domingo, 29 de novembro de 2015

POLICIÁRIO 1269



RIP KIRBY E ARISTIDES SOUSA MENDES
EM HOMENAGEM POLICIÁRIA


O ano de 2009 trouxe-nos algumas novidades, desde logo porque a Tertúlia Policiária da Liberdade organizou o seu convívio anual em Cabanas de Viriato, prestando uma homenagem ao cônsul proscrito Aristides de Sousa Mendes, mas também porque assistimos a uma vitória espectacular do confrade Rip Kirby, saudoso policiarista recentemente desaparecido do nosso convívio e que hoje pretendemos homenagear, pela sua persistência e empenho.

Recordemos o que foi aqui escrito no final de mais uma época de intensa competição:

RIP KIRBY É CAMPEÃO NACIONAL

ZÉ-VISEU VENCE TAÇA DE PORTUGAL, É POLICIARISTA DO ANO
E N.º 1 DO RANKING


Estão encontrados os grandes vencedores da época 2008/2009 que agora terminou!
Os resultados da prova n.º 8 foram publicados à meia-noite de segunda-feira no blogue CRIME PÚBLICO,            em http://blogs.publico.pt/policiario e desde logo os nossos “detectives” ficaram a saber quem foram os vencedores das duas principais provas competitivas da época.

O confrade do Barreiro, membro fundador da Tertúlia Policiária Valtejo e que há alguns anos se fixou no Brasil, RIP KIRBY levou a melhor sobre a concorrência directa e, em cima da meta, arrecadou o título de Campeão Nacional, que tão bem lhe assenta. Com uma actividade policiária particularmente longa e uma excelente qualidade, quer como decifrador quer como produtor, o confrade Rip Kirby é um dos símbolos maiores do amor ao policiário, mesmo quando afastado geograficamente do seu habitat de tantos e tantos anos.

Surpresa, ou talvez não, o segundo lugar alcançado por uma “detective” da nova geração de decifradores, de enorme capacidade e potencialidade, a escalabitana DETECTIVE JEREMIAS, na senda dos grandes vultos que o Ribatejo foi dando ao Policiário, em sucessivas gerações.

Fecham o pódio os BÚFALOS ASSOCIADOS, uma dupla de grande qualidade que, uma vez mais, demonstrou à saciedade que reúne todas as condições para aspirar aos voos mais altos que o policiário pode proporcionar.

Destaque ainda para o magnífico 4.º lugar da dupla A. RAPOSO & LENA e uma referência para o confrade ZÉ-VISEU, na próxima época apenas ZÉ (Viseu), que soçobrou somente na última prova, depois de longo tempo no comando das operações, mas não deixou os seus créditos por mãos alheias, conquistando a Taça de Portugal numa final de grande competição, em que se sobrepôs ao confrade bracarense DANIEL FALCÃO.

Referência ainda e novamente para ZÉ-VISEU, brilhante vencedor dos troféus de Policiarista do Ano, e do Ranking.

HOMENAGEM DA TERTÚLIA POLICIÁRIA DA LIBERDADE
A ARISTIDES DE SOUSA MENDES
Este texto foi lido pelo confrade Rui Mendes, um dos membros dos Búfalos Associados, por ocasião do descerramento de uma placa alusiva à homenagem que a Tertúlia Policiaria da Liberdade prestou ao cônsul, em Cabanas de Viriato, no convívio anual que ocorreu em 17 de Maio de 2009.

“Desde pequeninos que todos à nossa volta nos dizem que devemos obedecer. Dizem-nos que devemos obedecer, a Mãe, o Pai, os Avós, o Professor, o patrão, a polícia, as religiões, os governos. É conhecida a lei do Regulamento de Disciplina Militar que nos diz que devemos obedecer primeiro, e só depois, eventualmente, discutir a justeza da ordem. À medida que vamos avançando na vida, vamos percebendo que o segredo do poder está na capacidade de se fazer obedecer. Os poderosos sabem-no bem, os ditadores não vivem sem o pôr em prática.
No século XVI um célebre pensador francês de nome Étienne de La Boétie, encontrou naquilo que chamou de “Mistério da Obediência” o segredo do poder político. Concluiu ele que a escolha a fazer pelos humanos se limitaria a “obedecer ou morrer”. Para exercer o poder tratava-se de obrigar a obedecer, até que aquele que obedece se consiga esquecer de que o faz. Consiga mesmo chegar a atingir a alegria da submissão, como bem supremo de uma vida feliz. La Boétie inspirou não poucas revoltas e não poucas insubmissões. Felizmente!
A tal ponto que hoje podemos ter a consciência de que não foi a obediência que fez a humanidade avançar. Bem pelo contrário. Não foi pela obediência que se fizeram as revoluções que, a pouco e pouco, e só elas, têm vindo a imprimir um pouco mais de justiça nas relações entre os humanos.
Aristides de Sousa Mendes foi um desobediente. Consciente e lúcido. Por singular coincidência faz hoje exactamente 69 anos que Aristides passou os primeiros vistos desobedientes. Em 24 de Junho de 1940, quando o exército nazi avançava pela França dentro, espalhando o terror e a iniquidade, o Dr. Salazar telegrafava ao Cônsul português em Bordéus, proibindo-o de continuar a conceder vistos aos refugiados que procuravam escapar aos horrores do extermínio nazi. A 4 de Julho (dez dias depois) o mesmo Dr. Salazar ordenava um processo disciplinar contra o desobediente pela “concessão abusiva de vistos em passaportes de estrangeiros”. De uma penada chegava ao fim a carreira diplomática de 30 anos de Aristides de Sousa Mendes.
Cito palavras de Sousa Mendes: “Todos eles são seres humanos e o seu estatuto na vida, religião ou cor, são totalmente irrelevantes para mim. Sou cristão e como tal acredito que não devo deixar estes refugiados sucumbir. E assim declaro que darei, sem encargos, um visto a quem quer que o peça”. Com estas palavras argumentou Sousa Mendes na sua defesa perante as acusações que o Estado Novo do Dr. Salazar lhe dirigiu na sequência do seu acto heróico. O Cônsul pagou cara a sua desobediência. Condenado à inactividade num processo disciplinar manipulado, arruinado financeiramente e impedido de exercer advocacia, teve de recorrer à caridade alheia para se sustentar e à sua numerosa família. A Pátria pagou-lhe com a desonra a sua coragem e a sua abnegação.
Anos mais tarde, quando os criminosos nazis se defendiam alegando que obedeciam a ordens, o Tribunal de Nuremberga estabelecia que ninguém poderá atentar contra os valores humanos sob pretexto da obrigação de obedecer a ordens injustas. Foi essa a grande importância de Sousa Mendes: obedecer aos valores da humanidade e não à iniquidade de ordens criminosas. A desobediência do Cônsul de Bordéus terá salvo da morte perto de 30.000 inocentes, mas condenou à humilhação e à agonia um homem honrado e a sua família. Um português bom e justo para quem a obediência cega e passiva se tinham tornado um impossível moral. Aristides de Sousa Mendes é hoje um herói reconhecido por todo o mundo civilizado.
A Tertúlia Policiária da Liberdade, um grupo de amigos que, entre outras coisas, cultiva a procura da verdade e da justiça, veio a Cabanas de Viriato, onde nasceu este notável português do século XX, prestar esta modesta homenagem, tão simples quanto sincera, na certeza de que é na memória dos homens que mereceram a nossa admiração, que poderemos encontrar os caminhos para um futuro melhor para os que vierem depois de nós.”



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