SOLUÇÃO DA PROVA N.º 3
O BAÚ DE TEMPICOS - de A. RAPOSO & LENA
As páginas do caderno de Tempicos, transcritas na prova referem-se a três acções no tempo, tendo como fio condutor a história da mesma família.
Na primeira citação surge a Dona Gertrudes, com a sua gravidez e com a intenção de chamar à sua filha Carlota ou Joaquina.
A acção passa-se em 1960, e o nome dado à sua filha acabou por ser Joaquina.
Para se saber a época em que a acção se passa, teremos que descobrir quem era o treinador que tinha por nome um piropo a mulher. Só poderia ser o Bèlla Guttmann!
Este treinador entrou no Benfica em 1959, depois do mês de Junho e ganhou o campeonato nacional na época 59/60.Os factos narrados passam-se em 1960, Abril, 24.Um domingo.
Gertrudes iria na 2ª feira 25 ao médico ginecologista e teria a confirmação do sonho. A sua filha Joaquina vinha a caminho. Naquele 25 de Abril ainda não era feriado, só o foi 15 anos depois.
O domingo 24 de Abril de 1960 foi o último desse mês e daí a dois meses festeja-se o S. João no Porto, com abundância de alhos-porros e vinho tinto.
Na segunda citação conta-se um facto ocorrido em 1980, Dezembro, 4.
A queda do pequeno avião que caiu mal levantou voo e onde Sá Carneiro e Amaro da Costa pereceram.
No terceiro excerto Joaquina é enganada por Carlos que é apanhado agarrado à criada Sofia.
Joaquina telefonou à mãe e contou-lhe o seu drama.
Conta-se a morte do Dr. Veloso com uma facada nas costas, o que desde logo elimina a hipótese de suicídio. A acção passa-se mais recentemente, na década de 90, Veloso trouxera Carlos, garoto ainda, em 73 pelo que terá cerca de 30 anos, bem como Joaquina, a eterna namorada.
Alguém mata Veloso e deixa o lenço que previamente teria surripiado a Sofia.
E a quem deveria pertencer o lenço?
Não nos esqueçamos que no alfabeto cirílico, usado na Ucrânia, à letra S corresponde o nosso C.
O lenço foi lá deixado pelo assassino que com ele limpa as impressões digitais.
Qualquer dos seguintes suspeitos da casa poderá ser incriminado.
Sofia teria trazido o lenço da sua terra pois estava em Portugal há pouco tempo.
Chú – o criado vietnamita poderia engrossar o rol dos suspeitos (apesar de não ser tão corrente os homens usarem lenços com monograma) pois os vietnamitas passaram a usar o alfabeto latino, há muito tempo.
Carlos o “escurinho de olhos verdes”.
A quem o lenço não deveria pertencer:
Quem não fará parte do grupo será a cozinheira Cheng cujo alfabeto nada tem de semelhante ao latino.
A Joaquina por não ser essa a inicial do nome.
Pensamos que o crime teria sido praticado por quem tinha motivos fortes para o fazer: a sobrinha. Joaquina jogava em vários tabuleiros e, preenchia os quesitos. Tampouco o lenço a poderia indiciar, pois o seu nome não começava por C.
- Não havendo mais gente na família, a futura herdeira acabaria por ser ela, através da sua mãe, que estaria doente, internada.
- Tendo Gertrudes fraca saúde depressa Joaquina estaria de posse da herança.
- Ao usar o lenço, estaria a levar as suspeitas para a dona dele – Sofia que a atraiçoara com o seu homem.
- Carlos ficaria sem dote, pois não haveria testamento, por não ter chegado a ser perfilhado.
Quem realmente teria vantagem seria Joaquina e não se mata sem um móbil do crime definido e claro.
Estamos certos que a polícia, utilizando toda a sua técnica e experiência chegará à culpada e acabará por obter a confissão.
10 comentários:
Mais um problema de caça aos erros. Assim não vamos lá.
Inspectro Martelada
Não gosto muito destes problemas. Não há nada para comentar e não acrescentam nada, é só ir para a caça dos erros.
Serpico
Caros confrades:
Peço desculpa por não estar de acordo com os comentários anteriores.
Neste problema, há um homicídio (teríamos de excluir suicídio ou acidente) e NENHUM erro. O que há é pistas para chegarmos a determinadas datas, que nos abrem caminho para a motivação do crime: gravidez da mãe da criminosa (herdeira do médico)e traição do namorado. Há que analisar o objecto deixado no local do crime!
Há, pois, uma tripla motivação para o crime - impedir o acto que perfilharia Carlos (e lhe "roubaria" a herança), tentativa de culpabilização da "traidora" e sua eliminação, para ficar com o Carlos!.
Não é, como se pode ver, um problema de caça ao erro. De acordo?
Um abraço
Zé-Viseu
Boa tarde
Tb não concordo que este seja o tipico problema de caça ao erro. A caça ao erro é tipicamente o problema nº1 em que por exemplo se apresenta como erro o facto da Rotunda da Boavista se chamar Prça Mousinho de Albuquerque, e eu aposto com quem quiser que pelo menos 70% da população do grand Porto não sabe que a "sua" Rotunda da Boavista tem o nome pomposo de um heroi de guerra colonial. De certeza que se alguém chega ao Porto apanha um taxi e pede para ir para a Praça Mouzinho de Albuquerque, de certeza que vai ficara conhecer muito bem a cidade, pois o taxista faz-lhe esse favor de cobrar o passeio turistico.
Relativamente a este problema, porque não é sequer equacionada a hipotese de o assassino ser Moisés?
o móbil do crime poderia muito bem ser ciumes de Carlos e o lença ter sido deixado no local do crime só para incriminar este último.
Moisés teria a sua amada livre de Carlos e com a conta bancária bem recheada só para si.
Estarei a pensar mal? Será uma hipotese totalmente descabida?
um abraço do Bernie
Pistas para ir caçar datas, é quase a mesma coisa.
Eu gosto é de problemas que só nos façam pensar e encadear as ideias para descobrir.
Isso é que são problemas bons.
Nélio
Eu acho que o Bernie tem alguma razão. Pode haver mais que uma solução, mas como sou novo nestas coisas, gostava de ouvir opiniões e de ouvir os craques.
God Zila
Felizmente que o nosso problema levantou celeuma.
Parece-me ser injusto dizer-se que é do tipo
de caça aos erros. Há que descobrir uma data para
encadear o raciocínio. Depois terá que funcionar o
raciocinío puro para se chegar a bom porto.
Bernie Leceiro levanta a hipótese de ser possível
que o Moisés reunisse mais hipóteses de suspeição. Lembro que
se diz no problema “Moisés arrastava a asa a Joaquina
mas sem o menor êxito!”
Além disso Joaquina gostava do “escurinho” e quando se
gosta, não há volta a dar…
Lembro que Joaquina só viria a ser herdeira após a morte
de sua mãe (num futuro ainda incerto) e no entretanto Moisés
seria dispensado do
trabalho (despedido) pois não haveria necessidade de
motorista naquela casa nem eventualmente de outros serviçais.
Por fim, agradeçemos as críticas, mesmo aquelas que não nos são favoráveis
pois acicatam-nos para fazermos melhores trabalhos.
A raposo & Lena
Desculpem meter a minha colherada, mas penso que há por aqui alguns equívocos:
Primeiro, quando se fala de problemas de "caça aos erros" não se deve pôr-lhe um rótulo de menoridade. A literatura policial também já teve esse falso rótulo. É um modelo de problema tão digno como qualquer outro, mais, tão importante como os outros;
Segundo, este problema da dupla A. Raposo & Lena não é equadrável nesse tipo, como o Zé-Viseu já explicou.
O que pode ter induzido em erro os primeiros comentaristas foi uma certa forma de expressão que temos vindo a usar ultimamente - penitecio-me pela minha quota parte de responsabilidade - ao chamarmos a atenção para os exageros de usar e abusar desse tipo de problemas e de esse ser o preferido das novas gerações de produtores.
Um torneio que consiga ter uma grande variedade de tipos de problemas será, estamos certos, um excelente torneio.
Meus caros:
Penso que não deixei muito clara a minha opinião sobre os chamados problemas de caça ao erro.
Não sou contra eles nem podia ser, pois a caça ao erro (de depoimento, ténico) é a essência do policiarismo e é isso que fazemos em todos os enigmas propostos.
Eu nunca consegui produzir um problema aceitável; não sou, por isso, a voz mais autorizada para dar conselhos na matéria. Valorizo mais, porém, como solucionista, a caça aos erros integrados num ilícito qualquer (crime é, por definição, um ilícito). Acho que os produtores poderiam (deveriam, para se integrarem na designação policiário?) colocar esses erros num cenário de crime - a morte, o roubo, o furto, qualquer coisa que justificasse uma intervenção policial! A simples mentira, por si só, parece-me pouco!
Tenho a certeza de que será fácil a um produtor encontrar uma situação que exija uma intervenção policial e nela (ou paralelamente a ela) colocar os tais erros.
Mas não condeno o tipo de problemas da (chamada) mera caça ao erro. Apenas os valorizo menos, como produções POLICIÁRIAS.
O que eu preciso é de ler, analisar, pesquisar, pensar e escrever uma solução. Sem isso é que eu não passo. Assim, venham problemas! Se integrados num cenário policial (para mim) tanto melhor.
Que acham?
Um abraço
Zé-Viseu
Eu estou de acordo com o Zé. Não se pode dizer nem ao de leve que o "Baú do Tempicos" seja um problema de caça erros. Na realidade em todos os problemas a sua solução só é possivel se formos procurar erros.
Erros nas declarações dos suspeitos porque o criminoso sempre comete erros naquilo que diz e muitas vezes até naquilo que cala.
Nas minhas produções sempre tenho usado o tipo dedutivo mas isso não implica que que não se precise de procurar erros porque são estes que nos levam ao criminoso. Lembro contudo que mentiras são diferentes de erros. Um suspeito pode mentir e ser precisamente essa mentira o que o iliba. Estou a lembrar-me de um problema do Insp. Fidalgo publicado há uns anos, talvez mais de 10.
Quanto aos problemas de caça ao erro sempre têm uma finalidade útil. Precisamos fazer buscas e nessas buscas nóss sempre aprendemos muito, mais até do que se possa supor
Rip Kirby
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