Iniciamos hoje mais uma época de competição!
Durante mais um ano inteiro, os nossos “detectives” vão poder pôr as “células cinzentas” em movimento e, sempre com camaradagem e amizade, que são imagens de marca do nosso passatempo, tentar impôr a sua supremacia, em direcção aos primeiros lugares das classificações.
Caros confrades, a competição de 2012 está aberta!
CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL – 2012
PROVA N.º 1 – PARTE I
“A MADAME HIGY E A VACA MALHADA”, de PROFESSOR CEBOLAS
Professor!!! ouvi eu gritar. O meu primeiro pensamento foi que lá vem mau tempo. Um homem já não pode estar sossegado a apreciar a paisagem e a ver os aviões passarem. Aquela minha vizinha do terceiro… tem um figurino que faria inveja às curvas da Munheca. O que eu não faria para me perder naquelas ribanceiras. E vem esta Madame Higy atazanar-me o juizo. Pergunta-me o que estou a fazer enquanto me levanta dois sacos de compras em frente do nariz. Percebi a subtileza mas acho que o exercício físico a ela lhe faz muito bem. Bom dia Madame, o que a traz por aqui? Julgava que tinha ido passar uns dias com a sua tia, a desgadelhada. Mudei de planos, as senhoras do bairro vão fazer uma festa e eu não posso faltar, diz ela. E agora deixe-se de fazer de desentendido e ajude-me a carregar os sacos, que havia uma promoção e fiz umas compritas. Olhei para ela e não tive outro remédio. Mas ao pegar nos sacos fiquei com a impressão que ela tinha trazido metade da loja. Pior que uma mulher com dinheiro no bolso, só uma mulher com dinheiro no bolso na altura das promoções. Detalhes à parte, quando deixei os sacos à porta da casa dela, convidou-me para um café. Parecia-me pensativa. Ela começa a preparar o café e começa a falar. Sabe, Professor Cebolas, ontem lembrei-me duma história que julgava já ter esquecido, mas comecei a pensar naquilo e fiquei com a sensação que havia algo mal contado. Diga lá Madame Higy, que história é essa. É que como o Professor anda sempre com essas coisas de mortos e feridos e afins e consegue descobrir quem fez o quê e quando, talvez me possa ajudar a compreender o que é que se passou naquele dia fatídico. Bem, então a história começa no dia em que a minha mãe tinha ido ao cabeleireiro. Vou à cozinha beber um copo de água e a assim que a minha avó me vê, diz que vai regar os tomates. Achei estranho porque chuviscava, mas comecei a fazer o almoço. Aparece o meu pai que nesse dia tinha vindo mais cedo para casa, só Deus sabe porquê. Deixei-o sozinho a pôr a mesa e fui chamar a minha avó. Quando chegamos o meu pai estava empoleirado num banco a procurar alguma coisa em cima do armário. Perguntei-lhe o que ele queria e depois de uns momentos de silêncio a olhar para mim, disse que queria uma saladeira. Naquele dia deu-lhe para ali, porque ele saladas só à lei da bala. Expliquei-lhe que ali só o passe-vite e a tia tinha partido a última saldeira. Deu um pulo da cadeira e lá comemos a salada num tacho. Terminamos e vai ele roncar para a sala. Nisto aparece a minha mãe com o novo penteado. Começa a arrumar a cozinha e eu fiquei por ali. De repente, o cão da vizinha que parecia uma vaca malhada… Madame, não seria um dálmata? Dálmata ou não, parecia uma vaca malhada. Então o cão atrás do gato da minha tia entrou pela portinha do gato na porta da cozinha. O gato era anafado e já lhe custava passar, imagine a vaca. Pois, os dálmatas são grandes, disse-lhe eu. Não, não, o Rifas conseguiu passar, quem se atrapalhou foi a Micas, a vaca do inglês do outro lado da rua, que tentou meter lá a cabeça. O inglês tentou enfiar a cabeça na porta? Professor, sinceramente, a vaca. Era o Rifas a ladrar dentro de casa e o inglês do lado de fora a chamar a vaca, explicou ela. Continuando. Eu acho que a Micas se queria armar em conselheira psicológica da vaca malhada e do gato anafado, digo eu. Não brinque, que a minha mãe apanhou um susto valente com o Rifas a ladrar e a Micas a tentar entrar pela cozinha adentro, enquanto o Pati subia pelos cortinados. Madame, e quem raio é o Pati? Sinceramente, não está a ouvir o lhe digo? É o gato da minha tia. O problema foi que quem tinha posto os cortinados tinha sido o Alex... E este é quem, Madame? Um primo afastado que gosta de trabalhos manuais. Seja como for, o Pati ao fugir do Rifas lançou-se pelo cortinado acima. Aquilo não aguentou com o peso do bicho e lá foi parar o Pati dentro do lava-loiça onde a minha mãe ainda tinha a água de lavar os pratos. Ele salta que nem um desvairado para cima do armário. Quando ele salta atira lá de cima uma série de canecos. Então Professor, imagine um gato esganiçado, o Rifas a ladrar, a Micas a tentar levar a porta pela frente, o inglês a gritar “uate da éle” lá fora e a minha mãe aos berros. Imagino, disse-lhe eu, um filme de terror, mas continue, quero saber o desfecho. Bem, Professor, perante aquela confusão e uma mãe furiosa, eu fugi da cozinha e fui ter com a minha avó. Mais ou menos uns dez minutos depois, ainda eu estava na sala com a minha avó, e o meu pai a ler o jornal quando chega a minha tia que tinha ido às compras. De repente... vem a minha mãe e grita que temos reunião familiar urgente. Atira com uma caixa para cima da mesa da sala e pergunta quem é que lhe comeu os bombons. Minuto de silêncio. Ninguém se atreve a dizer nada. Todos sabiam que ela tinha bombons mas ela não se descosia a ninguém. Ontem a caixa estava cheia e hoje… grita ela. Aponta para a minha avó. Eu!? Mas não tinha mais nada que fazer? Fazia bom tempo e andei a manhã toda a tratar da horta! Nem sequer tive na cozinha. Nisto ela aponta para a minha tia. Foste tu! Tu não consegues resistir! A minha tia põe um ar ofendido e pergunta à minha mãe se ela acha que com o joelho como ela o tem se andaria a trepar em bancos para tirar uma caixa de cima do armário da cozinha. Então foste tu, marido. Aproveitaste que tinha ido ao cabeleireiro… Querida, esse corte fica-te lindíssimo. A minha mãe olha de lado para ele e diz para não mudar de assunto. Já não é a primeira vez que me fazes desaparecer os bombons. Sim, estive em casa… Sabes, essa cor de cabelo dá-te um ar jovial. Nisto começa-se a ouvir um barulho que vinha de trás do sofá onde o meu pai tinha estado a roncar. O gato gordo que já se tinha recomposto do susto brincava com uma prata e a minha mãe corre para ele e grita que foi ele, aquilo era uma prata dos bombons. Num braço tem ela o gato e na outra mão abana a prata. Todos acharam que era o momento perfeito para fazer uma retirada estratégica. Ficou a minha mãe a falar para o gato. Mas até hoje me pergunto quem é que realmente meteu a unha nos bombons da minha mãe. Madame Higy, vou usar os meus dotes de investigador mas vai ter de pagar os meus serviços. Está bem, Professor, o bolo é de chocolate ou de nozes?
E pronto!
Depois de ler muito bem o desafio e pensar um pouco, resta responder, impreterivelmente até ao dia 29 de Fevereiro, podendo usar uma das seguintes formas:
- Pelos Correios para PÚBLICO-Policiário, Rua Viriato, 13, 1069-315 LISBOA;
- Por e-mail para policiario@publico.pt;
- Por entrega em mão na redacção do PÚBLICO de Lisboa;
- Por entrega em mão ao orientador da secção, onde quer que o encontrem.
Boas deduções.
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