domingo, 7 de dezembro de 2014

POLICIÁRIO 1218

[Transcrição da secção n.º 1218 publicada 
hoje no jornal PÚBLICO]

FIM DE ÉPOCA COM M. CONSTANTINO

Chegámos ao final das nossas competições do ano de 2014, pelo menos no que diz respeito ao trabalho dos nossos “detectives”, para quem terminou no passado dia 5 o prazo para envio das propostas de solução aos desafios da prova n.º 10, de autoria do nosso “Mestre” da produção policiária, confrade M. Constantino.
Cabe aqui uma nota muito especial para o trabalho excelente que M. Constantino vem desenvolvendo ao longo de muitas décadas, em prol do Policiário, principalmente, se nos é permitido o destaque, como seu estudioso, sendo autor de muitos ensaios sobre a Literatura Policial e a nossa actividade e um divulgador importante de uma das nossas facetas menos utilizadas, mais concretamente a técnica de investigação, que usa amiúde nos seus problemas.
Possuidor de vastos conhecimentos na área da técnica de investigação criminal e Polícia Científica, M. Constantino vai passando alguns conhecimentos, sobre armas, sobre venenos, etc., tornando os problemas bem mais verosímeis e próximos da realidade criminal que pretende transmitir.
O que dizer de M. Constantino, que possa ainda não ter sido dito? Na verdade, trata-se “só” do melhor produtor nacional de problemas policiários, com uma carreira longa e recheada de êxitos, com enigmas que são hoje verdadeiros hinos à arte de bem desenvolver uma investigação, com muita dedução e muito apelo à capacidade de interpretação e análise.
De uma das suas muitas obras, precisamente o “Manual da Enigmística Policiária”, numa edição da Associação Policiária Portuguesa, de 1995, deixamos um dos seus textos mais significativos, sobre aquilo que ele entende ser a relação entre o homem e o apelo pela resolução do enigma:
«O homem encontra no enigmático algo que lhe excita o espírito e lhe motiva a curiosidade.
Posto perante um mistério, todas as faculdades se lhe alertam e, atentas, se debruçam em torno do problema.
Sente prazer íntimo em seguir passo a passo todas as pistas até alcançar o objectivo.
Satisfaz-se ao conseguir rodear as dificuldades, tanto como vencer obstáculos que se apresentam intransponíveis.
E quanto mais a precisão dos factos não se permite que se vislumbre sombra de uma estrada, maior é o apego e o desenvolvimento do cérebro, maior é a satisfação da vitória.
Segundo Bergson, um problema que inspira atenção é uma representação duplicada de uma emoção, sendo ao mesmo tempo a curiosidade, o desejo e a alegria antecipada de o resolver. É o desafio posto que impele a inteligência diante das interrogações, vivifica, ou antes vitaliza os elementos intelectuais com os quais fará corpo até à solução.
A própria vida cifra-se em constante mistério, um enigma constante que a humanidade procura solucionar o melhor e mais rapidamente possível. O obscuro nunca nos desampara, desafia-nos.
De prazer espiritual que se sente em desvendar incógnitas, desvanecimento de sobressair, simples divertimento, tudo conduz a que os homens do povo na sua singeleza através de simples adivinhas que andam de boca em boca, os letrados com bem urdidos trabalhos, os sábios na esfera da humanidade, acorram ao seu cultivo e decifração.»
Para o confrade M. Constantino, fica o nosso agradecimento pela atenção que dedica a este nosso espaço e pelos bons momentos que proporciona com os seus desafios.


                                               

O POLICIÁRIO EM ÉVORA 2012
(Conclusão)

Em Março de 2012, no dia 29, o Inspector Fidalgo deslocou-se à Universidade de Évora para proferir uma breve palestra, a convite do Departamento de Química, a propósito das comemorações do encerramento do Ano da Química - 2011.
Da sua intervenção, principalmente dirigida a uma audiência constituída por estudantes universitários, mas também do secundário, uma vez que foram distribuídos os prémios do concurso “Desvenda o crime…”, dirigido aos estudantes do secundário, destaque para algumas considerações, que vamos aqui relembrar, aproveitando esta pausa, que antecede a publicação dos resultados finais das competições de 2014.

“Permitam-me, apenas, que vos dê dois exemplos daquilo que é o Policiário.

Vejam esta cena: Um indivíduo muito rico (nós gostamos muito de vítimas ricas porque ficamos logo com um motivo para o crime) não tem filhos, sofre de uma doença terrível e resolve chamar os sobrinhos que são seus herdeiros e diz-lhes: A minha fortuna vai toda para aquele que acabar com o meu sofrimento. Este papel diz isso mesmo e fica aqui guardado para que a minha fortuna seja entregue a quem acabar com o meu sofrimento…
Claro que no dia a seguir o ricaço já era e foi caricato ver os sobrinhos um a um irem à polícia dizer que mataram o tio e explicar como o fizeram. No texto davam-se os elementos que permitiam concluir que um deles era o responsável e no fim perguntava-se: Quem herdou a fortuna?
Nessa pergunta estava toda a diferença. Não se perguntava quem matou o tio, mas quem herdou. E pela lei portuguesa, quem atenta contra a vida de alguém, não pode herdar desse alguém! O que matou e que parecia que ia ficar rico, foi o único que não herdou!

Outro problema tratava de um crime cometido numa aldeia onde não havia luz nocturna e às tantas, um personagem vem dizer que assistiu ao crime, quando passou no local, aproveitando o momento em que o criminoso se voltou e o luar permitiu ver-lhe as feições e reconhecê-lo.
Todo o texto era perfeito, sem erros nem pistas de nenhuma espécie. Era claro como a água. No título é que estava a solução do problema: Na Noite do Eclipse!
Eclipse à noite, apenas da Lua e para que ocorra, esta tem que estar em fase de Lua Nova. Não há luar!

Estes dois casos são o retrato daquilo que o Policiário nos pode surpreender a cada passo e que espero vos possa aguçar a curiosidade para virem “espreitar” o que fazemos e o que nos atrai tanto.

Muito obrigado pela vossa atenção. Foi um prazer estar convosco.

Boa Química e boas deduções!”



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