[Transcrição da secção n.º 1208 publicada
hoje no jornal PÚBLICO]
FALSO PINÓQUIO DENUNCIADO
E
RESOLVIDO CRIME NO CENTRO COMERCIAL!
Foram
cumpridas mais duas provas de fogo pelos nossos “detectives”, desta feita de
autoria do confrade Paulo, indubitavelmente um dos melhores produtores
nacionais de enigmas policiários, como de resto é reconhecido pela generalidade
dos participantes, que o referiram nas propostas de solução enviadas.
O
confrade Paulo tem uma maneira muito própria de produzir, apresentando casos
muito actuais, de uma forma bastante trabalhada e cuidada. No final, ficamos
com excelentes bases de trabalho para a elaboração de soluções onde há sempre
espaço para criatividade, para mais um pormenor, para mais uma nota de rodapé,
transformando-as em trabalhos que parecem sempre inacabados.
Em
suma, dois belíssimos desafios que vão proporcionar, estamos certos, excelentes
respostas e, provavelmente, algumas “quedas” importantes na classificação.
CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL - 2014
SOLUÇÕES
DA PROVA N.º 7
PARTE
I – “CRIME NO CENTRO COMERCIAL” – de PAULO
Para
se tentar chegar à conclusão de quem terá cometido o crime, há que analisar a
questão forense.
Entre
as 9 e meia e as 13 horas o cadáver atingiu a rigidez cadavérica total.
Existem
várias condicionantes para o estabelecimento da rigidez, entre as quais a
temperatura. Sobre o gabinete da vítima existe a informação de que a
temperatura era de 20º e que durante a noite não terá descido muito. Ou seja,
não existem condições climáticas extremas que condicionassem o estabelecimento
da rigidez.
Em
termos médios a rigidez total nunca se estabelece antes de 12 horas. Como pouco
depois das nove e meia da manhã o rigor
mortis estava totalmente estabelecido, então:
A
- a morte teve que ocorrer no final da tarde do dia anterior ou no inicio da
noite.
Esta
hora para o crime coloca a situação dos sms terem sido escritos quando Adérito
estava morto, logo:
B
– os sms não foram escritos por Adérito.
Perante
a conclusão B, apenas resta a hipótese, uma vez que o telemóvel de Adérito foi
encontrado junto ao corpo, de que:
C-
os sms foram escritos pelo assassino.
Também
considerando que após a entrada de Adérito no gabinete, ninguém mais entrou
naquela zona reservada a não ser os 3 directores então:
D-
só um dos três directores pode ser o assassino.
Outra conclusão importante a
retirar das informações recolhidas por Narciso Morais, após verificar os
conflitos existentes entre os suspeitos, é a de que:
E
– não existe cumplicidade entre os suspeitos e o assassino agiu sozinho.
Da
análise das gravações da câmara de filmar, não havendo ninguém nos gabinetes à
hora em que as mensagens foram enviadas, também se pode concluir que:
F-
quando os sms foram enviados, o telemóvel de Adérito tinha que estar fora do
gabinete, na mão do assassino.
Após
esta conclusão, e sabendo que Rui Balboa foi o primeiro a entrar no gabinete da
vítima e logo depois a polícia:
G-O
telemóvel só pode ter sido levado para dentro do gabinete por Rui.
Logo,
H-
o crime foi cometido por Rui Balboa.
Chegados
à conclusão de quem foi o assassino, pode-se tentar estabelecer uma cronologia
dos actos do criminoso, que se enquadre nos factos conhecidos.
1-
Antes
das cinco horas, aproveitando algum momento em que os seus colegas não se
encontravam nos gabinetes, Rui Balboa entrou no gabinete de Adérito e matou-o.
2-
A
arma deveria ter silenciador para prevenir que fosse ouvida e foi levada por
Rui quando abandonou o Centro Comercial.
3-
Retirou
o telemóvel a Adérito e a chave do escritório, fechando a porta, para que
ninguém entrasse e descobrisse o cadáver. Assim se justifica que Francisco
tenha encontrado a porta fechada. Não se deve esquecer que não existem
condições para uma possível cumplicidade entre os dois.
4-
Saiu,
por volta das cinco e meia.
5-
De
madrugada enviou do telemóvel de Adérito as mensagens, de modo a assegurar-se
que tinha justificação para ser o primeiro a chegar, abrir a porta e colocar as
chaves e o telemóvel no casaco de Adérito.
6-
De
manhã entrou no gabinete de Adérito e colocou a chave e o telemóvel no casaco
dele.
Para
terminar este caso de forma satisfatória para a justiça, competia agora a
Narciso Morais, após a análise feita que apontava para Rui Balboa como
criminoso, diligenciar as buscas e investigações necessárias que permitissem
provar que Rui Balboa disparou e pegou no telemóvel de Adérito. Deveria tentar
ainda junto da operadora de telemóveis verificar se seria possível detectar de
que área geográfica foram enviadas as mensagens e tentar colocar Rui Balboa
nessa zona.
Não
seria também de excluir a investigação sobre o paradeiro da arma, com buscas à
casa de Rui Balboa.
PARTE
II – “IDENTIDADE USURPADA” – de PAULO
B
- O Pinóquio
Podemos
tirar duas conclusões:
1-
Todos
mentem em relação ao que se passou na noite anterior ao interrogatório
2-
Não
há elementos para averiguar quem mente em relação ao que se passou na tarde do
roubo.
Há
que analisar, então, o caso do ponto de vista da existência de alguém com falsa
identidade.
Considerando
que todos mentem, Pinóquio, se fosse o verdadeiro, teria o seu nariz a crescer
quando contou onde estivera na noite anterior.
Do
relato verifica-se que enquanto narravam os factos da noite anterior, e
mentiam, nenhum indício de alteração facial os denunciou.
Logo,
não se está perante o verdadeiro Pinóquio, mas perante um falso Pinóquio, com
grande possibilidade de ser ele o ladrão.
Falta
acrescentar que a inspiração para este problema surgiu da leitura do conto Branca de Neve assassinada, de Francisco
Branco, publicado em 1952 no nº 1 de O Gato Preto.