Nesta paragem estratégica, depois das emoções da publicação dos derradeiros desafios deste ano, vamos relaxar um pouco e dar tempo aos nossos “detectives” para ultimarem as suas propostas de solução.
Com o problema de mestre Constantino a agitar os confrades mais empenhados pela conquista dos lugares cimeiros, pouca atenção vai ser prestada à secção que hoje publicamos, certamente arquivada para ser lida a partir da próxima terça-feira, quando acabarem as tensões resultantes da decifração dos mistérios daquela tribo esquecida.
Recordamos, entretanto, que o prazo limite para o envio das propostas de solução para os dois desafios que compõem a prova n.º 10, vai decorrer até ao final do dia de amanhã, podendo ser usado qualquer dos meios habituais, que aqui se recordam:
- Pelos Correios para PÚBLICO-Policiário, Rua Viriato, 13, 1069-315 LISBOA;
- Por e-mail para policiario@publico.pt;
- Por entrega em mão na redacção do PÚBLICO de Lisboa;
- Por entrega em mão ao orientador da secção, onde quer que o encontrem.
Embora correndo o risco de nos repetirmos, queremos relembrar os nossos confrades que um problema policiário é como um organismo vivo, que tem de ser compreendido e estudado, para depois lhe podermos dar o alimento necessário para a sua solução plena. Nunca uma resposta dada depois de uma leitura precipitada conduziu a bons resultados. Daí que se torne indispensável que o texto seja convenientemente lido, numa primeira fase, para entendimento da globalidade da história que está a ser apresentada. Depois, há que fazer uma nova leitura, desta feita mais pormenorizada e às parcelas, por exemplo, parágrafo a parágrafo, anotando numa folha de papel os aspectos que possam ser relevantes para a solução, incluindo as consultas a fazer, para esclarecimento das dúvidas.
Inicia-se, então, o trabalho de trazer ao problema a informação recolhida fora, na internet, em enciclopédias, em consultas pessoais, etc.
Uma vez de posse da estrutura geral dos dados fornecidos pelo próprio problema e daqueles que recolhemos nas nossas consultas, arquitectamos uma proposta de solução para o caso, com as justificações adequadas para todas as deduções.
Finalmente, há que fazer o teste, ou seja, partir da solução que encontrámos e testá-la em todos os passos, para termos a certeza que não há espaço para outras interpretações.
ATRASO NAS CLASSIFICAÇÕES
Como os nossos confrades e “detectives” já notaram – e nos fizeram chegar esse facto, registamos algum atraso na divulgação dos resultados relativos às nossas competições desta época.
Tal facto tem a ver com aspectos de ordem pessoal do orientador, que têm impedido que os prazos sejam cumpridos, como era o objectivo traçado no princípio da época.
No entanto, já se registou o “regresso ao trabalho”, pelo que, muito em breve, os resultados irão aparecer, sendo nossa meta colocar em devida ordem todas as classificações, com a brevidade possível.
Aos nossos “detectives”, pedimos um pouco mais de paciência.
COMO FOI A ÉPOCA DE 2010
O ano de 2010 trouxe o regresso à fórmula inicial, ou seja, as competições voltaram a decorrer ao longo de cada ano civil, com início em Janeiro.
Uma reorganização de toda a estrutura de competições permitiu o cumprimento de prazos e a finalização dos torneios nos tempos devidos, ainda que se tenha atingido um número recorde de presenças, muito acima das 2000.
A nível das produções, cada prova foi composta por um desafio de características tradicionais, ou seja, um problema a solicitar a decifração dos confrades e um de características rápidas, de escolha múltipla, o que permitiu fazer uma competição com 20 produções num só ano!
Também uma maior intervenção a nível do blogue CRIME PÚBLICO veio a conduzir a uma maior interacção da orientação da secção com os próprios “detectives” e disso veio a beneficiar a mais rápida correcção de erros ou omissões, que anteriormente tinham de aguardar publicação nas páginas do jornal.
Dois grandes vultos do Policiário passaram a ser recordados com a atribuição dos seus nomes a dois dos troféus em disputa: O troféu de Policiarista do Ano passou a ser o TROFÉU SETE DE ESPADAS, enquanto o de n.º 1 do Ranking passou a designar-se TROFÉU DETECTIVE MISTERIOSO.
Um último destaque para a publicação da secção n.º 1000 do Policiário no PÚBLICO, que mereceu uma comemoração especial em Santarém, no dia 19 de Setembro de 2010, uma data histórica para o Policiário e para os seguidores, numa altura em que o número de participantes registados nesse ano era já de 2147, também ele um máximo absoluto, á época.
De Santarém, dos claustros do Convento de S. Francisco, onde o Policiário comemorou esta data, reunindo “detectives” de todo o país, foi lançado para todo o “Mundo Policiário”, o sopro que apagou as mil velas, uma por cada secção!
Na memória dos presentes ficou a intervenção excelente de Francisco Moita Flores, convidado pelo organizador do evento, Domingos Cabral, o “nosso” Inspector Aranha, subordinado ao tema “Do CSI à Realidade” e em que aquele antigo inspector da Polícia Judiciária desenvolveu considerações interessantes sobre o mito da investigação criminal científica, em cenário real, desmontando as séries televisivas
No campo competitivo, o ano não foi diferente das épocas anteriores e o equilíbrio foi a nota dominante.
Na decifração, o confrade Zé sagrou-se campeão nacional mercê da sua melhor pontuação (25) nos pontos especiais em relação aos confrades que se seguiram: Daniel Falcão (24), Detective Jeremias (19), Mister H (5), Inspector Boavida (1) e A. Raposo & Lena e Karl Marques (0).
Estes foram os “sete magníficos” que somaram a totalidade dos pontos em disputa.
Mais atrás, com pontos perdidos, Inspector Aranha, Dr. Gismondo e Avlis e Snitram, completaram os 10 primeiros.
Nos pontos especiais (as melhores soluções), foi o Inspector Aranha o primeiro, seguido de Zé e Daniel Falcão. Nas mais originais, Medvet repetiu os triunfos anteriores, seguida de Bochunelas e Detective Jeremias.
Na Taça de Portugal, Daniel Falcão ergueu o troféu após vitória sobre o Dr. Gismondo, na final. Mister H e Rip Kirby foram semi-finalistas vencidos, enquanto Detective Jeremias, Inspector Aranha, Inspector Gigas e Zé se ficaram pelos quartos de final.
No troféu Sete de Espadas (Policiarista do Ano), mercê de mais uma época excelente, Daniel Falcão triunfou, seguido de Zé e Mister H. Os dois primeiros repetiram as posições no Troféu Detective Misterioso (Ranking), ocupando a Detective Jeremias o terceiro lugar do pódio.
No Campeonato Nacional de Produção, a que apenas concorreram os desafios tradicionais, os produtores Cardílio & Avita, Medvet, H Raí, Karl Marques, Paulo, A. Raposo & Lena e Rip Kirby assistiram à subida ao pódio dos confrades Inspector Boavida, no degrau mais baixo; Búfalos Associados no lugar intermédio e mestre M. Constantino que ascendeu ao lugar mais alto, sagrando-se, assim, campeão nacional de produção.
Nos problemas de escolha múltipla, foi o confrade Paulo quem triunfou, seguido, por ordem, de Rip Kirby, Rodoviário, Faraó, Lumago Ampe, Inspector Boavida, Kop & Peixte, Medvet, H. Raí e Lateiro.
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
domingo, 23 de outubro de 2011
POLICIÁRIO 1057
Mais um passo em direcção ao grande final desta época competitiva acontece hoje, com a publicação das soluções oficiais dos dois desafios que formaram a prova n.º 9 e penúltima.
Agora sim, em plena recta final, todas as decisões vão ser tomadas e os grandes candidatos aos lugares cimeiros das diversas classificações, vão procurar chegar-se o mais à frente possível para o grande e derradeiro sprint, que vai certamente acontecer no problema do mestre M. Constantino.
Tratando-se de uma prova de grande fôlego, o campeonato nacional, por tradição, apenas é resolvido no derradeiro pormenor do último problema e por isso mantém-se a incerteza quanto ao seu desfecho, com um lote ainda muito alargado de candidatos à vitória e ao pódio.
Mais uma razão, pois, para que os nossos “detectives” confiram as soluções dos enigmas, que hoje publicamos, para ficarem a saber se conseguiram superar mais estes dois obstáculos, de autoria de Búfalos Associados e Branca de Neve, nesta difícil caminhada.
CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL
SOLUÇÃO DA PROVA N.º 9 – PARTE I
“CRIME EM TEMPO DE GUERRA” de BÚFALOS ASSOCIADOS
Eis a síntese das respostas ao problema por parte dos amigos do Inspector Garrett, enquanto bebiam os cafés:
1- Não havendo provas concretas temos de raciocinar no campo das hipóteses. De resto é esse o sentido da pergunta que nos é feita. Única certeza: o disparo terá sido antes das 16 horas.
2- Todas as pessoas envolvidas poderiam ter motivos para matar o Jorge: o João, o Edgar ou o Abílio podiam ter provocado um ajuste de contas com o Jorge, por suspeitarem de ter sido ele o delator que os teria denunciado à Pide. A Louise aparenta ter, ou ter tido, uma relação íntima com o Jorge e isso poderia justificar uma cena violenta que conduzisse ao crime. O próprio pai Meyer não está afastado das suspeitas (tinha uma chave da casa), nem sequer o Inspector Garrett, embora no caso deste não se divisem motivos.
3 – Assim sendo, vejamos quem talvez tenha a possibilidade de apresentar alibi. O Abílio poderá ter o testemunho dos primos do Café na estrada de Catete, onde teria estado toda a tarde. Até trouxe dois abacaxis de presente. Não é suspeito para já.
4 – O João acompanhou as bagagens ao R.I.L., onde esteve até às 16.00 e foi mesmo visto pelo Garrett. Saiu e chegou ao apartamento pelas 16.30. Não teria tido tempo para cometer o crime.
5 – A Louise poderá ter o testemunho das amigas com quem esteve na praia e depois em casa delas. Quanto ao pai pouco ou nada sabemos. Mas o texto iliba-o, bem como à filha, ao indiciar um culpado militar. Caso contrário não se justificaria que a Censura tivesse abafado o caso “para não deixar a tropa mal colocada”. Seria muito pouco abonatório para o Regime tornar público um ajuste de contas com origem em divergências políticas, como já se adivinha, entre oficiais do Exército.
6 – O Inspector Garrett não deve ter encontrado nenhuma estação de Correios aberta e acabou por ir ao R.I.L. telefonar à Mãe. Não parece ser culpado, até porque não sabemos de motivações para o crime.
7 – Só o Edgar Valente não apresenta qualquer hipótese de alibi. Ainda por cima, quando, ainda da porta, levou as mãos à cabeça num gesto de horror, mostra ter as mãos desocupadas não parecendo portanto ter feito quaisquer compras, contrariamente ao que tinha anunciado. Onde terá estado durante aquelas quase quatro horas, se não foi às compras?
8 – Por que razão Garrett teve dificuldades em encontrar uma estação de Correios aberta e o Edgar não poderia ter ido às compras? Muito simplesmente porque o dia 19 de Agosto de 1962 foi um domingo e o comércio em Luanda estava todo fechado, bem como os Correios, como era usual na época. Finalmente um facto concreto, que faz recair sobre o Edgar, desde logo, as suspeitas do crime, mais do que sobre qualquer um dos restantes intervenientes. E é bem exagerada a sua reacção, da porta, ao “saber” da morte.
“Muito bem” – disse o Inspector Garrett – “ A vossa dedução está perfeita. Efectivamente o que aconteceu foi que o Edgar Valente tinha fortes desconfianças de que fora o Jorge quem o denunciara à Pide e, ao chegar a Luanda, resolveu pôr tudo em pratos limpos. Sem se lembrar de que era domingo, inventou aquela desculpa de ter de ir às compras e, mal desembarcou, foi logo directo ao apartamento onde o Jorge nos esperava. A discussão aqueceu, o Jorge terá confessado a sua culpa e a pistola Walther ali pousada à mão criou a oportunidade para o crime. De notar que naquela época a familiaridade dos militares com armas tornava normal que elas estivessem quase sempre pousadas em locais de fácil acesso. O mais curioso da história foi o que se seguiu. O Edgar foi acusado e julgado em Tribunal Militar, mas influências tendentes a abafar casos políticos e a proteger a identidade de informadores da Pide, fizeram com que apenas fosse condenado a dois anos com pena suspensa, por negligência no uso de armas de fogo. Foi depois, compulsivamente, passado à disponibilidade, mas nunca mais deixou de ser perseguido pela Pide, tendo acabado os seus dias no Tarrafal. “Malhas que o Império tece”, como dizia o poeta. Neste País ainda há muitas histórias para ser contadas”.
E Garrett acabou por pedir outro café porque o seu entretanto arrefecera.
SOLUÇÃO DA PROVA N.º 9 – PARTE II
“BRANCA DE NEVE”, de BRANCA DE NEVE
A alínea que indica o nome da assassina é a (C) Violeta.
Ela não podia saber a que horas o crime fora cometido uma vez que esta não foi revelada.
RECTIFICAÇÃO
O problema de autoria do confrade M. Constantino, que publicámos na edição do dia 2 do corrente mês e cujo prazo para resposta decorre até ao dia 31, saiu com uma incorrecção. Não sendo absolutamente impeditiva da sua resolução, não deixa de ser penalizadora, quer para os confrades “detectives”, que acabam por ser obrigados a uma dose suplementar de “trabalhos forçados”, para chegarem àquilo que o autor pretendia, quer para o próprio mestre Constantino, que assim viu o seu trabalho prejudicado por esta arreliadora gralha.
Na realidade, ocorreu uma situação inviável numa aldeia de uma tribo primitiva: Uma mudança de sexo!
Na distribuição dos membros da tribo, pelas palhotas, refere-se a dado passo que “Para coabitação, Aurora recusou o alegre Tono…”, quando deveria ter sido publicado que Aurora recusou a alegre Tono!
Desta forçada mudança de sexo, cuja responsabilidade nos cabe por inteiro, por termos sido nós a digitar o texto, pedimos desculpa aos leitores e “detectives”, particularmente a M Constantino, o autor do desafio.
POLICIÁRIO NO CORREIO DO RIBATEJO
A secção do confrade Domingos Cabral, o Inspector Aranha do nosso “Mundo Policiário”, já está em pleno no semanário Correio do Ribatejo!
Apostando na divulgação do nosso passatempo, quer com publicação de problemas policiais, quer de contos da mesma temática e com muitos projectos e ideias na forja, a secção assume-se como mais uma excelente oportunidade para os confrades exercitarem as suas capacidades dedutivas.
Todos os esclarecimentos sobre assinatura do semanário e outros assuntos, podem ser pedidos para o endereço do confrade Inspector Aranha, d.cabral@sapo.pt.
Na certeza de que haverá muito sucesso neste novo projecto de divulgação do nosso passatempo, daqui endereçamos o apelo aos nossos confrades e “detectives”, para que não deixem de comparecer.
Agora sim, em plena recta final, todas as decisões vão ser tomadas e os grandes candidatos aos lugares cimeiros das diversas classificações, vão procurar chegar-se o mais à frente possível para o grande e derradeiro sprint, que vai certamente acontecer no problema do mestre M. Constantino.
Tratando-se de uma prova de grande fôlego, o campeonato nacional, por tradição, apenas é resolvido no derradeiro pormenor do último problema e por isso mantém-se a incerteza quanto ao seu desfecho, com um lote ainda muito alargado de candidatos à vitória e ao pódio.
Mais uma razão, pois, para que os nossos “detectives” confiram as soluções dos enigmas, que hoje publicamos, para ficarem a saber se conseguiram superar mais estes dois obstáculos, de autoria de Búfalos Associados e Branca de Neve, nesta difícil caminhada.
CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL
SOLUÇÃO DA PROVA N.º 9 – PARTE I
“CRIME EM TEMPO DE GUERRA” de BÚFALOS ASSOCIADOS
Eis a síntese das respostas ao problema por parte dos amigos do Inspector Garrett, enquanto bebiam os cafés:
1- Não havendo provas concretas temos de raciocinar no campo das hipóteses. De resto é esse o sentido da pergunta que nos é feita. Única certeza: o disparo terá sido antes das 16 horas.
2- Todas as pessoas envolvidas poderiam ter motivos para matar o Jorge: o João, o Edgar ou o Abílio podiam ter provocado um ajuste de contas com o Jorge, por suspeitarem de ter sido ele o delator que os teria denunciado à Pide. A Louise aparenta ter, ou ter tido, uma relação íntima com o Jorge e isso poderia justificar uma cena violenta que conduzisse ao crime. O próprio pai Meyer não está afastado das suspeitas (tinha uma chave da casa), nem sequer o Inspector Garrett, embora no caso deste não se divisem motivos.
3 – Assim sendo, vejamos quem talvez tenha a possibilidade de apresentar alibi. O Abílio poderá ter o testemunho dos primos do Café na estrada de Catete, onde teria estado toda a tarde. Até trouxe dois abacaxis de presente. Não é suspeito para já.
4 – O João acompanhou as bagagens ao R.I.L., onde esteve até às 16.00 e foi mesmo visto pelo Garrett. Saiu e chegou ao apartamento pelas 16.30. Não teria tido tempo para cometer o crime.
5 – A Louise poderá ter o testemunho das amigas com quem esteve na praia e depois em casa delas. Quanto ao pai pouco ou nada sabemos. Mas o texto iliba-o, bem como à filha, ao indiciar um culpado militar. Caso contrário não se justificaria que a Censura tivesse abafado o caso “para não deixar a tropa mal colocada”. Seria muito pouco abonatório para o Regime tornar público um ajuste de contas com origem em divergências políticas, como já se adivinha, entre oficiais do Exército.
6 – O Inspector Garrett não deve ter encontrado nenhuma estação de Correios aberta e acabou por ir ao R.I.L. telefonar à Mãe. Não parece ser culpado, até porque não sabemos de motivações para o crime.
7 – Só o Edgar Valente não apresenta qualquer hipótese de alibi. Ainda por cima, quando, ainda da porta, levou as mãos à cabeça num gesto de horror, mostra ter as mãos desocupadas não parecendo portanto ter feito quaisquer compras, contrariamente ao que tinha anunciado. Onde terá estado durante aquelas quase quatro horas, se não foi às compras?
8 – Por que razão Garrett teve dificuldades em encontrar uma estação de Correios aberta e o Edgar não poderia ter ido às compras? Muito simplesmente porque o dia 19 de Agosto de 1962 foi um domingo e o comércio em Luanda estava todo fechado, bem como os Correios, como era usual na época. Finalmente um facto concreto, que faz recair sobre o Edgar, desde logo, as suspeitas do crime, mais do que sobre qualquer um dos restantes intervenientes. E é bem exagerada a sua reacção, da porta, ao “saber” da morte.
“Muito bem” – disse o Inspector Garrett – “ A vossa dedução está perfeita. Efectivamente o que aconteceu foi que o Edgar Valente tinha fortes desconfianças de que fora o Jorge quem o denunciara à Pide e, ao chegar a Luanda, resolveu pôr tudo em pratos limpos. Sem se lembrar de que era domingo, inventou aquela desculpa de ter de ir às compras e, mal desembarcou, foi logo directo ao apartamento onde o Jorge nos esperava. A discussão aqueceu, o Jorge terá confessado a sua culpa e a pistola Walther ali pousada à mão criou a oportunidade para o crime. De notar que naquela época a familiaridade dos militares com armas tornava normal que elas estivessem quase sempre pousadas em locais de fácil acesso. O mais curioso da história foi o que se seguiu. O Edgar foi acusado e julgado em Tribunal Militar, mas influências tendentes a abafar casos políticos e a proteger a identidade de informadores da Pide, fizeram com que apenas fosse condenado a dois anos com pena suspensa, por negligência no uso de armas de fogo. Foi depois, compulsivamente, passado à disponibilidade, mas nunca mais deixou de ser perseguido pela Pide, tendo acabado os seus dias no Tarrafal. “Malhas que o Império tece”, como dizia o poeta. Neste País ainda há muitas histórias para ser contadas”.
E Garrett acabou por pedir outro café porque o seu entretanto arrefecera.
SOLUÇÃO DA PROVA N.º 9 – PARTE II
“BRANCA DE NEVE”, de BRANCA DE NEVE
A alínea que indica o nome da assassina é a (C) Violeta.
Ela não podia saber a que horas o crime fora cometido uma vez que esta não foi revelada.
RECTIFICAÇÃO
O problema de autoria do confrade M. Constantino, que publicámos na edição do dia 2 do corrente mês e cujo prazo para resposta decorre até ao dia 31, saiu com uma incorrecção. Não sendo absolutamente impeditiva da sua resolução, não deixa de ser penalizadora, quer para os confrades “detectives”, que acabam por ser obrigados a uma dose suplementar de “trabalhos forçados”, para chegarem àquilo que o autor pretendia, quer para o próprio mestre Constantino, que assim viu o seu trabalho prejudicado por esta arreliadora gralha.
Na realidade, ocorreu uma situação inviável numa aldeia de uma tribo primitiva: Uma mudança de sexo!
Na distribuição dos membros da tribo, pelas palhotas, refere-se a dado passo que “Para coabitação, Aurora recusou o alegre Tono…”, quando deveria ter sido publicado que Aurora recusou a alegre Tono!
Desta forçada mudança de sexo, cuja responsabilidade nos cabe por inteiro, por termos sido nós a digitar o texto, pedimos desculpa aos leitores e “detectives”, particularmente a M Constantino, o autor do desafio.
POLICIÁRIO NO CORREIO DO RIBATEJO
A secção do confrade Domingos Cabral, o Inspector Aranha do nosso “Mundo Policiário”, já está em pleno no semanário Correio do Ribatejo!
Apostando na divulgação do nosso passatempo, quer com publicação de problemas policiais, quer de contos da mesma temática e com muitos projectos e ideias na forja, a secção assume-se como mais uma excelente oportunidade para os confrades exercitarem as suas capacidades dedutivas.
Todos os esclarecimentos sobre assinatura do semanário e outros assuntos, podem ser pedidos para o endereço do confrade Inspector Aranha, d.cabral@sapo.pt.
Na certeza de que haverá muito sucesso neste novo projecto de divulgação do nosso passatempo, daqui endereçamos o apelo aos nossos confrades e “detectives”, para que não deixem de comparecer.
domingo, 16 de outubro de 2011
POLICIÁRIO 1056
Damos hoje mais um passo rumo ao final das nossas competições desta época, com a publicação das soluções oficiais dos desafios que nos foram propostos pelo confrade Daniel Falcão e que compuseram a prova n.º 8.
Num momento em que o campeonato e a taça entram em fases completamente decisivas, onde o menor erro ou distracção podem ser verdadeiramente demolidores em termos de classificação final, é sempre útil verificar se a nossa solução está conforme com a do autor e se mais um desafio foi superado.
CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL
SOLUÇÃO DA PROVA N.º 8 – PARTE I
“AZUL CELESTIAL” – Original de DANIEL FALCÃO
Dic Roland, KO e Sete de Espadas não resistiram, onde quer que estejam, a reagir ao repto lançado por Luís Pessoa, enviando uma mensagem aos decifradores que com eles deixaram de confraternizar e debater o policiário. Mas que, um dia, se irão sentar à volta da mesma mesa (já não hexagonal, claro!).
Movendo o seu dedo indicador, Dic Roland fez aparecer sobre a mesa a frase “AMIGOS DESEJAMOS LONGA VIDA AO POLICIARIO”. Recordando os quatro pilares enunciados pelo Paulo na sua ‘mensagem secreta’, transformou a frase, colocando as letras em quatro colunas no sentido ascendente:
A R I O
L I C I
A O P O
V I D A
O N G A
M O S L
S E J A
O S D E
A M I G
Foi esta distribuição das letras que KO encontrou pela frente. Não querendo complicar a vida aos decifradores, KO decidiu apenas recuperar o número do prisioneiro (1432) do ‘aprendiz de criminoso’ de Felizardo Lopes e modificar as posições das quatro colunas de letras, mantendo a primeira e a terceira nas mesmas posições e trocando a segunda pela quarta coluna:
A O I R
L I C I
A O P O
V A D I
O A G N
M L S O
S A J E
O E D S
A G I M
Sete de Espadas, embora achando que já estavam a ocorrer demasiadas transformações, também quis deixar a sua assinatura pessoal, “Sete”. Colocou as letras numa única linha, da esquerda para a direita, e de cima para baixo:
A O I R L I C I A O P O V A D I O A G N M L S O S A J E O E D S A G I M
A seguir, substituiu-as pela letra sete posições à direita no alfabeto, porque era pela direita que o conjunto de letras ia circulando, resultando a mensagem quase desvanecida:
H V P Y S P J P H V W V C H K P V H N U T S Z V Z H Q L V L K Z H N P T
Obviamente que foi isto o que aconteceu. Contudo, os decifradores, para chegarem à frase original, devem seguir o caminho inverso: em primeiro lugar, substituir cada letra pela sétima letra à sua esquerda no alfabeto e colocar as letras em quatro colunas, da esquerda para a direita e de cima para baixo (Sete de Espadas); a seguir, trocar a segunda pela quarta coluna, mantendo as posições das outras duas colunas (KO); e, por fim, ler a mensagem contida nos quatro pilares, da esquerda para a direita e de baixo para cima (Dic Roland).
Quem será aquele misterioso quarto personagem: Avarra? Fiquem calmos, porque não espero que os decifradores o consigam identificar. Mas ele não podia deixar de estar presente na dedicatória.
SOLUÇÃO DA PROVA N.º 8 – PARTE II
“QUEM MATOU RAFA(ELA) – DE DANIEL FALCÃO
A resposta certa é: D – Rute.
A investigação apurou ainda que a vítima, a Rafa(ela), professora de Química, estava a apresentar aos alunos a Tabela Periódica. Foi, precisamente, esta informação que permitiu decifrar a mensagem escrita a sangue: 5-8 5-16.
A estrutura da tabela periódica dispõe os elementos químicos em períodos (linhas) e grupos (colunas). Assim, no período 5 e grupo 8, encontramos o Ruténio, símbolo Ru, e no mesmo período 5 mas no grupo 16, encontramos o Telúrio, símbolo Te. Ou seja: Ru Te.
Embora se refira, para despistar, o que cada professora leccionava, parece-nos óbvio que seria utilizado para codificar o nome da criminosa algo que estivesse relacionado com a disciplina leccionada pela própria vítima.
QUEM IDENTIFICA AVARRA?
Uma nota suplementar para o problema “Azul Celestial”, pela forma como o confrade bracarense nos fala de pessoas tão importantes para o Policiário, como são os casos de Dic Roland, KO e Sete de Espadas, ainda hoje e, esperamos que sempre, recordados com muita saudade pela generalidade dos cultores deste passatempo, pela extraordinária presença e importância que todos tiveram.
Uma referência final para o outro personagem envolvido, Avarra, que ninguém parece identificar e que o próprio autor resguarda da natural curiosidade de todos.
Quase podíamos lançar a pergunta: Quem identifica AVARRA?
Para já, uma pergunta sem qualquer resposta, aguardando os esclarecimentos de Daniel Falcão.
PROBLEMA DE M. CONSTANTINO
Recordamos, entretanto, que decorre até ao final deste mês de Outubro, dia 31 e não 30 como por lapso indicámos em devido tempo, o derradeiro prazo para envio das últimas propostas de solução dos enigmas que compõem a prova n.º 10, sendo que um deles é um “bico-de-obra” (mais um!), do confrade M. Constantino.
Como muitos dos nossos “detectives” verificaram (e deram-nos a devida nota), o problema de M Constantino excedia o número de caracteres que regulamentarmente ficaram definidos. No entanto, dada a qualidade do desafio, não hesitámos um só momento em publicá-lo, mesmo que à revelia do regulamento, uma vez que o texto não permitia mais cortes, sem perda das suas características.
Em boa verdade, pensamos ter agido correctamente, mas sujeitamo-nos democraticamente, ao escrutínio dos nossos companheiros de Policiário, até pelo facto de alguns já terem manifestado a sua discordância, um direito que lhes assiste e aceitamos sem reservas, havendo propostas de que o problema de M Constantino seja eliminado da classificação do campeonato nacional de produção, por violação dos regulamentos.
Compreendemos que outros confrades produtores se sintam prejudicados por terem sido obrigados a verdadeiros exercícios de malabarismo, para poderem encaixar os seus desafios no número de caracteres e elogiamos o seu poder de síntese para o conseguirem, mas também entendemos que um problema como o apresentado por M Constantino merecia a publicação sem mais cortes, porque evidenciava uma coerência que jamais se obteria de outra forma.
Assumimos, pois, que foi deliberada a quebra regulamentar que praticámos, sem termos comunicado, sequer, ao autor a excessiva extensão do seu problema, porque entendemos que aquela texto não permitia mexidas, não era susceptível de cortes, sem alterar completamente a lógica daquela aldeia comunitária, do posicionamento de cada um dos seus membros e da sua relação sentimental e física.
Sujeitamo-nos ao veredicto dos nossos confrades, não havendo da parte do autor do desafio qualquer outra responsabilidade, para além de ter produzido um excelente problema policial, um pouco mais extenso do que o tamanho que o regulamento permitia.
Num momento em que o campeonato e a taça entram em fases completamente decisivas, onde o menor erro ou distracção podem ser verdadeiramente demolidores em termos de classificação final, é sempre útil verificar se a nossa solução está conforme com a do autor e se mais um desafio foi superado.
CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL
SOLUÇÃO DA PROVA N.º 8 – PARTE I
“AZUL CELESTIAL” – Original de DANIEL FALCÃO
Dic Roland, KO e Sete de Espadas não resistiram, onde quer que estejam, a reagir ao repto lançado por Luís Pessoa, enviando uma mensagem aos decifradores que com eles deixaram de confraternizar e debater o policiário. Mas que, um dia, se irão sentar à volta da mesma mesa (já não hexagonal, claro!).
Movendo o seu dedo indicador, Dic Roland fez aparecer sobre a mesa a frase “AMIGOS DESEJAMOS LONGA VIDA AO POLICIARIO”. Recordando os quatro pilares enunciados pelo Paulo na sua ‘mensagem secreta’, transformou a frase, colocando as letras em quatro colunas no sentido ascendente:
A R I O
L I C I
A O P O
V I D A
O N G A
M O S L
S E J A
O S D E
A M I G
Foi esta distribuição das letras que KO encontrou pela frente. Não querendo complicar a vida aos decifradores, KO decidiu apenas recuperar o número do prisioneiro (1432) do ‘aprendiz de criminoso’ de Felizardo Lopes e modificar as posições das quatro colunas de letras, mantendo a primeira e a terceira nas mesmas posições e trocando a segunda pela quarta coluna:
A O I R
L I C I
A O P O
V A D I
O A G N
M L S O
S A J E
O E D S
A G I M
Sete de Espadas, embora achando que já estavam a ocorrer demasiadas transformações, também quis deixar a sua assinatura pessoal, “Sete”. Colocou as letras numa única linha, da esquerda para a direita, e de cima para baixo:
A O I R L I C I A O P O V A D I O A G N M L S O S A J E O E D S A G I M
A seguir, substituiu-as pela letra sete posições à direita no alfabeto, porque era pela direita que o conjunto de letras ia circulando, resultando a mensagem quase desvanecida:
H V P Y S P J P H V W V C H K P V H N U T S Z V Z H Q L V L K Z H N P T
Obviamente que foi isto o que aconteceu. Contudo, os decifradores, para chegarem à frase original, devem seguir o caminho inverso: em primeiro lugar, substituir cada letra pela sétima letra à sua esquerda no alfabeto e colocar as letras em quatro colunas, da esquerda para a direita e de cima para baixo (Sete de Espadas); a seguir, trocar a segunda pela quarta coluna, mantendo as posições das outras duas colunas (KO); e, por fim, ler a mensagem contida nos quatro pilares, da esquerda para a direita e de baixo para cima (Dic Roland).
Quem será aquele misterioso quarto personagem: Avarra? Fiquem calmos, porque não espero que os decifradores o consigam identificar. Mas ele não podia deixar de estar presente na dedicatória.
SOLUÇÃO DA PROVA N.º 8 – PARTE II
“QUEM MATOU RAFA(ELA) – DE DANIEL FALCÃO
A resposta certa é: D – Rute.
A investigação apurou ainda que a vítima, a Rafa(ela), professora de Química, estava a apresentar aos alunos a Tabela Periódica. Foi, precisamente, esta informação que permitiu decifrar a mensagem escrita a sangue: 5-8 5-16.
A estrutura da tabela periódica dispõe os elementos químicos em períodos (linhas) e grupos (colunas). Assim, no período 5 e grupo 8, encontramos o Ruténio, símbolo Ru, e no mesmo período 5 mas no grupo 16, encontramos o Telúrio, símbolo Te. Ou seja: Ru Te.
Embora se refira, para despistar, o que cada professora leccionava, parece-nos óbvio que seria utilizado para codificar o nome da criminosa algo que estivesse relacionado com a disciplina leccionada pela própria vítima.
QUEM IDENTIFICA AVARRA?
Uma nota suplementar para o problema “Azul Celestial”, pela forma como o confrade bracarense nos fala de pessoas tão importantes para o Policiário, como são os casos de Dic Roland, KO e Sete de Espadas, ainda hoje e, esperamos que sempre, recordados com muita saudade pela generalidade dos cultores deste passatempo, pela extraordinária presença e importância que todos tiveram.
Uma referência final para o outro personagem envolvido, Avarra, que ninguém parece identificar e que o próprio autor resguarda da natural curiosidade de todos.
Quase podíamos lançar a pergunta: Quem identifica AVARRA?
Para já, uma pergunta sem qualquer resposta, aguardando os esclarecimentos de Daniel Falcão.
PROBLEMA DE M. CONSTANTINO
Recordamos, entretanto, que decorre até ao final deste mês de Outubro, dia 31 e não 30 como por lapso indicámos em devido tempo, o derradeiro prazo para envio das últimas propostas de solução dos enigmas que compõem a prova n.º 10, sendo que um deles é um “bico-de-obra” (mais um!), do confrade M. Constantino.
Como muitos dos nossos “detectives” verificaram (e deram-nos a devida nota), o problema de M Constantino excedia o número de caracteres que regulamentarmente ficaram definidos. No entanto, dada a qualidade do desafio, não hesitámos um só momento em publicá-lo, mesmo que à revelia do regulamento, uma vez que o texto não permitia mais cortes, sem perda das suas características.
Em boa verdade, pensamos ter agido correctamente, mas sujeitamo-nos democraticamente, ao escrutínio dos nossos companheiros de Policiário, até pelo facto de alguns já terem manifestado a sua discordância, um direito que lhes assiste e aceitamos sem reservas, havendo propostas de que o problema de M Constantino seja eliminado da classificação do campeonato nacional de produção, por violação dos regulamentos.
Compreendemos que outros confrades produtores se sintam prejudicados por terem sido obrigados a verdadeiros exercícios de malabarismo, para poderem encaixar os seus desafios no número de caracteres e elogiamos o seu poder de síntese para o conseguirem, mas também entendemos que um problema como o apresentado por M Constantino merecia a publicação sem mais cortes, porque evidenciava uma coerência que jamais se obteria de outra forma.
Assumimos, pois, que foi deliberada a quebra regulamentar que praticámos, sem termos comunicado, sequer, ao autor a excessiva extensão do seu problema, porque entendemos que aquela texto não permitia mexidas, não era susceptível de cortes, sem alterar completamente a lógica daquela aldeia comunitária, do posicionamento de cada um dos seus membros e da sua relação sentimental e física.
Sujeitamo-nos ao veredicto dos nossos confrades, não havendo da parte do autor do desafio qualquer outra responsabilidade, para além de ter produzido um excelente problema policial, um pouco mais extenso do que o tamanho que o regulamento permitia.
domingo, 9 de outubro de 2011
POLICIÁRIO 1055
Chegamos hoje ao final de mais uma maratona competitiva, com a publicação do derradeiro desafio, de autoria do “detective” Malempregado.
Por se tratar da despedida desta época, repete-se a recomendação que fazemos amiúde e que traduz o sentimento que deve presidir numa actividade como a nossa: Muita atenção na leitura e interpretação do texto, muito cuidado na opção!
CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL
PROVA N.º 10 – PARTE II
“O IATE MISTERIOSO”, Original de MALEMPREGADO
Há muitos meses que o Alberto estava debaixo de olho.
A polícia tinha informações bastante seguras de que se tratava de um mediano passador de drogas, actuando numa zona de difícil controlo, por ser muito visitada por nacionais e estrangeiros.
Com uma vigilância à distância, tão discreta quanto possível, a polícia foi reunindo informações e indícios dos movimentos daquele pescador amador, que todos os dias se sentava no mesmo local, preparava as canas, o isco e por ali ficava horas e horas, numa pachorrenta sonolência.
Os agentes estavam a desesperar, dias e dias naquela monotonia, a olhar para um homem que parecia incapaz de fazer mal a uma mosca, fazendo contagem das vezes que lançava o isco, das vezes que retirava alguma coisa, inventando jogos para se manterem minimamente atentos. Mas o que acontecia era que a paciência se estava a esgotar e os agentes destacados andavam à beira de um ataque de nervos.
Mas naquele dia, tudo se alterou.
O Alberto estava sentado no seu lugar de estimação, junto da Torre Vasco da Gama, olhando na direcção da ponte com o mesmo nome, seguindo as movimentações de três pessoas que percorriam um iate de boas dimensões, ali ancorado. À primeira vista, nada que despertasse suspeitas aos agentes, mas depois, um deles, colocado a jusante, fazendo, também, de pescador, notou que havia uma espécie de sinalética, um levantar e sentar, aparentemente sem sentido. Logo transmitiu a informação ao outro agente, situado mais para o interior e a uma distância mais reduzida do Alberto.
O dia estava belíssimo, não havia rasto de nuvens nem de vento, o chamado dia perfeito para um bom passeio à beira-rio, seguindo o mergulho das aves e a discreta ondulação que ia levantando uma leve espuma, rio acima.
As movimentações das pessoas no iate, começaram a indiciar que este se aprestava para levantar âncora e avançar em direcção à foz do rio. Em poucos segundos apareceu uma espuma branca e o iate avançou, ligeiro.
O agente-pescador, largou a cana, erguendo-se para ter uma melhor visão à passagem da embarcação, procurando reunir o máximo de informação. Foi nesse momento, ao aproximar-se mais da água, que viu dois embrulhos, flutuando na sua frente. Desceu, lesto, e apanhou-os. Não era preciso grande esforço para deduzir que se tratava de tabletes de droga, como já vira inúmeras vezes e que estavam dentro de água há poucos minutos.
Já de posse das embalagens, ergueu os olhos e cruzou o olhar com as três personagens que passavam precisamente à sua frente. Ficou sem saber se o olhavam surpreendidos por o verem dentro da água ou por ele ter detectado algo que lhes era dirigido ou que acabaram de largar para outras mãos…
Rapidamente dirigiu o olhar mais para cima, a tempo de ver que o Alberto se aprestava para largar o seu poiso e sinalizou esse facto ao colega, que no entanto já estava bem próximo de Alberto e em posição para a sua detenção.
O iate foi intersectado mais adiante, já depois de passar por baixo da Ponte 25 de Abril e a sua vistoria, de alto a baixo, não deu em nada, se bem que um dos seus tripulantes já tivesse uma longa história de tráfico.
Nos interrogatórios que se seguiram, o Alberto reafirmava a sua inocência:
- Olhe, senhor agente, eu sou um cidadão como outro qualquer, que apenas quer pescar. Sou pescador, vou para ali todos os dias, na maior parte das vezes nem apanho nada, mas passo o meu tempo…
- Você está bem conotado com o tráfico de drogas, meu caro. Sabemos que há muito tempo que lhe passam pelas mãos doses importantes de drogas e dinheiros. Temos muitas informações, está tramado. Faltava-nos o flagrante delito e ele aqui está. Se quer um conselho, é melhor confessar já!
- O senhor agente está equivocado. Eu não tenho nada que ver com isto de que me acusa. Estava a pescar, mais nada. Todos os dias vou para aquele lugar e não sei de mais nada.
- E o iate? Apanhámo-lo à saída do Tejo. Já sabemos tudo, é melhor que confesse já e nos poupe a todos o trabalho de ter de retirar coisas que já todos sabemos, não é verdade?
- Não posso confessar uma coisa que não é verdade e não fiz…
Os agentes fizeram a retrospectiva da acção, verificaram minuto a minuto, segundo a segundo, toda a cena. E concluíram:
A- O Alberto pode estar envolvido e era o destinatário da droga enviada pelo iate;
B- Embora seja o destinatário da droga enviada pelo iate, Alberto não pode ser incriminado porque não há provas contra ele;
C- O Alberto pode estar envolvido naquele caso de droga, mas ela não veio do iate;
D- O Alberto não pode estar envolvido naquele caso de droga, nem a droga veio do iate.
E pronto!
O prazo para envio da solução do desafio que hoje publicamos e que pode ser remetido em conjunto com a resposta ao que foi publicado na passada semana (recordamos que foi mais em excelente problema do mestre M. Constantino) tem como limite máximo o dia 31 deste mês de Outubro.
Para nos fazerem chegar as propostas de solução, podem usar, como habitualmente, um dos seguintes meios:
- Pelos Correios para PÚBLICO-Policiário, Rua Viriato, 13, 1069-315 LISBOA;
- Por e-mail para policiario@publico.pt;
- Por entrega em mão na redacção do PÚBLICO de Lisboa;
- Por entrega em mão ao orientador da secção, onde quer que o encontrem.
Boas deduções!
NOVO ESPAÇO POLICIAL
Uma boa notícia que nos foi trazida pelo responsável pelo novo espaço policial, o confrade INSPECTOR ARANHA, “detective” de Santarém.
Tratando-se de um dos mais importantes vultos do Policiário português, com muitas décadas de bons e relevantes serviços prestados à nossa causa de bem formar as pessoas, pondo-as a pensar, o Inspector Aranha é, neste momento, o decano dos orientadores portugueses e aquele que mais vai insistindo no sentido de remar contra a maré que vai fechando as portas.
Desde os brilhantes tempos das dezenas de secções policiais na imprensa regional, muitas coisas se modificaram, os órgãos de comunicação social diminuíram e passaram a achar que uma secção de passatempos inteligentes é supérflua e rouba espaço!
Neste contexto, o Inspector Aranha vai avançando e procurando desenvolver um trabalho continuado, em prol do Policiário. Em tempos mais recentes, foi no Almeirinense, como Zé dos Anzóis, em conjunto com mais dois “Zés”, o Zé de Viseu (o “nosso” Zé) e o Zé da Vila (“mestre” Constantino), com uma secção de grande qualidade.
Agora, é no jornal “Correio do Ribatejo”, um semanário de grande expansão, de Santarém.
O texto que o confrade nos enviou, reza assim:
“Caros Policiaristas
Informo que, com início no próximo dia 7 de Outubro, e por convite do Jornal "Correio do Ribatejo", semanário de Santarém, darei início à publicação no mesmo de uma Secção Policial, que terá periodicidade semanal e o espaço de uma página.
Aos que possam estar interessados em assinar o jornal informo que o custo anual é de 18 €, e semestral de 9 €, devendo os pedidos ser-me endereçados. Um abraço. Domingos Cabral”
Para todos os confrades e Amigos, aqui fica a informação, com votos de que a secção seja um enorme êxito, para o qual será fundamental a adesão de todos.
O confrade Inspector Aranha pode ser contactado para o endereço d.cabral@sapo.pt, para onde poderão ser colocadas todas as questões e efectuadas as assinaturas.
Para a nova secção e para o seu orientador, vão os votos de muito sucesso!
Por se tratar da despedida desta época, repete-se a recomendação que fazemos amiúde e que traduz o sentimento que deve presidir numa actividade como a nossa: Muita atenção na leitura e interpretação do texto, muito cuidado na opção!
CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL
PROVA N.º 10 – PARTE II
“O IATE MISTERIOSO”, Original de MALEMPREGADO
Há muitos meses que o Alberto estava debaixo de olho.
A polícia tinha informações bastante seguras de que se tratava de um mediano passador de drogas, actuando numa zona de difícil controlo, por ser muito visitada por nacionais e estrangeiros.
Com uma vigilância à distância, tão discreta quanto possível, a polícia foi reunindo informações e indícios dos movimentos daquele pescador amador, que todos os dias se sentava no mesmo local, preparava as canas, o isco e por ali ficava horas e horas, numa pachorrenta sonolência.
Os agentes estavam a desesperar, dias e dias naquela monotonia, a olhar para um homem que parecia incapaz de fazer mal a uma mosca, fazendo contagem das vezes que lançava o isco, das vezes que retirava alguma coisa, inventando jogos para se manterem minimamente atentos. Mas o que acontecia era que a paciência se estava a esgotar e os agentes destacados andavam à beira de um ataque de nervos.
Mas naquele dia, tudo se alterou.
O Alberto estava sentado no seu lugar de estimação, junto da Torre Vasco da Gama, olhando na direcção da ponte com o mesmo nome, seguindo as movimentações de três pessoas que percorriam um iate de boas dimensões, ali ancorado. À primeira vista, nada que despertasse suspeitas aos agentes, mas depois, um deles, colocado a jusante, fazendo, também, de pescador, notou que havia uma espécie de sinalética, um levantar e sentar, aparentemente sem sentido. Logo transmitiu a informação ao outro agente, situado mais para o interior e a uma distância mais reduzida do Alberto.
O dia estava belíssimo, não havia rasto de nuvens nem de vento, o chamado dia perfeito para um bom passeio à beira-rio, seguindo o mergulho das aves e a discreta ondulação que ia levantando uma leve espuma, rio acima.
As movimentações das pessoas no iate, começaram a indiciar que este se aprestava para levantar âncora e avançar em direcção à foz do rio. Em poucos segundos apareceu uma espuma branca e o iate avançou, ligeiro.
O agente-pescador, largou a cana, erguendo-se para ter uma melhor visão à passagem da embarcação, procurando reunir o máximo de informação. Foi nesse momento, ao aproximar-se mais da água, que viu dois embrulhos, flutuando na sua frente. Desceu, lesto, e apanhou-os. Não era preciso grande esforço para deduzir que se tratava de tabletes de droga, como já vira inúmeras vezes e que estavam dentro de água há poucos minutos.
Já de posse das embalagens, ergueu os olhos e cruzou o olhar com as três personagens que passavam precisamente à sua frente. Ficou sem saber se o olhavam surpreendidos por o verem dentro da água ou por ele ter detectado algo que lhes era dirigido ou que acabaram de largar para outras mãos…
Rapidamente dirigiu o olhar mais para cima, a tempo de ver que o Alberto se aprestava para largar o seu poiso e sinalizou esse facto ao colega, que no entanto já estava bem próximo de Alberto e em posição para a sua detenção.
O iate foi intersectado mais adiante, já depois de passar por baixo da Ponte 25 de Abril e a sua vistoria, de alto a baixo, não deu em nada, se bem que um dos seus tripulantes já tivesse uma longa história de tráfico.
Nos interrogatórios que se seguiram, o Alberto reafirmava a sua inocência:
- Olhe, senhor agente, eu sou um cidadão como outro qualquer, que apenas quer pescar. Sou pescador, vou para ali todos os dias, na maior parte das vezes nem apanho nada, mas passo o meu tempo…
- Você está bem conotado com o tráfico de drogas, meu caro. Sabemos que há muito tempo que lhe passam pelas mãos doses importantes de drogas e dinheiros. Temos muitas informações, está tramado. Faltava-nos o flagrante delito e ele aqui está. Se quer um conselho, é melhor confessar já!
- O senhor agente está equivocado. Eu não tenho nada que ver com isto de que me acusa. Estava a pescar, mais nada. Todos os dias vou para aquele lugar e não sei de mais nada.
- E o iate? Apanhámo-lo à saída do Tejo. Já sabemos tudo, é melhor que confesse já e nos poupe a todos o trabalho de ter de retirar coisas que já todos sabemos, não é verdade?
- Não posso confessar uma coisa que não é verdade e não fiz…
Os agentes fizeram a retrospectiva da acção, verificaram minuto a minuto, segundo a segundo, toda a cena. E concluíram:
A- O Alberto pode estar envolvido e era o destinatário da droga enviada pelo iate;
B- Embora seja o destinatário da droga enviada pelo iate, Alberto não pode ser incriminado porque não há provas contra ele;
C- O Alberto pode estar envolvido naquele caso de droga, mas ela não veio do iate;
D- O Alberto não pode estar envolvido naquele caso de droga, nem a droga veio do iate.
E pronto!
O prazo para envio da solução do desafio que hoje publicamos e que pode ser remetido em conjunto com a resposta ao que foi publicado na passada semana (recordamos que foi mais em excelente problema do mestre M. Constantino) tem como limite máximo o dia 31 deste mês de Outubro.
Para nos fazerem chegar as propostas de solução, podem usar, como habitualmente, um dos seguintes meios:
- Pelos Correios para PÚBLICO-Policiário, Rua Viriato, 13, 1069-315 LISBOA;
- Por e-mail para policiario@publico.pt;
- Por entrega em mão na redacção do PÚBLICO de Lisboa;
- Por entrega em mão ao orientador da secção, onde quer que o encontrem.
Boas deduções!
NOVO ESPAÇO POLICIAL
Uma boa notícia que nos foi trazida pelo responsável pelo novo espaço policial, o confrade INSPECTOR ARANHA, “detective” de Santarém.
Tratando-se de um dos mais importantes vultos do Policiário português, com muitas décadas de bons e relevantes serviços prestados à nossa causa de bem formar as pessoas, pondo-as a pensar, o Inspector Aranha é, neste momento, o decano dos orientadores portugueses e aquele que mais vai insistindo no sentido de remar contra a maré que vai fechando as portas.
Desde os brilhantes tempos das dezenas de secções policiais na imprensa regional, muitas coisas se modificaram, os órgãos de comunicação social diminuíram e passaram a achar que uma secção de passatempos inteligentes é supérflua e rouba espaço!
Neste contexto, o Inspector Aranha vai avançando e procurando desenvolver um trabalho continuado, em prol do Policiário. Em tempos mais recentes, foi no Almeirinense, como Zé dos Anzóis, em conjunto com mais dois “Zés”, o Zé de Viseu (o “nosso” Zé) e o Zé da Vila (“mestre” Constantino), com uma secção de grande qualidade.
Agora, é no jornal “Correio do Ribatejo”, um semanário de grande expansão, de Santarém.
O texto que o confrade nos enviou, reza assim:
“Caros Policiaristas
Informo que, com início no próximo dia 7 de Outubro, e por convite do Jornal "Correio do Ribatejo", semanário de Santarém, darei início à publicação no mesmo de uma Secção Policial, que terá periodicidade semanal e o espaço de uma página.
Aos que possam estar interessados em assinar o jornal informo que o custo anual é de 18 €, e semestral de 9 €, devendo os pedidos ser-me endereçados. Um abraço. Domingos Cabral”
Para todos os confrades e Amigos, aqui fica a informação, com votos de que a secção seja um enorme êxito, para o qual será fundamental a adesão de todos.
O confrade Inspector Aranha pode ser contactado para o endereço d.cabral@sapo.pt, para onde poderão ser colocadas todas as questões e efectuadas as assinaturas.
Para a nova secção e para o seu orientador, vão os votos de muito sucesso!
domingo, 2 de outubro de 2011
POLICIÁRIO 1054
CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL
PROVA N.º 10 – PARTE I
OS ENIGMAS DA TRIBO DESAPARECIDA, de M. CONSTANTINO
Na distância do tempo, algures, isolada do conhecimento humano, a tribo, duas dúzias de viventes, existiam na certeza única do dia-a-dia. Na sua geografia havia o sol que se abria lentamente nas terras de cultivo primitivo, incidia na aldeia até se esconder sobre a montanha intransponível. Água, terra, céu, luz, escuridão… para além o reino dos espíritos na voz do trovão, na ira do raio. O mar, calmo, que recebia as águas doces do rio, não impedia verões quentes, invernos rigorosos. “Vieram do mar…”, era a lenda. Mais baixos que altos, robustos, cabelos negros, cobriam-se de peles. Desconheciam o ler; contar eram os dedos das mãos. Tinham nomes próprios que esqueciam em troca de epónimos consoante os actos ou configurações. Viviam em comum. As mulheres iniciavam cedo a vida sexual, acasalando com vários homens. Tinham muitos filhos, mas poucos sobreviviam à infância; aliás, a média de vida era baixa. Competia-lhe a lenha, tecer cordas de fibras. Os homens eram caçadores, pescadores e agricultores, segundo a aptidão. Para eles, o “rito de iniciação” sexual celebrava-se aos treze anos. Na “iniciação” de Jorge – a própria mãe se ofereceu para o ritual – a tribo aguardava, silenciosa. O iniciado apareceu corado, oscilante, mas sorridente; a iniciadora fez sinal afirmativo e o festim surgiu. Vibrou pela madrugada com a notícia do nascimento de dois rapazes. Gémeos iguais, escorreitos; da mesma mãe, sol a despertar, nasceu uma menina diferente dos irmãos e dos demais. Beatriz – murmuraram. Aurora – ditou o chefe Mentor, apontando o horizonte ardente. Aristarco, o juiz, afastara-se. No areal húmido, pegou um galho, riscou um traço horizontal ao mar; dois outros, de iguais dimensões, formaram um triângulo. Inspirado, lançou sobre este um outro igual mas invertido, resultando uma estrela de seis pontas. Espetou doze pequenos galhos, um em cada ângulo ou duplo ângulo de intercepção das duas figuras. Mentor aproximou-se, interrogativo. Aristarco adiantou-se: - Já somos bastantes, 26 exactamente; esta é a nova aldeia. Doze palhotas, quatro em cada lado dos triângulos. Vais numerá-las, com o número um na palhota esquerda da base do primeiro triângulo e de modo a que a soma da numeração de cada um dos lados dos triângulos seja sempre 26. Um problema para ti! Problema? Algum tempo, riscos e Mentor sorriu: - Tudo como queres! Mais… a soma dos números das pontas da estrela é 26! Aristarco rejubilou, clarificando que cada palhota seria dividida ao meio. Todas as portas, voltadas a nascente.
A tribo limpou o terreno, colheu paus, colmo e amassou barro para tapar as fendas. Quando pronta a habitar, Aristarco e Mentor ocuparam a n.º 1; Jorge, o iniciado, a 12, com Graçaim; as restantes distribuídas conforme as idades. À parturiente e gémeos coube a ponta norte da estrela. Relevam, entretanto, a façanha de Albano ao ousar enfrentar um urso com duas setas nos olhos. A fera, cega, na ânsia de arrancá-las, enterrava-as mais a cada movimento, devido à ponta em forma de “V” invertido. Destro, cravou a lança mortal. Pela dificuldade de construção e utilidade, as setas eram rigorosamente guardadas com a lança, as armas exclusivas dos caçadores. Os pescadores usavam tridentes. Inquietante o caso dos gémeos, um dos quais era um mentiroso incurável; contagiava o irmão e punha a ldeia em alvoroço com falsos acontecimentos. Aguará, caçou uma raposa branca; da pele fez um gorro que usava dia e noite e ofereceu a Aurora a restante. Esta começou a negar-se a Jorge a favor daquele. Carla, 16 anos normais, inesperadamente recusou trabalho e homens; rodeou-se de bichos mortos e, qual Sibila, clamava tragédias. Enjeitada acolheu-a Boto, a quem não incomodavam os gritos; mas não suportou o cheiro e procurou outro poiso. Sibila, acendeu uma fogueira a 9 passos da palhota. Sentada, de pernas cruzadas, com um felpudo e feio gato preto ao colo, balançava-se sobre o lume, gritando que a palhota ia arder. Mentor tentou intervir, inutilmente. Através da porta aberta viu lenha, peles velhas e carcaças pestilentas. Encaminhou-se para casa. Subitamente, as chamas devoraram a palhota. Testemunhas alegam que Sibila não fez qualquer gesto suspeito. Levantou-se, gritou e desmaiou. Aristarco visitou o local e ordenou a expulsão da moça para a floresta. Nomeado Alvanéu, Jorge montou nova palhota. A paz voltou.
O tempo decorreu até à “iniciação” dos gémeos e reajustamento habitacional. Aristarco e Mentor começaram por estes que ninguém conseguia diferenciar, sentados à porta da palhota. O juiz, encarando-os, perguntou de surpresa: - Qual nasceu em último? – Eu nasci em depois, disse um deles; o outro respondeu: - Eu nasci primeiro! Aristarco ponderou e, dirigindo-se ao primeiro, sentenciou: - Tu, Júlio, és o Pábulo, terás o cabelo rapado e viverás na 5 com o Albino, o dos incisivos salientes, teu irmão Raul com Pendão na palhota de costas à de Alvanéu, que manterá habitação com Amaro, o Graçaim. Aurora não mudará. Na palhota mais distante à sua, fica Ursídio, vizinho do Bisonte. No n.º mais baixo da lateral Este do primeiro triângulo ficam o delgado Lavanco e o grande e gordo de barriga como um sapo, donde vêem, de um lado a entrada da palhota do Jaime, o Cafunda e o dos halos escuros em volta dos olhos; do outro, descortinam Cláudio, sentado à porta da habitação. A 9 é ocupada por Daniel, matador da raposa branca e Artur, o Alfaraz.
Na base do triângulo invertido, na palhota Este, habitam o arisco Donfafe e Nuno, o das pernas tortas, seguindo-se a de Luís e o grande e gordo Carlos; na última palhota a Oeste vivem o Paulo, aquele que acolheu Sibila e Mário, o armeiro Erco. Para coabitação, Aurora recusou o alegre Tono; e Rosa, a Rubi, ficou com a pequena e gentil Garnisé. Ana, de poucas falas, era incompatível com a faladora Lúcia, a Gralha, amiga da Rosa e Alice. As três últimas ocuparam a última palhota disponível e Muda fez companhia a Marta. O juiz citou: caçadores – Alvanéu, Aquará, Alfaraz, Bisonte, Castor, Panda, Ursídio, não respectivamente, Daniel, Diogo, Cláudio, Jorge, Artur, Albano, Albino; pescadores – Amaro, André, Júlio, Luís, Mário, Raul, sem ordem, Epígono, Erco, Garçaim, Pábulo, Lavanco, pendão; agricultores – Boto, Cafunda, Cambeta, Donfafe e Untanha ou, sem ordem, Carlos, Hélder, Jaime, Nuno e Paulo. Citou as mulheres, recolheu as conchas onde arabescara os nomes, ápodos e números habitados.
Inverno chegado, Alvanéu percorreu a aldeia, barrando buracos nas palhotas. Alvorecera. Aristarco e Mentor contemplaram o manto branco da geada que cobria o solo da aldeia. Rastos inidentificáveis assinalam que o frio não apagara o fogo genital. Caminharam até ao centro… Um grito veio da palhota de Aguará; a porta abriu-se e Aurora caiu nos braços de Mentor. Aristarco entrou para encontrar Aguará na cama, frio, com um buraco profundo no alto da cabeça, sangue e restos de crânio no chão, atrás; junto da parede, o gorro rasgado ao centro com um golpe. Não havia armas à vista, as próprias do caçador jaziam invioláveis. A luz de um pavio, mergulhado em resina na concavidade de uma pedra, fora a única testemunha. A palhota trancada por dentro, a mulher dormira profundamente aos pés do morto; acordara para o horror e era insuspeita. As pegadas, impossíveis de identificar na geada, iam da palhota 7 à 3, da 12 à 9, desta à 2 e à 3, ou no sentido contrário ao indicado.
Quem? Como?
Aos leitores o ensejo de identificar nomes, ápodos, moradas dos viventes e os enigmas da tribo…
PROVA N.º 10 – PARTE I
OS ENIGMAS DA TRIBO DESAPARECIDA, de M. CONSTANTINO
Na distância do tempo, algures, isolada do conhecimento humano, a tribo, duas dúzias de viventes, existiam na certeza única do dia-a-dia. Na sua geografia havia o sol que se abria lentamente nas terras de cultivo primitivo, incidia na aldeia até se esconder sobre a montanha intransponível. Água, terra, céu, luz, escuridão… para além o reino dos espíritos na voz do trovão, na ira do raio. O mar, calmo, que recebia as águas doces do rio, não impedia verões quentes, invernos rigorosos. “Vieram do mar…”, era a lenda. Mais baixos que altos, robustos, cabelos negros, cobriam-se de peles. Desconheciam o ler; contar eram os dedos das mãos. Tinham nomes próprios que esqueciam em troca de epónimos consoante os actos ou configurações. Viviam em comum. As mulheres iniciavam cedo a vida sexual, acasalando com vários homens. Tinham muitos filhos, mas poucos sobreviviam à infância; aliás, a média de vida era baixa. Competia-lhe a lenha, tecer cordas de fibras. Os homens eram caçadores, pescadores e agricultores, segundo a aptidão. Para eles, o “rito de iniciação” sexual celebrava-se aos treze anos. Na “iniciação” de Jorge – a própria mãe se ofereceu para o ritual – a tribo aguardava, silenciosa. O iniciado apareceu corado, oscilante, mas sorridente; a iniciadora fez sinal afirmativo e o festim surgiu. Vibrou pela madrugada com a notícia do nascimento de dois rapazes. Gémeos iguais, escorreitos; da mesma mãe, sol a despertar, nasceu uma menina diferente dos irmãos e dos demais. Beatriz – murmuraram. Aurora – ditou o chefe Mentor, apontando o horizonte ardente. Aristarco, o juiz, afastara-se. No areal húmido, pegou um galho, riscou um traço horizontal ao mar; dois outros, de iguais dimensões, formaram um triângulo. Inspirado, lançou sobre este um outro igual mas invertido, resultando uma estrela de seis pontas. Espetou doze pequenos galhos, um em cada ângulo ou duplo ângulo de intercepção das duas figuras. Mentor aproximou-se, interrogativo. Aristarco adiantou-se: - Já somos bastantes, 26 exactamente; esta é a nova aldeia. Doze palhotas, quatro em cada lado dos triângulos. Vais numerá-las, com o número um na palhota esquerda da base do primeiro triângulo e de modo a que a soma da numeração de cada um dos lados dos triângulos seja sempre 26. Um problema para ti! Problema? Algum tempo, riscos e Mentor sorriu: - Tudo como queres! Mais… a soma dos números das pontas da estrela é 26! Aristarco rejubilou, clarificando que cada palhota seria dividida ao meio. Todas as portas, voltadas a nascente.
A tribo limpou o terreno, colheu paus, colmo e amassou barro para tapar as fendas. Quando pronta a habitar, Aristarco e Mentor ocuparam a n.º 1; Jorge, o iniciado, a 12, com Graçaim; as restantes distribuídas conforme as idades. À parturiente e gémeos coube a ponta norte da estrela. Relevam, entretanto, a façanha de Albano ao ousar enfrentar um urso com duas setas nos olhos. A fera, cega, na ânsia de arrancá-las, enterrava-as mais a cada movimento, devido à ponta em forma de “V” invertido. Destro, cravou a lança mortal. Pela dificuldade de construção e utilidade, as setas eram rigorosamente guardadas com a lança, as armas exclusivas dos caçadores. Os pescadores usavam tridentes. Inquietante o caso dos gémeos, um dos quais era um mentiroso incurável; contagiava o irmão e punha a ldeia em alvoroço com falsos acontecimentos. Aguará, caçou uma raposa branca; da pele fez um gorro que usava dia e noite e ofereceu a Aurora a restante. Esta começou a negar-se a Jorge a favor daquele. Carla, 16 anos normais, inesperadamente recusou trabalho e homens; rodeou-se de bichos mortos e, qual Sibila, clamava tragédias. Enjeitada acolheu-a Boto, a quem não incomodavam os gritos; mas não suportou o cheiro e procurou outro poiso. Sibila, acendeu uma fogueira a 9 passos da palhota. Sentada, de pernas cruzadas, com um felpudo e feio gato preto ao colo, balançava-se sobre o lume, gritando que a palhota ia arder. Mentor tentou intervir, inutilmente. Através da porta aberta viu lenha, peles velhas e carcaças pestilentas. Encaminhou-se para casa. Subitamente, as chamas devoraram a palhota. Testemunhas alegam que Sibila não fez qualquer gesto suspeito. Levantou-se, gritou e desmaiou. Aristarco visitou o local e ordenou a expulsão da moça para a floresta. Nomeado Alvanéu, Jorge montou nova palhota. A paz voltou.
O tempo decorreu até à “iniciação” dos gémeos e reajustamento habitacional. Aristarco e Mentor começaram por estes que ninguém conseguia diferenciar, sentados à porta da palhota. O juiz, encarando-os, perguntou de surpresa: - Qual nasceu em último? – Eu nasci em depois, disse um deles; o outro respondeu: - Eu nasci primeiro! Aristarco ponderou e, dirigindo-se ao primeiro, sentenciou: - Tu, Júlio, és o Pábulo, terás o cabelo rapado e viverás na 5 com o Albino, o dos incisivos salientes, teu irmão Raul com Pendão na palhota de costas à de Alvanéu, que manterá habitação com Amaro, o Graçaim. Aurora não mudará. Na palhota mais distante à sua, fica Ursídio, vizinho do Bisonte. No n.º mais baixo da lateral Este do primeiro triângulo ficam o delgado Lavanco e o grande e gordo de barriga como um sapo, donde vêem, de um lado a entrada da palhota do Jaime, o Cafunda e o dos halos escuros em volta dos olhos; do outro, descortinam Cláudio, sentado à porta da habitação. A 9 é ocupada por Daniel, matador da raposa branca e Artur, o Alfaraz.
Na base do triângulo invertido, na palhota Este, habitam o arisco Donfafe e Nuno, o das pernas tortas, seguindo-se a de Luís e o grande e gordo Carlos; na última palhota a Oeste vivem o Paulo, aquele que acolheu Sibila e Mário, o armeiro Erco. Para coabitação, Aurora recusou o alegre Tono; e Rosa, a Rubi, ficou com a pequena e gentil Garnisé. Ana, de poucas falas, era incompatível com a faladora Lúcia, a Gralha, amiga da Rosa e Alice. As três últimas ocuparam a última palhota disponível e Muda fez companhia a Marta. O juiz citou: caçadores – Alvanéu, Aquará, Alfaraz, Bisonte, Castor, Panda, Ursídio, não respectivamente, Daniel, Diogo, Cláudio, Jorge, Artur, Albano, Albino; pescadores – Amaro, André, Júlio, Luís, Mário, Raul, sem ordem, Epígono, Erco, Garçaim, Pábulo, Lavanco, pendão; agricultores – Boto, Cafunda, Cambeta, Donfafe e Untanha ou, sem ordem, Carlos, Hélder, Jaime, Nuno e Paulo. Citou as mulheres, recolheu as conchas onde arabescara os nomes, ápodos e números habitados.
Inverno chegado, Alvanéu percorreu a aldeia, barrando buracos nas palhotas. Alvorecera. Aristarco e Mentor contemplaram o manto branco da geada que cobria o solo da aldeia. Rastos inidentificáveis assinalam que o frio não apagara o fogo genital. Caminharam até ao centro… Um grito veio da palhota de Aguará; a porta abriu-se e Aurora caiu nos braços de Mentor. Aristarco entrou para encontrar Aguará na cama, frio, com um buraco profundo no alto da cabeça, sangue e restos de crânio no chão, atrás; junto da parede, o gorro rasgado ao centro com um golpe. Não havia armas à vista, as próprias do caçador jaziam invioláveis. A luz de um pavio, mergulhado em resina na concavidade de uma pedra, fora a única testemunha. A palhota trancada por dentro, a mulher dormira profundamente aos pés do morto; acordara para o horror e era insuspeita. As pegadas, impossíveis de identificar na geada, iam da palhota 7 à 3, da 12 à 9, desta à 2 e à 3, ou no sentido contrário ao indicado.
Quem? Como?
Aos leitores o ensejo de identificar nomes, ápodos, moradas dos viventes e os enigmas da tribo…
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