25 ANOS DE POLICIÁRIO
PRIMEIRA
PROVA DO CAMPEONATO
Finalmente
chegou a competição a sério!
No
nosso XXV aniversário, o campeonato tem a ligeira alteração das produções serem
de autores convidados pelo orientador, por haverem já obtido posições de relevo
como produtores.
E o
primeiro convidado é A. Raposo & Lena, uma dupla que responde sempre
presente e que coloca um desafio que nos parece acessível, após alguma
consulta.
CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL – 2017
PROVA
N.º 1 – PARTE I
“TEMPICOS
MELANCÓLICO” – Original de A. RAPOSO & LENA
Talvez
não saibam mas Tempicos é um homem culto porém modesto.
Tem
uma cultura abrangente, forte vontade de sempre mais saber, domina línguas.
Mas,
não é esquisito. Gosta das boas coisas da vida.
É
solteiro e está sempre recetivo a uma boa proposta, de preferência que junte
duas virtudes: rica e bonitona e já agora, inteligente por acréscimo…
Descansando
de um violento dia de trabalho, esparramado, estava no sofá – saboreando um trago
– e a ver um programa da tv. Uma interessante reportagem em que artistas
gráficos reproduziam enquanto o locutor ia explicando, as épocas, e os autores.
A
certa altura ficou surpreendido por uma obra – uma gravura – de composição
complexa da renascença.
A
imagem tinha imensos adereços na sua composição: Uma figura de expressão
pensativa, uma criança sentada numa mó de pedra. Balança, sineta, uma paisagem
ao longe e muitas ferramentas. Ao canto um retângulo contendo diversos
quadrados numerados em que os somatórios eram sempre os mesmos algarismos, quer
na horizontal, vertical e oblíquo.
Tempicos
acabou por passar pelas “brasas” e ao acordar lembrou-se dos factos e foi à sua
velhinha biblioteca da Vampiro antiga – cuja coleção possui – e retirou o livro
com a excelente capa do saudoso Cândido Costa Pinto, que correspondia ao
somatório do quadro visto na tv, há pouco e que representava um animal na capa,
que por coincidência, corresponde a um velho pseudónimo de um nosso amigo
policiarista distinto.
Pergunta-se:
qual o nome da gravura e do autor. Qual o número do somatório que corresponde
ao livro da Vampiro. Qual o pseudónimo do nosso confrade.
E
pronto.
Neste
começo de competição, resta aos “detectives” analisarem bem o problema e
elaborarem a respectiva solução, que deverá ser enviada impreterivelmente até
ao próximo dia 28 de Fevereiro, usando um dos seguintes meios:
- Pelo Correio: Luís Pessoa, Estrada Militar,
n.º 23, 2125-109 MARINHAIS;
- Por entrega em mão ao orientador, onde quer que o encontrem.
Boas deduções!
SOLUÇÃO
DO PROBLEMA DO PASSADO DOMINGO
O INSPECTOR FIDALGO E O MORTO NO RIBATEJO
Numa primeira análise, é necessário ler muito bem o
texto, situar a cena, tendo em linha de conta os diversos factores,
nomeadamente:
– Espaço temporal e condições climatéricas: É de dia
ou de noite? Está a chover ou faz sol? Está enevoado, há nevoeiro? Há vento e
de onde sopra? A que horas se passa a acção? etc.;
– Personagens e sua colocação na cena: Quantos
intervenientes há? Onde estão e o que fazem? Que intervenção tem, cada um, na
acção?
– Local e suas características: Onde se passa a acção?
Em local de fácil acesso ou difícil? Há obstáculos a vencer em certas
condições, por exemplo em caso de chuva, de neve, etc.
– Factores externos: Há animais que possam dar alarme?
Há sistemas de segurança eléctricos ou electrónicos que apenas possam ser
iludidos por quem os conheça?
– Testemunhas visuais, auditivas ou outras: Quem
esteve no local que possa fornecer elementos? Quem estava suficientemente perto
para ouvir sons que se possam relacionar com o que está na cena?
– Oportunidades: Quem teve oportunidade de praticar o
acto, que encontros e desencontros teriam de haver para correr bem a acção a
cada um deles?
No nosso caso, temos um crime cometido em zona não
fechada, portanto sem dificuldades especiais de acesso.
Alarcão diz que estava nevoeiro cerrado; que o vento
era gelado e quase cortava a cara; que foi tratar dos cães muito rapidamente;
que não ouviu nem viu nada.
Os pais do jovem não deram por nada e encontraram o
moço, por volta das 8 horas.
O padeiro afirma ter visto o Alarcão a regressar lá do
fundo, ainda antes das 8 horas.
Os restantes moradores da casa de Alarcão não notaram
nada.
Os vizinhos do outro lado do pinhal referem a
algazarra dos cães depois das 7.30 horas, que só poderiam ouvir se o vento
estivesse de feição.
A filha do padeiro está totalmente posta de lado.
Há evidentes contradições entre depoimentos, a saber:
Alarcão refere nevoeiro cerrado e o vento gelado.
Vento e nevoeiro não combinam. Com vento, o nevoeiro não se forma ou, já
existindo, dissipa-se rapidamente.
O padeiro afirma ter visto Alarcão a regressar de casa
do caseiro para a sua. Com nevoeiro cerrado, isso não seria possível porque a
distância era grande.
Os vizinhos declararam que os cães fizeram a algazarra
própria de quando o seu dono regressava a casa, mas só era audível quando o
vento soprava… Portanto, afastada a hipótese de haver um conluio entre Alarcão
e os seus vizinhos, por ilógica e não razoável, para que estes ouvissem os cães
era necessário que houvesse vento, portanto sem nevoeiro (que mais ninguém
refere); logo, ao encontro do depoimento do padeiro, que também confere com o
regresso de Alarcão a casa e a algazarra dos cães, que o padeiro não refere por
estar longe (a estrada era distante) e por soprar vento que levaria o som para
o outro lado do pinhal, portanto, não na sua direcção. Os cães fizeram
algazarra por detectarem que o seu dono estava por ali.
Ficamos, pois,
com o culpado – o Alarcão. Em grande parte por mentir, mas também por ter a
oportunidade, o tempo disponível e por a sua versão não encaixar nos
depoimentos dos restantes intervenientes, cujas afirmações se complementam, sem
erros.