O Policiário é uma actividade completa. Nele cabem todas as vertentes que fazem a nossa vida em sociedade. Desde ser um veículo pedagógico, desaproveitado é certo, que pode assumir-se como auxiliar importante para reduzir absentismo escolar e para pôr as crianças e jovens a pensar de forma racional e metódica, até simples entretenimento, inteligente e lógico, que é o que nos esforçamos por levar aos nosso leitores todas as semanas, passando pelo ser aspecto de convívio e tertúlia, tudo cabe na nossa modalidade de eleição.
O POLICIÁRIO ENTRE A PEDAGOGIA, O ENTRETENIMENTO E O CONVÍVIO
O POLICIÁRIO COMO VEÍCULO PEDAGÓGICO
De uma forma geral todos temos a noção de que o Policiário pode e deve ser um poderoso auxiliar pedagógico, não só como objecto de clarificação e abertura na apresentação dos temas de ensino, mas igualmente como potenciador de desenvolvimento de capacidades lógicas.
Temos de concordar que numa sala de aulas será muito mais motivador para os alunos que se explique uma matéria pouco apetecível de forma desafiante, talvez até enigmática, não se transmitindo todo o conhecimento de forma maçuda. Um exemplo de enigma, um espicaçar de faculdades pode ser uma chave eficiente.
Por outro lado, um espírito exercitado para o raciocínio lógico e científico será sempre uma mais valia extraordinária para o confronto com as dificuldades de todos os dias e para o exercício de tomada de decisões, quando for necessário.
Estas características, que só o Policiário tem, tornam-no numa actividade completa na formação de jovens estudantes, já que estimula e exige um perfeito domínio da leitura, da interpretação de texto, de exercício lógico, de sistematização de ideias e sua catalogação em conformidade com a necessidade e importância, redacção e transmissão de ideias para serem lidas e entendidas por terceiros, finalmente uma cultura geral vasta ou, pelo menos, um conhecimento correcto dos locais e métodos de consulta.
Cabe aqui referir uma experiência que fizemos numa escola do concelho de Sintra, há mais de duas décadas.
Tratava-se de uma escola problemática, com grandes dificuldades em termos disciplinares e outros, onde foi possível desenvolver uma actividade extra-curricular para ocupação dos alunos durante uma tarde. Para o efeito foram criados alguns grupos, cada qual com o seu tema e os alunos foram incentivados a fazerem as suas escolhas.
Entre os temas estava o Policial e foram 16 os alunos que optaram por ele, a que foram acrescentados mais 8 que haviam indicado em segunda opção.
No princípio, havia no ar uma desconfiança, aquela tarde não representava mais do que uma tarde “perdida” para aqueles jovens, mas à medida que fomos avançando nos aspectos mais práticos da investigação criminal, em que o trabalho de campo se impôs, com os alunos a fazerem, eles mesmos, o levantamento de impressões digitais, moldes de pegadas, recolha de indícios em local de crime (obviamente simulado), etc. e depois fazerem a comparação da realidade vivida por eles com aquilo que alguns romances policiais retratavam, logo originou que as tardes das quartas-feiras se tornassem nos momentos de maior afluência dos jovens, não se registando faltas e, mais importante ainda, muitos outros alunos, colocados em outras actividades, começassem a aparecer pelo nosso “campus” de trabalho!
Foi uma experiência gratificante, que produziu excelentes resultados, validados pela própria escola, mas que terminou no final desse ano. Mudança – mais uma – de objectivos pedagógicos e de currículo escolar, fizeram com que se perdesse aquela mais-valia que foi conquistada e não permitiu que a continuação pudesse confirmar ou não a validade do trabalho, se os resultados foram mesmo reais ou apenas circunstanciais.
Temos consciência de que o policiário entrar no meio escolar como instrumento pedagógico, é difícil e altamente improvável, pelo menos em termos oficiais.
Nunca será natural que seja obtida uma autorização para um programa pedagógico de ensino, a ser aplicado pelo Ministério a nível escolar, digamos, no secundário - que antes é ainda mais fortemente improvável - até pela carga negativa que o Policiário transporta, embora indevidamente, como transmissor de violência ou propiciador de discussões sobre crimes, armas e instrumentos mais ou menos bélicos, numa sociedade extremamente violenta – mesmo em termos mentais - mas que quer aparecer como muito pacifista, muito politicamente correcta.
Isto, apesar de hoje ser universalmente aceite que as crianças e jovens devem aprender a lidar e conviver com os factos da vida e, por conseguinte, com a violência, adquirindo os instrumentos mentais necessários para a sua compreensão.
O POLICIÁRIO COMO ENTRETENIMENTO
É sem dúvida neste aspecto que o Policiário mais hipóteses tem e terá de alicerçar o seu desenvolvimento e captar novos aderentes.
Sem necessidade de grandes estudos e trabalhos e sem a obrigatoriedade de demonstração da sua bondade, antes apelando ao espírito de decifração que cada um de nós tem e ao prazer imenso que temos em conseguir desfazer as meadas que outros nos colocam como desafio, o entretenimento terá de ser por nós devidamente valorizado e constituir uma aposta muito efectiva.
Como entretenimento e sem a “ditadura” da pedagogia, embora nunca a possa ou deva abandonar, pode o Policiário ter uma intervenção em todos os escalões etários, desde tenra idade, assim haja a capacidade de produzir desafios adequados a cada idade e a cada grupo destinatário.
Desde logo se infere que damos completa prioridade à problemística sobre as outras vertentes – literatura policial, estudos e análises policiais, mesmo as notícias -, não por ser mais importante, mas simplesmente porque traduz a alma do enigma em que sabemos quem o produz e sabemos a quem é destinado. Tem muito de experimentação e poucas pessoas resistem a isso.
O POLICIÁRIO COMO LOCAL DE CONVÍVIO
Este é o tal ponto em que radica muita da confusão que hoje se faz em torno do êxito ou fracasso do Policiário em termos de captação ou de permanência.
Na verdade é nesta vertente que se verificam maiores carências em termos de mobilização, com as tertúlias em crise e os convívios pouco melhores.
Se os concorrentes aos torneios e aos desafios são muitos e bastante fiéis, pelo menos na secção que maior visibilidade apresenta, o mesmo já não se verifica quando a meta é trazer essas pessoas para o contacto personalizado, quer em tertúlia, quer em convívio.
Podemos dizer que é aqui que muito se joga, se bem que não seja completamente fundamental para a sobrevivência do Policiário enquanto desporto intelectual, nem enquanto entretenimento, mas apenas como instrumento de mobilização de amizades presenciais, algumas para uma vida inteira, como temos exemplos concretos.
Não parece que existam soluções para um problema que afecta de modo generalizado, toda a sociedade, mas já entendemos que é possível tomar medidas importantes no sentido de aproveitar aquilo que a Internet hoje nos pode proporcionar, nomeadamente tertúlias em que não seja indispensável a presença física ou uma aproximação geográfica.
A discussão dos assuntos on-line é hoje uma realidade que tem de ser tomada em conta e por nós plenamente apoiada e que já existe.
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