O MISTÉRIO DA CARTA DE ÁLVARO
À medida que a competição evolui, os desafios têm a tendência de se
tornarem um pouco mais complexos, mesmo que a sua dificuldade não seja extrema.
O problema que hoje publicamos é de autoria de um dos nossos melhores
produtores, que já conquistou o título de campeão nacional de produção, razão
mais do que suficiente para que as cautelas sejam redobradas.
Trata-se de um problema essencialmente de pesquisa e cultura geral, um
género que costuma ser do agrado generalizado, apesar de trabalhoso.
CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE
PORTUGAL - 2013
PROVA N.º 5 – PARTE I
A ODISSEIA DE ÁLVARO DOMINGUES –
Original de PAULO
Algumas gotas de chuva caíram da
gabardina do Eugénio enquanto ele me apertava a mão fortemente.
– Que tempo! Chega uma pessoa de
Paris e depara-se-lhe uma borrasca destas. No dia de hoje, apenas vejo uma
vantagem nesta chuva. Evita que ande mais gente na rua, com aquela estúpida
tradição carnavalesca de atirar com ovos podres, ou fazendo qualquer outra
brincadeira desajustada.
– Entra, entra! Temos muito que
conversar. Quatro anos sem nos vermos, é muito tempo. Quando me telefonaste a
dizer que cá estavas nem acreditei. Estou sozinho em casa. A Luísa foi com os
miúdos passar três dias a casa dos meus sogros.
Eugénio entrou, deixando-me na mão a
gabardina, que eu pendurei num bengaleiro.
Não tardou muito que a conversa se
encaminhasse para os assuntos proibidos: a ida do Eugénio para França na
tentativa de evitar males maiores, que poderiam ir até à sua prisão; a
despedida na Estação de Santa Apolónia, quatro anos antes; a esperança que tudo
acalmasse, que ninguém falasse demais, permitindo o esquecimento dos factos, o
que na verdade acontecera, e um regresso rápido; a expectativa de fazer o
doutoramento que lhe fora vedado na sua pátria; e a esperança que os ventos
mudassem de vez o rumo, levando a mordaça que a todos calava.
– Deixemo-nos de assuntos tristes e
falemos da tua vida em Paris. Há dois anos as coisas estiveram beras por lá.
– Bem o podes dizer. A polícia a dar
pancada e as manifestações a crescerem. Foi uma loucura. Começou com os
estudantes, mas depois alargou-se a outras áreas da sociedade. Foi um mês de
Maio completamente louco.
Instintivamente baixei a voz para
dizer.
– Cá também tem havido problemas. Em
Abril do ano passado houve uma bronca em Coimbra. Numa sessão com o Ministro da
Educação e o Presidente da Republica, um estudante pediu para usar a palavra.
Nem queiras saber no que aquilo deu.
A conversa continuou em redor de
assuntos políticos até que:
– Já chega de assuntos sérios e
diz-me o que te fez vir até minha casa. Ainda não digeri o que me contaste pelo
telefone.
Eugénio meteu a mão no bolso do
casaco e desdobrou a folha que de lá retirou.
– Como já te tinha dito, o meu
regresso tem a ver com a morte do meu tio Firmino. Eu e os meus irmãos somos os
herdeiros e na distribuição da herança estão a aparecer problemas. Não sei se
te lembras de quem era o meu tio Firmino? Era aquele que parecia não bater bem
da cabeça, afogado em papéis velhos que ele chamava documentos. Claro que lá
tem algumas coisas valiosas, mas outras, são autêntico lixo. É de um desses
papéis que eu te venho falar. Os meus irmãos dizem que é o mais valioso mas eu
penso que é uma burla.
É uma carta escrita por um Álvaro
Domingues, datada de há 100 anos, que narra uma travessia de África, desde
Angola a Moçambique. A ser verdade tal facto, alguma História teria de ser
reescrita. Eles não me deixaram trazer o documento, mas eu transcrevi algumas
partes que queria que lesses. Claro que modifiquei a grafia da época para a
actual.
Entregou-me a folha que tinha na mão
enquanto acrescentava.
– O papel de onde copiei o que aí
está escrito aparentemente é muito antigo, amarelado, com a tinta a ficar com
uma tonalidade acastanhada. Por análise visual simples nada nos faz detetar uma
falsificação.
Peguei no papel que ele me estendeu,
alisei melhor a folha, e vi algumas linhas entre as aspas.
"...agora que estou nesta costa do oceano Indico, esperando pelo barco que
me levará de volta a casa dez anos após ter partido, posso finalmente erguer os
olhos para o alto e agradecer à Virgem a graça de ter intercedido por mim junto
do Seu filho..."
"...tantos meses, na solidão, orientado apenas pelas estrelas, e por
Ela"
"... Quando todos os carregadores me abandonaram, deixando-me apenas
a roupa que vestia, uma arma de fogo, uma faca e um pequeno caderno no bolso,
foi a Senhora de Fátima que me valeu e me guiou, afastando de mim as feras e os
selvagens que me poderiam atacar"
"...para escrever utilizei sucos de plantas e..."
"...sempre a clareza de ideias que me permitiu ir registando o que
via, depois do boicote que sofri na minha expedição"
"...comendo o que a mãe natureza me oferecia e pequenos animais que
eu apanhava com as mãos ou a faca..."
"...de noite ouvindo as feras, rezando e olhando o céu
estrelado"
"Encontrei o caminho para o Oriente, chegando a este porto do
Indico"
"…o privilégio de observar os sete planetas, que vogavam na abóboda
azul que me cobria, e de fazer o desenho das constelações..."
"...dar a conhecer aos homens da ciência a posição dos planetas nas
diferentes constelações do hemisfério do Sul"
"...esperar uma recompensa de Sua Majestade, pelo engrandecimento
que o meu feito faz da nossa amada Pátria."
– Não preciso de ler mais. É evidentemente
uma falsificação.
– Também o penso. – referiu o Eugénio
– Vou dizer-te o que me levou a formar opinião sobre a falsidade do documento.
Sem dúvida que o leitor já se
apercebeu que se está perante um documento falso.
Explique as razões.
E pronto.
Resta aos nossos “detectives” elaborarem os seus relatórios, referindo
TODAS as incongruências detectadas e enviá-los, impreterivelmente até ao
próximo dia 30de Junho, usando um dos seguintes meios:
-Pelos Correios para Luís Pessoa,
Estrada Militar, 23, 2125-109 MARINHAIS;
-Por e-mail para um dos endereços: lumagopessoa@gmail.com;
pessoa_luis@hotmail.com
ou luispessoa@sapo.pt.
- Por entrega em mão ao orientador da
secção, onde quer que o encontrem.
Boas deduções!
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