Na continuação da semana passada, vamos publicar mais algumas notas que mereceram a nossa atenção, a propósito do problema de autoria de Cardílio & Avita, que constituiu a prova n.º 8. O diálogo informal com o confrade Zé, produziu algumas notas que podem ser interessantes, não só para o problema em causa, que é já passado, mas para o futuro.
A PROPÓSITO DE LECY (conclusão)
2ª Questão
- Musk, em Paris, exibe uma carta de suicídio (dactilografada) assinada por Lecy. Quem a escreveu? Quando a recebeu?
Comentário
Como se pode inferir do texto do problema, há nele dois planos nitidamente diferentes. Num, movem-se as vizinhas, não como elementos menores, mas como vozes da opinião pública. Por isso, o que dizem, para a investigação, tem o valor que tem a opinião pública nesta matéria (outro tema interessante para aprofundar). No outro, situam-se as notas, as quais traduzem os dados oficiais do problema que foi possível apurar e nos são trazidos ao conhecimento pelas palavras do narrador.
Por isso, quando na nota do narrador se afirma que Musk "mostrou uma carta que ela lhe tinha escrito, na qual explicava as razões por que decidira pôr termo à vida.", temos de considerar que estamos perante um dado do problema já certificado. Pelo que, contrariamente ao que o Confrade assume, não podemos dizer se a carta era dactilografada nem se estava assinada, o que podemos concluir é que não há qualquer dúvida de que a carta foi dirigida a Musk, foi escrita por Lecy e explicava por que razões esta tinha decidido por termo à vida, mais nada. (…)
Na nossa perspectiva, este dado sobre a carta em si não incrimina Musk, mas permitiria discutir a possibilidade de haver alguma cumplicidade entre Musk e Tó. (…)
3ª Questão
"Outro exemplar da carta apareceu próximo do corpo."
3ª Resposta
Relativamente a esta carta o texto refere: "(a carteira) tendo no seu interior uma carta de despedida dactilografada". A carta a que se refere o Confrade aparece dentro da carteira da vítima e há indícios suficientemente fortes para sustentar que esta carta não tem que ver com a que Musk exibiu perante a polícia.
Comentário
Do nosso ponto de vista, são nítidas as diferenças entre estas duas cartas. Enquanto que sobre a primeira se diz que era explicativa das razões da decisão de Lecy em pôr termo à vida e não se refere a uma despedida; sobre a encontrada na carteira de Lecy, diz-se apenas que é de despedida, nada se referindo sobre a existência de explicações . Além disso, esta carta é declaradamente uma carta dactilografada e, eventualmente, não assinada, pois a nota do narrador não indica quem foi o seu autor. Por isso, não concordamos que possa ser entendida como mais um exemplar da carta mostrada por Musk (...).
4ª Questão
-Como chegou (a carta) às mãos de quem a lá colocou? O criminoso? Como chegou essa carta às mãos de quem a colocou próximo do corpo?
4ªResposta
Sim, é muito possível e provável que tenha sido o criminoso quem escreveu a carta e a colocou na carteira da vítima.
ComentárioZé
-…Mas ele só contactou com a Lecy na Sexta ao fim da tarde e o Musk já ia em viagem...
-…Isto era fundamental para a minha solução...
Comentário Autor:
Caro Confrade, admito que fosse fundamental para a sua resposta. No entanto, como não conheço o contexto da mesma, não sei se adianta alguma coisa a minha perspectiva sobre o assunto. Contudo, gostaria de adiantar o seguinte. Com base no que referi na questão anterior, tudo indica que se trataria de cartas diferentes, tendo o aparecimento da segunda na cena do crime contornos de elemento de "diversão". Na realidade, entre a morte da personagem e o seu lançamento à água mediaram, pelo menos, 92 horas, tempo mais que suficiente para que o criminoso (usando a sua terminologia) pensasse em formas de se libertar do corpo (o homicídio não parece ter sido premeditado e não é impossível que tenha sido involuntário, aspectos de que o texto parece pedir alguma discussão) ) e de se ilibar das suas responsabilidades no evento, pelo que seria possível que fosse ele próprio a elaborar a carta e colocá-la na mala de Lecy. (Mais problemática é a questão da presença da embalagem vazia de digoxina…).
5ª Questão
Parece-lhe lógico que, indo Tó e Namet todos os dias (ou frequentemente) ao café do Zé Galão lanchar (está no texto), o Namet, estando tantos dias fora, não tenha ido com Tó ao café nem o tenha contactado, na Segunda ou na Terça? (…)
Comentário
Nas questões que coloca, o Confrade Zé refere: "indo Tó e Namet todos os dias (ou frequentemente) ao café do Zé Galão lanchar (está no texto)".
Ora, verificando o texto, aquilo que a nota do narrador nos informa sobre isto é que: " De manhã, antes das aulas, … À tarde vinha o outro par. O Tó, para o petisco, e o Namet, para o chá ou yogourt. Por isso, o que logicamente se pode entender daqui é que nos dias de aulas, à tarde, o referido par ia lanchar (usando a sua terminologia) à pastelaria (e não café) do Zé Galão, ou seja, iam apenas nos dias de aulas e à tarde. Mas, será que isto pode ser entendido como uma afirmação universal verdadeira? Se tivermos em conta que, na 6ª feira, 13 de Março de 2009, um dia em que houve aulas na Escola referida no problema, Namet partiu de manhã para Paris, teremos de concluir que a proposição mais importante com que temos de entrar no raciocínio é que "nos dias de aulas, à tarde, nem sempre Namet e Tó iam lanchar, ao Zé Galão ", ficando, deste modo, demonstrado que nos dias de aulas, à tarde, era possível existirem razões para eles não irem lá lanchar. Por isso, me parece logicamente válido o argumento de que seria lógico que não tivessem ido lanchar na 2ª e 3ª feira ao Zé Galão (…) A nota diz-nos que " … (Namet) No dia 13, de manhã, partiu para um fim-de-semana em Paris, tendo regressado na noite de 2ª feira 16…". Aqui temos uma prova inquestionável de que na 6ª feira era impossível irem ambos de tarde lanchar juntos no Zé Galão, bem como na 2ª feira, pois Namet não estava em TN a horas que lhe permitissem fazê-lo.
(…) De qualquer maneira, no quadro descrito, seria possível que Namet e Tó tivessem lanchado, na tarde dessa 3ª feira, como habitualmente, no Zé Galão, antes ou depois de aquele ir à polícia, ou até mesmo nos dias seguintes que mediaram até Lecy ter sido encontrada sem vida no rio, mas não se encontram indícios nas notas do narrador que possam fundamentar a hipótese de tal ter acontecido. (...) Tendo em conta que Namet regressava na 2ª feira à noite a TN de uma viagem a Paris e era doente do coração (Não podia usar telemóvel por causa do coração… digoxina… são frases que mereceriam alguma atenção), seria possível que o cansaço se sobrepusesse ao desconforto que encontrou em casa e à eventual preocupação de não ter aí encontrado Lecy, levando a que se tivesse fechado no quarto a dormir até ao outro dia. Sabe-se lá! São tão diversificados os padrões de relacionamento dentro dos casais (…).
Coluna do “C”
CLASSIFICAÇÕES E FUTURO
O nosso blogue CRIME PÚBLICO, que pode ser acedido, em http://blogs.publico.pt/policiario, prossegue a divulgação dos resultados que vão sendo obtidos pelos nossos “detectives”. Ali podem ser encontrados, a partir de amanhã, os resultados da prova n.º 9 do Campeonato Nacional, que contou com os problemas “A Morte do Veterano”, de autoria de Rip Kirby e “Que Grande Lata”, de Lateiro, cujas soluções foram já publicadas.
Prossegue, igualmente, a discussão e recolha de opiniões sobre o que cada confrade pretende e alvitra para a nova época competitiva. O que esperam os nossos confrades da nova época? Devemos mudar? Em quê e como?
Também o CLUBE DE DETECTIVES, o sítio do confrade Daniel Falcão, continua a divulgação daquilo que os “detectives” portugueses vão fazendo em prol do nosso passatempo, a par de publicar os resultados integrais de todas as nossas provas, bem todos os desafios e respectivas soluções, não apenas desta época, mas das anteriores. Muito do nosso Mundo está em http://danielfalcao.net.
1 comentário:
Caro Luis
Parafraseando alguns treinadores de futebol, em equipa que ganha não se mexe.
Ora desde que o actual sistema de competição foi colocado em acção o número de concorrentes tem aumentado consideravelmente de ano para ano. Muito mais rapidamente do que antes.
Ora sendo assim penso que as competições deverão continuar como têm vindo a ser disputadas nos últimos 5 ou 6 anos isto, não obstante algumas alterações de pormenor que eu propus, mas nas quais não ponho grande empenho.
Falar em saturação devido à forma como as competições são disputadas acho uma certa falta de nexo. Se as pessoas estivessem saturadas de resolver problemas policiários ainda se compreenderia, mas nesse caso os possíveis saturados têm a solução nas mãos e nem é preciso referi-la.
Uma vez propus a divisão do Campeonato Nacional em várias categorias dividindo os concorrentes de acordo com a sua classificação no ano anterior. Este sistema daria o tal incentivo de que alguns concorrentes sentem falta. A possibilidade de ser campeão em uma dada categoria já seria um bom incentivo bem como a hipótese de alguns outros concorrentes ascenderem à categoria imediatamente superior. Os concorrentes que concorressem pela primeira vez seriam integrados na categoria mais baixa.
Em mensagem particular poderei expor este assunto mais pormenorizadamente. Claro que os concorrentes deverão apresentar a sua opinião o mais rápido possível sobre este assunto para não estarmos a perder tempo e depois o método não merecer a aprovação dos concorrentes que eventualmente viessem a passar para uma categoria inferior.
Os concorrentes de todas as categorias poderiam participar na Taça de Portugal que seria disputada nos mesmos moldes dos actuais.
A idéia na altura foi rejeitada pelo LP por achar que poderia acontecer que o primeiro classificado da segunda categoria, por exemplo, ter mais pontos do que o campeão nacional que seria encontrado na primeira categoria o que não teria lógica. Na minha opinião a lógica é a mesma do que acontece no futebol. Por outro lado, este método teria certamente muito mais aceitação do que a disparatada proposta de eliminar uma determinada percentagem de concorrentes em cada prova o que seria desmotivador para os concorrentes que fossem eliminados logo nas primeiras provas.
Um abraço do
Rip Kirby
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