ENTRADA
NO 25.º ANO DE POLICIÁRIO
COM
“TRAGÉDIA FAMILIAR”
Entramos
no 25.º ano de publicação ininterrupta do Policiário no PÚBLICO!
Foi
a 1 de Julho de 1992 que pela primeira vez nos apresentámos aos leitores do
então jovem jornal, iniciando uma série absolutamente fora das melhores
previsões, à época. Esta longevidade deve-se, por inteiro, aos nossos leitores
e “detectives” que jamais deixaram de comparecer e participar, sempre em
crescendo, fazendo a secção que somos hoje. Para todos, o nosso sincero
agradecimento.
Durante
todo este ano que se vai seguir, iremos falando dos nossos 25 anos, daqueles
que nos acompanharam e dos que deixaram de o fazer, por saturação ou motivos de
maior força e recordar aqueles que mais desejariam estar connosco fisicamente,
sem o poderem fazer…
Procuraremos
fazer de cada edição uma festa e um espaço de recordação, para o qual chamamos
todos os nossos confrades, “detectives” e leitores, para que ninguém falte nem
fique esquecido!
O
problema que hoje publicamos tem a autoria de uma dupla que retracta em
absoluto aquilo que somos e queremos ser: Decifradores de grande nível;
produtores sempre disponíveis e de qualidade reconhecida; convivas de
excelência, presentes em todas as iniciativas policiárias; militantes na
organização da Tertúlia Policiária da Liberdade. Referimo-nos aos BÚFALOS
ASSOCIADOS, a quem saudamos, como representantes de todos e de cada um dos
nossos “detectives”, razão única para estarmos aqui.
Muitos
parabéns!
CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL – 2016
PROVA
N.º 6 – PARTE I
“UMA
TRAGÉDIA FAMILIAR” – Original de BÚFALOS ASSOCIADOS
O
inspector Garrett nunca perdera o hábito de, antes de adormecer, reler algumas
páginas de um bom romance, num prazenteiro regresso ao passado, o que lhe
estimulava recordações, melhores ou menos boas conforme os casos. Naquela noite
chegara mais uma vez ao fim do livro e não conseguiu reprimir o gesto de voltar
ao início e ler as primeiras palavras que lhe lembravam sempre a tragédia
familiar que tantas vezes a sua tia Laurinda comentara com ele: "As
famílias felizes parecem-se todas; as famílias infelizes são-no cada uma à sua
maneira."
O
sucedido remontara aos finais do século dezanove, quando a trisavó Carolina
faleceu esmagada por um combóio na estação do Rossio, tragédia que enlutou a
família e chegou mesmo a agitar a sociedade lisboeta da época, uma vez que a
senhora era basto conhecida e detinha uma importante fortuna, a qual veio a
acabar nos bolsos do marido, o trisavô Leopoldo, que também ficou curador da
parte que caberia à criança que tinha nascido algum tempo antes. E a tia
Laurinda, sempre que contava a história, não reprimia o desespero por o seu
bisavô Leopoldo ter esbanjado toda a fortuna, em lautas estúrdias em Paris no
seu luxuoso apartamento dos Champs-Élysées, onde reunia a melhor sociedade de
Paris. Graças ao gastador bisavô ficou a família na penúria, lamentava-se
amiúde a tia Laurinda aos amigos mais chegados.
Tudo
aconteceu numa manhã dos primeiros dias de Março de 1900, e durante anos
permaneceu a dúvida se teria sido suicídio ou se alguém teria empurrado a
senhora para a linha quando da partida do combóio. Essa dúvida era um dos
pormenores em que o episódio familiar se afastava do romance. Havia na altura
dois suspeitos: o marido e Adérito, um amigo que por vezes era visto na
companhia da senhora. O caso chegou aos tribunais, pois não faltaram as
acusações contra cada um dos homens, os quais, segundo a boataria popular,
teriam razões para o possível crime. A verdade é que corriam vozes por entre a
sociedade lisboeta de que a Carolina, à época no esplendor dos seus vinte e
sete anos, se teria envolvido, já depois de casada, num "affaire" com
o tal Adérito, um jovem oficial de cavalaria, o que dificilmente escapara á
bisbilhotice nacional e todos sabiam ser verdade. Isso e a fortuna da senhora
levantavam as maiores suspeitas de um crime passional. Mas a verdade é que
todos saíram ilibados do julgamento, no qual acabou por concluir-se que tudo
não passara de suicídio, por falta de provas contra o Leopoldo, contra o
Adérito, ou contra quem quer que fosse. Talvez que, de facto, a Carolina, num
acto quase tresloucado, não tenha conseguido resistir ao remorso e ao vexame do
adultério, atirando-se para debaixo de um combóio.
Mas
mais tarde, de vez em quando, em família, o caso vinha à baila. E não faltavam
as suspeitas sobre o Leopoldo, das quais ele se defendia, enquanto foi vivo,
calorosa e veementemente. E Garrett ainda se recordava de ter ouvido falar das
razões que o seu velho trisavô apontava, sempre que a sua inocência era posta
em causa. Que nem sequer estaria em Portugal à data do incidente, já teria
partido para Paris, pois não queria perder todos os acontecimentos ligados à
Exposição Universal desse ano, principalmente porque por nada deste mundo
queria faltar à inauguração da Torre Eiffel. Lembrava-se perfeitamente da data
porque foi nesse ano que em Agosto viria a morrer em Paris o Eça de Queiroz.
Lembrava-se ainda porque esse ano era bissexto e não mais esquecera ter partido
para Paris no dia 29 de Fevereiro. Outra coisa que não esquecera tinha sido o
falecimento do poeta António Nobre ocorrido em Março desse ano.
Quanto
ao Adérito, foi ilibado por ter conseguido provar que à hora da tragédia,
estava muito pacatamente a comer um belo arroz de lampreia numa casa de pasto
em Tomar.
-"O bisavô nunca foi muito dado a
falar verdade e o facto de se ter livrado da acusação talvez tenha ficado a
dever-se à ineficácia da justiça da época. Mas as dúvidas perduraram."
-concluía a Tia Laurinda.
E
o inspector Garrett inquiria os seus alunos, quando lhes contava a história:
"Será que ficarão sempre dúvidas sobre o sucedido?
Há
certamente coisas a dizer sobre esta tragédia familiar e tudo o que a rodeia.
Quem
começa?"
E
pronto.
Resta
aos nossos “detectives” responderem ao apelo e começarem, dando resposta ao
problema, impreterivelmente até ao dia 10 do mês de Agosto (prazo mais
alargado, de férias!), para o que poderão usar um dos seguintes meios:
- Pelo Correio:
Luís Pessoa, Estrada Militar, 23, 2125-109 MARINHAIS;
- Por entrega em
mão ao orientador, onde quer que o encontrem.
Boas deduções!
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