(SECÇÃO HOJE PUBLICADA NO PÚBLICO)
QUEM SUBSTITUIU O COLAR DE ESMERALDAS?
Completa-se hoje a prova n.º 1 do Campeonato Nacional e da Taça de Portugal de 2010, com a publicação da segunda parte, o problema de características tradicionais, assinado por Medvet.
CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL
PROVA N.º 1 – PARTE II
O COLAR DE ESMERALDAS, de MEDVET
A Baronesa de Faial usou o seu famoso colar de esmeraldas no baile da Gala que abriu a temporada de festas da estação. Quando voltou para casa nessa noite, ou melhor de manhã cedo tirou o colar antes de se retirar para o seu quarto e deu-o a seu marido. O Barão estava acompanhado do seu secretário particular, o qual viu a Baronesa entregar o colar e dirigiram-se os dois para o estúdio, onde colocaram a jóia numa gaveta interior do cofre; essa gaveta foi fechada com uma chave especial que nunca saía da posse do barão. O cofre foi, então, fechado por Bastos, o secretário e a combinação refeita.
No dia seguinte o assunto das conversas acabou por girar em torno de jóias famosas e um dos convidados, um tal Senhor Gomes, que apenas chegara nessa manhã antes do almoço e era considerado um perito em jóias de considerável reputação, pediu para ver o famoso colar. O Barão e Bastos, de acordo com o procedimento habitual, foram juntos retirar o colar do cofre, com o secretário a fazer girar a combinação e o dono da jóia abrindo a gaveta interior com a chavezinha que usava dia e noite num fino mas robusto cordão pendente do pescoço.
Quando voltaram para a sala, o Barão disse rindo que apenas em ocasiões muito especiais a jóia ficava na casa. Era retirada do banco onde era guardada quando era preciso e devolvida ao banco no dia seguinte. Uma vez que o Baile de Gala terminara muito tarde e toda a gente na casa se levantara tarde nesse dia, o colar ainda estava no cofre, mas Bastos levá-lo-ia no primeiro comboio da manhã para a cidade.
O Sr. Gomes não fez comentários, tirou o colar das mãos do barão; levantando ligeiramente as sobrancelhas, mas sem dizer nada. Levou o colar para perto da janela, onde a luz era melhor, e examinou-o de perto e com cuidado. O Barão, interessado pelo escrutínio cuidadoso, dirigiu-se para o seu convidado e perguntou a sua opinião a respeito da famosa jóia.
“Antes, ainda tenho que o ver”— foi a resposta seca e o Barão fitou-o espantado.
“Ora, homem, você tem-no nas mãos”— replicou, um pouco indignado.
Gomes fitou-o nos olhos.”Meu caro Carlos, isto não é mais que uma imitação razoável. Para começar, as gemas são de pasta”.
“Tem a certeza?”
“Apostaria a minha reputação profissional. Se não me acredita, chame o Bastos. Creio que ele tem um razoável conhecimento de gemas.”
O secretário foi chamado e mostraram-lhe o colar.
“Diga-me o que pensa disto”, disse Gomes, de modo casual.
O secretário agarrou no colar com uma expressão perplexa, que não tardou a mudar para assombro à medida que examinava a jóia.
“Ora…isto não é o colar — gaguejou. Não passa de uma imitação razoável, é tudo o que posso dizer.”
“É de admirar que não tenham notado isso antes!”— replicou o Barão.
“”Senhor, esquece que há muito tempo que não lhe mexo”
“É verdade, desculpe”. Bastos trouxera o pacote selado com o selo do banco e fora o próprio Barão quem quebrara o selo e abrira o pacote. Fizera isto na presença do secretário, como sempre — a presença de Bastos era habitual sempre que a jóia era posta ou tirada do cofre.
Era um caso nítido de substituição, mas uma vez que não havia sinais de vigarice, o Barão estava relutante em informar a Polícia. No entanto, um antigo policia era das suas relações, um tal Inspector Fagundes, que morava perto. Assim, o Barão, ansioso para esclarecer este assunto, sem grande barulho decidiu chamá-lo e explicou-lhe o problema.
Fagundes tomou nota dos factos: o colar estava no banco desde a última vez que fora usado, cerca de três meses antes. O pacote com os selos do banco fora trazido por Bastos na véspera, o dia do baile de Gala. O Barão em pessoa abriu-o na presença do secretário e ambos admiraram a jóia na sua caixa. Nenhum lhe tocara e como de costume foram os dois pôr a caixa com a jóia no cofre, onde ficou fechada até a dona a pedir nessa noite. De novo foram os dois buscar o colar, com a diferença que desta vez a caixa ficou no cofre, tendo o Barão trazido a jóia na mão. Ninguém notou nada de especial, nem a Baronesa nem pessoa alguma no baile— mas estas talvez vissem o colar pela primeira vez.
Aparentemente, parecia que a substituição se dera entre o momento em que o colar fora fechado no cofre nessa madrugada e a ocasião em que fora mostrado a Gomes. Mas o cofre não tinha sinais de arrombamento; o secretário conhecia a combinação, mas não tinha acesso à chave da gaveta. O Barão tomara todas as precauções possíveis para que a chave não lhe fosse arrancada do pescoço, mesmo a dormir, já que tinha o sono leve. Além disso, a chave tinha sido comprada havia três anos, isto é, mais de dezoito meses antes de Bastos entrar ao serviço.
Bastos não deixara a casa, de modo que, se por acaso fora o autor da substituição, o colar estaria ainda por ali. Uma busca de todo o edifício nada revelou. O próprio secretário alvitrou que se buscasse a jóia nos seus aposentos e a sua bagagem e nele próprio. Nada apareceu, mas Fagundes já estava convencido de que nada se encontraria. O Barão poderia ter sido o culpado, talvez para vender a jóia sem dizer nada a ninguém; a Baronesa não teria motivo (nem oportunidade). Quanto a Gomes, só chegara a casa depois de a jóia estar fechada no cofre. Havia mais dois convidados, um jovem chamado Santos que a Fagundes pareceu ter a energia de um lagarto ao sol; tendo dito vagamente que era primo da Baronesa. A outra convidada Elvira Raiva, era uma jovem atractiva e vivaz.
Fagundes ainda pensou que a troca se efectuara no baile, mas a Baronesa disse que não deixara ninguém tocar no colar, nem a jóia saíra da sua vista durante todo o tempo, até a dar a seu marido para a pôr no cofre.
Ajudem o Inspector Fagundes a navegar neste mar de dúvidas. Quem foi a pessoa responsável pela troca? E como e quando esta foi feita?
E pronto.
Neste tipo de problemas, para poderem atingir o máximo da pontuação, é necessário que seja explicado todo o processo de resolução do caso, apontando as provas e justificando-as. Na prática, o que pretendemos é um relatório que resolva o enigma policiário que é proposto.
Depois das leituras que acharem necessárias, resta avançar para a proposta de resolução deste caso, enviando-a, impreterivelmente, até ao próximo dia 31 do corrente mês de Janeiro, podendo usar um dos seguinte meios:
- Pelos Correios, para PÚBLICO-Policiário, Rua Viriato, 13, 1069-315 LISBOA;
- Por e-mail, para policiario@publico.pt;
- Por entrega em mão na redacção do PÚBLICO de Lisboa;
- Por entrega em mão ao orientador, onde quer que o encontrem.
Boas deduções!
COLUNA DO “C”
FALTAM 35 SEMANAS PARA A EDIÇÃO N.º 1000
No ano de 2000, o Policiário deu mais um salto em frente, lançando, pela primeira vez, um Concurso de Contos que teve uma enorme receptividade.
Coube ao confrade Lima Rodrigues, na altura provedor da nossa secção, a tarefa de analisar e classificar os contos, em conjunto com o orientador da secção. No final, foi o confrade Félix da Picota quem conquistou o primeiro lugar, com o conto “Quadrilha”, logo seguido, nos restantes lugares do pódio, de Natércia Leite, com “Rosa Centifolia Foliácea” e Hélia, com “A Minha Vizinha Maria Augusta”.
Premiados, igualmente, Severina, H. Sapiens e A. Raposo.
Foi precisamente o confrade vencedor, Félix da Picota, o alvo de uma homenagem que foi prestada no decorrer do Convívio de Coimbra, tendo apresentado uma comunicação sobre os caminhos do policiário, que despertou o interesse de todos os presentes.
2 comentários:
Parece um bom começo. Não parece difícil. É mesmo um bom começo na minha opinião
Deco
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