DUAS MORTES
DECIFRADAS
Vamos hoje ter acesso
às soluções dos enigmas de autoria do confrade Inspector Boavida, que
compuseram a prova n.º 2:
CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL – 2018
SOLUÇÕES DA
PROVA N.º 2
PARTE I
“ SMALUCO E
A MORTE DE JORGE MARAVILHAS” - de Inspetor Boavida
Natália Vaz tem toda a razão. O caso
da morte de Jorge Maravilhas foi muito mal tratado por Smaluco, que terá
contribuído com a sua desastrada intervenção para que os seus amigos e
ex-colegas da Polícia Judiciária tivessem apressadamente concluído pela tese de
suicídio o que indiciava tratar-se claramente de um homicídio.
O velho detetive começou por
contaminar o local do crime com atitudes pouco refletidas, sendo a mais grave a
que se prende com o gravador de cassetes de Jorge.
A sua intuição levou-o a carregar na
tecla “play” do gravador onde o antigo radialista registava todos os
instantâneos do dia-a-dia que fossem suscetíveis de ser do interesse do seu
vasto auditório e ouviu, desde o início, a mensagem de despedida de Jorge, que
culminou com aquilo que pareceu ser o barulho do tiro que o terá matado. Só que
este não podia ter-se suicidado e de seguida rebobinar a cassete, colocando a
mensagem no início. Acresce que o gravador se apresentava imaculado, o que não
é compatível com o abundante sangue que escorrera da ferida até ao tampo da
secretária e que teria naturalmente encharcado a mão direita de Jorge, após
desferido o tiro fatal.
A inexistência de sangue no gravador
de cassetes revela que não foi a vítima a gravar aquela mensagem de despedida.
É certo que a voz de Jorge Maravilhas é inconfundível, mas isso não quer dizer
que seja inimitável, sobretudo se a imitação for executada por um… imitador
profissional como o Necas Baptista, “um dos mais completos e originais artistas
de variedades de todo o mundo” (a imitação de vozes seria a sua principal
especialidade, o que lhe granjeou “grande projeção internacional”…).
Será de admitir que a arte de
imitação de Necas se estenda à caligrafia, sendo possível, por isso, que o
envelope a si endereçado contenha uma mensagem escrita que, para além de
abordar pormenores mais íntimos da vida de ambos, faça também uma chamada de
atenção para a mensagem deixada no gravador, a fim de reforçar os indícios de
suicídio. Não foi, porém, necessária esta chamada de atenção para que Smaluco
tomasse a iniciativa de o fazer antes de chamar a Polícia Judiciária, contando
depois sem grande rigor aos seus ex-colegas as circunstâncias que rodearam a
sua audição.
Ainda a propósito da arte de
imitação de Necas, parece crível que ele seja exímio em “beatbox”, pelo que o
som do tiro que sucede à declaração gravada poderá ter sido feito com a própria
boca do assassino, não tendo havido, assim, dois tiros naquele segundo andar na
madrugada em que aconteceu o homicídio de Jorge Maravilhas (só havia uma
cápsula de bala no escritório!) Ou, então, se houve segundo tiro, uma das
cápsulas levou sumiço). Mas isso será esclarecido numa análise à arma do crime e
após saber-se o número de tiros ouvidos pelos restantes moradores daquele
prédio chique da Lisboa Moderna, onde Necas e Jorge foram muito felizes antes
da queda do índice Dow Jones, do vício do jogo se ter apoderado dos dois e de
um jovem cantor ter aparecido na vida de Jorge Maravilhas, o que deixou o seu
companheiro de vida louco de ciúmes...
PARTE II
“O CASO DA
MORTE DE ELISA” – de INSPETOR BOAVIDA
Resposta
correta: alínea D) Homicídio praticado por Carlos Marques
As hipóteses de acidente e suicídio estão à partida
excluídas, uma vez que o subchefe Pinguinhas encontrou a janela do gabinete da
secretária fechada, o que significa que alguém a fechou depois de Elisa ter
voado dali para o lajedo das traseiras do edifício. E uma vez que esta não se atirou
pela janela voluntariamente, a missiva encontrada por cima do teclado do seu
computador não terá sido escrita por ela, mas por alguém que pretendeu encenar
um suicídio que encobrisse o homicídio por si cometido.
Mas quem terá cometido o assassinato, Carlos Marques
ou a sua mulher? É plausível que esta tivesse tido conhecimento do caso de
infidelidade do marido com a secretária, mas não há nada que indicie a sua
intervenção no homicídio em momento algum do enunciado do problema. Por outro
lado, esta não estava na empresa à hora do crime, que ocorreu depois das 20h00
(Pinguinhas deslocou-se ao local da ocorrência “após uma jornada intensa de
trabalho quase ininterrupto de dez horas, iniciada às dez da manhã”), numa
altura em que a empresa já se encontrava encerrada ao público e todos os
funcionários já haviam abandonado as instalações, à exceção de Elisa.
Aliás, o subchefe “certificou-se de que ninguém estava
nas instalações e que tudo se apresentava isento de indícios de associação ao
ocorrido”, quando percorreu os três pisos na companhia do sócio-gerente da
empresa. E se não estava mais ninguém nas instalações, só pode ter sido Carlos
Marques o autor do homicídio. Este foi aconselhado pelo subintendente Pezinhos
a não tocar em nada e a esperar pelo seu subordinado (subchefe Pinguinhas) à
porta da loja, o que confirmou ter feito. Mas, na verdade, ele mente, pelo que
tem muito a explicar. Talvez a explicação passe por eventuais exigências de
Elisa, uma das suas muito comentadas conquistas amorosas, a que ele não aceitou
ceder, decidindo pela sua eliminação para não comprometer o seu casamento.
Carlos Marques empurrou-a, então, pela janela do
gabinete e depois encenou o suicídio, escrevendo uma carta de despedida em nome
de Elisa Fagundes (a letra trémula, que aos olhos da justiça poderia significar
um estado extremo de nervosismo de quem a escreveu, mais não era do que a
paulatina tentativa de imitação de uma caligrafia que o sócio-gerente da
empresa conhecia muito bem). Só que cometeu o erro de fechar a janela e de
admitir não ter mexido em nada, confirmando ter ficado à espera do subchefe
Pinguinhas à porta da loja, como lhe aconselhou o subintendente Pezinhos.
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