RESOLVIDAS
AS MORTES DO “TIO PALITO DAS VACAS” E DE JOSITA CORLI
Estamos
já na recta final da nossa época de competições, a que ficarão apenas a faltar
as diversas classificações, que se vão seguir, até ao grande dia da divulgação
dos vencedores: 31 de Dezembro.
Hoje,
cumprimos mais um capítulo, revelando as soluções oficiais dos problemas da
prova n.º 10:
CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL – 2015
SOLUÇÕES
DA PROVA N.º 10
PARTE
I - A ESTRANHA MORTE DO “TIO PALITO DAS VACAS” - DE MÁRIO CAMPINO
Consultando
a velha agenda de capa preta, onde outrora registava os factos ligados ao “Avô
Palaló”, noto que o caso em questão não apresenta, suponho, grandes
dificuldades. Trata-se de um delito caseiro, uma vez que está fora de dúvidas
qualquer eventualidade de ter sido produzido por estranhos. Aliás, naqueles
tempos, os delitos maiores limitavam-se ao assalto a capoeiras; então vivia-se
e dormia-se em segurança de “portas abertas, dia e noite” (saudosos tempos!).
O
“Avô Palaló” mandou chamar o Dr. Chico, não por qualquer suspeita, mas por ser
necessária a certidão de óbito; todavia, o médico, com a sua cuidadosa atenção
na observação do morto, acabou por desferrolhar a face oculta de um drama. Na
verdade, se a morte tivesse ocorrido na posição sentada, a vítima – ainda que
tivesse ocorrido um último espasmo, que não se verifica na morte instantânea –
conservaria a mesma posição enquanto durasse o estado de rigidez ou,
cientificamente, o “rigor mortis”, que num corpo delgado como o do Libânio e
uma noite fria para a época, se inicia duas a três horas após a morte e cessa
dez a doze horas depois. Na sequência do trabalho, o médico descobre as manchas
roxas no pescoço, logo nas costas, nas nádegas, parte inferior das coxas até
aos calcanhares, daí a ilação de que o corpo estivera em decúbito dorsal,
representando as manchas os livores cadavéricos em resultado da gravidade
actuando sobre os vasos sanguíneos. Note-se que se a vítima tivesse perecido e
mantido na cadeira, os livores estariam fixados na parte inferior do corpo –
nádegas, coxas e pés. É por demais. Óbvio que o cadáver foi transportado da
posição de decúbito dorsal para a cadeira e já em avançado estado de rigidez,
que manteve – este seria o motivo do segredo do médico ao avô.
Porquê
e quem matou? Aludimos que era um crime caseiro, logo os dois suspeitos são
Óscar, o sobrinho que poderia herdar sem trabalho, de que não gostava e Miguel,
tentado pelo “pé-de-meia” do patrão, um crime caseiro e de ocasião. As
motivações latentes.
Óscar,
frágil e enfraquecido pela bebida, está fora de questão, jamais conseguiria
transportar o corpo do tio, do chão para a mesa; Miguel, um homem forte,
facilmente o faria e fez – é ele o culpado. Também não havia – nada o refere –
vestígios de sangue nas mãos de Óscar, no pilão ou corpo do tio.
Dado
que a vítima estava, quando foi encontrada, em estado de rigidez, considerando
o período de “rigor mortis”, a morte deve ter ocorrido nas primeiras horas da
noite anterior. Assim, visto que Miguel nunca tinha entrado na casa e esta não
apresentava vestígios de busca, tudo indica que descobriu o esconderijo do
mealheiro quando o patrão retirou uma pequena nota. Não resistiu ao dinheiro,
pegou no pilão de cobre que estava à mão e atingiu o patrão na cabeça. Sem consciência
da própria força, o que seria, em princípio, um roubo, foi um assassínio. Ainda
atordoado, pensou rápido. Maliciosamente, com o dinheiro no bolso, deixou o
Libório estendido e foi colocar o pilão na cama de Óscar, para o incriminar.
Iria fugir, mas, fugir significava denunciar o seu crime e inocentar Óscar.
Ficou toda a noite a procurar uma solução e, de madrugada convenceu-se tê-la
encontrado. Foi deslocar o patrão para a mesa, com o pequeno-almoço habitual,
para indicar que a morte foi de manhã, enquanto ele estava na ordenha. Mas a
luz do candeeiro estava a findar por falta de combustível, mal teve tempo de
olhar para o resultado da encenação… (Daí o corpo não ficar sentado). Correu
para fora, tinha de levar as bilhas de leite para a estrada porquanto o
leiteiro devia estar a chegar. Levou as duas do costume, mas uma vazia e porque
duas bilhas representavam a ordenha de duas vacas, tentou levar mais uma para a
pastagem; contudo, a vaca, aflita com o leite, voltou e foi juntar o seu mugir
doloroso às restantes. Este foi o primeiro indício para o avô, não compreendeu
no momento, mas relembrou-se depois, para acusar Miguel.
Dir-se-ia que Miguel foi vítima da sua força
por duas vezes; a primeira ao bater com o pilão, a segunda ao transportar o
cadáver.
E
foram estas as conclusões que o Avô apresentou ao cabo André.
PARTE
II – “O CASO DE JOSITA CORLI” – DE MEDVET
A resposta correcta é A.
Não foi suicídio. Uma rapariga bonita – e que sabe que o é, usando essa
beleza para atingir os seus fins – não vai suicidar-se com um tiro na cara:
Recorde-se que o espectáculo não era nada bonito. Josita gostaria que a
lembrassem bela e não iria matar-se desse modo; usaria veneno, por exemplo.
Por outro lado, ela não tinha motivos para se matar. Aquele comentário
poderia ter apenas a ideia de se desembaraçar de um namorado inoportuno, ou
seja Perita. ”Acabar com tudo” poderia indicar “acabar com Ramon”. Não há carta
de suicídio nem sinais de violência.
O suspeito mais provável é Ramon Perita. Francisco Peres não tinha motivos
para matar a moça. Já o namorado afirmara que não gostava de a ver com outros
homens; e diz que a rapariga lhe prometera deixar de “fazer olhinhos”, mas as
declarações de Peres não corroboram isso; antes, dão mais a ideia de que ela
estava a pensar terminar a relação.
É possível que ele a fosse ver no domingo para “esclarecer” a situação e
fingisse acreditar na explicação que ela lhe deu. Hábil a esconder os seus
sentimentos (“água silenciosa é a mais perigosa”) podia ter levado a arma já
com a ideia de a matar se as suas suspeitas tivessem fundamento; talvez lhe
mostrasse o revólver para se defender dos assaltos, isso explicaria porque a
moça não mostrava sinais de surpresa/terror (o que indica que a vítima conhecia
o assassino, já que não é muito crível que se matasse dessa forma, haja em
vista o seu temperamento/carácter). Ela segurara a arma para “experimentar”,
por exemplo, e ele talvez indo por trás da rapariga (que estava sentada) e
obrigou-a dobrar o pulso e carregou no gatilho, disparando o revólver. A bala
atravessaria a parte inferior da cara, destruindo-a. Deste modo, só haveria
impressões dela na arma. Depois, o homem só teria de sair de casa, deixando a
porta trancada. Mas esqueceu-se de apagar a luz, o que indicou ao Inspector que
a vítima fora morta ainda de noite (o que a autópsia confirmou) e que estava
ainda a pé.
Confrontado com os factos, Ramon Perita confessou.
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