domingo, 20 de abril de 2014

POLICIÁRIO 1185

[Transcrição da secção n.º 1185 publicada hoje no jornal PÚBLICO] 

CASOS DE “PASSARINHOS” E DE NAMORO ESTÃO DECIFRADOS!

Mais dois problemas são hoje solucionados, dando aos nossos “detectives” os elementos para compararem as suas propostas de solução com as dos autores e fazerem as suas contas…
Num torneio de grande fôlego, como é o caso do Campeonato Nacional e com a qualidade de policiaristas que é amplamente reconhecida, torna-se imperioso que todos redobrem a atenção, para impedirem algum deslize inesperado. O Policiário não permite qualquer desleixo, porque pretendemos nos nossos problemas reproduzir a realidade, apresentando situações verosímeis e essa realidade não pode fazer com que uma pessoa possa ser injustamente condenada, por absoluta inépcia do investigador!

São muitos os exemplos de confrades que partem com ambições legítimas, considerados por todos como favoritos, que hipotecam todas as suas aspirações em problemas bastante simples, logo no início da competição, por falta de concentração, excesso de confiança ou pouca aplicação.
Uma chamada de atenção à solução da parte II, que traz uma situação recorrente nos nossos problemas, a confusão entre mentiroso e criminoso.
Os produtores deverão ter em consideração essa diferença e nunca pedirem a identificação de um criminoso com base numa mentira que este diga ou se venha a provar. Um mentiroso não é um criminoso, obrigatoriamente e compete ao produtor dos enigmas fazer essa diferenciação, chamando-lhe apenas suspeito ou referindo mesmo que “há um mentiroso que se torna suspeito…”
Ao invés, quando a prova é produzida e confirmada, quando é possível fazer uma acusação fundamentada, podemos chamar-lhe o responsável pelos actos!


CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL – 2014
SOLUÇÕES DA PROVA N.º 2

PARTE I
“HOJE HÁ PASSARINHOS…” de A.Raposo & Lena

Neste caso há que definir a geografia da cena e começar a dar o nome aos intérpretes, depois cavalgar-lhes as alcunhas, ler os dados e retirar conclusões.

Sabemos pela narração da história que há 6 actores e mais 2 que são os donos da tasca, a saber Elias e Fatucha.
Ao balcão e de costas para a mesa onde se joga a sueca, Tempicos e o Quim, este por alcunha “o marreco”, devido à escoliose, trincam passarinhos.

Tempicos – que estudava para inspector da Judiciária era também conhecido por “olho vivo”, devido ao seu “olhar perspicaz”, como o texto menciona.

Na jogatina estão os restantes quatro. Sabemos que o Zé (o anafado) foi a vítima da facada e é o “ peida-gadocha”.

O Tó estava a ver a rua – portanto estaria de costas para o balcão e era o “tacanho” que corresponde ao sinónimo de Pinguinhas.

O Manel é o parceiro do Zé. Os outros dois serão o Tozé e o Tó.

O Tozé estará de costas para a rua.

Á direita do Tó podem ficar os parceiros Zé ou Manel, para o caso é indiferente.

Elias tem a sua zona de acção entre o balcão a as pipas. Fatucha anda num “vai-vem” entre a cozinha onde frita os petiscos e os fregueses.

Quando o Zé vai aos lavabos, atravessa o estreito corredor entre pipas e fica fora do alcance visual dos actores, excepto da Fatucha, se ela se encontrar na cozinha, pois os dois locais ficam por perto.

Fatucha gostava e tinha encontro marcado com o Pelintra. O bilhete que Tempicos descobre no seu avental assim o parece indiciar e ela não o destruiu.

Supomos que o Zé deve ter desviado a sua rota ao sair dos lavabos e deve ter entrado na cozinha promovendo algum episódio para além do normal para a época. A faca afiada de cortar as iscas estava ali à beira e foi usada como forma de retribuição pelos afectos. O que ele fez à Fatucha ninguém sabe mas ela não gostou. O Zé “comeu” e não tugiu nem mugiu pois o pai da rapariga estava por ali perto ao balcão e se se queixasse as coisas só podiam piorar para ele.

Nenhum outro personagem poderia ter dado a facada e ele dado a si próprio era humanamente inviável.

Se consultar o Dicionário da Porto Editora (5ª edição) encontrará como sinónimos de Malacueco, espertalhão, de Pinguinhas, tacanho e de Pingarelho pelintra.
Com essa informação e a recolha de dados no problema facilmente pode alinhar todos os nomes e alcunhas dos seis da vida airada:

Tempicos – Olho vivo – Olhar perspicaz;
Tó – Pinguinhas – Tacanho;
Zé – Peida-Gadocha – Anafado;
Manel – Malacueco – Espertalhão;
Quim – Marreco – Escoliose;
Tózé – Pingarelho – Pelintra.

Tempicos, apesar de, na época, iniciado de detective, resolveu este caso do tempo em que havia o aroma das iscas, com elas, pelas tascas de Lisboa.
Hoje, com a crise, nem iscas, nem elas… nem tascas. 


PARTE II
“UM NAMORO COMPLICADO” de Povolez

Resposta: A) – Carlos.

Este problema revela uma situação que aparece muito no Policiário e que se resume à confusão entre aquele que mente e aquele que é o culpado de um crime ou responsável pelos factos.
Nem sempre o que parece óbvio o é!
Um dos conceitos que temos de apreender é mesmo o de que um mentiroso não é, obrigatoriamente, um criminoso, ou um culpado de tudo.
Neste caso, temos um mentiroso que nos diz que passou um dia inteiro na praia, feliz e contente, e depois revela uma palidez doentia. Conclusão óbvia e natural: o rapaz mentiu descaradamente e pode ter estado em todo o lado, excepto ao sol um dia inteiro, ainda para mais pela primeira vez no ano, o que o transformaria, certamente, num sósia de uma lagosta, falando de coloração, claro.
Mas esse facto não o torna mais suspeito de ter dado “à língua” e denunciado a situação à moça. Só o torna mais mentiroso.
Quem se denuncia claramente é Carlos, ao referir que nem sequer fora nesse domingo ao café, sem que o amigo ou alguém mais lhe tivesse dito que fora aí que a inconfidência foi cometida. Pura e simplesmente não podia saber o que não viu e o que ninguém lhe contou, como ele próprio refere.
Portanto, resposta certa: Carlos!


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