domingo, 28 de agosto de 2016

POLICIÁRIO 1308




DESMASCARADO QUEM FEZ “VOAR”
A VÉNUS DE MILO…

Ainda em tempo de férias para uma grande parte dos confrades e “detectives”, enquanto há sol e calor e as praias se vão enchendo, na procura de alguma frescura, a nossa competição não faz paragens, porque há metas a alcançar e prazos a cumprir.
Praticamente debelada a crise que nos afectou, motivada pela perda da “pen” que continha quase tudo o que necessitávamos para que a competição decorresse sem sobressaltos, continuamos a lutar contra o tempo para podermos recuperar todos os atrasos e recolocar este campeonato nacional nos eixos.
Entretanto, vamos deixar os nossos “detectives” com a solução que a dupla Búfalos Associados deram ao problema de escolha múltipla que constituiu a parte II da prova n.º 6, não sem antes relembrarmos que os nossos decifradores apenas teriam de indicar a alínea que, no entender de cada um, resolvia o enigma. Os Búfalos entenderam por bem dar uma solução muito completa e exaustiva, que deixamos aos nossos leitores, como comprovante de que um problema de escolha múltipla não é sempre sinónimo de problema linear e simples:

            
CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL – 2016

SOLUÇÃO DA PROVA N.º 6 – PARTE II

“AS ASAS DA VÉNUS DE MILO” – de BÚFALOS ASSOCIADOS

            A alínea correcta é a C).

            O inspector Garrett começou por suspeitar de todos e até da hipótese de um assaltante desconhecido. O vulto visto a correr, ou a pessoa lendo o jornal dentro do carro, levantavam dúvidas. Mas, posta de parte a ideia de conluio por se ter apurado que os devedores nem sequer se conheciam, concluiu que, se houvesse um mentiroso, aquele que claramente tivesse mentido, era o provável assassino e ladrão. E as dúvidas não tardaram a desvanecer-se. Pelo menos cinco pormenores denunciaram o criminoso:
     1.o - Foi certamente por um telefonema que Raul Beleza chamou o 112 a comunicar o trágico sucedido. Mas então não disse ter deixado o seu telemóvel no escritório da senhora situado no andar de cima? D. Lina não tinha telefone fixo nem telemóvel e o Raul disse que "nem chegou a subir e chamou o 112, tendo tido o cuidado de esperar na rua sem tocar em nada". Decerto tinha consigo o seu próprio telemóvel o qual usou, pois na pacatez daquele beco não haveria qualquer cabina telefónica. Mentiu, portanto.
     2.o - Raul, morador longe de Lisboa, afirmou que saiu pelas 16.45 de volta a casa, e seriam seis horas, já "quase a chegar a casa" (uma hora e um quarto depois), quando resolveu regressar por ter reparado que se esquecera do telemóvel. Mas pelas seis e meia já estava a chamar o 112. A crer no que afirmou, o regresso teria sido demasiado rápido, ou seja, na verdade estava muito mais perto... Mentira, também.
     3.o - Luís disse ter entregado algum dinheiro como amortização, em notas que a senhora guardou debaixo da miniatura da Vénus de Milo. Portanto a estatueta ainda lá estava nessa altura. Mas o Raul, que foi recebido antes, afirmou nem ter reparado na estatueta em cima da secretária, a qual, pesando mais de 7 quilos de ouro, não devia passar despercebida. Mentiu. Claro que a viu e certamente cobiçou.
     4.o - Só lhe foi perguntado, como aos outros, como correra a conversa, logo não tinha motivo para falar da estatueta a não ser que se descaísse, ainda por cima para dizer que não a viu.
     5.o - Como é que Raul pode ter visto pelas costas um vulto a correr na sua frente, portanto para o lado contrário em que vinha, se o pequeno beco mal iluminado não tinha saída e acabava num alto muro? Tudo se passa em Dezembro e àquela hora já está escuro. E ia pra onde correndo em direcção ao muro alto? Nova mentira.
     6.o - Quando diz que "ainda viu um vulto a correr levando algo debaixo do braço", está claramente a tentar sugerir um roubo de que não podia saber a não ser que fosse ele o autor. Note-se que a polícia só depois dos interrogatórios é que constatou o roubo da estatueta.
            Ao contrário do Raul, os depoimentos do Amilcar, do Luis e do Daniel parecem credíveis, descontando a ignorância e a grosseria deste último. Afinal a Vénus de Milo não tinha braços, mas tinha "asas"...  Em face de tudo, Garrett orientou as suas suspeitas para a culpabilidade do RAUL BELEZA. Era quase evidente que ele teria esperado dentro do seu carro perto da casa, lendo um jornal tapando a cara, para não ser reconhecido mais tarde. Podia assim vigiar entradas e saídas. Terá visto a saída do Luis, esperado algum tempo para ver que ninguém mais aparecia, para então bater à porta com a intenção provável de "renegociar a dívida" e fazer "voar" a Vénus de Milo. D. Lina abriu, terão subido ao escritório, onde terá havido uma discussão, acabando na violenta agressão da usurária no alto das escadas talvez com a estatueta como arma, e seguiu-se a queda da senhora por ali abaixo. Consumado o crime inventou uma saída airosa: dizer ter visto um vulto correndo com algo debaixo do braço, ter encontrado a porta escancarada e a senhora já morta. Na sua ingenuidade achava que ninguém suspeitaria de que fosse o próprio criminoso a chamar a polícia. Mas a verdade é que isso o viria a comprometer, pois declarara que não subira a escada, nem tinha consigo o telemóvel. Muito provavelmente a polícia veio a encontrar a estatueta da Vénus de Milo, talvez com sinais de sangue, escondida algures ou dentro do automóvel do Raul. E talvez mais alguma coisa que não lhe pertencia, incluindo as notas que o Luis deixara. E este não terá tido dúvidas em identificar o carro do Raul como sendo o tal estacionado à porta. Era o elemento que faltava para Garrett não ter mais hesitações.
                                                          
                                  

  

domingo, 21 de agosto de 2016

POLICIÁRIO 1307




SOLUÇÃO PARA TRAGÉDIA FAMILIAR


Mais um passo é dado na competição desta época com a publicação da solução oficial que os confrades Búfalos Associados deram ao seu desafio. A circunstância de estarmos perante um dos campeões nacionais de produção, que na época 2007/2008 dominou a competição, era sinal mais que evidente de que havia necessidade de cuidados redobrados para que não houvesse surpresas classificativas.

CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL – 2016
SOLUÇÃO DA PROVA N.º 6 – PARTE I
“UMA TRAGÉDIA FAMILIAR” – de BÚFALOS ASSOCIADOS


            "Ana pôs-se a caminhar ao longo do cais. (...) Num passo rápido e ligeiro, postou-se junto da via, e olhou a parte inferior do combóio que roçava por ela, as correntes, os eixos, as grandes rodas de ferro fundido, procurando medir com o olhar a distância que separava as rodas da frente das de trás. (...) Encolheu a cabeça entre os ombros e, com as mãos para a frente, atirou-se de joelhos para debaixo do vagão. Teve tempo de sentir medo. (...) Mas uma massa enorme, inflexível, bateu-lhe na cabeça e arrastou-a. "Senhor, perdoai-me!", murmurou ela, sentindo a inutilidade da luta. E a luz que para a infortunada iluminara o livro da vida, com os seus tormentos, as suas traições e as suas dores, brilhou de súbito com um esplendor mais vivo, depois crepitou, vacilou e extinguiu-se para sempre."
            Garrett voltava a ler as palavras da passagem do romance "Ana Karenina" de Leão Tolstoi em que a protagonista, num gesto desesperado, se atira para debaixo de um combóio e põe termo à vida. E pensava se teriam sido semelhantes os últimos segundos de sua trisavó Carolina quando desapareceu deste mundo. Na verdade nunca foram apresentadas em tribunal provas consistentes contra ninguém e a tese de suicídio foi a conclusão. O próprio Garrett, tantos anos depois não podia concluir outra coisa. A verdade é que a história da trisavó Carolina sempre o impressionara pelas semelhanças com o romance: uma mulher na força da vida que não resiste à indiferença de dois homens que amara, o marido e um jovem oficial de cavalaria, e desaparece inglória e tragicamente. "Até prova cabal em contrário, ninguém poderá afirmar que Carolina não se terá suicidado", concluiu.
            Alguém contestou: -"Mas as justificações que o Leopoldo terá apresentado para manifestar a sua inocência estavam recheadas de falsidades. Isso não pode ser suficiente para o incriminar? Na verdade, se os acontecimentos tiveram lugar em 1900, ano em que, de facto, morreram Eça de Queiroz e António Nobre, já a inauguração da Torre Eiffel não foi durante a Exposição Universal desse ano, mas sim durante a de 1889, acontecimento que celebrara o centenário da Revolução Francesa. E mais: o ano de 1900 não foi bissexto, razão pela qual o Leopoldo não podia ter embarcado no dia 29 de Fevereiro."
            E Garrett esclareceu: "Essas declarações não terão sido produzidas em tribunal, mas sim bastantes anos depois em conversas familiares. De resto nunca as ouvi, vieram até mim por relatos indirectos. E penso que talvez o meu perturbado trisavô, já numa idade avançada, tenha feito tais confusões na ânsia desesperada de se justificar. A mais perturbante confusão seria a de julgar bissexto o ano de 1900, uma vez que 1896 e 1904 o foram. O que acontece é que o calendário gregoriano alterou a regra dos anos bissextos serem de quatro em quatro anos para acertar a duração média dos anos, e deixou de ser bissexto o último ano de cada século cujo número de centenas não fosse múltiplo de quatro. Por isso 1900 não foi bissexto. Isso e a confusão com a Torre Eiffel, não creio que sejam factos suficientes para acusar o Leopoldo de homicídio. De falta de memória, talvez. E para ele talvez tenha sido castigo suficiente ter continuado a viver sem saber se a criança que nascera era seu filho ou do Adérito... Toda a descendência vive até hoje nessa dúvida, incluindo a tia Laurinda e eu. De qualquer modo recomendo sempre a leitura de "Ana Karenina", que é uma verdadeira lição de vida. Aí, sabe-se que o filho que nasce não é do marido..."
            Alguém disse: -"E já que se falou do Adérito. Será credível ele ter ido a Tomar comer lampreia?" -"Claro que é, (respondeu Garrett) o rio Nabão é rico em lampreia, um apreciado ciclóstomo que é uma das iguarias que se comem na cidade de Tomar, de Janeiro a Março, a época apropriada. Falo por experiência própria."

                                              
ESCLARECIMENTO

Uma parte dos nossos “detectives”, particularmente aqueles que mais militantemente seguem as nossas competições, já manifestaram a sua estranheza pelo modo como esta tem decorrido, nomeadamente no que diz respeito aos atrasos na divulgação das classificações, dos sorteios dos confrontos, etc.
Como já tivemos oportunidade de explicar no blogue Crime Público, estes atrasos ficam a dever-se ao transvio de uma “pen” onde o orientador deste espaço tinha todos os ficheiros relativos às diversas classificações, bem como problemas e respectivas soluções, textos diversos e muito material já adiantado com vista a publicação futura. O mesmo é dizer que acabámos por ficar “no escuro”, sem acesso sequer às pontuações da prova n.º 4 que já estavam lançadas directamente no ficheiro da “pen” desaparecida.
Como única hipótese tivemos de proceder à releitura e sequente reclassificação das mil e muitas propostas de solução, tarefa que se revelou bastante penosa, sobretudo porque procurámos seguir um critério que fosse em tudo semelhante ao da primeira avaliação.
Mas, também neste processo surgiram outras dificuldades, quando verificámos que não constavam as soluções de alguns dos nossos “detectives” mais assíduos, que nos recordávamos terem respondido! Entramos em contacto com todos os ausentes, mas o período de férias não ajudou e alguns não tinham meios para nos fazer chegar cópias e comprovativos de envio atempado…
Para agravar este cenário, alguns confrades remeteram cópias das suas soluções extemporaneamente, sem serem solicitadas, o que acabou por “engarrafar” ainda mais toda a situação!
De qualquer forma, tudo parece estar já debaixo de controlo e a caminho de resolução.
O orientador assume as suas culpas por inteiro e vem efectuando uma autêntica maratona para que os atrasos sejam suprimidos e a competição possa seguir o seu curso, com a normalidade possível.



            




sexta-feira, 19 de agosto de 2016

MAIS COMPLICAÇÕES...

MEUS CAROS:

Quando um problema surge, logo outros se lhe juntam!

Enquanto procuramos por todos os meios debelar todas as situações criadas pela nossa incúria relativamente à "pen" transviada, passou-nos o facto de já estar enviado para o PÚBLICO o texto relativo à próxima secção, a ser publicada no domingo, com a solução da prova n.º 6, de autoria de BÚFALOS ASSOCIADOS, quando ainda não temos conhecimento dos confrontos para a Taça de Portugal!

Em tempo de férias, com tudo a meio gás, não temos a mínima hipótese de substituir o texto, pelo que terá mesmo de sair!

A grande maioria, melhor dizendo, a quase totalidade dos confrades já procedeu ao envio da proposta de solução, mas em termos regulamentares, o mesmo apenas deverá ocorrer depois de conhecidos os confrontos...

Por se tratar de uma situação excepcional, apelamos aos confrades que ainda não enviaram a sua solução, que o façam com a máxima brevidade, antes da publicação da solução oficial, no sentido de podermos manter a nossa competição. A alternativa será a eliminação da prova, prejudicando gravemente a competitividade e o esforço de todos, principalmente da dupla autora do desafio, que veria, assim, todo o seu trabalho inutilizado.

Fica o nosso apelo, com a certeza de que os confrades e "detectives" compreenderão o estado de emergência em que estamos mergulhados...

Obrigado a todos!




domingo, 14 de agosto de 2016

POLICIÁRIO 1306



COISAS DA LUA E DO LUAR

Com votos de boas férias para quem as tem, a nossa secção de hoje é feita sob o signo da Lua e do luar, quer no desafio proposto, que na solução do enigma do confrade Rip Kirby que publicámos há duas semanas.


CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL – 2016
PROVA N.º 7 – PARTE II
BRUXARIA EM FASE DA LUA – Original de TUGA INDOMÁVEL


A estrada estreitava muito e só dava passagem a uma viatura de cada vez. O automobilista meteu travões a fundo, colocou o carro em ponto morto e saiu apressadamente, correndo imediatamente pelos campos, deixando mesmo a porta aberta.
Os condutores que vinham atrás, foram parando e olhavam para o corredor que prosseguia a sua estranha prova… Os acompanhantes dos outros condutores debruçavam-se para cima deles, tentando seguir tão insólita situação. De repente, eram dezenas de pescoços virados para a direita, num ritual estranho.
Para onde ia ele tão apressado?
Ninguém conseguia dar uma resposta, para além da usual “pirou de vez!”
O desacato foi tal, com trânsito parado e engarrafamentos monstruosos, que a polícia teve de acorrer ao local. Como o carro estava a trabalhar, parecia ser uma operação fácil remover a viatura para um local menos conflituoso, mas a verdade era outra e a polícia não queria assumir a responsabilidade de entrar no carro e eventualmente destruir provas
Depois de muito tempo de paragem, lá veio a polícia especializada em recolher indícios e verificar que não havia nada no carro que pudesse ser perigoso, bombas ou outros engenhos.
Finalmente, tudo serenou e o condutor foi identificado como um emigrante português neste país, o que fez com que a polícia se pusesse em campo para o apanhar e tentar saber porque fizera tal coisa.
Alguns dias depois foi detido e no interrogatório contou uma história que parecia irreal. Uma bruxa tinha-lhe dito que nunca deveria conduzir em noites em que no céu brilhasse a lua em forma de “C” porque isso traria muito mal para ele e para a família. Foi por isso que ele, ao olhar para o céu e ver a lua daquela maneira, só pensou em largar o carro e fugir para o mais longe que conseguisse…
Agora, passados poucos dias, já com a lua a brilhar em todo o seu esplendor, a profecia da bruxa não se realizaria e por isso ali estava, para pedir desculpa pelos transtornos, mas a pedir que não fossem muito duros com ele, porque com bruxarias não se deve brincar.
O comandante nem sabia se devia rir de tão caricata explicação, tudo parecia tão estúpido que nem dava para acreditar, mas como tinha havido um grande pandemónio, não lhe restava outra alternativa que não passasse pelo juiz.
O que se passou no tribunal, nunca viremos a saber, mas o nosso emigrante já regressou em definitivo a Portugal e jura a pés juntos que jamais voltará a…

A-    Inglaterra;
B-    Moçambique;
C-    Brasil;
D-    Angola.

E pronto.
Resta aos nossos “detectives” lerem e relerem o problema e quando estiverem seguros da opção que pretendem tomar, devem proceder ao envio da letra que corresponde à opção, impreterivelmente até ao próximo dia 10 de Setembro, para o que poderão usar um dos seguintes meios:
- Por Correio para: Luís Pessoa, Estrada Militar, N.º 23, 2125-109 MARINHAIS;
- Por e-mail para qualquer dos seguintes endereços: pessoa_luis@hotmail.com; luispessoa@sapo.pt ou lumagopessoa@gmail.com.
- Por entrega em mão ao orientador da secção, onde quer que o encontrem.
Boas deduções!

CLASSIFICAÇÕES

A informação já foi dada no blogue Crime Público, mas a certeza que temos de que ainda há uma parte dos nossos “detectives” que permanece ligado ao papel de jornal e não segue as novas tecnologias, aqui deixamos a nota de que um percalço de todo inesperado tem impedido a publicação atempada dos resultados. Referimo-nos ao facto do orientador ter perdido a sua mais preciosa “pen”, onde tinha praticamente tudo o que interessava: classificações, problemas e respectivas soluções, textos, estudos e outro material absolutamente irrecuperável.
Graças à colaboração de alguns confrades, houve coisas que foram sendo repostas, mas não foi o caso das pontuações da prova n.º 4 que já estavam lançadas directamente no ficheiro e agora tiveram de ser relidas e reclassificadas para serem publicadas.
Por todos estes factos, as classificações registam atrasos, bem como as eliminatórias da Taça de Portugal, que aguardam os confrontos, deixando, por sua vez em suspenso os prazos para as respostas dos nossos “detectives”.
Aproveitando um período de férias, o orientador vai tentar recolocar tudo nos respectivos eixos, para que o Policiário possa cumprir as metas a que se propôs.
Fica o pedido de desculpas pela incúria de não fazer cópias de segurança, mas como é sabido, estas coisas só acontecem aos outros…

MISTÉRIO EM NOITE DE LUAR
SOLUÇÃO DO AUTOR - RIP KIRBY

Damos hoje solução ao enigma que publicámos na edição 1304, em 31 de Julho, como homenagem ao nosso confrade recentemente falecido:
É a alínea ( C ) aquela que encerra a resposta certa para a solução deste problema.
Todas as declarações foram confirmadas pela gerência do Clube Noturno onde a vítima trabalhava. Neste caso ficámos a saber sem qualquer dúvida que três dos suspeitos, Amílcar Cardoso, Óscar Afonso e José Jeremias, saíram da casa de diversão já depois da hora a que ocorreu o crime pelo que nenhum deles o poderia ter cometido.
António Fonseca, o suspeito referente à alínea ( C ), saiu cerca de meia hora mais cedo do que a vítima. Poderia ter sido ele o assassino mas parece também não existir qualquer prova de que tivesse sido ele. Porém no seu depoimento ele cometeu uma gafe que o comprometeu irremediavelmente.
Afirma António Fonseca que quando saiu do Clube levou para casa uma garrafa de champanhe o que, como já vimos, foi confirmado pela gerência da casa noturna. No entanto o agente policial que deu uma vista de olhos pela casa não viu lá sinais de bebida alcoólica sendo muito provável que a garrafa que ele levou e aquela que foi encontrada na mesa em casa da vítima sejam a mesma.
Numa investigação mais aprimorada, que aqui não é possível levarmos a cabo, exames dactiloscópicos e outros, efectuados no local, é natural que confirmem esta nossa primeira impressão.

                                                     



domingo, 7 de agosto de 2016

POLICIÁRIO 1305



A ESTRANHA SENTENÇA DO VIGÁRIO CASTANHO

Na companhia do confrade Paulo, vamos percorrer uma aldeia do interior profundo do nosso país, no começo do século XX e conhecer as suas gentes.
Tratando-se de problema com a chancela de qualidade do viseense Paulo, chamamos a atenção dos nossos “detectives” para o modo como as situações são colocadas e desenvolvidas.
Apesar das condições climatéricas apelarem ao lazer, à praia ou ao campo, a mente agradece alguma actividade e empenho, para que nenhum “pontito” se perca…

CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL – 2016
PROVA N.º 7 – PARTE I
A MORTE DE BERNARDO DO SOUTINHO – Original de PAULO

1901, aldeia de Mouriscas do Carregoso, em pleno coração da Beira da Alta.
O vigário da paróquia, o regedor e mais dois habitantes da localidade, Joaquim Baldaia e Porfírio Clemente, proprietários de mais de metade dos terrenos cultivados e pinhais, estavam sentados em torno de uma mesa, onde quatro copos de vinho tinto e uma jarra de barro preto pousavam.
 – Faz hoje um ano que aconteceu a tragédia, dizia o vigário Castanho.
– É verdade! Parece que foi ontem! E até aparenta que nós estamos a festejar uma desgraça, retorquiu o Joaquim Baldaia.
– Realmente até se pode pensar isso, mas apenas estamos a beber com um dia de atraso ao meu aniversário. Ontem, no dia certo, a 28 de fevereiro, não conseguimos reunir o grupo, mas hoje cá estamos nós, referiu Porfírio, levando o copo aos lábios.
O Baldaia continuou.
– Lembro-me que foi logo depois do dia em que fazes anos. Tínhamos estado todos juntos na véspera, e no dia seguinte apareceu o Bernardo do Soutinho morto. Há momentos que ficam marcados pelas coincidências e esse foi um deles.
– Era bom homem, mas teimoso como uma mula. E tu, Joaquim, bem o podes confirmar.
Joaquim Baldaia olhou para Porfírio, que acabava de proferir estas palavras.
– Meteu-se-lhe na cabeça que eu andei a mudar os marcos no lameiro, a mexer nas estremas. Mas não passavam de invenções da cabeça dele. Aliás, Porfírio, também andou com a mesma cantilena para contigo.
– Sem dúvida, meus amigos, ele era um homem um pouco estranho. -acrescentou o vigário Castanho. – Desconfiado e avarento, mas justo.
– Concordo consigo, senhor vigário. E o corpo ter sido achado tão breve, foi obra divina, talvez em recompensa por ele ser justo. Se o senhor não tivesse vindo da Cumeeira pelo atalho do Conguedo, depois de dar a extrema-unção à velhota Marquitas, o Bernardo poderia ter ficado lá alguns dias a apodrecer até ser encontrado, interveio o regedor.
– É verdade! Vinha com o rapazito, o Zé, filho da Maria Albertina da Corujeira, quando no meio do pinhal dei com o Bernardo com a cabeça aberta e os miolos de fora. Mandei logo o rapaz ir dar o aviso do sucedido ao senhor regedor. Consegui que o miúdo nem visse aquela sangria toda.
– Mas encontrou-me a mim antes, disse o Porfírio, e acabei por ser eu a dar o recado aqui ao nosso regedor. Fui em busca dele depois do rapaz me ter dito onde estavam o Bernardo e o senhor vigário e de eu o ter mandado para casa. Encontrei o nosso regedor e fomos os dois ter com senhor vigário.
– Um sacerdote deve estar preparado para ver tudo, mas confesso que mirar os miolos do Bernardo do Soutinho ao ar, me deu a volta à barriga e vomitei enquanto estive à espera. Acabei por me afastar do corpo um bocado, para descansar os olhos daquele horror, e foi quando vi o calhau usado para lhe abrirem a cabeça.
Joaquim Baldaia que escutava com atenção acrescentou. 
– Eu só soube o que aconteceu um dia depois. Naquele dia a seguir ao aniversário do Porfírio estive todo o dia na vila. Fui de manhã e cheguei já de noite, que ainda são quase duas léguas para cada lado, para tratar de uns assuntos na Fazenda. Primeiro que nos resolvam por lá os problemas…., esperamos um dia. Abrem livros, fecham livros e um homem a esperar.
– Aquilo foi vingança de terras ou de mulheres, sentenciou o regedor.
– Ainda hoje tenho pesadelos com os miolos do Bernardo, acrescentou pesaroso o vigário Castanho. Enquanto esperava que o senhor regedor chegasse, fiquei junto da pedra ensanguentada a orar, de olhos fechados. Na altura fiquei muito perturbado. Nem percebi bem o que se estava a passar.
– Acredito, acredito, atirou o regedor. Por isso o senhor vigário estava umas dezenas de metros do corpo quando cheguei e nem o estava a ver a si nem via pedra nenhuma.
– Nem eu reparei na vossa chegada, disse o vigário. Fiquei mudo e quase cego. Só consegui voltar a falar quando me aproximei dos meus dois amigos.
Clemente sorriu e acrescentou:
– Pois fui eu que o vi e o chamei dizendo-lhe para trazer a pedra consigo.
O regedor tomou a palavra.
– O certo é que ele morreu e nunca se descobriu quem lhe abriu a cabeça.
O clérigo levou o copo à boca, enquanto os outros o imitavam silenciosamente. Depois disse:
– A justiça terrena não conseguiu até agora encontrar e castigar o matador, mas a divina não o deixará escapar. Porém, a partir de hoje, infelizmente, eu também sei que posso ajudar a que ele não escape à terrena.
E com esta sentença do vigário Castanho lança-se um repto aos leitores.
Conhecidos os factos, que poderão os nossos detetives acrescentar em relação ao crime? Há alguma pista que não foi explorada e que permitiria avançar na descoberta do criminoso? Elaborem os vossos relatórios.

E pronto.
Resta aos “detectives” apresentarem os seus relatórios, impreterivelmente até ao dia 10 do próximo mês de Setembro, para o que poderão usar um dos seguintes meios:
- Por Correio para: Luís Pessoa, Estrada Militar, N.º 23, 2125-109 MARINHAIS;
- Por e-mail para qualquer dos seguintes endereços: pessoa_luis@hotmail.com; luispessoa@sapo.pt ou lumagopessoa@gmail.com.
- Por entrega em mão ao orientador da secção, onde quer que o encontrem.
Boas deduções!