TESTE SE É
UM BOM DETECTIVE!
Em plena época de férias, com muitos
leitores nas praias ou no campo, longe de casa, lançamos um desafio para manter
as “células cinzentas” em boa forma.
Vamos descobrir quem foi o ladrão…
AS RIQUEZAS DESAPARECIDAS
Original de: Faraó
A
mansão era imponente, situada em lugar de relevo, no cimo de um cabeço
cuidadosamente arrelvado, rodeado de vegetação luxuriante e bem tratada.
Foi
construída por um nobre de ascendência inglesa, um viajante inveterado que se
apaixonou pela ancestral cultura egípcia, tendo andado em escavações algures
pelo Nilo, até a idade o conduzir até este local repousado, onde fez construir
a mansão e terminou os seus dias.
Agora
eram os filhos quem a habitavam, tendo mantido praticamente toda a traça
original e a decoração que o pai introduzira, com baixos-relevos egípcios,
peças artísticas e objectos de gosto duvidoso, todos vindos da terra das
pirâmides, provavelmente à revelia das autoridades.
No
cofre, situado na biblioteca, a fama fazia constar que havia documentos e preciosidades
que ultrapassavam a imaginação e todas as pessoas que passavam pela mansão, em
trabalho ou em visita social, eram levadas a acreditar que havia uma enorme
fortuna por detrás daquelas portas pesadas e resistentes, praticamente
inexpugnáveis para quem não dispusesse da chave milagrosa e do segredo.
Naquele
dia, Jack regressou de Londres, fez uma paragem em Lisboa, para efectuar
algumas compras que programara, antes de se dirigir para a mansão, onde foi
saudado pelos irmãos, John e James. Mas a vedeta maior deste reencontro foi o
cãozito, ainda pequenote, que Jack trouxe, adquirido numa loja de Lisboa.
–
Olhem só para este cão e vejam se não vos desperta nenhuma recordação…
–
Jack, é igual aos cães que aparecem nas tumbas que o pai estudava!
–
Tal e qual! Tinha de o trazer, parecia que me pedia para o adoptar! Digam olá
ao Enji!
Nessa
noite, cálida e serena, depois do animado jantar, servido pela velha criada que
já vinha dos tempos do pai, cada um foi à sua vida. A criada recolheu à
cozinha, depois de levantar a mesa; John foi para a sala de estar, assistir a
um programa televisivo que não pretendia perder; James subiu ao seu quarto, no
piso superior, porque queria ver se uns e-mails urgentes haviam chegado; Jack
instalou a coleira no Enji e levou-o a passear pelo relvado.
Algum
tempo depois, uma gritaria irrompeu do escritório. A velha criada viu o cofre
aberto, vazio e alguns papéis espalhados pelo chão e viu logo que alguma coisa
de anormal se passava, porque sabia que “os meninos” eram muito organizados e,
em tantos anos, nunca vira tal coisa.
Um
a um, foram chegando, primeiro John, que estava na sala ao lado, depois James,
alertado pelos gritos e finalmente Jack, com o Enji.
As
jóias, os objectos de ouro, o dinheiro, tudo desapareceu. Só os títulos e
escrituras ficaram espalhados pelo chão.
Não
havia marcas de arrombamento no cofre ou nas janelas, que estavam todas
fechadas por dentro.
John:
Estive na sala de estar a ver o meu programa de televisão favorito. Quando
acabou, fui um pouco até lá fora, apanhar o ar fresco e vi o Jack a passear o
Enji, saindo o portão com um saco do lixo na mão. Fiquei algum tempo lá fora,
ao fresco e quando o Jack já fechava o portão, ouvi os gritos da Maria e corri
para a biblioteca. Ela estava em pranto por ter visto o cofre vazio e os papéis
espalhados. Vi logo que houve um roubo. Cada um de nós tem uma chave do cofre,
que anda sempre connosco e sabe o segredo. Como é que o ladrão entrou e abriu o
cofre, não sei. É muito estranho.
James:
Estava no meu quarto a consultar e-mails e a navegar na net quando ouvi os
gritos da Maria. Desci as escadas e ao chegar à biblioteca já lá estava o meu
irmão John. É claro que tenho chave, que anda sempre comigo e sei o segredo,
tal como os meus irmãos. Não percebo como é que algum ladrão conseguiu abrir o
cofre, ou então alguém se esqueceu de o fechar, mas não eu porque há muito
tempo que não o abro.
Jack:
Fui passear o Enji. Aproveitei para levar um saco com lixo para meter no
contentor que fica do outro lado da rua. Lá, o Enji ouviu alguma coisa e
desatou a latir. Ouviu alguma coisa e agora vejo que se calhar era o ladrão a
fugir, mas custa a acreditar. Quando estava a fechar o portão, vi o John à
entrada da casa e logo depois vi-o correr para dentro. Ao entrar, vi a agitação
na biblioteca e soube do roubo. Não sei bem o que lá estava dentro. Estive
estes dias em Londres, mas o meu irmão já me disse que as jóias, os objectos de
ouro e o dinheiro desapareceram. A chave está sempre comigo e conheço bem o
segredo, tal como os meus irmãos.
Nenhum
deles sabia bem se o seguro cobria ou não os danos, porque ainda era do tempo
do pai. Mas a convicção de todos era que não, porque alguns dos objectos de
ouro eram muito valiosos, mas obtidos pelo pai de modo pouco claro; trazia-os
das escavações e por isso não acreditavam que uma companhia de seguros
aceitasse coberturas assim.
O
visionamento das filmagens, das câmaras de vigilância que controlavam o jardim,
não revelou qualquer presença estranha, se bem que houvesse um ou outro ponto
morto.
Quem
terá roubado o conteúdo do cofre?
A – James.
B – Jack.
C – John.
D – Um ladrão do exterior.
Leia,
divirta-se e depois confira a solução:
A alínea
correcta é a B – Jack.
Na história há
um pormenor que não joga e esse tem a ver com a descrição que Jack faz do seu
passeio até ao lixo. Afirma ele que o seu cão ladrou para algum eventual
intruso que andasse por ali, potencialmente o ladrão das riquezas. O pormenor
que não encaixa na história é o facto da raça do cão, que aparece nos túmulos
egípcios que os arqueólogos estudam, ser a Basenji, uma espécie de origem africana que tem a
particularidade de não conseguir ladrar, mas apenas emitir uma espécie de
gemido, semelhante aos grunhidos de porcos de pequeno porte. A conclusão será
óbvia: o lixo que Jack afirma ter levado para o contentor, não era bem lixo,
mas sim as riquezas desviadas de casa e a invenção do intruso não foi nada
feliz. Está encontrado o larápio!