SMALUCO EM MAUS LENÇÓIS…
Cumprimos hoje mais uma etapa nas nossas
competições desta época, com um problema de autoria de um dos produtores mais
assíduos e reconhecidos do nosso passatempo, que nos vai mostrando casos do
quotidiano do seu personagem Smaluco que nos tem acompanhado ao longo destes
anos.
Apesar de nos aproximarmos do verão e do
tempo das férias e da praia, vamos até ao Réveillon do Clube da Boa Saúde, ao
encontro do próprio detective, desta vez em muito maus lençóis.
Como sempre acontece, fica a recomendação
para que os confrades prestem a máxima atenção ao texto, procurem interpretar
correctamente os elementos fornecidos, para que possam dar uma explicação
cabal.
CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL –
2016
PROVA N.º 5 – PARTE I
“SMALUCO NO RÉVEILLON” – Original de
INSPETOR BOAVIDA
Nunca um novo ano havia começado tão mal
para Smaluco. Ele decidira aceitar um insólito convite para participar no Réveillon
do Clube da Boa Saúde, vulgarmente conhecido por CBS, mas depressa se
arrependeu. Criado e gerido por personalidades ligadas ao setor da saúde, o CBS
reunia naquela noite apenas membros da sua direção, funcionários, sócios e
convidados. O nosso detetive aposentado sentiu-se, ao princípio, profundamente
deslocado. E se não fosse a companhia da sua amada Natália Vaz, talvez tivesse
batido em retirada muito antes de soarem as doze badaladas. Excetuando Natália
e um conviva de porte altivo e com modos de anfitrião, que ele jurava conhecer
de algum lado, todos os seus companheiros de passagem do ano eram-lhe
desconhecidos.
O desconforto inicial acabou rapidamente por
dar lugar a uma integração plena na festa. Mas, após alguma diversão, com
música, gargalhadas e champanhe a rodos, algazarra e animação, em espaço onde habitualmente
se passeia luxo e elegância, eis que caiu a escuridão sobre os convivas. Quando
a luz se apagou, irromperam no salão apelos quase lancinantes de “não empurrem!”,
“cuidado, não me pisem!”, “larguem-me!”. Cinha Quintal, que estava mascarada de
pobre, foi empurrada e quase caiu no chão. Quem não conseguiu evitar a queda
foi a sua amiga Lili Malveira, fantasiada de Marilyn Monroe, que arrastou consigo
uma conhecida cartomante e apresentadora de televisão, Gaya de seu nome, que
vestia uma fantasia de jogador de futebol do SLB.
A ausência de luz durou breves instantes,
não mais do que dois minutos. Quando a claridade voltou tudo seria como dantes,
não fosse um grito de terror ter subitamente ecoado no meio do salão de festas.
Lili, de olhos arregalados de horror, afogou-se em lágrimas nos ombros do
companheiro de Natália. Esta, por sua vez, cirandava feliz e sorridente pelo bar
do Clube, afagando, com as suas prateadas mitenes, o fino cristal de mais uma flute de champanhe. Caído no centro do
salão, com um punhal cravado no lado esquerdo do peito, estava o obstetra Eugénio
Brotas. A seu lado, junto da sua ensanguentada mão direita via-se um cartão-de-visita
do CBS com um nome escrito a… dedo e sangue: Smaluco! Os olhares dos presentes voltaram-se
todos para o detetive.
Perto de uma hora depois de o tesoureiro do
CBS se ter retirado com o propósito de telefonar para a polícia, fez-se
anunciar um jovem inspetor, que começou por confirmar se o salão já tinha sido
evacuado, perguntando de seguida onde estava cada um dos presentes quando a
escuridão invadiu o salão. Depois, no gabinete da direção do Clube, quis saber
onde estavam os dirigentes no momento em que faltou a luz no salão. O vice-presidente,
Ricardo Nódoa, cardiologista, disse que se deslocava para os lavabos nesse preciso
momento. O tesoureiro, António Poeira, analista, estivera sempre na entrada do
salão a coordenar os serviços de receção e a fazer a verificação de convites. O
secretário, Pedro Calhau, ginecologista, tinha como missão a gestão dos
serviços do bar e estava por lá. O vogal, José Biscoito, psiquiatra, tinha ao
seu cuidado a música da festa e estava também a uma grande distância da zona onde
o presidente havia caído.
Os depoimentos dos diretores do CBS não
puderam ser confirmados pelos convivas. Todos eles se declararam pouco atentos
ao que se passara em seu redor. No interrogatório apenas foi possível concluir
que, para além de Smaluco, apenas Cinha, Lili e Gaya se encontravam perto do
presidente quando a luz voltou ao salão. Nenhum deles se lembrava, porém, de
algo que pudesse ser relevante para a investigação do caso. O inspetor procurou
saber depois a razão da ausência dos membros do conselho fiscal e da mesa de
assembleia geral do CBS e foi informado de que todos alegaram afazeres
profissionais, embora se dissesse em surdina que os primeiros se haviam
manifestado contra a realização da festa, devido a dúvidas surgidas nas contas
do Clube.
Alguns dias depois, já Natália havia
recolhido à cadeia por ter terminado a sua licença precária, Smaluco recebeu um
telefonema do jovem inspetor que, em nome do respeito pelo passado de um colega
que deixara uma marca singular na Polícia Judiciária, disse sentir-se no dever
de o alertar para a necessidade de se preparar para explicar o facto de o sangue
constante do cartão encontrado junto ao corpo do Dr. Brotas ser… AB Rh
negativo, como o seu! Segundo o inspetor, o caso era sério e podia valer-lhe
uma condenação pesada. Quando soube desta estranha situação, a namorada de
Smaluco rebentou de riso, para desespero do seu amado, que não sabia como se
defender quando fosse chamado a prestar declarações. E esse momento tardava, o
que era ainda mais angustiante. Será que os leitores conseguem explicar o que
se passou?
E pronto.
Agora que o caso está exposto, resta-nos
aguardar que os confrades apresentem as suas propostas de solução,
impreterivelmente até ao próximo dia 30 de Junho, para o que poderão usar um
dos seguintes meios:
- Pelo Correio: Luís Pessoa, Estrada
Militar, 23, 2125-109 MARINHAIS;
- Por entrega em mão ao orientador, onde
quer que o encontrem.
Boas deduções!
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