domingo, 28 de setembro de 2014

POLICIÁRIO 1208

[Transcrição da secção n.º 1208 publicada 
hoje no jornal PÚBLICO]

 FALSO PINÓQUIO DENUNCIADO
E RESOLVIDO CRIME NO CENTRO COMERCIAL!

Foram cumpridas mais duas provas de fogo pelos nossos “detectives”, desta feita de autoria do confrade Paulo, indubitavelmente um dos melhores produtores nacionais de enigmas policiários, como de resto é reconhecido pela generalidade dos participantes, que o referiram nas propostas de solução enviadas.
O confrade Paulo tem uma maneira muito própria de produzir, apresentando casos muito actuais, de uma forma bastante trabalhada e cuidada. No final, ficamos com excelentes bases de trabalho para a elaboração de soluções onde há sempre espaço para criatividade, para mais um pormenor, para mais uma nota de rodapé, transformando-as em trabalhos que parecem sempre inacabados.
Em suma, dois belíssimos desafios que vão proporcionar, estamos certos, excelentes respostas e, provavelmente, algumas “quedas” importantes na classificação.

CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL - 2014
SOLUÇÕES DA PROVA N.º 7
PARTE I – “CRIME NO CENTRO COMERCIAL” – de PAULO

Para se tentar chegar à conclusão de quem terá cometido o crime, há que analisar a questão forense.
Entre as 9 e meia e as 13 horas o cadáver atingiu a rigidez cadavérica total.
Existem várias condicionantes para o estabelecimento da rigidez, entre as quais a temperatura. Sobre o gabinete da vítima existe a informação de que a temperatura era de 20º e que durante a noite não terá descido muito. Ou seja, não existem condições climáticas extremas que condicionassem o estabelecimento da rigidez.
Em termos médios a rigidez total nunca se estabelece antes de 12 horas. Como pouco depois das nove e meia da manhã o rigor mortis estava totalmente estabelecido, então:
A - a morte teve que ocorrer no final da tarde do dia anterior ou no inicio da noite.
Esta hora para o crime coloca a situação dos sms terem sido escritos quando Adérito estava morto, logo:
B – os sms não foram escritos por Adérito.
Perante a conclusão B, apenas resta a hipótese, uma vez que o telemóvel de Adérito foi encontrado junto ao corpo, de que:
C- os sms foram escritos pelo assassino.
Também considerando que após a entrada de Adérito no gabinete, ninguém mais entrou naquela zona reservada a não ser os 3 directores então:
D- só um dos três directores pode ser o assassino.
Outra conclusão importante a retirar das informações recolhidas por Narciso Morais, após verificar os conflitos existentes entre os suspeitos, é a de que:
E – não existe cumplicidade entre os suspeitos e o assassino agiu sozinho.
Da análise das gravações da câmara de filmar, não havendo ninguém nos gabinetes à hora em que as mensagens foram enviadas, também se pode concluir que:
F- quando os sms foram enviados, o telemóvel de Adérito tinha que estar fora do gabinete, na mão do assassino.
Após esta conclusão, e sabendo que Rui Balboa foi o primeiro a entrar no gabinete da vítima e logo depois a polícia:
G-O telemóvel só pode ter sido levado para dentro do gabinete por Rui.
Logo,
H- o crime foi cometido por Rui Balboa.
Chegados à conclusão de quem foi o assassino, pode-se tentar estabelecer uma cronologia dos actos do criminoso, que se enquadre nos factos conhecidos.
1-      Antes das cinco horas, aproveitando algum momento em que os seus colegas não se encontravam nos gabinetes, Rui Balboa entrou no gabinete de Adérito e matou-o.
2-      A arma deveria ter silenciador para prevenir que fosse ouvida e foi levada por Rui quando abandonou o Centro Comercial.
3-      Retirou o telemóvel a Adérito e a chave do escritório, fechando a porta, para que ninguém entrasse e descobrisse o cadáver. Assim se justifica que Francisco tenha encontrado a porta fechada. Não se deve esquecer que não existem condições para uma possível cumplicidade entre os dois.
4-      Saiu, por volta das cinco e meia.
5-      De madrugada enviou do telemóvel de Adérito as mensagens, de modo a assegurar-se que tinha justificação para ser o primeiro a chegar, abrir a porta e colocar as chaves e o telemóvel no casaco de Adérito.
6-      De manhã entrou no gabinete de Adérito e colocou a chave e o telemóvel no casaco dele.

Para terminar este caso de forma satisfatória para a justiça, competia agora a Narciso Morais, após a análise feita que apontava para Rui Balboa como criminoso, diligenciar as buscas e investigações necessárias que permitissem provar que Rui Balboa disparou e pegou no telemóvel de Adérito. Deveria tentar ainda junto da operadora de telemóveis verificar se seria possível detectar de que área geográfica foram enviadas as mensagens e tentar colocar Rui Balboa nessa zona.
Não seria também de excluir a investigação sobre o paradeiro da arma, com buscas à casa de Rui Balboa.

PARTE II – “IDENTIDADE USURPADA” – de PAULO

B - O Pinóquio
Podemos tirar duas conclusões:
1-      Todos mentem em relação ao que se passou na noite anterior ao interrogatório
2-      Não há elementos para averiguar quem mente em relação ao que se passou na tarde do roubo.
Há que analisar, então, o caso do ponto de vista da existência de alguém com falsa identidade.
Considerando que todos mentem, Pinóquio, se fosse o verdadeiro, teria o seu nariz a crescer quando contou onde estivera na noite anterior.
Do relato verifica-se que enquanto narravam os factos da noite anterior, e mentiam, nenhum indício de alteração facial os denunciou.
Logo, não se está perante o verdadeiro Pinóquio, mas perante um falso Pinóquio, com grande possibilidade de ser ele o ladrão.
Falta acrescentar que a inspiração para este problema surgiu da leitura do conto Branca de Neve assassinada, de Francisco Branco, publicado em 1952 no nº 1 de O Gato Preto.



1 comentário:

Anónimo disse...

A solução Balboa foi a minha primeira solução. Mas reparei que, pela câmara, não tinha entrado ou saído mais ninguém (do Texto).
Ora eles são alguém e tinham de ter saído e entrado várias vezes, como dizem dois suspeitos (pelo menos, tinham ido almoçar e regressaram). O texto não diz que não entrou mais ninguém, ALÉM dos directores. Não vejo esse aspecto focado na solução, pelo que (muito respeitosamente) não concordo com ela. Mas, como sempre, aceito a decisão que for tomada.
Abraços