MEIAS-FINAIS
DA TAÇA
EM
DIA DE HOMENAGEM A NATÉRCIA LEITE
Ao
sorteio das meias-finais da taça de Portugal de 2018 concorreram os quatro
confrades que melhor souberam dar resposta aos desafios que integraram a prova
n.º 8, a saber: DANIEL FALCÃO, MISTER H, PAULO e ZÉ
Estes
confrades deixaram pelo caminho os valorosos opositores, X. Boavista, Detective
Jeremias, Inspector Boavida e Búfalos Associados, respectivamente, que apesar
de elaborarem excelentes relatórios, foram eliminados nos critérios de
desempate.
Concluída
a selecção dos apurados para as meias-finais, passámos ao sorteio para
definição dos confrontos que apurarão os finalistas, em função das prestações
que vierem a ter nos desafios da prova n.º 9:
ZÉ
– DANIEL FALCÃO
PAULO
– MISTER H
A
D. Sorte, a quem se referia o saudoso confrade Sete de Espadas, decidiu. Está
decidido!
HOMENAGEM A NATÉRCIA LEITE
A
nossa homenagem de hoje é para uma figura importante do policiário,
infelizmente um tanto esquecida, por não ter tido uma participação activa nas
nossas competições, como decifradora.
Com
uma vida literária intensa, quer como escritora de grande imaginação, com uma
forte presença no mistério, quer na poesia, Natércia Leite foi sempre uma
pessoa atormentada pela ausência de oportunidades, falecendo sem nunca ter
podido cumprir o seu maior sonho: publicar um livro.
Natércia
foi uma das pioneiras do policiário, escrevendo muitos desafios e contos para o
Quinto Programa, que Artur Varatojo manteve na rádio e onde se cruzou com
muitos dos mais importantes vultos do policial, tais como Sete de Espadas, M.
Constantino, Lima Rodrigues, Domingos Cabral.
Na
nossa secção, que Natércia seguia com a atenção que a doença permitia, muitos
foram os textos que aqui viram a luz do dia e foi uma participante premiada nos
concursos de contos que promovemos.
O
problema que hoje publicamos é um bom exemplo do seu modo de encarar o
policiário. Natércia adorava escrever e a descrição dos personagens e dos
ambientes era um exercício que raramente dispensava.
O
caso de uma estranha morte foi publicado em 24 de Abril de 1945, na secção
“Mistério e Aventura”, em “A Vida Mundial Ilustrada” e é o desafio que hoje
vamos recordar, em memória desta Mulher que deixou uma marca indelével no
Policiário.
A
ESTRANHA MORTE DE FERNANDO FARIA
Desafio de Natércia Leite
O detective Santos foi chamado
apressadamente a casa dos irmãos Faria, dois notáveis engenheiros. Aí, o
criado, assustado, contou que um dos patrões há muito que fora para o banho e
ainda não voltara. Como o outro patrão tivesse saído nesse intervalo de tempo,
ele preferira recorrer à polícia.
Então, o detective Santos
encaminhou-se para a sala de banho. A porta estava fechada. Mas como se tratava
de uma fechadura vulgar, o detective utilizou uma das muitas chaves que sempre
trazia consigo e conseguiu abri-la facilmente.
Lá dentro deparou-se-lhe um
espectáculo bem triste. Entre os vapores de água jazia Fernando Faria. A sua
cabeça estava tombada para o peito. E, na nuca, tinha uma horrível brecha.
O detective Santos pode constatar
logo que a morte fora instantânea.
O detective fez um rápido esboço
do que estava à vista.
Depois, voltou à outra sala para
melhor interrogar o criado. Ainda assustado, ele confessou:
– O senhor Fernando discutiu
furiosamente de manhã com o senhor Francisco. Depois, aí pelas onze horas, foi
meter-se na casa de banho. O senhor Francisco saiu às onze e meia. Lá para o
meio-dia e meia hora, como o senhor Fernando não aparecesse, fui bater à porta
da casa de banho. Ele não respondeu. Ainda procurei ver pela fechadura mas a
chave, do lado de dentro, não me deixou ver nada. Então, resolvi
telefonar-lhe...
Passados momentos, regressou a
casa Francisco Faria, o irmão do morto, interrogado logo pelo detective, ele
declarou:
– Sim. Discuti com ele, de manhã,
pois acusei-o de me ter roubado uns planos valiosos. Ele não mos devolveu,
dizendo que não os tinha. Saí furioso. Mas, apesar de tudo, era bastante seu
amigo.
O detective Santos olhou
sorridente para os dois homens. Já tinha achado a “chave do caso”.
QUESTIONÁRIO
1º – O criado falou verdade? Porquê?
2º – Francisco Faria falou verdade? Porquê?
3º – Fernando Faria suicidou-se? Porquê?
4º – Qual deve ter sido a solução do detective
Santos?
Solução:
1º – As declarações do criado foram falsas. Se o
patrão tivesse estado tanto tempo no banho, a água estaria fria e não emanaria
ainda vapores. Também não podia a chave tê-lo impedido de espreitar, pois que
não se encontrava lá chave alguma, dada a facilidade com que o detective Santos
abriu a porta. Além disso, se o criado queria fazer supor que o patrão se
suicidara, caía num erro porque a cabeça batendo contra a banheira, ao ponto de
abrir uma profunda brecha na nuca, não viria tombar depois sobre o peito.
2º – Nada nos pode levar à conclusão que Fernando
Faria não tenha falado verdade. Há apenas a contradição da hora de saída. Mas,
dadas as outras mentiras do criado, é fácil supor que ele tivesse insinuado uma
falsa hora de saída de Francisco Faria, com intenção mais do que duvidosa...
3º – Fernando Faria não se suicidou. A ferida
profunda que apresentava na nuca, não poderia ser feita por ele próprio. Além
disso, se se tivesse suicidado, o instrumento de que se servira devia estar bem
à vista.
4º – Se Fernando Faria não se suicidou, havia um
criminoso. E o criado devia ter sido o criado, porque prestara propositadamente
falsas declarações. E de facto, preso, ele confessou o crime. Roubara os
documentos e com medo que o patrão descobrisse, porque já desconfiava dele,
aproveitou a zanga havida de manhã, e matou, para fazer cair as culpas sobre
Fernando Faria. Mas, ao mesmo tempo, receoso de possíveis consequências, quis
também fazer acreditar num suicídio. Porém, o vapor de água e a chave
hipotética traíram-no irremediavelmente...