domingo, 13 de dezembro de 2015

POLICIÁRIO 1271


RESOLVIDAS AS MORTES DO “TIO PALITO DAS VACAS” E DE JOSITA CORLI


Estamos já na recta final da nossa época de competições, a que ficarão apenas a faltar as diversas classificações, que se vão seguir, até ao grande dia da divulgação dos vencedores: 31 de Dezembro.
Hoje, cumprimos mais um capítulo, revelando as soluções oficiais dos problemas da prova n.º 10:

CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL – 2015
SOLUÇÕES DA PROVA N.º 10
PARTE I - A ESTRANHA MORTE DO “TIO PALITO DAS VACAS” - DE MÁRIO CAMPINO

Consultando a velha agenda de capa preta, onde outrora registava os factos ligados ao “Avô Palaló”, noto que o caso em questão não apresenta, suponho, grandes dificuldades. Trata-se de um delito caseiro, uma vez que está fora de dúvidas qualquer eventualidade de ter sido produzido por estranhos. Aliás, naqueles tempos, os delitos maiores limitavam-se ao assalto a capoeiras; então vivia-se e dormia-se em segurança de “portas abertas, dia e noite” (saudosos tempos!).
O “Avô Palaló” mandou chamar o Dr. Chico, não por qualquer suspeita, mas por ser necessária a certidão de óbito; todavia, o médico, com a sua cuidadosa atenção na observação do morto, acabou por desferrolhar a face oculta de um drama. Na verdade, se a morte tivesse ocorrido na posição sentada, a vítima – ainda que tivesse ocorrido um último espasmo, que não se verifica na morte instantânea – conservaria a mesma posição enquanto durasse o estado de rigidez ou, cientificamente, o “rigor mortis”, que num corpo delgado como o do Libânio e uma noite fria para a época, se inicia duas a três horas após a morte e cessa dez a doze horas depois. Na sequência do trabalho, o médico descobre as manchas roxas no pescoço, logo nas costas, nas nádegas, parte inferior das coxas até aos calcanhares, daí a ilação de que o corpo estivera em decúbito dorsal, representando as manchas os livores cadavéricos em resultado da gravidade actuando sobre os vasos sanguíneos. Note-se que se a vítima tivesse perecido e mantido na cadeira, os livores estariam fixados na parte inferior do corpo – nádegas, coxas e pés. É por demais. Óbvio que o cadáver foi transportado da posição de decúbito dorsal para a cadeira e já em avançado estado de rigidez, que manteve – este seria o motivo do segredo do médico ao avô.
Porquê e quem matou? Aludimos que era um crime caseiro, logo os dois suspeitos são Óscar, o sobrinho que poderia herdar sem trabalho, de que não gostava e Miguel, tentado pelo “pé-de-meia” do patrão, um crime caseiro e de ocasião. As motivações latentes.
Óscar, frágil e enfraquecido pela bebida, está fora de questão, jamais conseguiria transportar o corpo do tio, do chão para a mesa; Miguel, um homem forte, facilmente o faria e fez – é ele o culpado. Também não havia – nada o refere – vestígios de sangue nas mãos de Óscar, no pilão ou corpo do tio.
Dado que a vítima estava, quando foi encontrada, em estado de rigidez, considerando o período de “rigor mortis”, a morte deve ter ocorrido nas primeiras horas da noite anterior. Assim, visto que Miguel nunca tinha entrado na casa e esta não apresentava vestígios de busca, tudo indica que descobriu o esconderijo do mealheiro quando o patrão retirou uma pequena nota. Não resistiu ao dinheiro, pegou no pilão de cobre que estava à mão e atingiu o patrão na cabeça. Sem consciência da própria força, o que seria, em princípio, um roubo, foi um assassínio. Ainda atordoado, pensou rápido. Maliciosamente, com o dinheiro no bolso, deixou o Libório estendido e foi colocar o pilão na cama de Óscar, para o incriminar. Iria fugir, mas, fugir significava denunciar o seu crime e inocentar Óscar. Ficou toda a noite a procurar uma solução e, de madrugada convenceu-se tê-la encontrado. Foi deslocar o patrão para a mesa, com o pequeno-almoço habitual, para indicar que a morte foi de manhã, enquanto ele estava na ordenha. Mas a luz do candeeiro estava a findar por falta de combustível, mal teve tempo de olhar para o resultado da encenação… (Daí o corpo não ficar sentado). Correu para fora, tinha de levar as bilhas de leite para a estrada porquanto o leiteiro devia estar a chegar. Levou as duas do costume, mas uma vazia e porque duas bilhas representavam a ordenha de duas vacas, tentou levar mais uma para a pastagem; contudo, a vaca, aflita com o leite, voltou e foi juntar o seu mugir doloroso às restantes. Este foi o primeiro indício para o avô, não compreendeu no momento, mas relembrou-se depois, para acusar Miguel.
 Dir-se-ia que Miguel foi vítima da sua força por duas vezes; a primeira ao bater com o pilão, a segunda ao transportar o cadáver.
E foram estas as conclusões que o Avô apresentou ao cabo André.

PARTE II – “O CASO DE JOSITA CORLI” – DE MEDVET

A resposta correcta é A.
Não foi suicídio. Uma rapariga bonita – e que sabe que o é, usando essa beleza para atingir os seus fins – não vai suicidar-se com um tiro na cara: Recorde-se que o espectáculo não era nada bonito. Josita gostaria que a lembrassem bela e não iria matar-se desse modo; usaria veneno, por exemplo.
Por outro lado, ela não tinha motivos para se matar. Aquele comentário poderia ter apenas a ideia de se desembaraçar de um namorado inoportuno, ou seja Perita. ”Acabar com tudo” poderia indicar “acabar com Ramon”. Não há carta de suicídio nem sinais de violência.
O suspeito mais provável é Ramon Perita. Francisco Peres não tinha motivos para matar a moça. Já o namorado afirmara que não gostava de a ver com outros homens; e diz que a rapariga lhe prometera deixar de “fazer olhinhos”, mas as declarações de Peres não corroboram isso; antes, dão mais a ideia de que ela estava a pensar terminar a relação.
É possível que ele a fosse ver no domingo para “esclarecer” a situação e fingisse acreditar na explicação que ela lhe deu. Hábil a esconder os seus sentimentos (“água silenciosa é a mais perigosa”) podia ter levado a arma já com a ideia de a matar se as suas suspeitas tivessem fundamento; talvez lhe mostrasse o revólver para se defender dos assaltos, isso explicaria porque a moça não mostrava sinais de surpresa/terror (o que indica que a vítima conhecia o assassino, já que não é muito crível que se matasse dessa forma, haja em vista o seu temperamento/carácter). Ela segurara a arma para “experimentar”, por exemplo, e ele talvez indo por trás da rapariga (que estava sentada) e obrigou-a dobrar o pulso e carregou no gatilho, disparando o revólver. A bala atravessaria a parte inferior da cara, destruindo-a. Deste modo, só haveria impressões dela na arma. Depois, o homem só teria de sair de casa, deixando a porta trancada. Mas esqueceu-se de apagar a luz, o que indicou ao Inspector que a vítima fora morta ainda de noite (o que a autópsia confirmou) e que estava ainda a pé.
Confrontado com os factos, Ramon Perita confessou.







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