CAMPEONATO NACIONAL
PROVA N.º 4
A CATÁSTROFE - Original de CARLA COLCHETE
- Ora boa tarde.
- Boa tarde.
- Se aqui vendem selos, também devem comprar, não é?
- Compramos sim senhor.
- Tenho aqui uns, do tempo dos reis… Que é que acha? Valem alguma coisa?
- Valem, valem sempre. Se é muito ou pouco, mostro-lhe já no Catálogo, mas não se fie muito nos preços, nós estamos a vender por metade do que aí está… Ora bem, o que é que tem aí? D. Luís carmim, lilás, verde… Só tem D. Luís, não é?… Cá está: estes valem, teoricamente, 36 euros cada… quando aparecem assim aos pares valem 108 euros…
- Cada?
- Não, o par. Está a ver este símbolo? O meu miúdo diz que é da batalha naval… Quer dizer que dois selos ligados valem cerca de três vezes mais do que um sozinho.
- E esse sinal aí?
- É quando são quatro: valem cerca de oito vezes mais do que só um… mas, vendo bem, é só o dobro, porque são quatro selos, não é? Com o envelope ou o postal original é que o valor do selo aumenta para o quádruplo…
- Para o quádruplo? Boooh! E estive eu toda a manhã a cortar selos dos envelopes… Menos neste…
- Dois D. Luís carmim? São dos que valem menos. Olhe: perdeu o senhor e perdi eu. Mas é a ordem natural das coisas: o mais importante é sempre o que não sabemos.
- E a seguir vai dizer-me que as cartas também valem dinheiro, não é?
- Quando diz cartas refere-se a…
- …a correspondência, ao que estava dentro dos envelopes…
- Depende…
- Depende de quê?
- Olhe, de quem escreve, de quem recebe, do que nelas se diz… já tenho comprado algumas mais caras do que os selos… não me diga que…
- Nem me fale. Até já estou a ficar mal disposto. Queimei-as todas… menos a do que lhe mostrei, em que trouxe os selos… escolhi-o porque era o maior e tinha um timbre… ´tá a ver? Consulado português de Newcastle…
- Dá-me licença que a leia?
- Faça favor…eu não percebi nada dos gatafunhos.
- «Newcastle, 10 de Dezembro de 1878»… É dirigida a um «Meu caro Vaz»… tem ideia de quem seja?
- Não sei, um antepassado qualquer da minha mulher… ela é que é Vaz, pelo lado da mãe, e as cartas e os papéis estavam no cofre da avó dela… E nesse envelope só consegui perceber isso: "Vaz".
«Como estipulado, aqui lhe mando a versão… i… irredutível que tanto o exasperou. Confio que, não tendo eu seguido o seu conselho de me aquecer com essas folhas, não as faça chegar à sua lareira em meu lugar – pelo menos, não antes de o Senhor Ministro lho determinar.»
«Se, como julga, não puder obter o … Nibil… não, o Nihil Obstat, à sua publicação, conto que o Ministério tenha a grandeza de, proibindo-me a mim como Carlos X proibiu Victor Hugo, me pagar esta Batalha perdida, como o rei pagou «Marion Delorme». Enfim, não como se paga em França, mas em trocos, como se paga em Portugal.»
«Um abraço do seu agora devedor José Maria».
- Acha que vale alguma coisa?
- Nem imagina… e o livro a que a carta se refere?
- Livro? Não havia livro nenhum. Havia um maço de folhas manuscritas, já borratadas, atadas com um cordel. Mas estavam coladas umas às outras, bolorentas, com os cantos negros… foram as primeiras a ir para a lareira – e olhe que custaram a arder… Era uma coisa de guerra, uma batalha qualquer…
- A Batalha do Caia.
- Isso mesmo… Espere aí: como é que sabe?
A pergunta é exactamente essa: como é que ele sabia? E sabendo ele isso, como é que sabemos nós que a Autora quis que a história se revelasse como uma efabulação e não como um relato presenciado de uma realidade irónica (como a realidade sempre é)? O que é que falha?
E pronto!
Agora, o desafio está lançado.
Para alguns dos nossos “detectives” vai ser um desafio algo diferente daquilo a que estão habituados, mas depois de algumas leituras atentas, por cá ficamos à espera das propostas de solução para este problema, impreterivelmente até ao próximo dia 10 de Fevereiro, para o que poderão usar um dos seguintes meios:
- Pelos Correios para PÚBLICO-Policiário, Rua Viriato, 13, 1069-315 LISBOA;
- Por e-mail, para policiario@publico.pt;
- Por entrega em mão na redacção do PÚBLICO de Lisboa;
- Por entrega em mão ao orientador da secção, onde quer que o encontrem.
Boas deduções!
Quando há algum tempo recebemos uma chamada telefónica de alguém que se identificou como sendo o Mycroft Holmes, um turbilhão de recordações assaltou-nos a mente!
Recordações que passaram pelas excelentes soluções que elaborava, muito circunstanciadas e completas, com dezenas de páginas de dedução pura; pelos encontros policiários da Figueira da Foz, algures em finais dos anos 70 do século passado, no "Jacques"; uma casa na encosta da Serra da Boa Viagem com um cão muito mal disposto; "expedições punitivas" na noite de Lisboa, nos tempos em que era possível calcorrear toda a cidade; convívios prolongados com Shakespeare recitado às couves do quintal e discussões intermináveis sobre tudo e sobre nada...
E também o Sete de Espadas entrava em todas estas histórias, como grande responsável por todos andarmos no Policiário! Tal como nós, também o Mycroft entrou pela porta do Mundo de Aventuras e das Histórias aos Quadradinhos, sendo atraído para as páginas finais da revista onde aparecia a secção “Mistério… Policiário” dirigida por um “velhote” de barbas brancas, que arrastava multidões de jovens para convívios em todos os pontos do país!
Aquele mesmo que o Mycroft já não via há décadas - depois de andar em serviço por Macau e muitos outros locais, até "estacionar" agora em Coimbra, para tratar do doutoramento - mas que logo planeámos ir visitar, assim que ele pudesse demandar a capital! Não houve tempo. O Sete, o "nosso" Sete partiu antes que fosse possível fazer-lhe essa surpresa...
Também por isso o Mycroft propôs este desafio que hoje aqui aparece com uma dedicatória especial:
"Esta prova, dedicada à memória do SETE de ESPADAS, é extraída de KISMET (Contos de fados) – um livro a publicar em breve pela Guimarães. Com as restantes histórias aí reunidas partilha pontos em comum, o menor dos quais talvez seja a sua candidatura ao Grande Prémio Almeida Garrett do Conto Português – em que se vota com o postal incluído em cada exemplar do livro. Esta pré-publicação conta, portanto, como pré-campanha – mas nas eleições há sempre quem parta com vantagem...Mycroft Holmes".
3 comentários:
A autora é Alcochete ou Colchete?
No jornal está Alcochete.
Deco
Caro Deco:
Alguém esta a pensar no Freeport de Alcochete, agora tanto na berra, quando estava a tratar do texto!
O nome correcto é CARLA COLCHETE!
Parece ser um bom problema, mas difícil saber aquelas coisas dos selos. Difícil.
Sossavart
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