MORTE MISTERIOSA Á
ESPERA DE RESPOSTAS
Cumprimos mais uma etapa das nossas
competições, pela mão do nosso confrade VERBATIM, que nos propõe um desafio a
exigir atenção redobrada.
CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL – 2017
PROVA N.º 7 –
PARTE I
“MORTE NAS TRASEIRAS” – Original de VERBATIM
Marisa Figueira, sentada sob o
chapéu-de-sol, perguntou as horas ao filho mais velho. Vinte para o meio-dia,
respondeu o jovem. O teu pai, retorquiu ela, já cá devia estar há mais de uma
hora e sabe que daqui a nada temos de ir ao homem dos sanitários, por isso,
pega na mota e vai ver o que se passa. O rapaz obedeceu, algo contrariado, e
partiu com um amigo no sentido da zona onde residiam, a vinte quilómetros da
praia.
Os dois moços encontraram Eusébio Figueira
estendido de costas no quintal, com o corpo quase paralelo às traseiras da
vivenda, com a cabeça para o lado direito e as pernas para o lado esquerdo de
quem saía da casa, com uma órbita esfacelada, encontrando-se o cão de guarda, também
aparentemente morto, junto de uma poça de sangue, aos pés do dono. Ainda mal
recompostos desta terrível surpresa, um deles foi chamar a GNR ao posto mais
próximo e outro ficou em casa ao telefone, a pedir socorro médico, pois Eusébio
Figueira podia ainda estar vivo.
Moravam num bairro de vivendas arrumado de
forma regular, que terá começado por ser clandestino, com amplos terrenos nas
traseiras, onde a generalidade dos habitantes, gente com algum dinheiro, tinha troços
ajardinados, pequenas hortas, árvores de fruto ou capoeiras. O quintal dos
Figueira estava rodeado por cinco outros terrenos de área semelhante. No
conjunto tinha-se um rectângulo de três por dois. Só a vedação do quintal que
estava em frente das traseiras da vivenda dos Figueiras, o dos Ferreira,
apresentava, nas suas três contiguidades, uma vedação difícil de ultrapassar e
impeditiva de olhares bisbilhoteiros.
Eusébio Figueira levou um tiro que o
matou. O projéctil homicida entrou na órbita esquerda e saiu um pouco abaixo do
occipital da vítima, tendo caído no canteiro junto ao pequeno muro de separação
entre os terrenos dos Figueira e dos Lopes, depois de bater nesse muro. Outra
bala perfurara e matara o cão, alojando-se no meio de duas pedras de
revestimento do chão, logo atrás do corpo do animal, entre este e o muro onde
embatera a outra bala. Verificou-se, depois, que os dois projécteis provinham
da mesma arma.
O quintal dos Silva, situado à direita de
quem saía pelas traseiras da vivenda dos Figueira, tinha uma parreira que,
apanhando fumo de um grelhador instalado pelos Figueira, fora motivo de zanga
entre aquelas duas famílias vizinhas. Sabia-se, no entanto, e a polícia
confirmou-o, que a verdadeira razão dos azedumes residira em desentendimentos
havidos num negócio de importação e exportação. Contrabando, segundo alguns.
Mas já tinham feito as pazes há uns quatro anos, pouco depois do 25 de Abril de
1974. Por outro lado, com os Lopes a tensão era agora elevada. Na origem disso
estavam dívidas de Alberto Lopes a Eusébio Figueira, reclamadas por este mas,
ao que parecia, sem provas legais. A chefe do clã Silva, Josefa da Silva, de
cerca de 42 anos mas ainda muito vistosa, não se cansava de dizer que o Eusébio
tinha toda a razão.
Em frente das traseiras da vivenda dos
Lopes situava-se o quintal dos Simões e em frente das traseiras da vivenda dos
Silva estava o terreno dos Costa. Estes dois quintais, dos Simões e dos Costa,
tocavam apenas em vértices do quintal dos Figueira, cada um no seu. Todavia,
qualquer deles tinha vista, embora muito atrapalhada pelas plantas, para o
terreno dos Figueira e vice-versa. As relações dos Figueira com os Simões eram
amistosas, sendo praticamente nulas com os Ferreira e os Costa
Os Simões e os Ferreira provaram não ter
estado nas respectivas vivendas naquela manhã quente e clara de Agosto. Silvino
da Costa disse ter ficado toda a manhã sozinho em casa a redigir um relatório
complicado, enquanto a família fora para a praia. Informou também só ter dado
por alguma coisa quando, ao chegar ao seu quintal para arejar, cerca da uma e
meia, avistou mais pessoas do que o costume no terreno dos Figueira. Josefa da
Silva provou ter estado na praia com os filhos, mas sem o marido, António da
Silva, que ficou em casa. Este jurou ter falado com o Eusébio pelas dez horas,
enquanto verificava os cachos da parreira, tendo apenas voltado a vê-lo, perto
do meio-dia e meia, então estendido no quintal, como quem tivesse levado um
balázio pela frente. Acrescentou que na altura em que tocava à porta de entrada
da casa do Eusébio, para alertar quem lá estivesse para a necessidade de o
socorrer, viu chegar dois militares da GNR e percebeu que, entretanto, alguém
já concluíra que o vizinho tinha sido morto a tiro. Alberto Lopes afirmou e
provou ter ido à praia com a família e ter regressado a casa sozinho, ainda não
eram duas da tarde, depois de haver comido no “Travessas”, e que, logo na rua,
lhe disseram que alguma coisa de grave acontecera ao Eusébio. Afirmou que
estava muito chateado com ele mas que desejava a sua recuperação.
A polícia descobriu armas nas vivendas dos
Lopes, dos Figueira, dos Silva e dos Costa, só uma devidamente legalizada, em
nome de António da Silva, mas nenhuma idêntica àquela de onde terão saído os
projécteis que atingiram a vítima e o seu cão. No quintal dos Lopes apareceu um
silenciador atrás de uns tufos de Alecrim, com sinais de uso recente mas sem
impressões digitais. Havia sangue do bicho misturado com sangue do dono,
conforme informação posterior do laboratório da polícia, e algum sangue de
Eusébio Figueira em escassas pingas caídas entre a porta para o quintal e o
sítio onde se encontrava o seu corpo, bem como na sua face esquerda, no
ferimento de saída da bala e no chão sob a cabeça, aí também em pequena
quantidade. Outros materiais orgânicos recolhidos estavam ainda a ser
examinados. Segundo o médico legista, a morte de Eusébio Figueira terá ocorrido
entre as 9:30 e as 11:00 daquela manhã.
O Inspector encarregado do caso afirmou
que já era possível saber, quase de certeza, o que teria acontecido com Eusébio
Figueira. O que lhe parece, caro leitor? Diga de sua justiça.
E pronto.
Resta aos nossos “detectives” dar resposta
ao confrade Verbatim, impreterivelmente até ao próximo dia 10 de Setembro, para
o que poderá usar um dos seguintes meios:
Por Correio para: Luís
Pessoa, Estrada Militar, 23, 2125-109 MARINHAIS;
Por e-mail para: lumagopessoa@gmail.com;
pessoa_luis@hotmail.com;
luispessoa@sapo.pt;
Por entrega em mão ao
orientador da secção, onde quer que o encontrem.
Boas deduções e
boas férias, para quem as tem!
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