INVESTIGAÇÃO DE UM CRIME EM FAMÍLIA
Entrámos no 22.º ano de publicação!
No passado dia 1 de Julho completámos 21 anos de
existência nas páginas do PÚBLICO, um feito inédito na já longa história do
Policiário em Portugal, motivo mais que suficiente para que saudemos todos os
nossos leitores e “detectives”, razão única para tamanha longevidade.
Entramos, igualmente, na segunda metade das nossas
competições deste ano, com um desafio de um confrade que nos acompanha desde a
primeira hora e que sempre esteve no topo das classificações, anteriormente com
o nome de NOVE e mais recentemente como VERBATIM:
CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL
PROVA N.º 6 – PARTE I
OUVINDO O FLECHA DE PRATA PASSAR… - Original de
VERBATIM
Este é um caso antigo que, por razões familiares,
tive de analisar. Sigo as notas do meu tio-avô, José Gaio, mas modifico alguns
nomes para evitar melindres.
Ele era ao tempo regedor da freguesia de Outeiro do
Bailador, situada perto da linha de caminho-de-ferro do Norte, entre Pombal e
Entroncamento. Ali, o traçado da via dupla, segundo a direcção Norte-Sul,
permitia ao comboio rápido Flecha de Prata atingir uma muito gabada velocidade
de 100 km/h.
Alguns minutos depois do sol-posto de um desanuviado
dia de Junho de 1945, foi encontrado morto, na sua loja de comércio, o Sr.
António Rijo. A mulher fora à procura dele, seguindo pelo quintal e entrando
pelas arrecadações. Estranhando as luzes apagadas e já de coração apertado,
acendeu um candeeiro de petróleo cuja localização conhecia. Deu com o marido
caído atrás do balcão, inanimado e com sangue junto da orelha direita. Saiu a
gritar, dizendo que lhe tinham morto o marido com uma pancada na cabeça. Uma
criada, que a seguira, já nem chegou a entrar na zona do balcão. O meu tio-avô,
avisado de imediato, verificou a morte, concluiu que ninguém mais se aproximara
do cadáver até à sua chegada e impediu o acesso à loja de quem não fosse agente
da autoridade. Mas não pôde obstar à rápida difusão da notícia da morte do Rijo
com uma pancada na cabeça.
A vítima apresentava um ferimento na têmpora
direita, característico de projéctil disparado entre um e meio metro de
distância. Ao lado do corpo estava um revólver, propriedade do lojista, com
sinais de uso recente, no qual faltava uma bala e onde não se detectaram
impressões digitais diferentes das do dono. António Rijo tinha calçadas umas
luvas de couro, fortes, que costumava usar para manusear materiais grosseiros
ou cortantes. As portadas das duas janelas altas de iluminação estavam abertas
e a porta da rua encontrava-se destrancada. Não havia sinais de roubo.
A venda situava-se a leste da linha, em frente do
apeadeiro, muito próxima da passagem de nível onde a estrada de macadame
atravessava a via-férrea.
Não se conheciam inimigos de António Rijo. Alguns
apodavam-no de candongueiro, talvez por despeito, porque ele não aceitava manobras
com as senhas de racionamento. Muito invejada era a sua viçosa fazenda à beira
da Ribeira da Laje.
Naquela noite, foi possível detectar as quatro
últimas pessoas que terão contactado com a vítima, as quais foram formalmente
ouvidas no dia seguinte.
Aníbal Ruivo, que morava a dois minutos da loja, por
um único e mau caminho, disse: “Estava no quintal e tinha começado a reparar a
rede do galinheiro, quando ouvi o apito agudo do Flecha de Prata para Lisboa.
Era esse, porque o outro, para o Porto, tinha passado um bocado antes. Foi
então que me lembrei que tinha de ir buscar sulfato. Saí a correr. Sabia que o
Rijo costumava ficar na loja, embora com a porta fechada. E, se não estivesse
lá, estaria em casa. Comprei o sulfato e não dei por nada de anormal. Não sei
quem o poderia querer matar.”
Zeferino Carreira prestou declarações em sua casa,
no Casal da Ferradura, um quilómetro a norte da loja. No momento ouviu-se o
apito arrastado do Flecha da manhã para Lisboa. (Conquanto os comboios rápidos
nem sempre fossem pontuais, funcionavam no Outeiro do Bailador como relógio,
dado apitarem sempre que se aproximavam da passagem de nível. No dia anterior,
o segundo e último Flecha para Lisboa passara às 21h15, quase à tabela).
Carreira contou o seguinte: “Fui à venda do Rijo já depois da porta fechada,
porque me demorei na Espinheira a tratar de assuntos relacionados com uma
possível electrificação da freguesia. Levei a carroça até à loja para poder
trazer arame farpado e mais algumas coisas para a patroa. Cheguei a casa pouco
depois das oito da tarde.”
Brás Laranjeira, advogado e proprietário rural,
declarou: “Não fixei a hora a que estive na venda, mas lembro-me que ainda era
de dia. Procurei o António Rijo para falar da divisão da água da Ribeira da
Laje. Nada de especial. Ele, no fim da conversa, até aproveitou para arrumar um
resto de arame farpado. Espero que não julguem que seja minha a arma com que o
Rijo se suicidou. Tenho um revólver parecido, mas muito bem guardado e sem uso
há uns bons meses.”
Maria Perpétua do Souto, sexagenária, disse: “Fui de
propósito ter com o Tóino Rijo para lhe pagar onze mil reis. Deviam ser umas
oito horas. Ele tinha a porta entreaberta. Mas eu era lá capaz de lhe dar uma
sacholada na cabeça! Credo!”
Haverá incongruências nas declarações, ou entre
elas, que nos levem a suspeitar de alguém? O que terá acontecido? Explique tudo
e diga de sua justiça, caro leitor.
E pronto.
Depois das leituras tidas como necessárias e com o
rigor exigível nesta fase da competição, ficamos a aguardar as conclusões dos
nossos “detectives”, impreterivelmente até ao próximo dia 20 de Agosto (um
prazo mais alargado devido à época de férias), podendo usar um dos seguintes
meios:
-Pelos
Correios para Luís Pessoa, Estrada Militar, 23, 2125-109 MARINHAIS;
-Por
e-mail para um dos endereços: lumagopessoa@gmail.com; pessoa_luis@hotmail.com
ou luispessoa@sapo.pt.
-
Por entrega em mão ao orientador da secção, onde quer que o encontrem.
Boas
deduções!
Sem comentários:
Enviar um comentário