UMA QUESTÃO DE OSSOS, ENCERRA A
COMPETIÇÃO!
Entramos na derradeira prova de
2013, que será a última oportunidade para decidir o que houver por decidir!
Hoje é a vez do problema tradicional, de autoria do confrade Júlio Penatra, a
que se seguirá, na próxima semana, o último desta época, de escolha múltipla:
CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE
PORTUGAL – 2013
PROVA N.º 10 – PARTE I
“VENHAM DE LÁ ESSES OSSOS…” -
Original de JÚLIO PENATRA & GÁ
A- Este bosque do Tojo é muito
agradável: a exuberância da flora, a diversidade e polifonia das aves, as águas
cristalinas do ribeiro…
B- Sim, e não só é agradável como é
um sítio com história e muitas histórias a seu respeito.
C-É verdade. Em tempos, o povo da
Castanheira reunia-se aqui à volta da Ermida da Sr.ª do Tojo, a quem eram muito
devotos.
B- Realmente, parece que era uma
Ermida muito querida das pessoas, mas os franceses maltrataram-na muito. Em
1855 ainda servia para o culto, mas em 1899 já era um monte de ruínas.
C- Conta-se que, certa vez, foi
roubado todo o seu recheio de valor e, como a porta parecia ter sido arrombada
à machadada, logo acusaram o lenhador, que habitava com a sua família numa
cabana aqui perto. Verdade ou mentira, o certo é que o lenhador e a família
nunca mais foram vistos na vizinhança, e da sua cabana ficou apenas carvão.
B- Constou que uma assinatura de
cruz da declaração de obediência e vassalagem da Câmara da Castanheira ao D.
Miguel, aprovada em 1832 e publicada na Gazeta de Lisboa, era desse lenhador, do
qual se afirmava ter votado contra tal por defender ideias liberais.
C- Sim, dizia-se que tinha uns 25 anos
e era um dos bastardos que os franceses cá tinham gerado na primeira invasão.
Ao certo, sabe-se apenas que, a partir daí, lhe fizeram a vida negra, e ele, um
latagão, teve de fugir da vila. Uns anos mais tarde, já casado, foi visto por
aqui a coxear um pouco da perna esquerda e a viver na tal cabana. Nessa altura
a sua história voltou às bocas do povo, apimentada com comentários à manifesta
juventude e fraca figura da mulher e à presença de um filho de três anos. Parece
que um novo Senhor do Tojo, que chegou e partiu com o 1º governo do Marquês de
Loulé, o trazia ao seu serviço, mas ninguém soube de onde se conheciam.
D- Ora “a vida é sempre adaptação”,
como disse Marcello Caetano, antes de ontem, na tomada de posse como primeiro
ministro.
A- Eh pá, não tragas a política
para o campismo. E se agora nos deixássemos das histórias da história?
E- Boa ideia. Ó C, passa aí a viola
do F.
C- Isso também eu queria, mas não
sei dela nem do dono.
D- Olhem, vem ali e não traz a
viola.
B- Então, F, onde te meteste?
F- Estive acocorado, ali, no meio
daqueles arbustos, e venho mais rico.
B- Não quererás dizer… mais leve?
F- Não. Acocorado, pus-me a esgaravatar
no chão com a ponta do meu punhal, e desenterrei esta peça.
B- Mostra cá. Hum… Isto é uma moeda
de III reais ou réis, como se dizia, do ano 1868, e na outra face tem escrito LUDOVICUS I DEI GRATIA.
C- É uma moeda de cobre.
B- Então, não me parece que tenhas feito uma grande descoberta,
mas talvez lá estejam enterradas algumas moedas de ouro. O melhor seria irmos
investigar, mas deixemos isso para próxima semana, se concordarem, porque é
tempo de levantarmos a tenda.
…
B- Ora bem, tenda montada, vamos à nossa expedição.
Mas é melhor ficar aqui alguém, não venha aí o “guarda do mato” implicar por
estarmos cá outra vez e descobrir o que viemos fazer.
A- Devíamos ter um detector de metais. Assim, fico cá
eu.
…
F- Foi aqui!
B- Já deu para perceber.
E- Eu começo neste ponto… Eh, lá!
Isto é um osso!
F- E está por debaixo do sítio de onde
recolhi a moeda.
D- Cuidado com isso. Temos que
escavar com muito cuidado. É melhor irmos buscar as colheres, os garfos e os
pincéis da barba…
B- Tragam também a máquina fotográfica,
porque não podemos levar isto daqui. Aliás, temos de voltar a enterrar tudo e
disfarçar o melhor possível com ervas e musgo. Depois de investigarmos, logo
daremos conta da descoberta ao Cabo da Guarda.
…
B- Meu caro G, dá-nos cá uma ajuda.
Tu que és um rapaz que até já fizeste Anatomia, analisa estas fotos e diz-nos o
que vê nelas o teu douto conhecimento.
G- Ok. Venham de lá esses ossos, ou
melhor, as fotos. Ora, temos, então: caveira, úmero, fémur e mão. A caveira é de
um caucasiano, tem aqui uma protuberância externa bem marcada no occipital,
maxilar em ângulo recto e queixo um pouco avançado. Aqui, as suturas sagital,
coronal e lambdóide já estão fechadas e, ali, a que liga o mastóide ao parietal
está quase. Quanto ao úmero…
D- Mede 271 mm.
G- Ok. Está um bocadinho
deteriorado e não vejo nada de especial. O fémur…
D- Mede 530 mm.
G- … parece estar também um bocado
deteriorado, mas aqui vê-se bem o sinal da calcificação de uma extensa
fractura. Na mão, cada dedo tem ossos incipientes, há grandes espaços entre estes
e faltam mesmo alguns. E pronto, é tudo o que posso dizer através destas fotos.
B- Muito bem, a tua informação vai
ser muito importante para nós.
…
C- Malta! Finalmente, o meu colega
que estagia no LN… disse-me que o solo tem pH à volta da neutralidade e os ossos
“morreram” há cerca de 100 a 120 anos.
D- Vá lá! Passados dois meses dos
achados temos toda a informação possível a seu respeito.
B- Isto é muito interessante… e mais
seria se a nossa descoberta tivesse alguma coisa que ver com a história do
lenhador de que falámos.
E- Ó meu! E por que é que havia de ter? Alguém
pode explicar-me?
E pronto.
Agora é a vez dos nossos
“detectives” dizerem de sua justiça, enviando a proposta de solução,
impreterivelmente até ao próximo dia 30 de Novembro, para o que poderão usar um
dos seguintes meios:
-Pelos Correios para Luís Pessoa, Estrada
Militar, 23, 2125-109 MARINHAIS
-Por
e-mail para um dos endereços: lumagopessoa@gmail.com;
pessoa_luis@hotmail.com ou luispessoa@sapo.pt.
-Por
entrega em mão ao orientador da secção, onde quer que o encontrem.
Boas
deduções!
11 comentários:
Caríssimos, fica registado que os autores do problema fazem questão da utilização da palavra "estória" em vez de "história".
Fica, no entanto o esclarecimento de que não houve qualquer acto de censura do jornal PÚBLICO, porque no jornal sai exactamente aquilo que eu envio para lá, sem qualquer espécie de alteração.
O erro, se o houve, é da minha inteira responsabilidade. Não havendo da minha parte qualquer fundamentalismo linguístico, cabe-me, no entanto, dizer que tal palavra, a existir e parece que sim, fere a minha sensibilidade de utilizador da Língua portuguesa e jamais será por mim usada, nem que seja pelo facto de poder exercer o livre direito de escolher as palavras de que gosto e com as quais me identifico.
Reconheço, no entanto, que não deveria ter alterado um texto de outras pessoas, sem a sua autorização e por esse facto me penitencio juntos dos autores e de todos os leitores.
A estória é uma brasileirice que os portugueses no seu provincianismo bacoco logo adoptaram.
Estória é um erro ortográfico em qualquer escola primária. Não vemos os ingleses falarem e escreverem "estory" ou os franceses "estoire". O Luís Pessoa fez muito bem em alterar para a Língua de Camões e Fernando Pessoa
João Carlos Nogueira
Caro João Carlos Nogueira, a questão principal aqui é o facto de eu dever ou não alterar a palavra.
Como sabe, essa palavra acaba por aparecer e ser aceite, portanto, se um autor a usa, deve ser publicada, ou não?
O facto de eu me recusar a usá-la, dá-me o direito de a recusar publicar quando escrita por outra pessoa?
Essa é a minha questão principal e aí, sinceramente, depois de ler os autores, acabo por concordar. Se a palavra existe ou pelo menos é usada, penso que deveria tê-la publicado, já que está inserida num texto assinado.
É disso que me penitencio, não por continuar a recusar-me a usá-la. Essa é outra discussão, parece-me.
Quanto à palavra em si, haverá outras pessoas bem mais habilitadas do que eu para o fazer.
Caro Sr. Luís Pessoa,
O que saiu, saiu, e não pretendemos que se altere. Com o esclarecimento consideramos o assunto encerrado, o qual achamos não ser tão importante assim que mereça uma penitência.
Com os melhores cumprimentos e votos dos maiores sucessos para o seu Policiário.
J.P. & G.
Eu também não uso.Mas essa palavra já está registada, até nos dicionários mais vulgares (Porto Editora, edição de 2008). E, por isso, aceito.
Fica-te bem a desculpa pela alteração do texto. Mas acho que considerar essa alteração como censura é um ENORME exagero por parte dos autores, até porque não altera nada a altíssima qualidade do problema que temos em mão. É de quem nunca conheceu a censura. Eu, que tive de a driblar durante muitos anos, sinto-me muito mais incomodado pela denominação de censura do que pela alteração.
Zé (Gustavo José Pereira Barosa)
História ou Estória?
Hóquei ou Óquei?
Francamente, a nossa língua vem do Latim. O Brasil inventa palavras e nós vamos atrás. O Luís Pessoa fez muito bem em alterar, aquela palavra é inventada, não é uma palavra que existisse e estivesse em desuso, é uma palavra que os brasileiros inventaram e pegou por cá, não percebo como.
Acho que fez muito bem!
Deco
Não serão publicados comentários que não tenham em conta o respeito pelas opiniões apresentadas.
Cada pessoa tem o direito de dizer o que pensa e defender as suas opiniões, de forma civilizada.
Quem assim não age, não tem aqui um espaço para opinar.
Nem agora, nem NUNCA.
Meu caro LP:
Eu enviei um comentário. Terá sido eliminado ou não chegou? na última hipóteses, eu repito. Mas tenho a certeza que tinha o maior respeito pelas opiniões trocadas.
Um abraço
Zé
Tudo esclarecido, tudo terminado. Cada uma das partes disse o que pretendia e o assunto deixou de o ser.
Daqui por algumas horas estará novo problema (o último! UFFF!) nas bancas e teremos mais uma época terminada!
Tal como diz o Zé, com "história" ou com "estória", temos aqui um problema de enorme qualidade para resolver e isso é mérito inegável dos seus autores.
Ponto final nesta "polémica"!
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