De autoria de um dos
confrades mais activos, quer como decifrador, quer como produtor, publicamos a
primeira parte da prova n.º 5.
CAMPEONATO NACIONAL E
TAÇA DE PORTUGAL
PROVA N.º 5 – PARTE I
“TEMPICOS E OS PASTELINHOS
DE NATA”, de A. RAPOSO & LENA
A nossa história tem
lugar em Lisboa, na Pensão Kumbala, cujo letreiro sobre a porta dizia que
recebia comensais e tinha águas correntes. Ficava num prédio antigo de dois
pisos em plena Av. Almirante Reis. Era dirigida pela viúva Fatinha – uma mulata
ainda bem conservada, que tinha como ajudante a jovem Arlete que viera de
Africa com Fatinha há uns anos. No 1º piso era a sala de jantar, cozinha e 2
quartos, da patroa e da criada. No 2º e último piso havia um corredor que
servia 5 quartos. Nestes dormiam os hóspedes: Tempicos, o Coronel Sousa, os
irmãos Martins, João e Manuel, em quatros seguidos, e a menina Isaltina.
A pensão era manhosa
mas os tempos não estavam para fantasias. Tempicos perdera o subsídio de férias
e de Natal e andava resmungão. Ali tinha cama, mesa e roupa lavada e
frequentemente um chamego.
O Coronel, surdo que
nem uma porta, levava o dia metido no quarto a fazer jogos de guerra com os
seus soldadinhos de chumbo. Isaltina era aluna do 4º ano de direito assim como
João Martins, na mesma faculdade. Tempicos curtia a reforma da Judite, e apesar
da idade ainda tinha a mania que era jovem e engatatão. O certo é que aos
domingos à noite quando a Fatinha lhe punha na frente um pratinho com um
pastelinho de nata era a “senha” para uma excursão ao quarto dela. Naquela
noite assim sucedeu.
Cerca da meia-noite
após ter tomado um misterioso comprimido, desceu a escada, em meias e pé ante
pé foi até ao quarto da Fatinha que o aguardava, lavada e perfumada, de “espera-maridos”
escarlate. Sabemos que a folia durou até às três da manhã. Mas o que se passou,
em detalhe, não é da nossa conta.
Regressado ao seu
quarto terminou a leitura do livro policial emprestado pelo João Martins.
No outro dia de manhã,
Tempicos foi devolver o livro ao dono, bateu à porta e não teve resposta.
Desconfiado, desceu e
perguntou a Fatinha se ele teria saído. A resposta foi que saíram todos menos
um dos irmãos. Vira a Isaltina sair com o Manuel porque este levava as chaves
do carro na mão.
O Coronel foi dar a sua volta habitual, a pé.
Desconfiados da situação, Fatinha foi com Tempicos e abriram a porta do quarto
com a chave da patroa. No chão, jazia o jovem Martins, deitado, de olhos
abertos fixados no infinito, no peito um buraco de bala.
Tempicos verificou na
carteira onde nada parecia faltar. Algumas notas, o B.I. e até o cartão da
Faculdade. Porém no bolso das calças e bem lá no fundo um pedaço de bilhete que
tinha duas palavras inglesas: “no-name”.
Dos depoimentos obtidos
por Tempicos resumindo obteve os seguintes apontamentos:
O Coronel não dera por
nada, não ouvira nada nem admirava pois era surdo e à noite tirava o aparelho.
A menina Isaltina fora passear até Belém, pois não tinham aulas.
Começaram nuns
pastelinhos seguiram até ao Mosteiro dos Jerónimos visitaram a igreja e o museu
junto, depois foram até à beira rio onde compraram uns gelados. Desconfia a
menina Isaltina que teria sido o gelado o causador da rouquidão dele. Tempicos
acha que talvez tenha sido de outras actividades beijoqueiras…
Os irmãos Martins cujos
progenitores viviam no norte, tinham uma particularidade eram gémeos e Tempicos
tinha sempre dificuldade em distingui-los. Só pela voz. Enquanto um estudara e
estava prestes a acabar direito o outro dedicava-se a ver futebol e a entrar na
claque. A droga não lhe seria estranha e o facto é que exibia um carro caro e
não trabalhava! Isaltina dava-se bem com os dois e até na véspera estiveram os
três, no quarto do João a jogar às cartas, até perto das duas da manhã. Porém a
relação de Isaltina com os dois irmãos era difícil de entender. Ela gostava de
um deles mas não se sabia qual. Só Isaltina tinha o segredo!
Tempicos sabia que cada
quarto tinha a sua chave diferente, que a entrada para o andar dos hóspedes
tinha uma porta também fechada à chave. A porta da rua igualmente. Seria
possível algum malandro entrar na pensão e chegar ao quarto da vítima?
Dificilmente. Nada fora arrombado. Teria alguém da casa feito o trabalho? Então
onde estaria a arma do crime, a cápsula e a chave da porta? Tudo desaparecera.
Tempicos desconfiava que os barões da droga andavam atrás do Manuel.
Tempicos já estava
reformado mas na Judite um amigo dera-lhe uma balda e deixara-o estudar o caso.
Disseram-lhe que a hora da morte seria as duas da manhã.
O caso estava difícil de explicar. Será que os
nossos amigos poderão ajudar Tempicos, tentando compor o puzzle e sugerindo uma
linha de raciocínio que nos esclareça o caso?
E pronto.
Como sempre
recomendamos a máxima atenção com a leitura e interpretação dos elementos
fornecidos, após o que devem responder, impreterivelmente até ao próximo dia 30
de Junho, usando um dos seguintes meios:
- Pelos Correios para PÚBLICO-Policiário, Rua Viriato, 13, 1069-315
LISBOA;
- Por e-mail para policiario@publico.pt;
- Por entrega em mão na redacção do PÚBLICO de Lisboa;
- Por entrega em mão ao orientador da secção, onde quer que o encontrem.
Boas deduções!
Sem comentários:
Enviar um comentário