[Transcrição da secção n.º 1205 publicada
hoje no jornal PÚBLICO]
MAIS UM PROBLEMA NO REGRESSO DAS FÉRIAS
No
regresso à rotina, depois das férias, os nossos “detectives” vão encontrar hoje
um desafio de autoria do confrade Verbatim, um dos grandes animadores da
Tertúlia Policiária da Liberdade (TPL).
Como
sempre, recomendações para que as leituras do problema sejam atentas e
cuidadas, para evitar surpresas.
CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL – 2014
PROVA
N.º 8 – PARTE I
“O
CÚMULO DA VELOCIDADE” – Original de VERBATIM
O
Inspector Flávio Alves perguntou ao agente Dias se ele sabia qual era o cúmulo
da velocidade e, sem esperar pela resposta, acrescentou: “É um tipo fechar uma
gaveta à chave e conseguir guardar a chave lá dentro. Quer dizer, aqui ou houve
suicídio ou o homicida saiu do gabinete e conseguiu deixar a chave lá dentro
depois de a utilizar para fechar a porta.” Dias riu-se com gosto enquanto metia
dados no computador sobre o caso que estavam a tratar.
Naquela
manhã, Esteves Jonas, um dos fundadores e sócios da firma “Dreams &
Dreams”, produtora de aplicações para telefones e tablets, foi encontrado morto
no seu gabinete. A porta fora arrombada por colegas quando verificaram que ele
não atendia qualquer alerta ou chamada. Mal entraram perceberam que a situação
era grave e que Jonas, possivelmente, se suicidara. Por mútuo entendimento
recuaram, sem tocarem em coisa alguma, solicitando a presença urgente de um
médico e da polícia.
Flávio
Alves pôde concluir, por cruzamento de dados, que a cena da tragédia não fora
afectada. Jonas estava caído no soalho com um ferimento no peito, junto ao
coração, característico de tiro à queima-roupa. Mesmo ao lado, o costado
almofadado de uma cadeira apresentava um rasgo curto, ladeado por restos de
sangue e de tecidos orgânicos do morto. Nas costas da vítima notava-se o buraco
por onde saíra o projéctil. A posição do corpo e os sinais deixados na cadeira
levavam a concluir que Jonas estaria sentado quando ocorreu o disparo, tendo
caído logo a seguir. Muito perto, e também no chão, via-se uma pistola que,
conforme se confirmou, fora a que disparara a bala fatídica, a qual, por seu
turno, se encontrava encravada no soalho, mesmo atrás da cadeira, a cerca de um
metro de distância desta última. A morte, segundo o médico, teria ocorrido
entre as oito e as nove da manhã. Na mesa de trabalho de Esteves Jonas, estava
a chave do gabinete, de tipo vulgar, semelhante às que existem nas portas
interiores da maioria das casas, mormente as antigas, como era a do presente
caso. Dentro do gabinete, cuja janela de segundo andar se encontrava bem
fechada, havia mobiliário diverso e muito material de trabalho, algum bastante
estranho.
Face
a este quadro, o Inspector Flávio Alves colocou, em separado, a cada uma das
quatro pessoas presentes no escritório na altura da descoberta do corpo, as
seguintes questões: Acha que Jonas dava sinais de se querer suicidar? Como é
que soube que ele se encontrava no local de trabalho? A que horas chegou aqui e
a que horas terá Jonas chegado? Jonas tinha o costume de se fechar no gabinete?
Sabia que ele tinha lá dentro uma pistola? Ouviu algum disparo?
Dimas
Ló, com seis meses de casa, declarou: “Estava a fazer trabalhos para o Sr.
Jonas, que era muito exigente. Não sei por que motivo se terá suicidado, embora
me parecesse uma pessoa com problemas psicológicos. Cheguei perto das dez e
dirigi-me logo para o seu gabinete. Bati á porta e não obtive resposta. Tentei
entrar para relatar o que tratara na Tecnicap e verifiquei que ele se fechara.
Sabia, como toda a gente, que ele tinha lá uma pistola e fiquei apreensivo.
Nessa altura saiu o Sr. Leitão para o corredor e disse-lhe que tínhamos de
arrombar a porta do Sr. Jonas. Ele, depois de confirmar que o gabinete estava
fechado à chave, ligou o telemóvel, que se ouviu muito fraquinho lá dentro.
Concordou então com o arrombamento.”
Samuel
Botas, com dois anos de casa, disse: “Jonas era um tipo que amava a vida e não
se iria suicidar. Tem, isto é, tinha uma pancada, às vezes genial, mas mais
nada. Entrei com ele às oito da manhã. Possuía uma pistola e andava a estudar o
som dos disparos. Não me recordo de ouvir qualquer tiro, mas se o tivesse
ouvido também não ligaria. Cada um de nós está no seu gabinete, entra e sai
quando quer e contacta os outros sobretudo pelos meios digitais. Isso não quer
dizer que não nos juntemos para discutir os projectos ou avaliar o trabalho
realizado. A exigência é muita. Encontrei o Jonas fechado no gabinete, algumas
vezes. Julgo que o fazia para não ser interrompido e, ultimamente, por causa
dos disparos.”
Elsa
Lavrador, co-fundadora e sócia da firma, fez uma declaração muito semelhante à
de Samuel Botas, tendo apenas divergido quanto a dois pontos: afirmou que
chegou ao gabinete pelas oito e quarenta e cinco, sem se ter cruzado com
qualquer colega, e que Jonas, desde há uns meses, entrara numa fase obsessiva com
a segurança das patentes e a pirataria que grassa no meio.
Gomes
Leitão, também co-fundador e sócio, afirmou: “Jonas andava muito ansioso e
desconfiado, pensando que lhe roubavam ideias. Arranjou uma pistola e passou a
fechar-se mais vezes no gabinete, onde chegou a treinar tiro sobre um alvo com
sacos de areia atrás. Eram ensaios destinados a um jogo a introduzir numa
aplicação e talvez um treino, admito-o eu, para defesa própria. A morte dele é
uma grande perda. Não sei se a nossa D&D vai sobreviver. De manhã, quando
no rés-do-chão puxei o elevador, ainda ouvi, em cima, as vozes do Jonas e do
Botas, no momento em que entravam para o escritório. Aí pelas nove horas
comecei a notar que o Jonas não atendia. Às dez saí do gabinete para o
procurar, quando encontrei o Ló que, muito aflito, me deu conta da necessidade
de arrombar a porta. Verifiquei que o telemóvel tocava lá dentro, o que me
confirmou que ele ainda lá estaria. Devo dizer que aqui fechamos os gabinetes
quando saímos só para não deixar expostas maquetes sobre as quais estamos a
trabalhar. O importante está guardado em memórias de acesso muito complicado.
Ah! De facto pareceu-me ter ouvido um disparo pouco depois das oito e pensei,
naturalmente, que era o Jonas a atirar ao alvo.”
Suicídio
ou homicídio? Como se terão passado as coisas?
E
pronto.
O
convite está lançado para que enviem as propostas de solução, impreterivelmente
até ao dia 5 de Outubro, para o que poderão usar um dos seguintes meios:
- Pelos Correios para Luís Pessoa, Estrada
Militar, 23, 2125-109 MARINHAIS;
-
Por e-mail para um dos endereços:
-
Por entrega em mão ao orientador da secção, onde quer que o encontrem.
Boas
deduções!
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