DESMASCARADO QUEM
FEZ “VOAR”
A VÉNUS DE MILO…
Ainda em tempo de férias para uma
grande parte dos confrades e “detectives”, enquanto há sol e calor e as praias
se vão enchendo, na procura de alguma frescura, a nossa competição não faz
paragens, porque há metas a alcançar e prazos a cumprir.
Praticamente debelada a crise que
nos afectou, motivada pela perda da “pen” que continha quase tudo o que
necessitávamos para que a competição decorresse sem sobressaltos, continuamos a
lutar contra o tempo para podermos recuperar todos os atrasos e recolocar este
campeonato nacional nos eixos.
Entretanto, vamos deixar os nossos
“detectives” com a solução que a dupla Búfalos Associados deram ao problema de
escolha múltipla que constituiu a parte II da prova n.º 6, não sem antes
relembrarmos que os nossos decifradores apenas teriam de indicar a alínea que,
no entender de cada um, resolvia o enigma. Os Búfalos entenderam por bem dar
uma solução muito completa e exaustiva, que deixamos aos nossos leitores, como
comprovante de que um problema de escolha múltipla não é sempre sinónimo de
problema linear e simples:
CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL – 2016
SOLUÇÃO
DA PROVA N.º 6 – PARTE II
“AS ASAS DA VÉNUS
DE MILO” – de BÚFALOS ASSOCIADOS
A alínea correcta é a C).
O inspector Garrett começou por
suspeitar de todos e até da hipótese de um assaltante desconhecido. O vulto
visto a correr, ou a pessoa lendo o jornal dentro do carro, levantavam dúvidas.
Mas, posta de parte a ideia de conluio por se ter apurado que os devedores nem
sequer se conheciam, concluiu que, se houvesse um mentiroso, aquele que
claramente tivesse mentido, era o provável assassino e ladrão. E as dúvidas não
tardaram a desvanecer-se. Pelo menos
cinco pormenores denunciaram o
criminoso:
1.o
- Foi certamente por um telefonema que Raul Beleza chamou o 112 a comunicar o
trágico sucedido. Mas então não disse ter deixado o seu telemóvel no escritório
da senhora situado no andar de cima? D. Lina não tinha telefone fixo nem
telemóvel e o Raul disse que "nem chegou a subir e chamou o 112, tendo
tido o cuidado de esperar na rua sem tocar em nada". Decerto tinha consigo
o seu próprio telemóvel o qual usou, pois na pacatez daquele beco não haveria
qualquer cabina telefónica. Mentiu, portanto.
2.o
- Raul, morador longe de Lisboa, afirmou que saiu pelas 16.45 de volta a casa,
e seriam seis horas, já "quase a chegar a casa" (uma hora e um quarto
depois), quando resolveu regressar por ter reparado que se esquecera do
telemóvel. Mas pelas seis e meia já estava a chamar o 112. A crer no que
afirmou, o regresso teria sido demasiado rápido, ou seja, na verdade estava
muito mais perto... Mentira, também.
3.o
- Luís disse ter entregado algum dinheiro como amortização, em notas que a
senhora guardou debaixo da miniatura da Vénus de Milo. Portanto a estatueta
ainda lá estava nessa altura. Mas o Raul, que foi recebido antes, afirmou nem
ter reparado na estatueta em cima da secretária, a qual, pesando mais de 7
quilos de ouro, não devia passar despercebida. Mentiu. Claro que a viu e
certamente cobiçou.
4.o
- Só lhe foi perguntado, como aos outros, como correra a conversa, logo não
tinha motivo para falar da estatueta a não ser que se descaísse, ainda por cima
para dizer que não a viu.
5.o
- Como é que Raul pode ter visto pelas costas um vulto a correr na sua frente,
portanto para o lado contrário em que vinha, se o pequeno beco mal iluminado
não tinha saída e acabava num alto muro? Tudo se passa em Dezembro e àquela
hora já está escuro. E ia pra onde correndo em direcção ao muro alto? Nova
mentira.
6.o
- Quando diz que "ainda viu um vulto a correr levando algo debaixo do
braço", está claramente a tentar sugerir um roubo de que não podia saber a
não ser que fosse ele o autor. Note-se que a polícia só depois dos
interrogatórios é que constatou o roubo da estatueta.
Ao contrário do Raul, os depoimentos
do Amilcar, do Luis e do Daniel parecem credíveis, descontando a ignorância e a
grosseria deste último. Afinal a Vénus de Milo não tinha braços, mas tinha
"asas"... Em face de tudo,
Garrett orientou as suas suspeitas para a culpabilidade do RAUL BELEZA. Era
quase evidente que ele teria esperado dentro do seu carro perto da casa, lendo
um jornal tapando a cara, para não ser reconhecido mais tarde. Podia assim
vigiar entradas e saídas. Terá visto a saída do Luis, esperado algum tempo para
ver que ninguém mais aparecia, para então bater à porta com a intenção provável
de "renegociar a dívida" e fazer "voar" a Vénus de Milo. D.
Lina abriu, terão subido ao escritório, onde terá havido uma discussão,
acabando na violenta agressão da usurária no alto das escadas talvez com a
estatueta como arma, e seguiu-se a queda da senhora por ali abaixo. Consumado o
crime inventou uma saída airosa: dizer ter visto um vulto correndo com algo
debaixo do braço, ter encontrado a porta escancarada e a senhora já morta. Na
sua ingenuidade achava que ninguém suspeitaria de que fosse o próprio criminoso
a chamar a polícia. Mas a verdade é que isso o viria a comprometer, pois
declarara que não subira a escada, nem tinha consigo o telemóvel. Muito
provavelmente a polícia veio a encontrar a estatueta da Vénus de Milo, talvez
com sinais de sangue, escondida algures ou dentro do automóvel do Raul. E
talvez mais alguma coisa que não lhe pertencia, incluindo as notas que o Luis
deixara. E este não terá tido dúvidas em identificar o carro do Raul como sendo
o tal estacionado à porta. Era o elemento que faltava para Garrett não ter mais
hesitações.