QUEM MATOU O CHEF?
Iniciamos mais uma etapa da nossa
competição de 2017, o ano em que completamos e festejamos os 25 anos de
Policiário no PÚBLICO.
Os desafios deste mês, o desta semana e o
que que apresentaremos no próximo domingo, ficam a cargo do nosso confrade
Inspector Boavida, um dos “detectives” mais valorosos e completos, sempre nos
lugares cimeiros das diversas classificações e um produtor de méritos
reconhecidos.
CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL – 2017
PROVA N.º 3 – PARTE I
“SMALUCO E A MORTE DO CHEF JOCA GANITAS”
Original de INSPETOR BOAVIDA
Um dos casos conduzidos pelo detetive
Smaluco mais comentados e discutidos nos bastidores da Polícia Judiciária, onde
prestou serviço após concurso público até ser reformado compulsivamente,
relaciona-se com a morte do Chef Joca
Ganitas, um homem envolvido na noite clandestina de jogos de fortuna e azar. O
póquer era a sua perdição, gastando à mesa de jogo praticamente tudo o que
ganhava na sua reconhecida atividade profissional, terminando quase sempre a
noite com quatro parceiros há muito identificados como perigosos predadores de
jogadores viciados. Todos eles tinham um gosto especial por vinho da casta alvarinho,
que iam bebericando durante o jogo, quase sempre acompanhado por iguarias
previamente preparadas pelo exímio cozinheiro.
As dívidas contraídas por Ganitas nas suas
noites mais azaradas eram invariavelmente saldadas a meio da tarde do dia
seguinte em sua própria casa, onde preparava antecipadamente um pitéu preferido
do seu credor da noite anterior. Alberto Lucas, um sujeito franzino, de pequena
estatura, tinha um gosto particular por caldeirada de chocos com batata-doce.
Bernardo Lara, um homenzarrão de muitos músculos e pouco cérebro, adorava migas
à alentejana. Carlos Luís, um tipo divertido e sempre de bom humor, era o
intelectual do grupo e tinha predileção por lombinhos de porco, gratinados.
Daniel Libertino, um simpático galã com ar de quem ainda vivia no início do século
XX, gostava fundamentalmente de estufado de novilho com ervilhas.
A determinada altura, os dias foram-se
sucedendo sem que os petiscos a meio da tarde em casa do solteirão Ganitas
acontecessem e as dívidas foram-se acumulando sem que as sessões noturnas de
póquer parassem alguma vez de ter lugar. A rotina de fim do dia mantinha-se
inalterada e, noite após noite, mal saía do restaurante onde prestava serviço,
o cozinheiro rumava para a habitual mesa de jogo, sempre na esperança de
recuperar o imenso dinheiro perdido para os seus quatro parceiros, que haviam já
começado a exigir, todos eles juntos e em separado, a liquidação das dívidas,
sempre com ameaças mais ou menos veladas de violência física, ao mesmo tempo
que iam exercendo pressão, através de ameaçadoras mensagens anónimas enviadas
por correio.
Certa noite, Smaluco, que se encontrava de
plantão na PJ, recebeu um telefonema da PSP dando conta de uma ocorrência que
requeria a intervenção urgente da uma brigada da polícia criminal. O caso
conta-se em breves palavras. Os colegas do Chef
Joca Ganitas, estranhando a sua ausência no posto de trabalho numa noite de
muito movimento, e após várias chamadas telefónicas infrutíferas para sua casa,
decidiram tomar a iniciativa de comunicar a situação à PSP, que foi dar com
ele, por volta das dez da noite, caído na cozinha, com a cabeça dentro do forno,
morto, de nariz enfiado num tabuleiro, com inúmeras queimaduras no rosto que o
deixaram quase irreconhecível. Junto do fogão estavam quatro cartas de jogar:
quatro ases… Um póquer de ases!
Quando chegou ao local da ocorrência,
inchado pelas suas conhecidas soberba, fanfarronice e vaidade, o detetive
Smaluco, de gabardina beije vestida e de cachimbo “à la Maigret” apagado no
canto da boca, não teve quaisquer dúvidas de que se tratou de um acidente. Para
ele, o homem havia caído de cabeça no forno quando o petisco que cozinhara já
estava no ponto, ao tropeçar inadvertidamente numa garrafa de vinho alvarinho
que se encontrava tombada no seu caminho, não muito longe de dois copos com
resquícios daquele delicioso néctar minhoto. E era isso mesmo que ele se
preparava para colocar no seu relatório da ocorrência, não fosse um dos jovens camaradas
que o acompanhavam o ter alertado de forma veemente para o grave erro que iria
cometer.
Levantou-se então uma grande discussão,
insistindo Smaluco que o seu raciocínio estava certo e devidamente sustentado nos
indícios encontrados, pelo que reportaria isso mesmo no relatório, fazendo-se valer
da sua posição de superior hierárquico naquela circunstância, por ser o membro
da brigada com maior antiguidade de serviço. Conteve-se,
porém, quando se lembrou subitamente que havia combinado para o fim da noite um
encontro com a sua então jovem namorada Natália, que ficou de esperar por ele
num bar do Bairro Alto muito na moda, logo que terminasse o espetáculo em que participava.
E como não a queria fazer esperar, porque ela não tolerava atrasos e ele não
suportava os efeitos do seu mau humor, deixou ao cuidado do camarada a
elaboração do relatório, que os leitores farão o favor de tentar reproduzir.
E pronto.
Uma vez apresentado o caso pelo confrade
Inspector Boavida, é chegado o tempo dos nossos confrades e “detectives” o
estudarem, elaborarem as suas propostas de solução e remetê-las, impreterivelmente
até ao próximo dia 30 de Abril, podendo usar um dos seguintes meios:
- Pelo Correio para: Luís Pessoa, Estrada
Militar, 23, 2125-109 MARINHAIS;
- Por entrega em mão ao orientador, onde
quer que o encontrem.
Boas deduções!
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