESTÁ DE LUTO!

AVLIS E SNITRAM - CONVIVA POR EXCELÊNCIA

A notícia chegou, rude, mas já esperada, face ao quadro que se desenhava.

O nosso confrade AVLIS E SNITRAM, um campeão da amizade e da confraternização, sempre presente nos eventos que o Policiário promovia, assíduo nos convívios e presença certa nos almoços da Tertúlia Policiária da Liberdade, deixou-nos.
A notícia...


POLICIÁRIO E SPORTING - DUAS PAIXÕES


"Caros confrades,


                          Fomos hoje informados pela família que infelizmente o nosso amigo faleceu ontem à noite.

De momento não temos mais informações.

saudações policiárias

A.Raposo & Lena"
COM CLORIANO MONTEIRO DE CARVALHO
TAMBÉM
 DESAPARECIDO RECENTEMENTE
O nosso Policiário está de luto, por tamanha perda.
Fica a recordação boa de um confrade que jamais questionou uma solução ou a perda de pontos, mesmo quando a injustiça era notória.


NO ESPAÇO DA TPL, ONDE MARCAVA PRESENÇA ASSÍDUA

Onde quer que esteja, até sempre AVLIS!

domingo, 20 de março de 2016

II TORNEIO NACIONAL - CLUBE LITERATURA POLICIAL - SOLUÇÃO PROBLEMA 7

                                                           
                                                                                       


II TORNEIO NACIONAL DE PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA
Solução do Problema n.º 7
LÚCIFER INTERVEIO NA HISTÓRIA...
Apresentada pelo autor: «SETE DE ESPADAS»
 Publicada na revista “FLAMA” # 544
  em 08 de Agosto de 1958




a)    - O assassino foi Flamínio.
b)   – Lerroux não podia ser: tão nervoso e desajeitado nos gestos (tombara
uma jarra ao narrar o seu caso passional) não podia ter praticado um crime que não deixou rasto.
c)    - Bernard também não: a ponta do charuto, fora trincada, e o capitalista
havia 4 dias que extraíra os dentes incisivos. Ilibado.
         Logo, foi Flamínio. Como?... O «Mefistófoles» ao zangar-se com Bernard e, dois dias após, com o banqueiro, quis, de um tiro, matar dois coelhos. De índole cruel, inteligente e terrìvelmente plácido, recorrendo às suas habilidades de faquir, fácil lhe foi furtar um dos famosos charutos do capitalista; depois mercê dum plano lùcidamente elaborado, assassinou rancorosamente o banqueiro, não deixando o mínimo vestígio – a não ser o “Dounia”, que, mais tarde ou mais cedo, após laboriosas pesquisas, havia de meter o Bernard numa prisão. Tudo parecia infalível.
         Desgraçadamente, o «italiano» ignorava – a sua inteligência não podia adverti-lo disso… - o percalço dentário que 4 dias antes sucedera ao capitalista.
Lúcifer interviera na história…
         Estas são as provas essenciais. Mas há pormenores secundários fàcilmente perceptíveis. Por exemplo Lerroux havia 2 anos que não entrava em casa de Bernard; Flamínio apenas 8 dias - por conseguinte, só este tinha possibilidade de furtar o famoso «Dounia». Lerroux era o que mais odiava o banqueiro e perdia a serenidade ao vê-lo; e o seu rancor a Bernard, datando de 2 anos, era labareda infernal!
         Ora, um homem assim violento, que em tão longo espaço de tempo não buscou oportunidade para revindicta – é porque não tem bossa para assassino…
                                                                             
                                                                   «Sete de Espadas»



         

Caros Amigos:
         Como alguns de vós concordarão, o «Sete», que foi um bom Pai de alguns filhos genéticos, também foi pai de algumas inovações policiárias, e pai adoptivo de muitos jovens “sherlocks”.
         No Dia do Pai, deste ano de 2016, aqui fica para o «Sete de Espadas” a nossa “filial” Homenagem.
                                                                                Jartur
      





 Jarturice II TNPP – 007.s

         Divulgada em 19.Março. (Dia do Pai). 2016

POLICIÁRIO 1285



RESOLVIDOS MISTÉRIOS DE ASSALTO
E DE CARRO DESAPARECIDO

Chegamos ao momento de ficarmos a conhecer as soluções da primeira prova das nossas competições desta época.
Tratando-se da primeira prova deste ano, acaba funcionando como uma espécie de aperitivo para o que se seguirá e uma primeira experiência para todos os confrades que só agora resolveram começar a competir connosco.
Não sendo problemas especialmente complicados, também não podemos dizer que estavam isentos de alguns erros, que os seus autores, certamente por alguma inexperiência, não acautelaram.
No problema “O Assalto”, o Inspector Jagodes produziu um bom desafio, mas deixou algumas pontas soltas, que poderiam ter sido resolvidas de forma mais objectiva, impedindo conclusões que, precipitadamente, alguns “detectives” retiraram. Ao produtor compete, sempre, orientar cada caso, fechando todas as hipóteses de haver outras soluções ou interpretações. De qualquer forma, tratando-se do primeiro desafio, o orientador terá sempre em linha de conta esses factores, no momento de classificar. Um solucionista não deverá ser penalizado por retirar conclusões plausíveis, a partir de dados fornecidos pelo produtor para serem analisados de outra forma.
Nestas coisas do Policiário, a experiência é de importância capital e o mais importante é que cada produtor continue a produzir desafios, melhorando-os a cada momento, procurando sempre novas chaves para decifração, apostando na sua qualidade. Será frustrante chegarmos à conclusão de que um determinado problema não tem a resposta adequada, depois de imenso tempo perdido na sua análise, ou que é anulado após tanto esforço, muitas vezes por pormenores que poderiam ser evitados.
Por isso vamos lançando o nosso apelo para que todos os nossos “detectives” elaborem um desafio, de qualquer dos tipos e o façam com o espírito de propor aos restantes confrades aquilo com que gostariam de ser confrontados. Aquilo que lhes daria prazer resolver. Se cada decifrador produzisse um desafio e depois arrostasse as críticas que lhe são feitas, quantas vezes injustificadamente, certamente passaria a encarar o trabalho de criação de outra forma.
Como é sabido, um problema passa sempre pelo contar de uma história, por retratar uma cena verosímil, capaz de ter ocorrido em qualquer lugar, que envolva um enigma e a sua resolução. Terminada a exposição dos factos, no exacto momento em que o investigador vai passar à fase de apresentação das conclusões e exibir as provas em que se baseia para apontar o responsável, o produtor interrompe o seu conto e lança os seus desafios. Alguns produtores escolhem o método de fazer algumas perguntas, que querem ver respondidas, outros optam por simplesmente interromperem o texto e aguardarem pelos relatórios. No caso dos de escolha múltipla, o texto termina com as quatro hipóteses de solução, de entre as quais o decifrador terá que escolher uma.
Cabe-nos, aqui, saudar o Inspector Jagodes e o Ferra Hary por nos terem trazido bons momentos de decifração e incentivá-los a prosseguirem na senda da procura de mais e melhor qualidade, sempre com a certeza de que a perfeição não existe e mesmo os melhores e mais consagrados produtores falham e cometem erros.

CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL – 2016
SOLUÇÕES DA PROVA N.º 1
PARTE I – “O ASSALTO” – de INSPECTOR JAGODES

O Toneca não pode ter cometido o assalto. A descrição que é feita diz que está a chover torrencialmente, daquela chuva de trovoada, que o João apanhou estoicamente a caminho de casa. Quando o suposto Toneca sai do prédio e vira na sua direcção, para depois rectificar e subir a rua, a chuva ainda cai com intensidade, o mesmo acontecendo enquanto sobe a rua, Portanto, certamente que molhou bastante a roupa que vestia.
Quando o João vai ao salão de jogos, fica a saber pelo Pixote que ele foi ao quarto porque estava mal disposto, mas regressou ao jogo. Portanto, teria de ser nesse espaço de tempo que realizaria o assalto, para regressar ao jogo. Mesmo partindo do princípio que ele saía directamente para a casa onde ocorreu o assalto, fazia o assalto, molhava a roupa no trajecto, subia ao quarto, mudava de roupa e regressava ao jogo, ficava sempre a questão do destino dado à roupa molhada que ele mudara, os sapatos, etc.
A polícia verificou a roupa que ele envergava, que estava impecável, como é referido, o que quer dizer que não estava molhada e foi ao quarto onde nada encontrou de significativo, portanto não havia roupa molhada nem o produto do roubo.
Também não seria lógico que a Catarina não identificasse o Toneca quando foi agredida, mas aí podia haver um acto de intimidação ou um falso testemunho da parte dela, por amor ou outra coisa qualquer.
Finalmente, se o assaltante fosse o Toneca, após o assalto não teria virado para o lado de onde vem o João, para depois inverter o rumo, mas viraria logo para o lado onde estava o seu jogo e o seu quarto e para onde quereria ir.
A reacção do Toneca ao rumar imediatamente à casa da Catarina não pode ser tomada como surpreendente porque estando tão perto e sendo-lhe dito pelo João que a Catarina foi assaltada, era normal que tomasse logo essa direcção.
A única conclusão a retirar é a de que não foi o Toneca quem praticou o assalto.

PARTE II – “O MISTÉRIO DO CARRO DESAPARECIDO” – de FERRA HARY

A hipótese correcta é a B – Juca.
Ele diz que não mexeu no carro da mãe, mas advertiu o irmão de que o carro tinha uma luz fundida, que mais ninguém refere e que ele naquele momento não devia saber porque ainda não era noite e ninguém ligara as luzes. O que ele quis foi que o irmão não levasse o carro para poder ser ele a levá-lo.



sábado, 19 de março de 2016

II TORNEIO NACIONAL - CLUBE LITERATURA POLICIAL - PROBLEMA 7

                                                                        
                                                                          
II TORNEIO NACIONAL DE PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA
Problema n.º 7 (SETE)
LUCIFER INTERVEIO NA HISTÓRIA           Publicado na revista “FLAMA” # 530 
Original de: Sete de Espadas              em 02 de Maio de 1958

           
O cadáver do banqueiro, crivado de golpes, estava deitado na alcatifa, como que em posição de sentido. Aos pés, em face deles, uma poltrona, e, ao lado direito, uma mesinha. Sobre ela um montículo de cinza de tabaco, um magnífico charuto meio consumido, e a respectiva ponta. No chão, a cinta do charuto onde se lia a marca «DOUNIA». Nem um mínimo rasto por onde inferir-se a identidade do criminoso.

         Conclusão: - Um crime perfeito!
         Móbil: - Vingança! Actuação de um sádico.  

O assassino, após o crime, e saciada a vingança que inúmeras feridas testemunhavam, instalara-se ante o cadáver sangrento, trincara a ponta dum charuto e fumara-o com volúpia que a contemplação da vítima mais avivava.
 (O facto de não existir cinzeiro explica-se pela interdição médica que impedia o banqueiro de fumar).
Os três suspeitos estavam na minha frente: - Bernard, Flamínio e Lerroux. Todos odiavam o banqueiro. Todos se odiavam entre si. Todos fumavam charuto.
- Ouça, Flamínio – comecei, seguindo um raciocínio súbito e, aparentemente, inoportuno. – Você que era amigo de Bernard, porque se zangou com ele?
Flamínio sorriu: - «Já lá vão 8 dias e como sabe sou um desmemoriado».
- Essa tem graça! – Exclamei. – Ó Bernard, então você não se ri?...
- Desculpe – respondeu com dicção difícil. – Ando, há quatro dias em tratamento no Dr. Lacroix que me extraiu os incisivos. Enquanto não colocar a nova dentadura mal posso falar e muito menos rir-me…
Olhei então para Lerroux que, sempre nervoso, esbugalhava para mim os seus olhos pardos. Era o que mais rancor votava ao banqueiro. Perdia a serenidade ao vê-lo e afirmava que o havia de matar…
… Mas seguindo o meu fio de raciocínio, voltei-me de novo para o Flamínio.
- Homem, você de há uns tempos para cá anda endiabrado. Há 8 dias incompatibilizou-se com o Bernard; dois dias depois saía do gabinete do banqueiro rugindo ameaças; e, ontem à noite agrediu à biqueirada o guarda-nocturno da sua área…
Flamínio respondeu enfadado: - E daqui a pouco agrido-o a você!

Olhei-o com curiosidade: - distinto, feições finas e cruéis, merecia bem o apodo de «Mefistófoles Italiano”… Tinha habilidades fantásticas de faquir… Ao lado dele, Bernard, o capitalista excêntrico, aparentava calma no rosto amarelo de intoxicado. Fumava como uma chaminé. Tinha mesmo encomendado à melhor fábrica da especialidade, uns excelentes charutos para seu uso exclusivo que recatara até dos próprios amigos. Dizia-se que mandara gravar nas cintas o nome duma grácil rapariga que Lerroux havia trazido da Livónia, e que o capitalista tivera artes de seduzir com assíduas visitas ao casal. Com ela vivia há dois anos – e o ódio de Lerroux ao capitalista Bernard era labareda infernal…       
Subitamente, proferi com voz enérgica: - Lerroux, esse amor insensato perdeu-o!
Lerroux exclamou com paixão: - Minha adorável Donnia! – O seu corpo teve um estremecimento e com uma grande cópia de gestos que fizeram lembrar uma jarra, exteriorizava o seu ódio ao traiçoeiro Bernard, quando me ergui num repente: - Você disse Donnia?...
- Sim – respondeu Lerroux. – Ela chamava-se Dounetcka, mas, na intimidade, tratava-se por Donnia.

Tirei do bolso a cinta do charuto e mostrei-a a Bernard: - Então o que eu supunha ser a marca deste “paivante” é o nome da sua beldade?...
- Crime e castigo! – Berrou Lerroux numa exaltação enorme.
Bernard, muito pálido, apenas pôde balbuciar: - Esta só pelo Diabo!...
- Tem razão – acrescentei. – Lúcifer interveio na história… E ainda bem, porque me fez descobrir o assassino.






Pergunta-se:

Quem foi o assassino?

Apresente provas.









Não sabem, caros Amigos…
Como se torna dolorosamente agradável, recordar, nesta minha oficina, gabinete de trabalho que outrora dispunha dum armário cama/basculante, onde por duas ou três vezes o saudoso «Sete de Espadas» pernoitou, nas vésperas de alguns dos famosos convívios realizados no Porto, ou noutras cidades não muito distantes.
         Estas palavras, não se destinam apenas a preencher espaço nesta página.
         Saltam do papel ou do computador, para o espaço que o “Sete”, autor do problema número “Sete”, do II TNPP, ocupa na memória de quantos tiveram o gosto de o conhecer, e decifrar os seus interessantes mistérios.

Considerem, portanto, que este pequeno texto, pretende ser uma grande homenagem ao Homem que mais se entregou à defesa e divulgação do mistério policiário.

      Jarturice II TNPP – 007
      Divulgada em 18.Março.2016


II TORNEIO NACIONAL - CLUBE LITERATURA POLICIAL - PROBLEMA 6

                                                                            
                                                                      
II TORNEIO NACIONAL DE PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA
Problema n.º 6
ELE... O TERROR NEGRO!                       Publicado na revista “FLAMA” # 525 
Original de: M. B. CONSTANTINO           em 28 de Março de 1958

         Não, não estou louca. Ele voltou e há-de voltar sempre… sempre… há-de matar-me…Acreditai-me… eu conto, mas acreditai-me…
         - Vivemos, eu e o meu marido, na nossa quinta de X, a cinco quilómetros da povoação. A casa é isolada, ladeada de laranjais e com um caminho empedrado servindo a estrada principal, ao longo da qual se vêem outras vivendas isoladas. Não temos criados; os trabalhadores ocasionais vão-se com o pôr do sol.
         J., meu marido, vai duas vezes por semana jogar xadrez com H., o vizinho mais próximo, a cerca de 1.500 m ao longo da estrada. Foi num desses dias. O Inverno começara. Uma chuva miudinha chegou com a noite negra, uma noite sem lua… mas meu marido não perde a sua partida; calça as botas altas, põe um impermeável e de chapéu caído sobre os olhos, deixa-me entregue aos meus afazeres… Virá pela noite e eu esperá-lo-ei como sempre.
         Dez horas, onze… olho através da janela a escuridão lá fora, o pio do mocho… sinto um arrepio… volto-me sentindo a presença de alguém. Vou a murmurar:
         - Já voltaste? – Mas fico petrificada. No limiar da porta que se abre silenciosamente, uma figura alta, toda de negro, avança… quero gritar… quero fugir… o homem de negro avança e a sua mão enluvada de negro vem afagar-me o rosto branco; a sua capa lembra as asas de dum morcego enorme… um monstro! O rosto é apenas uma mancha negra… avança mudamente pela casa e eu sinto-me incapaz dum só movimento, os lábios colados de terror… ELE, ele abre um armário, tira uma garrafa de Porto, bebe voltando-me as costas, um largo trago, e estendendo-me o copo acaba derramando o líquido nos meus lábios e no queixo, pousa o copo e a mão negra vem acariciar-me os olhos… silenciosamente caminha para a porta: da sua presença ficarão apenas os ténues pingos de água, no sobrado, que lhe caíram na capa, a garrafa e o copo sobre a mesa… desmaio.
         J. voltou, não me acredita. Limitou-se a sorrir: - «Tu bebeste, querida» - Nenhum indício da passagem d’ELE; os pingos secaram, a garrafa e o copo não tem impressões digitais. Insisto: - «Eu não bebi… não estou louca… não estou… não estou…»
         … E o homem de negro tornou… uma, duas, eu sei lá… sinto que enlouqueço de terror. A porta que eu tranco quando J. sai, volto a abri-la receando que ELE deite fogo à casa… volto a abri-la para ELE entrar e em silêncio repetir os gestos das outras vezes, sem jamais deixar um indício da sua presença… apenas a garrafa e o copo inúteis…
         Fomos ao médico. Grito-lhe o meu horror, suplico, choro a verdade… não estou louca…não quero estar louca, não… não… O médico encolhe os ombros e receita-me um “vin-contre”…  
         Comprámos, a meu rogo, um magnífico e corpulento cão polícia. Sinto que será a minha salvação. J. saiu novamente, depois dumas noites de espreita para «descargo de consciência». E o terror voltou… a porta abriu-se como sempre, o cão rosnou prestes a saltar, mas, acabou por abanar a cauda e deitar-se com o focinho entre as patas dianteiras… fora dominado… Meu Deus, dominado… dominado…
                                                                                                                                                  
 *     *     *     *     *     *
        

Não estou louca! Acreditai-me. Sinto que vou morrer de terror… Aproveito o dia para escrever este relato. ELE retornará logo, eu sei! Vi agora D, a loura e linda filha do parceiro de J. vir convidá-lo em nome do pai para a costumada partida nocturna. Vi J. atirando-lhe, a brincar, um beijo na ponta dos dedos; mas que importa? O terror negro deixa-me incapaz de lutar…
         Oito… nove…dez horas! J. saiu com um olhar de comiseração, depois de me esconder todas as garrafas. Eu não bebo, meu Deus, eu não bebo… Apago a luz. O vidro da janela atulhado de neve, que deixou agora de cair, reflecte a lua ternamente… Tapo-a, procurando a segurança da escuridão… Sinto, mais que vejo, a porta abrir-se… e o medo avança… avança… a luva negra vem tocar-me o rosto… e grito pela primeira vez! Um grito que é um desabafo incontido… Eu não estou louca… não estou louca… posso agora provar a presença do terror negro!
a) – Qual o pormenor que pode provar a presença do terror negro?
b) - Pode dar uma ideia de quem seria ou o que seria o terror negro?

E o Jartur previne:
Como repararam, na data do início, este problema foi publicado no mesmo número da “Flama” em que viera à luz o problema anterior.
   E atenção, não se tentem em ir já ler a solução oficial, que publico abaixo, por mero aproveitamento de paginação.
Raciocinem um pouco, antes de desvendar o mistério.


                Aliás, aceitem o procedimento como uma homenagem ao nosso Mestre, que construiu um problema num interessante conto, ou, antes pelo contrário, um pequeno conto num grande “problema”.






II TORNEIO NACIONAL DE PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA

Solução do problema n.º 6                                  Publicada na revista “FLAMA” # 538 
ELE... O TERROR NEGRO!                                  em 24 de Junho de 1958
Apresentada pelo autor: M. CONSTANTINO

«Não, não estou louca. A neve deixara de cair e eu pude enfim descobrir as pegadas
de um ser humano marcadas na alvura.
            Um ser humano que não passava de meu marido empenhado em levar-me à loucura, talvez mesmo ao suicídio, em troca da atraente D. nossa vizinha.
– Descobri enfim porque o cão polícia: não arremeteu naquele dia - ele conhecia O TERROR NEGRO».                 
                                                                                  M. B. Constantino
                                                                                                                     
      Jarturice II TNPP – 006
      Divulgada em 15.Março.2016


II TORNEIO NACIONAL - CLUBE LITERATURA POLICIAL SOLUÇÃO PROBLEMA 5

                                                                    
                                                                             
II TORNEIO NACIONAL DE PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA

Solução (?) do Problema n.º 5               Publicado na revista “FLAMA” # 525 
IMPOSTOR, OU TALVEZ NÃO                                    em 28 de Março de 1958
Original de: «MÁRVEL, o Misterioso Mascarado»  
                        
Nota prévia:
Quando foi publicado, o problema que aqui comento, encontrei facilmente a resolução que o autor pretendia, e disso fiz referência na solução enviada. E tive o cuidado de escrever ao meu Amigo Márvel (ele vivia no Porto e eu em Aveiro) informando-o de que talvez ele pudesse, inteligentemente, dar, em adenda, uma justificação ao lapso.
Quem leu o problema, terá admitido, desde logo, que a solução estaria na falsidade da mensagem. Mas como? A menção ao estalar da guerra, situa-nos numa época que nos recordará a entrada em vigor de um acordo ortográfico. E deduz-se, se a carta fosse verdadeira, estaria escrita segundo as imposições do acordo anterior.

No n.º 538 da Flama, em 27 de Junho de 1958, fiz publicar o seguinte comunicado que recebera do Júri do Torneio:


II T.N.P.P.
Por inoperância da solução pretendida pelo autor, foi anulado o 5.º problema deste torneio, Assim, ficam sem efeito as soluções do problema «Vigarista… ou talvez não», considerando, como se elas e o referido original não existissem.   

SENDO ASSIM:

A solução do problema n.º 5, segundo o autor, fundamentava-se na carta e na ortografia moderna. Porém, e devido aos protestos que a sua solução originou entre os solucionistas, o JURI reuniu-se e estudou o assunto.
Dessa análise foi-nos enviada uma nota que passamos a transcrever:

NOTA: - Quando o Júri escolheu o problema «Vigarista… ou talvez não», fê-lo convicto que o autor se havia informado convenientemente dos fundamentos em que se baseava para solucionar o caso.
         Mais tarde, porém, suscitaram-se dúvidas, e a consulta da legislação aplicável – decreto de 12-9-1911 e portaria 2.533 de 29-11-1920 – comprovou a inoperância da solução pretendida pelo autor.
         Sendo assim o Júri anula o problema em causa, devendo todas as classificações ser rectificadas de harmonia com o exposto, isto é, como se o problema não existisse.
        
É evidente que não concordei com a resolução tomada. Ponderadas as coisas, por mim, o problema seria classificado em último lugar. E os concorrentes, receberiam pontuação, consoante o valor real das suas exposições.

                                                                                                 Jarturice II TNPP – 005/s
                                                                                          Divulgada em 09.Março.2016