[Transcrição da secção n.º 1185 publicada hoje no jornal PÚBLICO]
CASOS
DE “PASSARINHOS” E DE NAMORO ESTÃO DECIFRADOS!
Mais
dois problemas são hoje solucionados, dando aos nossos “detectives” os
elementos para compararem as suas propostas de solução com as dos autores e
fazerem as suas contas…
Num
torneio de grande fôlego, como é o caso do Campeonato Nacional e com a
qualidade de policiaristas que é amplamente reconhecida, torna-se imperioso que
todos redobrem a atenção, para impedirem algum deslize inesperado. O Policiário
não permite qualquer desleixo, porque pretendemos nos nossos problemas
reproduzir a realidade, apresentando situações verosímeis e essa realidade não
pode fazer com que uma pessoa possa ser injustamente condenada, por absoluta
inépcia do investigador!
São
muitos os exemplos de confrades que partem com ambições legítimas, considerados
por todos como favoritos, que hipotecam todas as suas aspirações em problemas
bastante simples, logo no início da competição, por falta de concentração,
excesso de confiança ou pouca aplicação.
Uma
chamada de atenção à solução da parte II, que traz uma situação recorrente nos
nossos problemas, a confusão entre mentiroso e criminoso.
Os
produtores deverão ter em consideração essa diferença e nunca pedirem a
identificação de um criminoso com base numa mentira que este diga ou se venha a
provar. Um mentiroso não é um criminoso, obrigatoriamente e compete ao produtor
dos enigmas fazer essa diferenciação, chamando-lhe apenas suspeito ou referindo
mesmo que “há um mentiroso que se torna suspeito…”
Ao
invés, quando a prova é produzida e confirmada, quando é possível fazer uma
acusação fundamentada, podemos chamar-lhe o responsável pelos actos!
CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL – 2014
SOLUÇÕES
DA PROVA N.º 2
PARTE
I
“HOJE
HÁ PASSARINHOS…” de A.Raposo & Lena
Neste
caso há que definir a geografia da cena e começar a dar o nome aos intérpretes,
depois cavalgar-lhes as alcunhas, ler os dados e retirar conclusões.
Sabemos
pela narração da história que há 6 actores e mais 2 que são os donos da tasca,
a saber Elias e Fatucha.
Ao
balcão e de costas para a mesa onde se joga a sueca, Tempicos e o Quim, este
por alcunha “o marreco”, devido à escoliose, trincam passarinhos.
Tempicos
– que estudava para inspector da Judiciária era também conhecido por “olho
vivo”, devido ao seu “olhar perspicaz”, como o texto menciona.
Na
jogatina estão os restantes quatro. Sabemos que o Zé (o anafado) foi a vítima
da facada e é o “ peida-gadocha”.
O
Tó estava a ver a rua – portanto estaria de costas para o balcão e era o “tacanho”
que corresponde ao sinónimo de Pinguinhas.
O
Manel é o parceiro do Zé. Os outros dois serão o Tozé e o Tó.
O
Tozé estará de costas para a rua.
Á
direita do Tó podem ficar os parceiros Zé ou Manel, para o caso é indiferente.
Elias
tem a sua zona de acção entre o balcão a as pipas. Fatucha anda num “vai-vem”
entre a cozinha onde frita os petiscos e os fregueses.
Quando
o Zé vai aos lavabos, atravessa o estreito corredor entre pipas e fica fora do
alcance visual dos actores, excepto da Fatucha, se ela se encontrar na cozinha,
pois os dois locais ficam por perto.
Fatucha
gostava e tinha encontro marcado com o Pelintra. O bilhete que Tempicos
descobre no seu avental assim o parece indiciar e ela não o destruiu.
Supomos
que o Zé deve ter desviado a sua rota ao sair dos lavabos e deve ter entrado na
cozinha promovendo algum episódio para além do normal para a época. A faca
afiada de cortar as iscas estava ali à beira e foi usada como forma de
retribuição pelos afectos. O que ele fez à Fatucha ninguém sabe mas ela não
gostou. O Zé “comeu” e não tugiu nem mugiu pois o pai da rapariga estava por
ali perto ao balcão e se se queixasse as coisas só podiam piorar para ele.
Nenhum
outro personagem poderia ter dado a facada e ele dado a si próprio era humanamente
inviável.
Se
consultar o Dicionário da Porto Editora (5ª edição) encontrará como sinónimos
de Malacueco, espertalhão, de Pinguinhas, tacanho e de Pingarelho pelintra.
Com
essa informação e a recolha de dados no problema facilmente pode alinhar todos
os nomes e alcunhas dos seis da vida airada:
Tempicos
– Olho vivo – Olhar perspicaz;
Tó
– Pinguinhas – Tacanho;
Zé
– Peida-Gadocha – Anafado;
Manel
– Malacueco – Espertalhão;
Quim
– Marreco – Escoliose;
Tózé
– Pingarelho – Pelintra.
Tempicos,
apesar de, na época, iniciado de detective, resolveu este caso do tempo em que
havia o aroma das iscas, com elas, pelas tascas de Lisboa.
Hoje,
com a crise, nem iscas, nem elas… nem tascas.
PARTE
II
“UM
NAMORO COMPLICADO” de Povolez
Resposta:
A) – Carlos.
Este problema revela
uma situação que aparece muito no Policiário e que se resume à confusão entre
aquele que mente e aquele que é o culpado de um crime ou responsável pelos
factos.
Nem sempre o que
parece óbvio o é!
Um dos conceitos que
temos de apreender é mesmo o de que um mentiroso não é, obrigatoriamente, um
criminoso, ou um culpado de tudo.
Neste caso, temos um
mentiroso que nos diz que passou um dia inteiro na praia, feliz e contente, e
depois revela uma palidez doentia. Conclusão óbvia e natural: o rapaz mentiu
descaradamente e pode ter estado em todo o lado, excepto ao sol um dia inteiro,
ainda para mais pela primeira vez no ano, o que o transformaria, certamente,
num sósia de uma lagosta, falando de coloração, claro.
Mas esse facto não o
torna mais suspeito de ter dado “à língua” e denunciado a situação à moça. Só o
torna mais mentiroso.
Quem se denuncia
claramente é Carlos, ao referir que nem sequer fora nesse domingo ao café, sem
que o amigo ou alguém mais lhe tivesse dito que fora aí que a inconfidência foi
cometida. Pura e simplesmente não podia saber o que não viu e o que ninguém lhe
contou, como ele próprio refere.
Portanto, resposta
certa: Carlos!
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