domingo, 11 de dezembro de 2011

POLICIÁRIO 1064


M. CONSTANTINO, O MESTRE DA PRODUÇÃO


«O homem encontra no enigmático algo que lhe excita o espírito e lhe motiva a curiosidade.
Posto perante um mistério, todas as faculdades se lhe alertam e, atentas, se debruçam em torno do problema.
Sente prazer íntimo em seguir passo a passo todas as pistas até alcançar o objectivo.
Satisfaz-se ao conseguir rodear as dificuldades, tanto como vencer obstáculos que se apresentam intransponíveis.
E quanto mais a precisão dos factos não se permite que se vislumbre sombra de uma estrada, maior é o apego e o desenvolvimento do cérebro, maior é a satisfação da vitória.
Segundo Bergson, um problema que inspira atenção é uma representação duplicada de uma emoção, sendo ao mesmo tempo a curiosidade, o desejo e a alegria antecipada de o resolver. É o desafio posto que impele a inteligência diante das interrogações, vivifica, ou antes vitaliza os elementos intelectuais com os quais fará corpo até à solução.
A própria vida cifra-se em constante mistério, um enigma constante que a humanidade procura solucionar o melhor e mais rapidamente possível. O obscuro nunca nos desampara, desafia-nos.
De prazer espiritual que se sente em desvendar incógnitas, desvanecimento de sobressair, simples divertimento, tudo conduz a que os homens do povo na sua singeleza através de simples adivinhas que andam de boca em boca, os letrados com bem urdidos trabalhos, os sábios na esfera da humanidade, acorram ao seu cultivo e decifração.»

M. Constantino, “Manual da Enigmística Policiária”,
Edição da Associação Policiária Portuguesa, 1995


Não são necessárias muitas palavras para definir M Constantino, aquele que é, unanimemente considerado o melhor produtor de enigmas policiários.
Conhecemo-lo há longos anos em diversas facetas da sua vida policiária, não só como produtor excelente, mas igualmente como ensaísta e estudioso destes assuntos, com trabalhos importantes, felizmente muitos publicados graças à Associação Policiária Portuguesa (APP).
Numa altura em que o mestre anuncia a sua retirada – fortemente contestada pela esmagadora maioria dos “detectives”, desejosos de continuarem a tentar decifrar os seus enigmas – ouçamos o que dele dizem dois confrades absolutamente insuspeitos, tal a frontalidade com que sempre exercem os seus direitos à opinião:




CONSTANTINO – UM GRANDE NOME DO POLICIÁRIO PORTUGUÊS


M. Constantino (principal nome literário de Manuel Botas Constantino, já que também escreveu sob os pseudónimos de “Mário Campino” e “Zé da Vila”) é, incontestavelmente, um dos maiores nomes de sempre do Policiário português, nomeadamente no campo da produção.
Nascido em Almeirim em 21.04.25, terra onde ainda vive e ama devotadamente, passou pelo Ensino Secundário e Universitário, até se formar em Economia e Finanças, no I.S.E.F., entrando, profissionalmente, no Ministério das Finanças, onde desempenhou os cargos – não correspondendo a ordem às funções – de Jurista, Perito Gestor Tributário, Chefe de Repartições de Finanças, Professor de Direito Fiscal, Delegado do Ministério Público junto do Supremo Tribunal, Agente do Ministério Público de 1ª Instância, etc. . 
Desempenhou, entre outros, os cargos de Vereador da Câmara Municipal de Almeirim e de Deputado Municipal, Presidente da Assembleia dos Bombeiros Voluntários, Director do CRIAL (Centro de Reabilitação Infantil de Almeirim) e Director do jornal “O Almeirinense”.
No Policiário iniciou-se em 1945, como solucionista e produtor, tendo pouco depois criado e dirigido Secções nas revistas “Altura”, “Palavras Cruzadas”, “Auditorium”, “Charadista” “Matuto” e “Tempos Livres”, e nos jornais “O Enigmista” e “O Almeirinense”.
Colaborou também activamente nas revistas especializadas “Selecções Mistério” – da qual foi um dos Coordenadores de edição – “XYZ Magazine” e “Célula Cinzenta”, esta editada pela Associação Policiária Portuguesa. Nesta, da qual foi um dos fundadores, integrou os Órgãos Directivos, ocupando, em diversos mandatos, os Cargos de Presidente da Assembleia-Geral, Presidente da Direcção e Presidente do Conselho Fiscal.
Excepcional produtor de problemas policiais, assinou, ao longo dos anos, muitos dos melhores destes enigmas entre nós publicados (30 dos quais se encontram compilados em livro), tendo-se, nesta modalidade, sagrado Campeão Nacional, para além de conquistado muitos outros certames. 
Sempre sob os temas policiais e de mistério, a sua paixão de sempre, escreveu, ao longo de mais de 60 anos de intensa actividade – que felizmente ainda mantém – milhares de páginas de ensaios, manuais, biografias, crónicas, contos, etc. Destaquemos a “História da Narrativa Policiária”, a “Antologia Portuguesa de Contos Policiais” (ambas em 2 volumes), o “Grande Livro da Problemística Policiária”, o “Manual da Enigmística Policiária”, “Antologia dos 150 Anos da Literatura Policial (1841 a 1991), “Os Elementos Fundamentais na Narrativa Policiária Clássica”, etc. etc. Lastimavelmente, grande parte das suas obras de maior fôlego nunca conheceram divulgação publica, já que são demasiadas extensas para poderem serem publicadas nas (hoje poucas) Secções Policiais existentes, e por não haver entre nós (pensam os Editores) um publico interessado nestes temas suficientemente numeroso para justificar comercialmente a sua edição em livro....E assim se perde, ingloriamente, uma vasta obra.
Eis, necessariamente de forma muita resumida, o perfil biográfico de M. Constantino – um grande nome do policiário português.

 Domingos Cabral (Inspector Aranha)



O AVÔ PALATÓ – UM HERÓI DE CONSTANTINO


Avô Palaló é, para mim, a personagem mais modelada da problemística policiária portuguesa. A sua grande riqueza psicológica é indissociável do facto de ter sido, assumidamente, inspirada no próprio avô materno do seu autor.
Cada situação que o Avô Palaló é chamado a resolver é a essência de uma novela que Constantino gostaria de ter escrito, sempre, mas que nunca teve espaço para publicar, nas secções policiárias em que colaborou. São momentos de vida, onde tomamos conhecimento com uma vasta galeria de personagens realmente ligadas ao autor (pais, familiares, amigos e empregados do avô) colocadas no autêntico espaço físico do Ribatejo de há quase 80 anos. Por isso, aí encontramos as grandes cheias do Tejo, as lezírias, os touros, os campinos, os trabalhos agrícolas das terras do seu avô – os rituais da vida rural da infância do menino Manuel! Infância que foi, notoriamente, muito moldada pela figura tutelar e patriarcal do avô, que o ajudou a criar, a formar e até lhe salvou a vida.

Para homenagear esse avô, M. Constantino criou esta personagem de investigador, que resolve todos os casos do dia -a – dia com uma técnica que podemos definir como intuitiva /dedutiva. Partindo de uma aguda intuição para observar e entender, rapidamente, o que o rodeia, Palaló vai construindo a solução do problema de uma maneira natural – revestindo o esqueleto da intuição com os pormenores da dedução.

Da brilhante obra de Mestre Constantino, os problemas de Palaló são, claramente, os meus preferidos, até pelo valor literário (e etnográfico) das suas descrições.

Gustavo Barosa (Zé)






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