CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL
PROVA N.º 8 (ÚLTIMA)
O INSP. FIDALGO E A MORTE PELA NET
Jorge Figger é um dos rostos mais conhecidos nos mundos complexos da Finança e do chamado “jet-set”.
Rico até mais não, acumula a particularidade de ter passado por um processo educacional de excelência, nos melhores colégios a nível mundial, sendo apontado como um dos maiores exemplos de cumprimento das regras da boa educação e dos protocolos, mesmo os mais rigorosos. De uma simpatia a toda a prova, não lhe é conhecido um único deslize, quer no relacionamento com outros vultos da chamada aristocracia, quer nas relações com empregados ou com o mais comum dos mortais.
Por outro lado, a sua assumida paixão pela “asa-delta” de que é exímio praticante, fá-lo acumular uma enorme quantidade de aparelhos e equipamentos, que agora estão em exposição pública num armazém da cidade do Porto, o que aumenta a sua popularidade junto da malta mais radical.
Jorge partiu para os Açores. Resolveu sair pela primeira vez após um acidente relativamente grave, sofrido no dia da inauguração da exposição e que o retirou da circulação durante cerca de um mês, tempo em que não saiu da sua mansão, algures para Cascais. Foi ao encontro da sua namorada, uma açoriana da Horta a quem ia fazer uma surpresa. Mandou a tripulação preparar o seu jacto particular, acabado de regressar de uma rigorosa inspecção.
Infelizmente para Jorge, uma violenta tempestade abateu-se sobre a zona e o seu voo acabou na Ilha do Pico, sendo todo o tráfego proibido, logo a seguir…
Na cidade da Horta, a escassos quilómetros dali, sem nada saber da tentativa de surpresa, Maria da Graça estava em casa, sentada ao computador, em cavaqueira informática com amigos.
Passava um pouco das 20 horas e o Inspector Fidalgo estava sentado num banco corrido, olhando para o monitor de um computador portátil que emitia imagens obtidas por uma câmara Web, numa gravação iniciada às 10.15 horas. Via-se uma moça bonita, sentada em frente de um computador, que dedilhava com destreza. De vez em quando erguia o rosto que ficava no enfiamento da câmara, revelando toda a sua beleza.
Subitamente, ergueu-se e saiu do campo de visão, regressando pouco depois, enquanto um vulto alto, cerca de 1 metro e 90, envergando uma espécie de fato de macaco de cor avermelhada apareceu na imagem, de costas, rumando ao fundo da sala, onde era visível uma porta que, uma vez aberta, revelou ser uma casa de banho. O vulto levantou a tampa da sanita e, sempre de costas para a porta, demorou algum tempo a urinar. Depois, vê-se a accionar o autoclismo e a virar-se para o seu lado direito, debruçando-se ligeiramente sobre um lavatório onde lavou as mãos, esfregando-as de seguida contra o fato, para as enxugar, antes de avançar em direcção à moça que continuou a dedilhar o teclado até se abater sobre ela um objecto parecido com um pé de cabra e ela desaparecer do ecrã. Uma segunda arremetida do objecto, desta feita sobre o computador, fez terminar a transmissão.
- De onde apareceu isto?
- Foi aquele moço, ali ao fundo. Estava a comunicar com a rapariga, que estava nos Açores, na Horta, quando gravou estas imagens… Até a rádio já fala disso, parece que mete um tipo da “alta”, tudo se encaixa como uma luva!
- Foi o senhor que registou estas imagens, não é verdade?
- Sim, senhor.
- Porque não veio logo?
- Senhor inspector, só há pouco vi as imagens. Estava a comunicar com a Graça, mas tive de me ausentar, fui à casa de banho e depois aproveitei para ir comer alguma coisa. Quando cheguei já não havia imagem, julguei que ela se tivesse ido embora e não pensei mais nisso. Ao ouvir nas notícias da rádio que se tratava da namorada de um conhecido multimilionário, percebi que era ela e fui ao computador recuperar a gravação que costumo fazer sempre que me afasto do computador. E vi isto.
- Deixe ver se percebi. O senhor grava as imagens quando tem que se afastar, mas não grava quando está lá, é isso?
- Sim, senhor inspector.
- E som, não tem?
- Não, só texto e imagem.
- E não teve curiosidade em ir ver se ela tinha mesmo ido embora da comunicação?
- Não, senhor inspector, é usual que as comunicações vão abaixo quando há temporais lá. E a Graça referiu que havia forte temporal. Não estranhei nada.
- Conheceu-a onde?
- Foi minha colega na faculdade e quando regressou a casa, ficámos amigos e vemo-nos na Net.
A meia-noite aproximava-se…
- Fui no meu avião aos Açores e tivemos que aterrar no Pico, com muito mau tempo. Ainda no aeroporto tentei ligar à Graça, mas ninguém me atendeu. Ela não deixa o telemóvel gravar mensagens. Depois, consegui alugar lá um carro e fui dar uma volta, passar o tempo, ver se melhoravam as condições climatéricas. Antes, telefonei a um amigo da Horta, o Vasco, com quem tinha combinado fazer esta surpresa à Graça e ele atendeu-me. Mostrou-se muito decepcionado e pareceu-me nervoso, mas ouviam-se os trovões em fundo e a tempestade estava terrível. Talvez fosse por isso… Depois, a tempestade abrandou bastante mas só me deixaram rumar a Lisboa. Não consegui nenhum contacto com a Graça e só soube da notícia pela rádio. Estou arrasado!
- Esse seu amigo…
- O Vasco! É o meu melhor amigo. Foi através dele que conheci a Graça, que era sua vizinha. É um amante da “asa-delta”, tal como eu e esteve muitas vezes comigo em competições e eventos. A última vez que o vi foi na inauguração da exposição de todos os meus aparelhos, no Porto, quando tive o acidente.
- Já viu as imagens que temos?
- Sim, estou profundamente chocado…
- Vimos fotos suas, em competição, e estava com aquele fato. Exactamente aquele!
- Aquele é o meu fato? Não pode ser, esse está na exposição do Porto, ou pelo menos devia estar!
- E dos Açores chegou-nos a informação de que uma das suas “asa-delta” foi encontrada escondida a cerca de 100 metros da casa da sua namorada…
- Não é possível! Peço-lhe imensa desculpa, mas isso é impossível! Todo o material está exposto!
- Pois o seu capacete e o fato estão lá, na Horta, também!
- …
- O seu amigo Vasco tem uma compleição igual à sua e está desaparecido. Não sabemos dele, ninguém o viu desde ontem à noite. Sabemos também que a “asa-delta”, o fato e o capacete desapareceram da exposição logo no seu início, mas nada foi participado à polícia…
- Senhor Inspector, temos as confirmações: O controlo aéreo do Pico dá a hora de aterragem às 09.13 e de levantamento rumo a Lisboa, às 11.50. O espaço aéreo esteve sempre encerrado, entre essas horas, por causa do mau tempo. Foi o último a pousar e o primeiro a levantar. O aluguer da viatura foi às 09.35 e a devolução às 11.18. Não conseguimos ainda confirmar a chamada telefónica que o Jorge diz ter feito para o Vasco, por erro informático do operador…
E pronto.
Assim vai terminar a época competitiva, com o Inspector Fidalgo em mais um dos seus casos.
Os relatórios deverão ser-nos remetidos impreterivelmente até ao próximo dia 22 do corrente mês de Junho, para o que poderão utilizar um dos seguintes meios:
Pelos Correios para PÚBLICO-Policiário, Rua Viriato, 13, 1069-315 LISBOA;
Por e-mail para policiario@publico.pt;
Por entrega em mão na redacção do PÚBLICO de Lisboa;
Por entrega ao orientador da secção, onde quer que o encontrem.
Boas deduções!
2 comentários:
Parabéns ao Luis Pessoa por este problema.
Há muito que não via um problema dele com tanta qualidade. Agora só espero que a solução o não estrague
Rip Kirby
Meu caro Rip:
Obrigado pelo elogio. Como deve ter lido, a minha opinião é diversa e nenhum produtor tem que ser bom solucionista. É a vocês, que vão dar resposta, que compete arranjar a melhor solução, não a mim.
Se nenhum dos solucionistas conseguir chegar a uma solução diferente, ficarei satisfeito. Mesmo que a minha solução seja péssima, porque quem tem que fazer boas soluções são vocês, eu já fiz a minha parte, bem ou mal, o problema.
Estou a escrever-lhe do seu Algarve, embora não na sua terra. Estou nos Olhos d´Água...
Forte abraço para esse lado do Atlântico!
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