No dia em que decorre o VIII convívio policiário, promovido pela
Tertúlia Policiária da Liberdade, mais uma vez na Quinta do Rio, na Estrada
Nacional 397, entre Brejos de Azeitão e Sesimbra, no qual se vão encontrar
inúmeros amigos da família policiária e com um programa aliciante, de que demos
já a devida nota ao longo das últimas semanas, vamos publicar a solução oficial
do problema de autoria do campeão nacional de produção em título, o confrade
viseense Paulo, para que cada “detective” possa verificar se a sua proposta de
solução está de acordo com a solução do autor.
CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL
SOLUÇÃO DA PROVA N.º 3 – PARTE I
A MORTE DO GENERAL – de PAULO
Existem indícios que apontam Caio como assassino do tio.
·
Discordância
entre o local onde foi encontrado o projétil e a trajetória de um disparo feito
da janela
·
Características
do orifício de entrada do projétil incompatíveis com um disparo à distância
·
Discordância
entre a declaração de Caio sobre a perseguição feita ao fugitivo e a trajetória
que as pegadas demonstram que ele efetuou.
·
Caraterísticas
das pegadas do desconhecido que indiciam que ele caminhava. Apenas as pegadas
identificadas de Caio indiciam corrida.
·
Falta de
tempo do fugitivo para esconder a arma.
a)
A
morte imediata faria com que o corpo caísse no local onde foi atingido. Sendo o
tiro disparado da janela, na direção da porta, uma vez que o corpo está nesse
eixo, nunca a bala poderia estar entre o corpo e a janela, à frente da
secretária, mas junto da porta, à frente do sofá.
b)
Os
tapetes fofos que cobriam todo o chão não permitiriam o rebolar do projétil,
que mesmo assim com a energia cinética que possuía deveria rolar sempre para o
lado da porta.
c)
Temos
um projétil num local incompatível com um disparo feito do exterior pela
janela.
d)
O
ferimento de entrada, ferida em estrela e queimadura, indica um disparo feito
com a arma junto da cabeça.
e)
Conclui-se
que o tiro foi disparado dentro de casa, e nunca no sentido da janela para a
porta.
f)
A
partir dos dados anteriores e do facto de as pegadas mostrarem que ninguém
saltou para o exterior pela janela, a história de Caio fica sem consistência.
g)
Não
terá havido então nenhum atirador fugitivo.
h)
A
trajetória das pegadas não confirma Caio. O mais natural seria que ele corresse,
em linha reta, em direção ao homem que fugia, e não que descrevesse uma
trajetória que passava primeiro pela janela. Ele próprio afirma que foi atrás
do fugitivo. A perseguição seria feita pela hipotenusa e não pelos catetos.
i)
As
pegadas de Caio indiciam corrida, pela evidência do tacão sobressaindo. Nas
pegadas do presumível fugitivo, o pé completo indica marcha normal sem corrida,
contradizendo a descrição de Caio. O fugitivo não chegou nem partiu a correr.
j)
Mais
estranho foi o aparecimento da arma num buraco da parede. Como é que alguém
perseguido esconde a arma e ainda coloca uma pedra a ocultar o buraco, com Caio
a correr e a chegar junto ao muro? Não faz sentido, pois não teria tempo para o
fazer.
k)
Vemos
uma história falsa que parece querer incriminar o Luís, como prova o uso da
arma com as impressões digitais largada num local em que evidentemente seria
descoberta.
l)
As
impressões digitais de Luís na arma são justificadas por frequentemente andar
com ela.
m)
A
inexistência de impressões digitais de Caio na arma indica, apenas que ele usou
luvas.
n)
Caio
planeou o crime para a hora que sabia estar sozinho em casa: Eva na missa, Luís
de folga e Cid no seu passeio habitual. Depois Cid, que ouvia mal, estaria como
sempre a ouvir o seu programa na rádio.
o)
Comos se passou o caso? Poderá haver formas
distintas de constituir uma cronologia dos factos, mas a mais óbvia e que terá
que servir de base a possíveis variações, aponta para que Caio sabendo que iria
estar sozinho em casa tenha assassinado o tio, depois do irmão e Eva saírem.
Encostou-lhe a arma à cabeça, virado para a janela, e disparou caindo o tio
junto do sofá. Pegou na cápsula e colocou-a fora da janela. Saiu com a arma,
que sabia ter as impressões de Luís, calçou umas botas antigas ou que arranjara
em algum lugar, levou as suas na mão, contornou a propriedade, colocou a arma
no buraco do muro, saltou sobre ele, dirigiu-se à janela e voltou para trás.
Colocou as luvas e as botas usadas no pinhal, calçou as suas novamente e
regressou a casa. Esperou que o irmão estivesse em casa a ouvir o programa
radiofónico, fez o trajeto da zona lateral da casa até à janela, da janela ao
muro e novamente de regresso à janela em passo de corrida, saltou pela janela e
foi alertar o irmão que ele sabia não poder afirmar que não houvera disparo,
dado os problemas auditivos. Pensava ter cometido um crime perfeito, mas
inventou uma história cheia de buracos.
p)
O
móbil terá sido a herança, mas os motivos políticos não seriam de espantar
vindos de um germanófilo em plena ascensão bélica de Hitler, perante o apoio do
avô à posição inglesa.
q)
Finalmente
uma observação para as fontes técnicas que utilizei. Os artigos de Artur
Varatojo no ABC Policial e os textos que o L.P. escreveu no XYZ Magazine.