O EXEMPLO DE CONSTANTINO
E A CRÓNICA FALTA DE PRODUÇÕES
Enquanto decorre ainda o prazo
para dar solução ao trabalho mais recente de M. Constantino, saudamos o
“mestre” que vem desenvolvendo actividade importante ao longo de muitas
décadas, em prol do Policiário, como seu estudioso, sendo autor de muitos
ensaios sobre a Literatura Policial e a nossa actividade e um divulgador
importante de uma das nossas facetas menos utilizadas, mais concretamente a
técnica de investigação, que usa amiúde nos seus problemas.
Possuidor de vastos conhecimentos
na área da técnica de investigação criminal e Polícia Científica, M.
Constantino vai passando alguns conhecimentos, sobre armas, sobre venenos,
etc., tornando os problemas bem mais verosímeis e próximos da realidade
criminal que pretende transmitir.
De uma das suas muitas obras,
precisamente o “Manual da Enigmística Policiária”, numa edição da Associação
Policiária Portuguesa, de 1995, deixamos um dos seus textos mais
significativos, sobre aquilo que ele entende ser a relação entre o homem e o
apelo pela resolução do enigma:
«O homem encontra no enigmático
algo que lhe excita o espírito e lhe motiva a curiosidade.
Posto perante um mistério, todas
as faculdades se lhe alertam e, atentas, se debruçam em torno do problema.
Sente prazer íntimo em seguir
passo a passo todas as pistas até alcançar o objectivo.
Satisfaz-se ao conseguir rodear
as dificuldades, tanto como vencer obstáculos que se apresentam
intransponíveis.
E quanto mais a precisão dos
factos não se permite que se vislumbre sombra de uma estrada, maior é o apego e
o desenvolvimento do cérebro, maior é a satisfação da vitória. (…)”
M. Constantino continua o mesmo,
criador de enigmas policiários, trabalhador da mente, desafiador dos leitores,
apesar de estar já para além das nove décadas de existência e mais de sete de
policiário, prova absoluta de que não há idade limite para imaginar, pensar,
desenvolver ideias e colocar os outros a pensar.
Na mente de quem esteve presente
na justíssima homenagem que foi prestada ao “mestre” em 17 de Maio de 2015, na
sua terra natal, Almeirim, ainda ecoam as suas palavras emocionadas, de
agradecimento:
“Obrigado por terem vindo. Sois
uma Família que junto à do meu sangue, aqui representada pela minha filha
Marília e neta Teresa.
Já afirmei em tempos, que uma homenagem
não se pede, nem se recusa: agradece-se…
Não serei mal-agradecido, no
entanto sempre vos digo, sou tão digno desta homenagem como a maioria dos
presentes. Todos lutamos por ficar entre os melhores, por vezes conseguimo-lo.
Essas pequenas vitórias não nos tornam o melhor, certamente. Fazer parte do
grupo dos melhores, é bastante!
De resto, o troféu maior, o
apetecido, está nas amizades conquistadas: Essas sim, engrandecem-nos, sois o
exemplo.”
PRODUÇÕES
Após falarmos de um dos maiores cultores e
“fabricante” de enigmas policiais, regressamos ao tema da falta de produções,
uma “doença crónica” muito nossa! Assegurada, como sempre, a disponibilidade
dos produtores mais activos da nossa secção, uma disponibilidade que não nos
cansamos de agradecer, a verdade é que necessitamos de “sangue novo”, novos
métodos e processos de escrita, novidades, em suma, que evitem uma certa
estagnação. É que, após alguns anos de Policiário, com o conhecimento dos
autores e dos seus processos, começamos a perceber e antecipar as suas
conclusões, quase resolvemos os problemas pelo conhecimento que temos dos seus
autores. Claro que é um exagero, mas quer dizer algo.
A nossa actividade baseia-se, em primeira
instância, na qualidade dos desafios que temos para propor aos “detectives”. É
frustrante chegarmos à conclusão de que um determinado problema não tem a
resposta adequada, depois de imenso tempo perdido na sua análise, ou que é
anulado após tanto esforço.
Por isso vamos lançando o nosso apelo para
que os nossos “detectives” elaborem um desafio, de qualquer dos tipos e o façam
com o espírito de propor aos restantes confrades aquilo com que gostariam de
ser confrontados. Aquilo que lhes daria prazer resolver.
Um problema passa sempre pelo contar de uma
história, por retratar uma cena verosímil, capaz de ter ocorrido em qualquer
lugar, que envolva um enigma e a sua resolução. Terminada a exposição dos
factos, no exacto momento em que o investigador vai passar à fase de
apresentação das conclusões e exibir as provas em que se baseia para apontar o
responsável, o produtor interrompe o seu conto e lança os seus desafios. Alguns
produtores escolhem o método de fazer algumas perguntas, que querem ver
respondidas, outros optam por simplesmente interromperem o texto e aguardarem
pelos relatórios. No caso dos de escolha múltipla, o texto termina com as
quatro hipóteses de solução, de entre as quais o decifrador terá que escolher
uma.
Caríssimos “detectives”, não é aceitável que
tenhamos hoje um universo de participantes nos nossos desafios de mais de dois
milhares de confrades, que os lêem e estudam, se dão ao trabalho de escreverem
as soluções, mas não tenham a curiosidade de testarem os seus dotes de escrita,
em desafios postos à consideração e decifração dos restantes confrades.