domingo, 12 de junho de 2011

POLICIÁRIO 1038

Passadas as emoções do VII Convívio da Tertúlia Policiária da Liberdade, que decorreu no passado domingo em Lisboa, no Museu do Azulejo, da forma que tradicionalmente ocorre, ou seja, com muita animação, camaradagem e amizade, como nos conta a TPL.

Entretanto, é chegado o momento de concluirmos a publicação das provas deste mês de Junho, com um desafio de autoria do confrade que foi, na época passada, o produtor mais votado na vertente de resposta múltipla: Paulo, de Viseu.

Com tal cartão de visita, sendo o Paulo sempre associado a produções de elevada qualidade e interesse, deixamos a recomendação para que todos os “detectives” tomem as devidas precauções, ou as surpresas poderão ser desagradáveis, aquando do visionamento das classificações!



CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL

PROVA N.º 6 – PARTE II

O DOURO TEM MUITAS PONTES – Original de PAULO



O Ferreira tomou conta de mim desde garoto. Educou-me, fez-me advogado e transformou-me no seu braço direito. Eu resolvia-lhe os problemas legais, mantendo-me sempre longe, oficialmente, dos negócios. Tabaco, álcool, heroína, haxixe, nunca lhes pus os olhos. Sabia tudo, mas o Ferreira agiu sempre de modo que ninguém pudesse dizê-lo.

O Ferreira tinha inimigos de morte. A casa que construiu nas inclinadas margens do Douro, longe da confusão urbana, pretendia defendê-lo desses riscos. A localização impedia qualquer acesso ao seu quarto pela janela que exibia a vista do Douro sinuoso. Dentro de casa, uma câmara, desde que ele se deitava, filmava a entrada do quarto. Ao fundo do corredor os homens revezavam-se de noite em vigilância.

Ele sabia que o Baltasar o mataria se pudesse. Tirara-lhe o negócio de protecção a norte do Douro. Ele não lhe perdoava. Homens tinham morrido, nessa guerra quase invisível.

Naquela noite o Fabrício ia fazer um serviço: eliminar um homem do Baltasar. Por isso fiz o primeiro turno de vigilância. Normalmente nunca faria esse trabalho, mas o Xavier tinha sido ferido no dia anterior e repousava. Eu, quando o Ferreira se retirou, por volta das 9 horas, acompanhei-o ao quarto. Vi-o tomar os medicamentos para dormir e ligar a câmara. Depois levou-me à porta. A inacessível janela do quarto ficara fechada e eu sabia que o Ferreira nunca a abria de noite. Saí, ouvi-o rodar a chave e retirá-la. Colocava-a em cima da mesa-de-cabeceira. Todos tínhamos uma chave para abrir a porta de manhã.

Conferi que a porta estava fechada.

Sentei-me no sofá ao fundo do corredor, a cerca de 5 metros da porta. À meia-noite, seria substituído pelo Miguel.

Ele chegou à hora certa. Fui deitar-me.

Acordei com o Jacinto a bater à porta, dizendo que o Ferreira morrera. Pensei em morte natural, mas logo percebi algo estranho.

O Fabrício estava dentro do quarto. Na cama via-se o Ferreira com uma marca bem visível no pescoço, feita por um fio, que lhe causara a morte. Fora estrangulado.

A primeira reacção foi espreitar os locais de esconderijo. Dentro do armário e debaixo da cama. Ninguém. A janela fechada. A segunda foi uma jura. O assassino do Ferreira seria morto. A minha primeira morte.

O Fabrício estava a chegar pouco depois das oito, quando se cruzou com Jacinto. Dissera-lhe que o Ferreira estava morto. Fora com ele ao quarto e vira aquele espectáculo. Disse que o Jacinto depois me fora chamar, deixando-o sozinho. Chegara só às oito porque o trabalho se complicara. Não conseguira surpreender o homem do Baltasar e acabara por fugir para ficar vivo.

Entretanto tinham chegado ao quarto o Miguel e o Xavier. O Xavier, de braço ao peito, com cara de estar com dores provocadas pela bala de calibre 45 que lhe ferira o antebraço. Dormira a noite toda. Tomara um medicamento para esse efeito e um analgésico. Acordara com o Jacinto a bater à porta do quarto.

O Jacinto disse que entrara na vigilância às 4, por troca com o Miguel. Verificara, à chegada, que a porta estava fechada e sentara-se até às 8. A essa hora, como de costume fora ver se o Ferreira estava acordado. Abrira a porta e como o Ferreira não se mexia, aproximou-se e viu que havia algo errado por causa da marca no pescoço e da roupa um pouco revolta. Saiu do quarto e viu o Fabrício passar ao fundo corredor. Chamou-o e foi depois ter comigo e com os outros dois.

O Miguel disse que verificara a porta à meia-noite. Continuava fechada à chave. Desde que me substituíra ficara ao fundo do corredor. Perto das 4 horas houvera uma falha de corrente eléctrica e ele ouvira o disjuntor do quadro eléctrico, no piso inferior, disparar. Descera às escuras, não demorara mais de um minuto, e quando voltou viu surgir o Miguel, vindo de cima, do seu quarto, pelas escadas ao fundo do corredor, junto à porta do quarto. Viu-o verificar que a porta estava fechada e depois deixara-o sentado no sofá.

Vi a gravação. Nada de novo. Às 3 e 58 um corte de 48 segundos deixara a câmara sem imagens. A falha só afectara a iluminação, mas, no escuro não havia imagens. Depois via-se o Jacinto vir das escadas, a verificar a porta, e, perto das oito, novamente o Jacinto a aproximar-se, colocar a mão na maçaneta, a rodá-la, a entrar e alguns segundos depois sair. Os movimentos seguintes coincidiam com o relatado.

Desde as sete horas do dia anterior e até que o Jacinto me chamara, eu apenas vira o Miguel. Mas isso não importava. Eu já sabia quem fora.

Após o funeral agi. Que fiz? É melhor não se saber. Ele confessou. O fio de cobre revestido, descarnado nas pontas ligeiramente escurecidas, queimadas, que servira de arma, foi encontrado no local que ele indicou.

O assassino, ainda vivo, amordaçado, de mãos atadas com o fio mortal, os pés metidos num bloco de cimento, foi largado de madrugada de uma ponte do Douro.

Qual? O Douro tem muitas pontes.

Quem foi o assassino do Ferreira?

Escolha a opção correcta.

A – Fabrício

B - Xavier

C- Jacinto

D- Miguel



RELATO DO QUE FOI O VII CONVIVIO DA TPL



O Restaurante do Museu do Azulejo foi pequeno para meter os 25 valentes policiaristas que apareceram para mais uma confraternização anual.

O policial também pode ser uma forma inteligente de encontro de concorrentes que disputam os lugares do pódio mas que respeitam os seus confrades.

Fizemos os nossos melhores esforços para que mais gente pudesse usufruir uma tarde de banho de cultura. Proporcionamos uma visita guiada às pinturas em pequenos quadrados de cerâmica que tanto impacto teve na nossa cultura. Um museu que não se encontra noutros mundos.

Alguns dos nossos confrades vieram de longe. Álvaro Trigo veio do Canadá e o Rip Kirby telefonou-nos do Brasil, marcando a sua presença em espírito. Alguns vieram do Norte de comboio, de Santarém e até de Braga. Do Alentejo profundo veio um amigo: Custódio Matarratos. Tudo pessoal que considera a actividade policiária uma coisa importante e não um mero passatempo. Até a Paula Marques marcou presença, apesar da sua área ser mais a de contista. O Policiário obriga a utilizar os neurónios. Obriga a um interesse de conhecimento. A consulta e estudo.

Pena foi não termos contado com mais gente. Mais um mistério que o policiário um dia irá desvendar, esperamos.

No nosso almoço teve lugar - como pequeno aperitivo – um problema policial (magnífico trabalho da nossa “confreira” Jeremias) e após o mesmo houve lugar às homenagens aos confrades Jartur e Boavida, premiados, pelo seu trabalho em prol do policiário.

A Tertúlia da Liberdade esforça-se sempre para proporcionar ambientes diferentes e que estejam de algum modo ligados à cultura. Nunca as mãos nos doam. TPL.


COLUNA DO “C”
Com a publicação do problema do confrade Paulo, completamos a prova n.º 6, chegando o momento dos nossos “detectives” se debruçarem sobre as soluções a dar-lhe.

Depois, é o momento de enviarem as propostas de solução, impreterivelmente até ao dia 30 de Junho, para o que poderão usar um dos seguintes meios:

- Pelos Correios para PÚBLICO-Policiário, Rua Viriato, 13, 1069-315 LISBOA;

- Por e-mail para policiario@publico.pt;

- Por entrega em mão na redacção do PÚBLICO de Lisboa;

- Por entrega em mão ao orientador da secção, onde quer que o encontrem.

Boas deduções!

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