Prosseguimos a nossa competição desta época com a publicação de um desafio de autoria do Campeão Nacional de Produção 2011, o confrade Paulo, de Viseu.
CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL
PROVA N.º 3 – PARTE I
“A MORTE DO GENERAL” – de PAULO
Em 1940 o general Ivo Pais vivia com os sobrinhos órfãos, estudantes em Coimbra, ajudado por Eva, a empregada que os criara, e Luís, o motorista que o militar reformado recentemente contratara.
Os jovens colocavam-se de forma diversa face à guerra, em desavença que já levara a conflito físico. Viviam juntos mas mal se falavam. Caio era um defensor do apoio do país aos nazis. Cid achava que se deveria apoiar o lado inglês, contando com o avô, que por via dessa posição sofria perseguição política, tendo já sido ameaçado de morte.
A casa do general ficava numa quinta, cercada por um muro baixo de pedra. Do lado esquerdo o terreno para a horta. Do lado direito a garagem e a arrecadação. Nas traseiras o terreno para relva e árvores, que no domingo trágico esperava a plantação de grama, após ter sido arado no sábado, o que permitiu aferir os rastos deixados por quem cometera o crime. Caio estava na arrecadação com o seu passatempo de radioamador. Disse que ouvira o tiro cerca das onze e meia. Vira um desconhecido correr de arma na mão nas traseiras da casa. Correra atrás do homem, que saltou o muro. Quando lá chegou ele tinha sumido no pinhal que se abria a perder de vista.
Voltara para a casa, notara a janela do escritório aberta e vira o tio com a cabeça em sangue. Saltara o peitoril e alertara o irmão. Não mexera em nada, pois pelo aspeto da cara do tio percebera que morrera. Não deixara ninguém entrar no escritório até chegarem às autoridades, a quem ele ligara do telefone da casa.
Cid, que ouvia mal, saíra a passear, como era hábito, cerca das dez horas. Voltara por volta das onze e um quarto. Estava no quarto a ouvir rádio. Disse que provavelmente ouvira o tiro mas não recordava o ruído, misturado com o programa que ouvia sempre. Soube o que se passara pelo irmão. Não se aproximara do escritório nem da janela, por ordem do irmão, até as autoridades chegarem.
Eva saíra antes das dez. Tinha ido à missa. Na hora em que fora disparado o tiro regressava a casa. Solteira, tinha um filho, que diziam ser do general, com quem vivia perto da quinta do patrão. O filho, conhecido por posições antifascistas, discutira no sábado com o general que o ameaçara com a prisão.
Luís estava de folga. Acabara o serviço no sábado à noite quando fora buscar os irmãos ao comboio. Era mais do que um motorista. Fora contratado pelo general não só para o conduzir mas para guarda-costas. Por vezes andava com a arma do general. Vivia só e não tinha álibi.
O general estava no escritório, onde não suportava ser importunado, no chão coberto de fofos tapetes, a cerca de dois metros da janela, na direção da porta, única do compartimento, que dava acesso ao resto da casa. À direita havia uma secretária com um cadeirão, perto da janela, e na parede atrás, um quadro com uma cena rural. Ainda do lado direito um sofá, ao lado do corpo, mais junto da porta que ficava em frente à janela. À esquerda uma mesa baixa e estantes cobrindo a parede. No chão, pegadas de Caio marcadas com terra.
Uma poça de sangue isolada afagava a face do general. O projétil entrara na base da nuca, dando morte imediata, deixando uma ferida de forma estrelada, alguns cabelos queimados e saíra entre os olhos, subindo suavemente. A cápsula do projétil estava no quintal, junto à janela. A bala mortal estava à frente da secretária. Pertencia à arma encontrada do lado de fora do muro, oculta num buraco da parede, mal tapado com uma pedra. A arma era do general e tinha quatro projéteis no carregador e um na câmara. Tinha as impressões digitais de Luís que afirmara não se lembrar quantas balas tinha o carregador, sabendo no entanto que não estava cheio por questões de segurança.
As pegadas não mostravam indícios de salto da casa para o quintal, sendo visíveis as marcas de Caio ao entrar pela janela. Havia uma série de Caio desde a zona lateral, rente à casa, até à janela, com a marca do tacão a evidenciar-se. Junto à janela viravam para o muro das traseiras e voltavam à janela mantendo as mesmas caraterísticas. Outra série de pegadas com todo o pé homogeneamente visível, vinha do muro à janela e regressava. As botas que fizeram essas marcas foram encontradas no pinhal, juntamente com umas luvas, a cerca de 300 metros do muro. Mais tarde, quem matou, confessou que as usara.
O testamento fazia herdeiros os sobrinhos e Eva, mas antes da morte já todos sabiam o que os esperava.
Perante estes factos, pede-se que façam um relatório que permita identificar quem cometeu o crime.
E pronto.
Resta aos nossos confrades e “detectives” procurarem a resolução deste caso, tendo sempre em atenção que o seu autor é “só” o campeão nacional de produção em título, uma razão adicional para maiores cautelas.
Depois, resta enviar as propostas de solução, impreterivelmente até ao dia 30 de Abril, podendo usar um dos seguintes meios:
- Pelos Correios para PÚBLICO-Policiário, Rua Viriato, 13, 1069-315 LISBOA;
- Por e-mail para policiario@publico.pt;
- Por entrega em mão na redacção do PÚBLICO de Lisboa;
- Por entrega em mão ao orientador da secção, onde quer que o encontrem.
Boas deduções.
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