domingo, 19 de abril de 2009

CAMPEONATO

CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL
PROVA N.º 7

DE REGRESSO AO PASSADO…
Original de: Daniel Falcão

Era um fim de tarde quente de Outono. Tantas vezes tinha eu escolhido aquela mesma mesa, no meu café preferido, para usufruir de uma magnífica vista sobre o mar poveiro e sobre o seu imenso areal, que parecia estender-se infinitamente.
Quantas histórias vos poderia relatar dos períodos de férias que passei naquela que foi, durante muitos anos, a minha segunda cidade. Ali passava um doze avos da minha vida. Ali me despedia do Verão e abria os braços ao Outono.
Mas foi precisamente com a chegada de um amigo dos meus bons velhos tempos, com quem, por razões que teria oportunidade de averiguar, há muito tempo não falava, que a minha memória me levou até um acontecimento ocorrido há vários anos atrás, era eu ainda um jovem inexperiente nestas coisas de decifração de mistérios e enigmas.
Espraiava-me no areal, num dos últimos dias daquele ainda quente Verão, quando senti que uma mão me tocava muito levemente, quase receando retirar-me da minha breve sonolência. Abri os olhos e com a visão reduzida devido à luz do Sol, não me foi possível divisar imediatamente quem era aquela figura que interrompera o meu descanso. Mas foi coisa de breves segundos até reconhecer o Santos – agente da autoridade, sempre na peugada dos criminosos.
Levantei-me, cumprimentei-o e rapidamente percebi que algo de muito sério se passara. Não precisei de perguntar nada, porque as suas palavras foram suficientemente esclarecedoras: “Mais um homicídio!”
Naqueles momentos, sabia eu que o conhecia bem, as suas células cinzentas deviam correr céleres, a mil à hora, juntando pormenores, avaliando tempos, imaginando situações, estudando depoimentos, à procura de respostas.
Sentamo-nos no areal, olhando o mar azul, cuja calma contrastava com a celeridade dos pensamentos do meu amigo. Depois de alisar um pequeno espaço de areia, começou a desenhar uns rabiscos:



Foi então que me explicou que a vítima foi encontrada sentada à secretária, no seu escritório situado num primeiro andar ali para os lados da praça do peixe. A vítima fora brutalmente esfaqueada, mas ainda parecia ter dado luta. Tudo indicava que se levantara da secretária para abrir a porta do escritório e que no regresso recebera uma primeira facada nas costas. Surpreendido e ferido, ainda deve ter lutado com o seu agressor. Como resultado da luta, recebera mais três facadas: uma no braço esquerdo e duas no peito.
O agressor vendo-o caído no chão, inanimado, esvaindo-se em sangue, deve ter passado ao assalto. Gavetas abertas, papéis revolvidos atirados para o chão, pareciam mostrar que o roubo seria um dos motivos para aquela acção violenta. Quiçá por razões de segurança, na opinião do criminoso, o fio do telefone fora arrancado.
Pelos vistos, as quatro facadas não foram imediatamente fatais. A vítima ainda recuperou a consciência e, tal como se podia aferir do rasto de sangue, rastejou até à secretária, subindo para a cadeira e sentando-se. Num primeiro momento, deve ter tentado telefonar, como o demonstrava o sangue no telefone. Impossibilitado de o fazer rabiscara uns traços numa folha branca.
“Suspeitos?”, perguntei-lhe eu, enquanto ele apontava para os rabiscos que fizera na areia.
“Alguns!...”, respondeu-me. O corpo fora encontrado por dois homens, pelo menos uma hora depois da morte, segundo o médico legista. Subiram juntos ao primeiro andar e encontraram a porta encostada. Entraram e viram aquele cenário macabro. Aproximaram-se, observaram o corpo da vítima e, reparando que o telefone fora arrancado, um deles desceu para chamar a polícia, enquanto o outro ficou a tomar conta.
Não fora possível confirmar, nem refutar álibis, pois os potenciais suspeitos cirandaram por ali naquele período da tarde: ora conversando com amigos, ora tratando de determinados assuntos, pessoais ou profissionais, ora vagueando junto ao mar.
O principal suspeito é o Domingos “Turra” que fora visto a entrar no edifício do escritório, na proximidade da hora do crime. Costumava pedir dinheiro emprestado à vítima, que demorava a devolver. Foi encontrado numa tasca próxima, esbanjando dinheiro, pagando rodada atrás de rodada. Quando confrontado com a situação, começou por negar ter estado no escritório da vítima, mas depois dissera ter por lá passado, batido à porta e, como ninguém a abrira, voltara a descer. Questionado sobre o que lá fora fazer, afirmou que fora pagar uma dívida, pois ganhara umas massas no dia anterior. Entretanto, o agente reparou que a sua camisola, por sinal bastante surrada, apresentava uma mancha que parecia ser de sangue. Por isso mesmo, fora recolhida e enviada para o laboratório.
E eram todos os elementos que as autoridades possuíam até ao momento, ou seja, o que tiveram oportunidade de observar no local do crime e as declarações das três pessoas que, confirmadamente, estiveram junto ao corpo: Domingos “Turra” e os dois homens que o encontraram, Luís “Chichão”, o que ficou junto do corpo, e Gustavo “Piloto”, o que foi chamar as autoridades.
“E porque não!?...”, exclamou em tom interrogatório o meu amigo, levantando-se abruptamente, pisando os rabiscos que fizera, apagando-os e afastando-se: “Já voltamos a conversar…”
Um murro na mesa e uma voz, ainda bastante forte, trouxe-me de regresso à actualidade:
– Como sempre, na mesa habitual, na sombra do guarda-sol… – disse ele e continuou – …buscando os criminosos. Como foi que chegaste a essa conclusão!?...

E pronto.
Agora, resta reler o desafio as vezes necessárias e responder, impreterivelmente até ao dia 4 de Maio, para o que poderão usar um dos seguintes meios:
- Por Correio para PÚBLICO-Policiário, Rua Viriato, 13 1069-315 LISBOA;
- Por e-mail para policiario@publico.pt;
- Por entrega em mão na redacção do PÚBLICO de Lisboa;
- Por entrega em mão ao orientador da secção, onde quer que o encontrem.

Boas deduções!


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