Para todos os Confrades e Amigos, ficam os votos de um Bom 2012, com muito Policiário!
sábado, 31 de dezembro de 2011
sábado, 24 de dezembro de 2011
domingo, 18 de dezembro de 2011
POLICIÁRIO 1065
Poucos meses antes de falecer em Lisboa, Fernando Pessoa escreveu uma célebre carta ao seu amigo Adolfo Casais Monteiro, datada de 13 de Fevereiro de 1935, manifestando-lhe que estava a trabalhar numa novela policiária.
Hoje é mais ou menos consensual que se tratava de “O Roubo na Quinta das Vinhas” e ficamos a saber que Fernando Pessoa se debruçou sobre a temática policial e a desenvolveu, embora de forma algo anárquica, uma vez que nunca terá chegado ao final de qualquer dos seus trabalhos, ou seja, ao momento em que apenas faltaria a sua publicação.
Devemos a Fernando Luso Soares, um dos estudiosos mais brilhantes da obra policiária de Pessoa, a recolha de um imenso espólio de manuscritos e peças isoladas que ele, com muita dedicação e empenho, compilou e a que deu alguma coerência.
O DR. ABÍLIO QUARESMA
O Dr. Quaresma é o personagem policiário por excelência, de Fernando Pessoa. Sobre ele, escreve:
“É curioso como certos assuntos nos talham a mente conforme a sua natureza. Fui verdadeiramente amigo de Quaresma; verdadeiramente me dói a saudade dele; mas ao escrever a seu respeito, assumo, sem querer nem sentir, como aliás sempre faço, a frieza de quem é o meu tema, e não consigo ter uma lágrima em prosa. A personalidade de Quaresma insinua-se no que escrevo; meu estilo recusa-se a não ser frio. O mais curioso é que essa individualidade apagada e mortiça, vivendo toda uma vida subjectiva de problemas objectivos, ganhava uma nova e milagrosa energia quando resolvia um problema difícil. O Dr. Quaresma, normal, era um apenso débil à humanidade; o Dr. Quaresma, depois de decifrar, erguia-se num pedestal íntimo, hauria forças incógnitas, já não era a fraqueza de um homem; era a força de uma conclusão. Não se transformava – não direi tanto - mas transfigurava-se sem se transformar…”.
Há quem defenda que Pessoa iria desenvolver um novo heterónimo na figura do Dr. Abílio Fernandes Quaresma, um investigador de inteligência rara e espírito observador, que refere: “ A investigação de qualquer assunto depende, essencialmente, da plena segurança dos raciocínios (…) Nós não vemos só com os sentidos; vemos misturadamente, com a inteligência também. Elimino, agora, a hipótese anormal da alucinação. Refiro-me apenas à experiência normal. Um exemplo: passo por uma rua e vejo um homem caído no passeio. Instintivamente me pergunto: porque é que este homem caiu aqui? Já aqui vai um erro de raciocínio e, portanto, uma possibilidade de erro de facto. Eu não vi o homem cair ali. Vi-o já caído. Não é, portanto, um facto para mim que o homem caísse ali. O que é um facto para mim é que ele está caído ali (…) Creio ter-lhes mostrado bem como é complicado o que parece tão singelo. É preciso, em qualquer problema, separar cuidadosamente, logo no princípio, os dados e as conclusões…”.
A INTELIGÊNCIA NO POLICIÁRIO
Uma das marcas mais significativas da obra policiária de Fernando Pessoa vem, curiosamente, de uma personagem que aparece no conto esboçado “Janela Estreita” e que, à primeira vista, parece ser um novo investigador, em contraponto com o Dr. Quaresma e o Chefe Guedes. Trata-se do Tio Porco, um ser fascinante que diz a certo ponto:
“A inteligência humana pertence a uma de três categorias. A primeira categoria é a inteligência científica. É a sua, sr. Chefe Guedes. A inteligência científica examina os factos, e tira deles as suas conclusões. Direi melhor: a inteligência científica observa, e determina, pela comparação das coisas observadas, o que vêm a ser os factos. A inteligência filosófica – esta é a tua, Abílio – aceita, da inteligência científica, os factos já determinados e tira deles as conclusões finais. Direi melhor: a inteligência filosófica extrai dos factos, o facto. (…) Ora, além destes dois tipos de inteligência, há outro, a meu ver superior, que é a inteligência crítica. Eu tenho a inteligência crítica… (…) A inteligência crítica é de dois tipos – instintivo e intelectual. A inteligência crítica e instintiva vê, sente, aponta as falhas das outras duas, mas não vai mais longe; indica o que está errado, como se o cheirasse, mas não passa disso. A inteligência crítica propriamente intelectual faz mais que isso: determina as falhas das outras duas inteligências, e depois de as determinar constrói, reelabora o argumento delas, restitui-o à verdade onde ela nunca esteve.”
Pelo que se transcreveu chegamos à conclusão que o Tio Porco – de que desconhecemos o motivo para tal baptismo, mas que certamente não foi originado por um certo pedantismo que lhe está associado e que percebemos ao longo das suas dissertações, por não ser esse o método normalmente seguido por Pessoa -, a quem se não consegue atribuir um papel definido, não é um investigador policial. E isso porque ele mesmo se exclui ao assumir ser possuidor de uma inteligência crítica. Ora, uma investigação policial é sempre originada num processo por resolver e a inteligência crítica actua como correctora das falhas das outras inteligências.
Esta teia que Pessoa cria em torno das coisas, nos seus esboços, deixa-nos com água na boca para imaginarmos o que seriam as suas novelas, se concluídas, pelo menos em termos de construção!
UM CASO PARA ESTUDO: “O ROUBO NA QUINTA DAS VINHAS”
Motivo de muitos estudos, a obra “O Roubo na Quinta das Vinhas” tem dividido muitos pessoanos convictos, tal o modo como está concebida e enquadrada.
Pessoa coloca em cena dois narradores, cada qual com a sua visão e o seu processo, em que cada um escuta o outro e assume (ou não) o conhecimento por ele transmitido. Há uma permanente desconfiança mútua e um analisar constante dos factos e das conclusões.
O diálogo fascinante entre o Dr. Quaresma e o Sr. Claro é, sem qualquer dúvida, um dos pontos altos da obra policiária de Pessoa e conduziu mesmo a um ensaio apresentado no Encontro Internacional do Centenário de Fernando Pessoa – Um Século de Pessoa, de autoria de Gersey Bergo Yahn, professora das Faculdades Metropolitanas de São Paulo, Brasil, sob o título “Um exercício sobre o dualismo: razão/fantasia em O Roubo na Quinta das Vinhas”.
A “luta” entre ambos vai recrudescendo de nível, até um ponto quase ensurdecedor, mesmo quando ambos estão em silêncio. É um ambiente em crescendo que termina de forma bombástica com a decifração do crime.
“Como uma bola de sabão, estoirou-me a alma, sem ruído, dentro de mim. Fiquei suspenso no vácuo interior (…) No longo espaço de curtos segundos tentei desesperadamente formar uma atitude, uma palavra, um gesto, qualquer coisa… não pude… e então compreendi violentamente quanto pode em nós, se sabem excitá-la, a consciência da culpabilidade”.
O final é devastador e deixa no ar a força que nos impede de fechar o livro, de mudar de assunto, quando o Dr. Quaresma olha para o Tejo em vez de olhar o seu opositor, o que faz com que este refira que “com cada fracção de segundo do meu silêncio a minha culpabilidade enchia o espaço”.
A autora do ensaio acima referido conclui: “Nada mais há a fazer. O essencial foi a decifração do enigma para um e, para o outro, é o avassalador sentimento de culpa e a enorme obrigação do homem para consigo mesmo”.
Fernando Pessoa, ele mesmo, policiarista por excelência!
domingo, 11 de dezembro de 2011
POLICIÁRIO 1064
M. CONSTANTINO, O MESTRE DA PRODUÇÃO
«O homem encontra no enigmático algo que lhe excita o espírito e lhe motiva a curiosidade.
Posto perante um mistério, todas as faculdades se lhe alertam e, atentas, se debruçam em torno do problema.
Sente prazer íntimo em seguir passo a passo todas as pistas até alcançar o objectivo.
Satisfaz-se ao conseguir rodear as dificuldades, tanto como vencer obstáculos que se apresentam intransponíveis.
E quanto mais a precisão dos factos não se permite que se vislumbre sombra de uma estrada, maior é o apego e o desenvolvimento do cérebro, maior é a satisfação da vitória.
Segundo Bergson, um problema que inspira atenção é uma representação duplicada de uma emoção, sendo ao mesmo tempo a curiosidade, o desejo e a alegria antecipada de o resolver. É o desafio posto que impele a inteligência diante das interrogações, vivifica, ou antes vitaliza os elementos intelectuais com os quais fará corpo até à solução.
A própria vida cifra-se em constante mistério, um enigma constante que a humanidade procura solucionar o melhor e mais rapidamente possível. O obscuro nunca nos desampara, desafia-nos.
De prazer espiritual que se sente em desvendar incógnitas, desvanecimento de sobressair, simples divertimento, tudo conduz a que os homens do povo na sua singeleza através de simples adivinhas que andam de boca em boca, os letrados com bem urdidos trabalhos, os sábios na esfera da humanidade, acorram ao seu cultivo e decifração.»
M. Constantino, “Manual da Enigmística Policiária”,
Edição da Associação Policiária Portuguesa, 1995
Não são necessárias muitas palavras para definir M Constantino, aquele que é, unanimemente considerado o melhor produtor de enigmas policiários.
Conhecemo-lo há longos anos em diversas facetas da sua vida policiária, não só como produtor excelente, mas igualmente como ensaísta e estudioso destes assuntos, com trabalhos importantes, felizmente muitos publicados graças à Associação Policiária Portuguesa (APP).
Numa altura em que o mestre anuncia a sua retirada – fortemente contestada pela esmagadora maioria dos “detectives”, desejosos de continuarem a tentar decifrar os seus enigmas – ouçamos o que dele dizem dois confrades absolutamente insuspeitos, tal a frontalidade com que sempre exercem os seus direitos à opinião:
CONSTANTINO – UM GRANDE NOME DO POLICIÁRIO PORTUGUÊS
M. Constantino (principal nome literário de Manuel Botas Constantino, já que também escreveu sob os pseudónimos de “Mário Campino” e “Zé da Vila”) é, incontestavelmente, um dos maiores nomes de sempre do Policiário português, nomeadamente no campo da produção.
Nascido em Almeirim em 21.04.25, terra onde ainda vive e ama devotadamente, passou pelo Ensino Secundário e Universitário, até se formar em Economia e Finanças, no I.S.E.F., entrando, profissionalmente, no Ministério das Finanças, onde desempenhou os cargos – não correspondendo a ordem às funções – de Jurista, Perito Gestor Tributário, Chefe de Repartições de Finanças, Professor de Direito Fiscal, Delegado do Ministério Público junto do Supremo Tribunal, Agente do Ministério Público de 1ª Instância, etc. .
Desempenhou, entre outros, os cargos de Vereador da Câmara Municipal de Almeirim e de Deputado Municipal, Presidente da Assembleia dos Bombeiros Voluntários, Director do CRIAL (Centro de Reabilitação Infantil de Almeirim) e Director do jornal “O Almeirinense”.
No Policiário iniciou-se em 1945, como solucionista e produtor, tendo pouco depois criado e dirigido Secções nas revistas “Altura”, “Palavras Cruzadas”, “Auditorium”, “Charadista” “Matuto” e “Tempos Livres”, e nos jornais “O Enigmista” e “O Almeirinense”.
Colaborou também activamente nas revistas especializadas “Selecções Mistério” – da qual foi um dos Coordenadores de edição – “XYZ Magazine” e “Célula Cinzenta”, esta editada pela Associação Policiária Portuguesa. Nesta, da qual foi um dos fundadores, integrou os Órgãos Directivos, ocupando, em diversos mandatos, os Cargos de Presidente da Assembleia-Geral, Presidente da Direcção e Presidente do Conselho Fiscal.
Excepcional produtor de problemas policiais, assinou, ao longo dos anos, muitos dos melhores destes enigmas entre nós publicados (30 dos quais se encontram compilados em livro), tendo-se, nesta modalidade, sagrado Campeão Nacional, para além de conquistado muitos outros certames.
Sempre sob os temas policiais e de mistério, a sua paixão de sempre, escreveu, ao longo de mais de 60 anos de intensa actividade – que felizmente ainda mantém – milhares de páginas de ensaios, manuais, biografias, crónicas, contos, etc. Destaquemos a “História da Narrativa Policiária”, a “Antologia Portuguesa de Contos Policiais” (ambas em 2 volumes), o “Grande Livro da Problemística Policiária”, o “Manual da Enigmística Policiária”, “Antologia dos 150 Anos da Literatura Policial (1841 a 1991), “Os Elementos Fundamentais na Narrativa Policiária Clássica”, etc. etc. Lastimavelmente, grande parte das suas obras de maior fôlego nunca conheceram divulgação publica, já que são demasiadas extensas para poderem serem publicadas nas (hoje poucas) Secções Policiais existentes, e por não haver entre nós (pensam os Editores) um publico interessado nestes temas suficientemente numeroso para justificar comercialmente a sua edição em livro....E assim se perde, ingloriamente, uma vasta obra.
Eis, necessariamente de forma muita resumida, o perfil biográfico de M. Constantino – um grande nome do policiário português.
Domingos Cabral (Inspector Aranha)
O AVÔ PALATÓ – UM HERÓI DE CONSTANTINO
Avô Palaló é, para mim, a personagem mais modelada da problemística policiária portuguesa. A sua grande riqueza psicológica é indissociável do facto de ter sido, assumidamente, inspirada no próprio avô materno do seu autor.
Cada situação que o Avô Palaló é chamado a resolver é a essência de uma novela que Constantino gostaria de ter escrito, sempre, mas que nunca teve espaço para publicar, nas secções policiárias em que colaborou. São momentos de vida, onde tomamos conhecimento com uma vasta galeria de personagens realmente ligadas ao autor (pais, familiares, amigos e empregados do avô) colocadas no autêntico espaço físico do Ribatejo de há quase 80 anos. Por isso, aí encontramos as grandes cheias do Tejo, as lezírias, os touros, os campinos, os trabalhos agrícolas das terras do seu avô – os rituais da vida rural da infância do menino Manuel! Infância que foi, notoriamente, muito moldada pela figura tutelar e patriarcal do avô, que o ajudou a criar, a formar e até lhe salvou a vida.
Para homenagear esse avô, M. Constantino criou esta personagem de investigador, que resolve todos os casos do dia -a – dia com uma técnica que podemos definir como intuitiva /dedutiva. Partindo de uma aguda intuição para observar e entender, rapidamente, o que o rodeia, Palaló vai construindo a solução do problema de uma maneira natural – revestindo o esqueleto da intuição com os pormenores da dedução.
Da brilhante obra de Mestre Constantino, os problemas de Palaló são, claramente, os meus preferidos, até pelo valor literário (e etnográfico) das suas descrições.
Cada situação que o Avô Palaló é chamado a resolver é a essência de uma novela que Constantino gostaria de ter escrito, sempre, mas que nunca teve espaço para publicar, nas secções policiárias em que colaborou. São momentos de vida, onde tomamos conhecimento com uma vasta galeria de personagens realmente ligadas ao autor (pais, familiares, amigos e empregados do avô) colocadas no autêntico espaço físico do Ribatejo de há quase 80 anos. Por isso, aí encontramos as grandes cheias do Tejo, as lezírias, os touros, os campinos, os trabalhos agrícolas das terras do seu avô – os rituais da vida rural da infância do menino Manuel! Infância que foi, notoriamente, muito moldada pela figura tutelar e patriarcal do avô, que o ajudou a criar, a formar e até lhe salvou a vida.
Para homenagear esse avô, M. Constantino criou esta personagem de investigador, que resolve todos os casos do dia -a – dia com uma técnica que podemos definir como intuitiva /dedutiva. Partindo de uma aguda intuição para observar e entender, rapidamente, o que o rodeia, Palaló vai construindo a solução do problema de uma maneira natural – revestindo o esqueleto da intuição com os pormenores da dedução.
Da brilhante obra de Mestre Constantino, os problemas de Palaló são, claramente, os meus preferidos, até pelo valor literário (e etnográfico) das suas descrições.
Gustavo Barosa (Zé)
segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
POLICIÁRIO 1063
As memórias do Policiário passam, também, por algumas pessoas que, não tendo tido uma participação muito assídua nos torneios, por indisponibilidade pessoal ou por ausência de um espírito mais competitivo, nunca deixaram de acompanhar e participar, cada qual à sua maneira, naquilo que gostam, ou seja, no mundo Policiário.
Como muitas vezes temos referido, são muitas as formas de viver o Policiário e temos exemplos magníficos que podemos apontar. Um dos mais significativos é o de M. Lima, confrade do Porto, que mesmo depois de abandonar a decifração continuou a acompanhar todas as movimentações e a comparecer, quando possível, nos convívios; outro exemplo é o confrade L.S., de Coimbra, que não enjeita uma possibilidade de estar com os restantes confrades, nos eventos que levamos a cabo; ou Lima Rodrigues, durante muitos anos provedor da nossa secção e desde há muito afastado da problemística; ou mestre M. Constantino, que não entrando nas competições como decifrador, mantém uma actividade invejável como produtor de problemas e conviva por excelência, sempre que a vida pessoal permite.
São muitos os exemplos que demonstram que, uma vez policiarista, policiarista até ao fim! Era o que o nosso “Sete de Espadas” referia amiúde, como sendo “o bichinho do policiário”, que uma vez picando, jamais deixa de produzir o seu efeito. Será essa a razão para muitos dos nossos confrades regressarem ao nosso convívio muitos anos depois de terem dado como terminadas as suas participações!
Também a nossa homenageada de hoje pode ser englobada neste rol. Depois de uma vida intensa de participação nos torneios radiofónicos de Artur Varatojo, no celebérrimo Quinto Programa, sempre se manteve ligada à tribo policiaria, cultivando a literatura policial e escrevendo textos de inegável valor, sobre a temática policial, muitos deles publicados nestas nossas páginas.
Natércia Leite é a nossa homenageada de hoje, para que se mantenha a memória de uma lutadora contra a hipocrisia e o desmazelo, que ela odiava como ninguém.
HOMENAGEM A NATÉRCIA LEITE
Hoje, vamos homenagear uma figura importante do policiário, infelizmente um tanto esquecida, por não ter tido uma participação activa nas nossas competições, como decifradora, desde há muito.
Com uma vida literária intensa, quer como escritora de grande imaginação, com uma forte presença do mistério e grande poder de observação, quer na poesia, Natércia Leite foi sempre uma pessoa atormentada pela ausência de oportunidades, desaparecendo sem nunca ter podido cumprir o seu maior sonho: publicar um livro.
Natércia foi, podemos dizê-lo com certeza, uma das pioneiras do policiário, escrevendo muitos desafios e contos para o Quinto Programa, que Artur Varatojo manteve na rádio e onde se cruzou com muitos dos mais importantes vultos do policial, tais como, a título de exemplo, Sete de Espadas, M. Constantino, Lima Rodrigues, Domingos Cabral.
Na nossa secção, que Natércia seguia com a atenção que a sua doença permitia, muitos foram os textos que aqui viram a luz do dia e foi uma participante activa nos concursos de contos que promovemos, conquistando alguns prémios.
Mas, o prémio maior foi, sem dúvida, para todos os que tivemos a oportunidade de a conhecer nos convívios ou outros eventos.
O problema que hoje publicamos é um bom exemplo do seu modo de encarar o policiário, mas é um tanto diferente do que lhe era habitual, por ser curto. Natércia adorava escrever e a descrição dos personagens e dos ambientes era um exercício que raramente dispensava.
O caso de uma estranha morte foi publicado em 24 de Abril de 1945, na secção “Mistério e Aventura”, em “A Vida Mundial Ilustrada” e é o desafio que hoje vamos recordar, em memória desta Mulher que deixou uma marca indelével no Policiário.
A ESTRANHA MORTE DE FERNANDO FARIA
Desafio de Natércia Leite
O detective Santos foi chamado apressadamente a casa dos irmãos Faria, dois notáveis engenheiros. Aí, o criado, assustado, contou que um dos patrões há muito que fora para o banho e ainda não voltara. Como o outro patrão tivesse saído nesse intervalo de tempo, ele preferira recorrer à polícia.
Então, o detective Santos encaminhou-se para a sala de banho. A porta estava fechada. Mas como se tratava de uma fechadura vulgar, o detective utilizou uma das muitas chaves que sempre trazia consigo e conseguiu abri-la facilmente.
Lá dentro deparou-se-lhe um espectáculo bem triste. Entre os vapores de água jazia Fernando Faria. A sua cabeça estava tombada para o peito. E, na nuca, tinha uma horrível brecha.
O detective Santos pode constatar logo que a morte fora instantânea.
O detective fez um rápido esboço do que estava à vista.
Depois, voltou à outra sala para melhor interrogar o criado. Ainda assustado, ele confessou:
– O senhor Fernando discutiu furiosamente de manhã com o senhor Francisco. Depois, aí pelas onze horas, foi meter-se na casa de banho. O senhor Francisco saiu às onze e meia. Lá para o meio-dia e meia hora, como o senhor Fernando não aparecesse, fui bater à porta da casa de banho. Ele não respondeu. Ainda procurei ver pela fechadura mas a chave, do lado de dentro, não me deixou ver nada. Então, resolvi telefonar-lhe...
Passados momentos, regressou a casa Francisco Faria, o irmão do morto, interrogado logo pelo detective, ele declarou:
– Sim. Discuti com ele, de manhã, pois acusei-o de me ter roubado uns planos valiosos. Ele não mos devolveu, dizendo que não os tinha. Saí furioso. Mas, apesar de tudo, era bastante seu amigo.
O detective Santos olhou sorridente para os dois homens. Já tinha achado a “chave do caso”.
QUESTIONÁRIO
1º – O criado falou verdade? Porquê?
2º – Francisco Faria falou verdade? Porquê?
3º – Fernando Faria suicidou-se? Porquê?
4º – Qual deve ter sido a solução do detective Santos?
SOLUÇÃO
A ESTRANHA MORTE DE FERNANDO FARIA
Solução do enigma publicado na semana passada, pela autora Natércia Leite:
1º – As declarações do criado foram falsas. Se o patrão tivesse estado tanto tempo no banho, a água estaria fria e não emanaria ainda vapores. Também não podia a chave tê-lo impedido de espreitar, pois que não se encontrava lá chave alguma, dada a facilidade com que o detective Santos abriu a porta. Além disso, se o criado queria fazer supor que o patrão se suicidara, caía num erro porque a cabeça batendo contra a banheira, ao ponto de abrir uma profunda brecha na nuca, não viria tombar depois sobre o peito.
2º – Nada nos pode levar à conclusão que Fernando Faria não tenha falado verdade. Há apenas a contradição da hora de saída. Mas, dadas as outras mentiras do criado, é fácil supor que ele tivesse insinuado uma falsa hora de saída de Francisco Faria, com intenção mais do que duvidosa...
3º – Fernando Faria não se suicidou. A ferida profunda que apresentava na nuca, não poderia ser feita por ele próprio. Além disso, se se tivesse suicidado, o instrumento de que se servira devia estar bem à vista.
4º – Se Fernando Faria não se suicidou, havia um criminoso. E o criado devia ter sido o criado, porque prestara propositadamente falsas declarações. E de facto, preso, ele confessou o crime. Roubara os documentos e com medo que o patrão descobrisse, porque já desconfiava dele, aproveitou a zanga havida de manhã, e matou, para fazer cair as culpas sobre Fernando Faria. Mas, ao mesmo tempo, receoso de possíveis consequências, quis também fazer acreditar num suicídio. Porém, o vapor de água e a chave hipotética traíram-no irremediavelmente...
segunda-feira, 28 de novembro de 2011
POLICIÁRIO 1062
Na continuação do trabalho que foi publicado no ano de 2006 no Jornal de Letras, a segunda parte refere-se mais à literatura policial portuguesa e ao modo como por cá se seguiam (ou não) as tendências dominantes.
Para quase todas as pessoas que se interessam por estas coisas do romance policial, não deixa de ser uma surpresa que um país tão limitado, tão curto de ideias, tenha podido manter uma actividade invejável e, provavelmente única, pelo menos a nível europeu.
Um elevadíssimo número de autores, quase sempre assinando sob pseudónimo anglo-saxónico ou francês, ou inclusivamente um mesmo autor que usou dezenas de pseudónimos, muitos ainda hoje não inteiramente reconhecidos e comprovados, ajudou a construir uma história bonita sobre a literatura policial portuguesa, a merecer uma justíssima homenagem de todos os cultores deste tipo literário.
Hoje mesmo, a caminho de completarmos duas décadas da existência deste espaço no PÚBLICO, o que ocorrerá já no próximo dia 1 de Julho de 2012, não podemos esquecer a importância da literatura policial na composição do ADN de todos os confrades que nos têm acompanhado e continuarão certamente nesta permanente aventura.
LITERATURA POLICIAL – PARTE II
Por cá, o Policial segue as tendências, a alguma distância, claro. Colecções como a Vampiro, Xis, Romano Torres e outras, traziam tudo o que de melhor se publicava no mundo, criando em muitos leitores o desejo de escreverem os seus romances. O policial português é rico naquilo que se conhece, já que muitos autores foram obrigados a optar por pseudónimos para poderem publicar as suas obras. Alguns são hoje conhecidos, outros, possivelmente nunca o serão. Um exemplo bem flagrante é o de Mário Domingues, historiador, jornalista, editor e tradutor, que usou qualquer coisa como cerca de 150 pseudónimos, a maioria dos quais desconhecidos hoje em dia, o que o transformou no português que mais romances escreveu e editou!
Aquele que é considerado o pai do romance policial português é Francisco Leite Barros, nascido em Lisboa no ano de 1841 e falecido em 1886. A coincidência de ter nascido no mesmo ano em que Pöe publicava a primeira novela policial, parece ter influenciado este autor, que escreveu “O Incendiário da Patriarcal”, “O Crime de Mata Lobos”, “O Crime do Corregedor” e “As Aventuras do Homem Pardo”.
Nome fundamental do policial português é o de António Andrade Albuquerque, que assina as suas obras com o pseudónimo de Dick Haskins e que é o autor português mais editado no estrangeiro, com obras traduzidas em dezenas de países e passadas para o cinema.
Também Reinaldo Ferreira merece destaque com os pseudónimos Repórter X e Repórter Kiá. Com uma obra extensa, deixou marcas no policial português, nas décadas de 20 e 30, até ao seu falecimento em 1935.
Roussado Pinto é outro autor importante, não só pela extensa lista de cerca de 75 pseudónimos que usou até à sua morte, mas também pelo modo como organizou antologias policiais de boa qualidade. Ross Pynn é o seu pseudónimo mais conhecido.
Outros nomes varreram o panorama policial, de que destacamos:
Adolfo Coelho com o pseudónimo J. Stew, nos anos 20; Américo Faria como Adam Fulton e Ans. Shouldmarke; António Carlos Pereira da Silva, como Simon Ganett ou Barney Kilbane; Dinis Machado, como Dennis Mc Shade, tendo como personagem Peter Maynard; Fernando Luso Soares com os seus personagens Inspector Boaventura e Dr. Castro; Fernando Pessoa que criou os personagens Dr. Abílio Fernandes Quaresma, Tio Porco e Chefe Guedes; Francisco Valério Almeida Azevedo, com o pseudónimo de W. Strong Ross e personagem Inspector Ryan; Gentil Marques, com os pseudónimos de Charles Berry, James Stron (criador de Rangú), Marcel Damar, Herbert Gibbons; D. G. Richter e muitos outros; Guedes de Amorim, como Edgar Powel; José da Natividade Gaspar, como Sam Brown ou J. Fergusson Knight; Luís Campos, como Frank Gold; Mariália Marques, como John S. Falk, Hugh Mc Benett ou Ossman Matzyk; Mascarenhas Barreto, como Van Der Bart.
Na moderna Literatura Policial Portuguesa vivem-se momentos de alguma acalmia. Algumas felizes incursões de autores consagrados, como José Cardoso Pires em “Balada da Praia dos Cães”, Agustina Bessa Luís em “Aquário e Sagitário”, Clara Pinto Correia em “Adeus Princesa” ou Francisco José Viegas, em “As Duas Águas do Mar”, não conseguem agitar o meio, que continua placidamente a viver de alguns novos valores como Maria do Céu Carvalho, Manuel Grilo, Miguel Miranda, Ana Teresa Pereira ou Henrique Nicolau.
Sem conseguir afirmar-se como uma “escola”, a verdade é que o Policial Português sempre conseguiu encontrar o seu espaço, com recurso a pseudónimos estrangeiros ou não.
E mesmo fora do movimento editorial, há mais de catorze anos que milhares de pessoas escrevem sobre o policial, desafios e suas propostas de resolução, nas páginas da edição dominical do Público, que vem funcionando como um verdadeiro “ponto de encontro” dos amantes do Policial.
Luis Pessoa
In Jornal de Letras, 2006
CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL
SOLUÇÃO DA PROVA N.º 10 – PARTE II
“O IATE MISTERIOSO”, Original de MALEMPREGADO
A alínea certa é a C - O Alberto pode estar envolvido naquele caso de droga, mas ela não veio do iate.
O iate estava a montante do local do Alberto, para o lado da Ponte Vasco da Gama e o texto refere que o iate estava ancorado, tendo começado a mover-se na direcção da foz do rio, ou seja, em sentido contrário. Como ele entra imediatamente em movimento, nesse sentido, a maré estava a encher, pois a âncora está sempre colocada na proa do navio, ou seja, na parte da frente. Só assim o iate pode levantar a âncora e iniciar de imediato o movimento para a foz do rio.
Portanto, se a maré estava a encher, uma carga largada do iate nunca poderia deslocar-se contra a maré e só dessa forma poderia ir ter com o Alberto.
Em conclusão, o Alberto poderia estar envolvido na tramóia e pelos seus antecedentes, certamente que estaria, mas aquela carga não partiu do iate, até porque a descrição revela que a droga estava na água há muito pouco tempo.
OS NOSSOS CAMPEÕES
Com a publicação da solução oficial do último desafio desta época, resta-nos saber quem serão os “detectives” que vão conquistar os títulos em disputa, algo que a breve prazo iremos divulgar.
Como sempre acontece, será no nosso blogue “Crime Público”, em http://blogs.publico.pt/policiario que a divulgação será feita em primeira mão.
A NOVA ÉPOCA
Todos os anos por esta altura, com as competições encerradas, ou em vias de o ficarem, é o momento de fazermos a previsão e lançarmos as bases para o que será a época competitiva do ano que se avizinha.
Este ano não será diferente e por isso convidamos desde já os nossos confrades a darem-nos as sugestões e propostas para a melhoria da nossa página.
Também lançamos o repto aos “detectives” produtores de enigmas policiários, para que comecem a delinear os seus problemas, quer os de escolha múltipla, quer os “tradicionais”, para que o próximo ano possa começar sem grandes sobressaltos.
Logo que seja possível, publicaremos os regulamentos que nos vão reger, que não serão muito diversos daqueles que têm vigorado
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
A RESPOSTA DE M. CONSTANTINO
O confrade e Mestre M. Constantino endereçou o texto que segue, como resposta às críticas a que o seu último problema foi sujeito.
Tratando-se de um texto que revela alguma mágoa do seu autor, não queremos deixar de assumir a quota parte de culpas que nos cabem, por não termos feito a devida revisão do texto.
Uma palavra final para o Mestre, que aqui vem dar por terminada sua produção, para lhe dizermos que isso apenas é por nós levado à conta de desabafo e de revolta, mas que jamais aceitaremos que assim seja.
Na próxima época, cá esperamos mais um desafio com a assinatura de qualidade de M. Constantino!
E não admitimos, sequer, um "talvez"!
"Caros confrades
Não conheço o teor das críticas ou seus autores sobre o problema último -- o último produzido por M.C., ainda que não faltem ideias -- publicado no "Público Policiário", "Os Enigmas da Tribo Desaparecida", pois não tenho computador por falta de vista. Vejo pessimamente e só leio através de uma potente lente. Do que sei -- mulheres, habitantes, estrela, esclareço o seguinte:
"Aurora, recusou a alegre Tono; e Rosa, a Rubi, ficou com a pequena e gentil Garnizé".
No original que escrevi consta:
"Aurora recusou a alegre Tono e Rosa, a Rubi, ficou com a pequena e gentil Garnisé".
Na Cópia que pedi que me fizessem foi incluído um ponto e vírgula depois de Tono e assim enviado ao P.P. . Tal não parece invalidar a solução, já que logo A SEGUIR SE JUNTA "a faladora Lúcia, a Gralha, amiga da Rosa e Alice" que "ocupam a palhota disponível! Nunca Ana, incompatível com a faladora Lúcia e porque Ana, a Muda, FEZ COMPANHIA A MARTA, que não é nenhuma daquelas três, podia juntar-se a Rosa e companhia.
É claro que não se pode exigir ao solucionista analisar o português do autor, simplesmente a solução. Porém, peço-vos um pouco de exercício extra. Em bom português é possível detectar que o ponto e vírgula só pode aparecer por lapso, porque respeitando a sua inclusão não seria necessário o "e" que se segue, dado que este É UMA VOGAL DE LIGAÇÃO DE DUAS FRASES OU CONSTITUINTES DE UMA FRASE DE NATUREZA SEMELHANTE. Melhor, se o autor quisesse colocar ponto e vírgula, dispensava o "e", assim:
"Aurora recusou a alegre Tono; Rosa, a Rubi, ficou com a alegre e gentil Garnisé."
Só dispensando o ponto e vírgula a frase ficará correcta com o "e": "Aurora recusou a alegre Tono e Rosa...", etc.
Claro que isto pode parecer desculpa, não o é; é português correcto. Adiante.
Quanto ao número de habitantes.
Fala-se em "duas dúzias de viventes" apenas na introdução ao tema, o problema a decifrar começa com a construção da aldeia na estrela de seis pontas. Depois há que separar os tempos. 1º após a construção existiam 26 habitantes: conhecemos a colocação de alguns, os outros "distribuídos conforme as idades". 2º há um período de 13 anos(do nascimento dos gémeos à sua iniciação) em que se descobre um mentiroso crónico, se mata um urso, Sibila foi expulsa e reconstroe-se uma cabana, etc., neste período não se diz quantos eram os habitantes nem quem eram, está fora do problema questioná-lo. No 3º período, que realmente interessa, "o tempo decorreu até à iniciação" dos gémeos e reajustamento habitacional. Aqui sim, sabemos os nomes, os ápodos, o que faziam e, se bem contar 25 há-de achar!
O caso da estrela estudado pelo matemático russo Yakov Perelwan, fala-se em "Magic Star". Encontram-se doze soluções válidas para a inclusão das pontas da estrela com o nº 26. Facilitou o autor com indicação de alguns números...
Quanto á situação geográfica da aldeia, não oferece dúvidas desde que sabemos o nascente e o poente... devo continuar?
Afinal parece que o problema é bom já que deu origem a críticas!..
Quando escrevo interessa-me, tão só, escoar o espírito criativo e, se possível, como no problema em causa, apresentar situações diferentes das habituais -- estamos longe de "o mordomo é o assassino" -- e nunca para obter um qualquer prémio, de que prescindo com facilidade e sem comentários, recebendo no entanto o que por direito me couber. Para mim escrever é viver. É um prazer e não um negócio. Aliás trabalhei muito e no que gostava, vivi a vida possível com gosto, razão bastante para no limiar dos 87 anos, a minha riqueza só possa ser contada em número de anos.
Cordiais saudações
Muita saúde
Bons problemas (não do Constantino)
M. Constantino"
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
RECORDAÇÃO DO DET. MISTERIOSO
Passa hoje mais um aniversário, o vigésimo primeiro, do desaparecimento - precisamente num domingo em que se levantou mais cedo para não falhar mais um convívio policiário, na cidade de Torres Vedras - de um dos vultos mais carismáticos do policiário nacional, o confrade Detective Misterioso, de Cacilhas, que dá, o nome ao troféu de “N.º 1 do ranking”.
Assim se referia ao facto o mestre M. Constantino na sua obra monumental “O Grande Livro da Problemística Policiária”, edição da Associação Policiária Portuguesa, num pequeno texto evocativo da figura deste nosso confrade excepcional, com o título “Perda Irreparável”:
“ Quase a findar o ano, quando se preparava para, mais uma vez, comparecer no Convívio Anual de Torres Vedras, exactamente na madrugada de 24 de Novembro de 1990, faleceu um dos mais activos mestres da Problemística Policiária Portuguesa: Domingos Prata Rodrigues, o Detective Misterioso.
É uma perda irreparável... Exímio decifrador, área em que destacou a pontos de ser considerado quase imbatível, foi igualmente produtor de mérito, contista, fundador da Tertúlia Policiária de Almada, destacava-se, sobretudo, como Campeão na Modéstia, na Camaradagem, na Amizade!”.
É este vulto importante da nossa história policiária, com quem tivemos a felicidade de conviver inúmeras vezes ao longo de muitos anos, um pouco por todo o país onde os nossos convívios chegavam, que hoje homenageamos singelamente, publicando um dos seus desafios, que convidamos os “detectives” a decifrarem:
ALGURES NUMA ALDEIA DA BEIRA ALTA…
Um desafio do DETECTIVE MISTERIOSO
A santa venerada na capela era o orgulho do povo daquela aldeia Beirã.
Todos os que entravam no Templo não se cansavam de admirar a bela imagem que, apesar de moldada em gesso, resplandecia beleza! O seu rosto irradiava um sorriso enternecedor e, só de o ver, as pessoas sentiam um bem-estar e grande felicidade dentro de si. As suas vestes, também moldadas, eram de um lindo azul celeste e o manto, cravado de muita pedraria, cujo brilho penetrava no olhar de quem nele fixasse a vista, maior beleza dava à sua configuração.
Imagem muito antiga, levava o povo a dizer que todas aquelas pedras deveriam valer uma fortuna!
Até que um dia foi o pandemónio e a estupefacção na aldeia. Todas as pedras do manto da Santa tinham desaparecido. A indignação foi tanta que alguns diziam à “boca cheia”, se apanhassem o ladrão, fariam justiça pelas próprias mãos.
Ora aconteceu que, em gozo de férias numa aldeia vizinha se encontrava o Agente Prata e, a pedido dos seus familiares que o albergavam no seu mês de merecido lazer, concordou dar um jeito no assunto…
Assim, ele aí vai a pé com o seu familiar Serrano, para lhe indicar o caminho (o Agente Prata não tem carro, utilizando sempre os transportes públicos ou os carros dos amigos), até à aldeia onde o caso se passou.
Aí chegado e depois de se identificar, foi conduzido ao templo pelo encarregado da sua conservação e abertura ao povo nos dias de culto.
Pelo caminho, o Raul Silva (assim se chamava o homenzinho), foi dizendo ao Agente Prata que, naquela manhã, quando entrou na capela para proceder à sua limpeza, algo de estranho notou. Havia qualquer coisa que não estava certa com o ambiente habitual, até que verificou faltar o faiscar da pedraria do manto da Santa.
Pressentindo o pior, correu para a imagem, tendo constatado que a pedraria tinha desaparecido e no seu lugar só se viam as cavidades onde as pedras anteriormente tinham estado fixas! Na véspera, quando ao anoitecer tinha estado na capela, nada faltava, disso tinha a certeza.
Chegados à capela, o Agente Prata verificou que a porta não apresentava vestígios de arrombamento. Percorreu toda a área à volta do templo e averiguou a existência, na terra amolecida, de várias pegadas sobrepostas e em vários sentidos, notando-se no entanto, junto a uma janela que dava para o interior, algumas pegadas bem visíveis, de botas cardadas, no sentido da entrada e vice-versa. A referida janela também mostrava sinais de ter sido forçada.
No interior do Templo e junto à figura da Santa, o investigador, com a ajuda de uma pequena lupa, verificou que as entradas dos orifícios onde as pedras tinham estado embutidas, apresentavam riscos e falhas de gesso e no interior dos mesmos, partículas prateadas estranhas ao material da imagem. As pegadas de botas cardadas eram visíveis em vários sentidos no interior da capela e mais nada de digno de registo foi visto pelo agente da autoridade, que guardou para si todas as suas descobertas.
Dos nomes fornecidos pelo Raul Silva, de alguns suspeitos, baseando-se nas pessoas que diziam constantemente que a pedraria da Santa faria muitas pessoas felizes, o investigador ouviu:
Marquinhas, uma rapariga de 30 anos, vestindo roupa de trabalho de campo e calçando botas de borracha, declarou nada saber do roubo nem de quem o teria praticado. Não negou ter, por mais de uma vez, mencionado o possível valor das pedras que ornamentavam o manto da Santa.
Alberto Costa, homem por quem os 60 anos há muito tinham passado, tez curtida pelo sol no seu labutar diário na árdua faina do campo, vestindo roupa de trabalho e calçando botas cardadas, nas quais eram bem notados pedaços de terra húmida, declarou:
- Chamam-me o “Rei Herodes” por eu nunca ir à Missa, porque já me habituei a esse tratamento, deixei de ligar a isso. No entanto, o facto de não ir à Missa não me levaria a roubar os valores da imagem, tanto mais que sei respeitar qualquer casa de Oração.
Também não negou a referência feita ao valor das pedras.
Manuel António, 35 anos, trabalhador da construção civil, usando roupa domingueira, disse:
- Na verdade tenho-me referido frequentemente à felicidade que aquela pedraria faria a uma casa de família, mas não fui eu que roubei as pedras preciosas. Já há muito tempo que não passo junto à capela, por isso as pegadas não são minhas.
António Galvão, trinta e poucos anos, mal vestido, quase descalço, pouco amigo de trabalhar, não sendo bem visto na aldeia, devido aos frequentes roubos que fazia, nos galinheiros e não só, prestou as seguintes declarações:
- Na verdade, disse por mais de uma vez que, com todas aquelas pedras na minha mão, não necessitaria de voltar a trabalhar… Mas nunca me passou pela cabeça roubá-las! Mas olhe aí, senhor doutor, eu ontem, quando o sol de estava a pôr, vi o “Rei Herodes” andar perto da capela!
Neste momento, o Agente Prata pensou como tinha sido fácil descobrir o ladrão das pedras da Santa. Sorriu e voltou a pensar como adorava que os seus grandes amigos e colegas de profissão, Inspector Rodriguinho e o seu ajudante Lumafero, estivessem ali, com ele, para juntos gozarem aquele momento hilariante… Sim, é que a pedraria roubada não tinha valor algum, visto todas as pedras serem falsas!
E já imaginando o valente copo de “tintinaite” do bom vinho do “Dão” que beberia logo que chegasse à sua aldeia (por empréstimo), lá foi ele de regresso à casa dos seus parentes.
Antes, porém, deixou três perguntas:
1- Como soube ele que as pedras eram falsas?
2- Quem foi o autor do roubo?
3- Como se teria passado o caso?
SOLUÇÃO DO ROUBO NA CAPELA... ALGURES NUMA ALDEIA DA BEIRA ALTA…
Ele era conhecedor de que a pedra falsa é uma pedra “morta” e sem brilho próprio.
Também era conhecedor de que, em ourivesaria e para suprir a falta de brilho natural, a pedra é espelhada a prateado ou a dourado, na sua base ou fundo, a fim de que as mesmas tenham reflexão da incidência (emissão de raios brilhantes semelhantes aos das pedras preciosas).
Ora, quando assim acontece, estas pedras, porque são coladas (é impossível outra forma de colocação pois tratava-se de uma imagem de gesso), ao serem arrancadas por um canivete ou faca, deixam no gesso as marcas e o pó prateado ou dourado, conforme o caso.
2 – O autor do roubo foi o Manuel António porque no seu depoimento refere que “há muito tempo que não passo junto à capela, por isso as pegadas não são minhas”. Ora, o texto refere que “ as pegadas de botas cardadas, eram visíveis em vários sentidos no interior da capela e mais nada digno de registo foi visto pelo agente da autoridade, que guardou só para si todas as suas descobertas”. Portanto o Manuel António, se não tivesse sido o autor do roubo, teria que desconhecer o facto.
3 – O caso passou-se mais ou menos da seguinte maneira:
O ladrão já há muito pensava roubar as pedras, convencido, como aliás toda a gente, do seu grande valor. Naquela noite, a coberto da escuridão forçou a janela da capela e entrou. Dentro, talvez servindo-se de alguma vela do próprio templo para se alumiar, dirigiu-se junto à imagem, utilizando, muito possivelmente um canivete (razão dos riscos e falhas de gesso que o investigador viu nos orifícios do manto da Santa), retirou todas as pedras, saindo por onde entrou, tendo no entanto o cuidado de deixar a janela fechada.
Encantado da vida, retirou-se para casa, mal sabendo que levava no bolso um montão de pedras sem qualquer valor.
[Fica o agradecimento ao confrade Inspector Aranha que nos recordou o acontecimento que marcou todo o Mundo Policiário, há 21 anos atrás, quando todos se aprestavam para mais um convívio, numa altura em que não havia telemóveis e as comunicações eram difíceis. O choque foi terrível, como é imaginável, à medida que os convivas iam chegando a Torres Vedras.]
domingo, 20 de novembro de 2011
POLICIÁRIO 1061
O texto de que hoje publicamos a primeira parte, já tem algum tempo e foi publicado originariamente no Jornal de Letras em 2006.
No entanto, por se tratar de uma abordagem à génese e desenvolvimento da base do nosso passatempo, ou seja, da Literatura Policial, entendemos que mantém toda a sua acuidade.
Naturalmente que o trabalho reflecte a nossa opinião sobre o assunto e não pretende ser o veículo de verdades universais, que neste como em quase todos os temas, não existem.
Na próxima semana publicaremos a segunda parte.
LITERATURA POLICIAL – PARTE I
Mário Soares, Jorge Sampaio, o que podem ter em comum para além das coisas públicas que todos lhes conhecemos?
Pois bem, ambos se confessaram e assumiram como leitores atentos de livros policiais!
Com um pouco de ginástica mental, podemos imaginar Mário Soares como admirador de um Maigret desengonçado e pesadão, ou Jorge Sampaio a seguir, deliciado, um caso do mais “cabeça de ovo” da História do Policial, o sempre actuante Poirot!
O que faz dos romances policiais uma das leituras mais apreciadas em todo o Mundo e em todas as épocas? Que sortilégio terá? Será apenas a sua vertente desafiante da inteligência, ou, mais que isso, um misto de Aventura e Mistério, com uma porção de raciocínio, q.b. ?
Digamos em abono da verdade que nada no Policial foi – ou é – pacífico. A começar pela paternidade, em que se degladiam diversas correntes de opinião, que nos remetem para a Bíblia ou para escritos chineses ou, mais modernamente, para Voltaire ou Dostoievsky. Mais aceite é, no entanto, Edgar Alan Pöe, como o pai do romance policial com características dedutivas, em 1841, com a publicação de “Os Crimes da Rua da Morgue” no “Graham’s Magazine”.
Seja como for, o Policial acaba por carregar um fardo como “casa mal frequentada”, porque nasce de um alcoólico Pöe, prolonga-se e atinge um grau de popularidade inimaginável com um Sherlock Holmes consumidor de cocaína; se implanta e desenvolve em Portugal, tendo como cultores um Fernando Pessoa com problemas alcoolicos ou um Reinaldo Ferreira (Repórter X) morfinómano...
De literatura de cordel, que foi considerada durante longo tempo, até às declarações de um Prémio Nobel da Literatura, José Saramago, de que pretendia escrever um romance policial, o caminho foi longo e difícil, cá como no resto do mundo.
A uma literatura incipiente, sensacionalista, um tanto aventureira, seguiu-se um período de grande esplendor, usando quase sempre a fórmula de duplas que se tornaram famosas: Monsieur Dupin e o seu “amigo desconhecido”, de Alan Pöe; Sherlock Holmes e Dr. Watson, de Arthur Conan Doyle; Hercule Poirot e Capitão Hastings, de Agatha Christie.
Outros, muitos outros detectives famosos seguiram o trilho – para não dizermos que imitaram – Dupin e Pöe. Destacamos Ellery Queen, produto de dois primos, Frederick Danny e Manfred Lee; Philo Vance de S. S. Van Dine; Philip Marlowe de Raymond Chandler; Sam Spade de Dashiell Hammett; Hercule Poirot ou Miss Marple de Agatha Christie.
Numa tentativa de sistematização, poderíamos dizer que as três grandes “escolas” policiais trataram os seus mais emblemáticos escritores de forma bastante profissional, apoiada num “marketing” eficiente. A “escola” britânica reune-se em torno de Sherlock e mais tarde de Poirot e Miss Marple; a “escola” franco-belga cerra fileiras em redor de Maigret, inspector e mais tarde Comissário criado por Georges Simenon; a “escola” americana arrisca em Chandler, mais tarde em Ellery Queen e finalmente em Patricia Higsmith que acaba “arrasando” a concorrência com as histórias de Mr. Ripley.
Pelo meio, lutando contra cada um destes centralismos, uma imensidão de autores e detectives procuram o seu espaço, em muitos casos bem merecido.
Sherlock Holmes faz com que em França surja Arsène Lupin, uma criação de Maurice Leblanc, um ladrão muito fino, que depois vai servir de modelo a Simon Templar (Santo), de Leslie Charteris. Pelo meio, Émile Gaboriau faz nascer o Monsieu Lecoq, também em França. Mais tarde, já em 1911, aparece um padre com grandes capacidades dedutivas, Father Brown, uma criação de Gilbert Keith Chesterton.
Nesse mesmo ano, na América, Melville Davisson Post escreve os primeiros contos do Tio Abner, enquanto se vai demonstrando que a “escola” americana não consegue rivalizar minimamente com o que se faz deste lado do Atlântico! E.C. Bentley publica “O Último Caso Trent” e Freeman aparece com “O Osso”, ao mesmo tempo que Earl Derr Biggers faz nascer Charlie Chan, um chinês apaixonado por Confúcio, que o cita a toda a hora. Mas em Inglaterra os consagrados dão cartas, bem secundados por Max Carrados, de Ernest Bramah.
Nos anos 20 do século passado são as mulheres que mais se distinguem, com Agatha Christie e Dorothy Sayers que nos apresenta Lord Peter Wimsey.
Edgar Wallace cria o pequenito e perspicaz Mr. Reeder; Margery Alling oferece-nos Albert Campion; Ellery Queen um detective “caixa de óculos” com o mesmo nome; Dashiell Hammett um modelo de detective particular à sua semelhança, Sam Spade; o americano John Dickson Carr – também Carter Dickson -, especialista de enigmas tipo “quarto fechado” que trata como ninguém, traz-nos o Dr. Gideon Fell; Simenon assume a sua revolta contra os detectives por conta própria e faz nascer o Inspector Maigret, mais tarde Comissário; Rex Stout avança com o oposto de Maigret, um tipo gordíssimo que nunca sai de casa, Nero Wolfe, que conta para tudo com o seu braço direito Archie Goodwin; na América, Erle Stanley Garner cria Perry Mason, um advogado de sucesso.
Os anos 30 são atravessados por todos estes heróis e autores, com altos e baixos. Finalmente pode dizer-se que o romance policial é já tão americano como europeu.
Nos anos 40 assiste-se ao aparecimento de antologias, uma inglesa, a “Line Up” e uma americana, a primeira coordenada por Ellery Queen, que reune, de uma só vez, Hammett, Chandler e Ellery.
Estes terão sido os anos de ouro do romance policial, tal o número e qualidade de autores e personagens, que verdadeiramente desenvolveram a sua actividade ao longo de décadas, renovando sempre as suas propostas e actualizando processos. Tal longevidade, ao invés de criar saturação, produziu um efeito contrário, seduzindo legiões de novos leitores. O velho romance sem sentido, aventureiro e sensacional, era agora respeitado. Cada vez mais catedráticos e homens de letras faziam incursões no mundo do romance policial.
Os novos rumos conduzem-nos a uma indefinição sobre o que poderá vir a ser o Romance Policial do futuro.
O processo criativo que aconteceu nos anos de ouro, ainda não deixou de estender os seus tentáculos e ninguém hoje consegue ignorar Sherlock, Poirot, Ellery ou Maigret, que continuam omnipresentes e apresentados como modelo, apesar das vetustas idades. Novos modelos de violência protagonizados por Mike Hammer de Mickey Spilane ou Lew Archer de Ross Macdonald, ao bom estilo de “olho por olho...” não parecem trilhar o caminho do futuro.
Resta-nos como verdadeiro bálsamo para o espírito, a magnífica obra policial global de Manuel Vásquez Montalbán, escritor catalão multifacetado que é já um modelo da nova Literatura Policial.
domingo, 13 de novembro de 2011
POLICIÁRIO 1060
A nossa secção de hoje é integralmente preenchida com a publicação da solução que o mestre M. Constantino dá para o seu problema, que encerrou a competição desta época, no que refere aos problemas de características tradicionais.
Tratando-se de um desafio exigente, principalmente devido à enorme concentração a que obriga todos os “detectives” para a sua decifração, não é descabido que todos prestem, igualmente, a sua atenção para o modo como M. Constantino, com a mestria habitual, consegue agarrar as pontas soltas e dar-lhes um significado bem integrado na solução final.
SOLUÇÃO DA PROVA N.º 10 – PARTE I
OS ENIGMAS DA TRIBO DESAPARECIDA, de M. CONSTANTINO
Primeiro temos a aldeia, a fixação a partir do mar e a Sul a floresta, que se deduz pelo abrir do Sol sobre as terras de cultivo e desaparecer (a oeste) para lá da montanha. As palhotas construídas em dois triângulos invertidos – estrelas de seis pontas – são 12 e acolhem 26 viventes. Parece não ser difícil estabelecer a numeração, de 1 a 12, sem repetições, de modo a que a soma da numeração de cada lado dos triângulos (4 cabanas em cada), incluindo as seis pontas das estrelas, seja igual a 26, o número total de habitantes, no momento.
Sem recorrer a tratados matemáticos, até por tentativas, temos:
1.º Triângulo: 1+11+12+2=26; 10+9+5+2=26; 1+8+7+10=26.
2.º Triângulo: 4+7+9+6=26; 4+8+11+3=26; 6+5+12+3=26.
Segue-se a tarefa de colocar os habitantes nas palhotas que lhes couberam. Pelo texto do problema sabemos que a palhota n.º 1 foi escolhida para albergar Aristarco e Mentor e está colocada no ângulo esquerdo do primeiro triângulo. A ordem do juiz para o Pábulo (mentiroso) ir viver para a 5 com Albino, o dos dentes incisivos salientes, ou seja, o Castor (Dic.); seguindo o texto, seu irmão Raul com Pendão na palhota 11; isto é, a que está de costas para a de Alvanéu, que mantém a habitação 12, com Garçaim; Aurora fica no mesmo lugar, a n.º 3, ponta Norte da estrela; e na mais distante da sua, ponta Sul da estrela e palhota n.º 10, ficam Ursídeo com Bisonte (seu vizinho). Na lateral Este do 1.º triângulo o número mais baixo, a 7 (não ocupada, evidentemente), acolhe Lavanco e o gordo de barriga como um sapo, Untanha (Dic.) de onde vêem (na que só pode ser a 8) o de halos escuros em volta dos olhos, Panda (Dic.); a 9 é ocupada por Daniel (ou seja, o matador da raposa branca), o Aguará, e o Alfaraz.
No triângulo invertido, palhota a nascente, n.º 4, é ocupada por Donfafe e o de pernas tortas, Cambeta (Dic.). Na seguinte, Luís e o gordo Carlos, já antes referidos. Na última, a Oeste, n.º 6, ficaram Paulo, aquele que acolheu Sibila, ou seja Boto, surdo (Dic.) e o armeiro Erco. Restam completar a 3 e a 2. Ora, sabendo-se que Aurora escolheu Garnisé e Ana, a de poucas palavras (Muda) era incompatível com a faladora Gralha (Dic.), podemos concluir que na 3 ficaram Aurora, Garnisé e a Muda. Na restante, a 2, Tono, Rubi e a Gralha. Para completar esta operação com nomes próprios e ápodos, segundo as acções e configurações dos viventes (não é necessário consultar os dicionários para todos os ápodos), vamos analisar o conteúdo das conchas de Aristarco, começando pelos caçadores.
Sabemos pelo texto que Jorge é Alvanéu; Albano o Ursídeo; Aguará é Daniel; Cláudio, sentado à porta da cabana é Bisonte; Albino, o dos dentes salientes, o Castos; porque Artur é a Alfaraz, o Panda só pode ser o Diogo. Dos pescadores, o texto identifica Júlio com o Pábulo; Raul, seu irmão, o que nasceu depois, é o Epígono (Dic.); Amaro é o Garçaim, Mário, o armeiro, é Erco, Luís – visto que Untanha, o gordo, não é pescador – só pode ser Lavanco e, consequentemente, André é o Pendão. Em relação aos agricultores, extrai-se que Cambeta é Nuno, Cafunda é Jaime, Carlos (o gordo atrás citado) é Untanha; o surdo, Boto, é Paulo; Mário é o Erco. Resta Donfafe, que só pode ser o Hélder.
Quanto às mulheres, temos a Aurora, que não chegou a ser Beatriz, ainda que lhe coubesse igualmente o nome por ser aloirada, diferente dos irmãos e dos outros; segue-se o texto no qual se verifica que Rosa é Rubi; e Lúcia, a faladora, é a Gralha. Se Ana (de poucas falas) é a muda, fez companhia a Garnisé (escolhida por Aurora, esta só pode ser a Marta; Tono (Dic.) é Alice. Resumindo: na palhota 1 estão Aristarco (o juiz) e Mentor (o chefe); na 2, Alice (a Tono), Lúcia (a Gralha) e Rosa (a Rubi); na 3, Aurora, Marta (a Garnisé) e Ana (a Muda); na 4, Hélder (o Donfafe) e Nuno (Cambeta); na 5, Júlio (o Pábulo) e Albino (o Castor); na 6, Mário (o Erco) e Paulo (o Boto); na 7, Luís (o Lavanco) e Carlos (o Untanha); na 8, Jaime (o Cafunda) e Diogo (o Panda); na 9, Daniel (o Aguara) e Artur (o Alfaraz); na 10, Albano (o Ursídeo) e Cláudio (o Bisonte); na 11, Raul (o Epígono) e André (o Pendão); e finalmente, na 12, Jorge (o Alvanéu) e Amaro (o Garçaim). O exposto não passa de um paciente exercício.
É tempo de responder ao enigmático. Sibíla, a aprendiz de feiticeira, quis adivinhar o futuro, adiantando-o. Como incendiou a palhota? Se estão lembrados, ela debruçava-se sobre a fogueira com um felpudo gato preto ao colo; fácil, assim, foi pôr o gato na fogueira, o qual, com o pelo a arder, se refugiou na palhota, cheia de lenha e de peles, incendiando-a. Depois foi a comédia: gritou e deixou-se cair no chão. Não enganou o juiz que, ao ver o gato morto nos destroços, não hesitou em expulsá-la para a selva.
O segundo teste é uma lógica simples. Porque ninguém distinguia os gémeos (talvez a mãe que já não deve existir ao tempo, porque ninguém a menciona), o juiz começou por perguntar qual dos dois irmãos nasceu em último, ao que Júlio respondeu que era ele e o outro respondeu que fora o primeiro a nascer. Aristarco ponderou que não poderiam estar a falar verdade, já que um era mentiroso natural, incorrigível; logo, os dois mentiam. Deduziu que Júlio era o mentiroso, porque apressara na resposta. Mas o que levaria o outro a mentir? Respeito para com o irmão mais velho, influência dele durante anos, receio de que, dizendo a verdade, prejudicasse Júlio. O juiz teve a certeza do seu acerto ao verificar que ninguém protestou.
Quanto à morte do Daniel, o Aguará, excluída a culpabilidade da única pessoa que estava trancada por dentro com a vítima, não existindo esconderijos ou portas secretas, visto as pegadas não poderem ser conclusivas, há que procurar quem teve os meios e as armas. Jorge, na véspera, andou pela aldeia a tapar buracos nas palhotas e, na do Daniel, deixou um buraco (disfarçadamente tapado), para utilizar posteriormente. Naquela noite, levou o arco e flechas – o único caçador entre os rastos que passaram pela palhota – abriu o buraco, apontou a flecha, munida de uma corda leve, à cabeça da vítima e disparou; puxou depois a corda, soltando a flecha que arrancou pedaços do crânio, levando o gorro até à parede e deixando-o cair; fecha de novo a abertura com um bocado de barro e deu uma volta pelas palhotas das mulheres, para despistar. Não esqueçamos, porém, que Aurora o repudiou ao conhecer Aguara.
Mas não há crimes perfeitos…
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
POLICIÁRIO 1059
O Policiário é uma actividade completa. Nele cabem todas as vertentes que fazem a nossa vida em sociedade. Desde ser um veículo pedagógico, desaproveitado é certo, que pode assumir-se como auxiliar importante para reduzir absentismo escolar e para pôr as crianças e jovens a pensar de forma racional e metódica, até simples entretenimento, inteligente e lógico, que é o que nos esforçamos por levar aos nosso leitores todas as semanas, passando pelo ser aspecto de convívio e tertúlia, tudo cabe na nossa modalidade de eleição.
O POLICIÁRIO ENTRE A PEDAGOGIA, O ENTRETENIMENTO E O CONVÍVIO
O POLICIÁRIO COMO VEÍCULO PEDAGÓGICO
De uma forma geral todos temos a noção de que o Policiário pode e deve ser um poderoso auxiliar pedagógico, não só como objecto de clarificação e abertura na apresentação dos temas de ensino, mas igualmente como potenciador de desenvolvimento de capacidades lógicas.
Temos de concordar que numa sala de aulas será muito mais motivador para os alunos que se explique uma matéria pouco apetecível de forma desafiante, talvez até enigmática, não se transmitindo todo o conhecimento de forma maçuda. Um exemplo de enigma, um espicaçar de faculdades pode ser uma chave eficiente.
Por outro lado, um espírito exercitado para o raciocínio lógico e científico será sempre uma mais valia extraordinária para o confronto com as dificuldades de todos os dias e para o exercício de tomada de decisões, quando for necessário.
Estas características, que só o Policiário tem, tornam-no numa actividade completa na formação de jovens estudantes, já que estimula e exige um perfeito domínio da leitura, da interpretação de texto, de exercício lógico, de sistematização de ideias e sua catalogação em conformidade com a necessidade e importância, redacção e transmissão de ideias para serem lidas e entendidas por terceiros, finalmente uma cultura geral vasta ou, pelo menos, um conhecimento correcto dos locais e métodos de consulta.
Cabe aqui referir uma experiência que fizemos numa escola do concelho de Sintra, há mais de duas décadas.
Tratava-se de uma escola problemática, com grandes dificuldades em termos disciplinares e outros, onde foi possível desenvolver uma actividade extra-curricular para ocupação dos alunos durante uma tarde. Para o efeito foram criados alguns grupos, cada qual com o seu tema e os alunos foram incentivados a fazerem as suas escolhas.
Entre os temas estava o Policial e foram 16 os alunos que optaram por ele, a que foram acrescentados mais 8 que haviam indicado em segunda opção.
No princípio, havia no ar uma desconfiança, aquela tarde não representava mais do que uma tarde “perdida” para aqueles jovens, mas à medida que fomos avançando nos aspectos mais práticos da investigação criminal, em que o trabalho de campo se impôs, com os alunos a fazerem, eles mesmos, o levantamento de impressões digitais, moldes de pegadas, recolha de indícios em local de crime (obviamente simulado), etc. e depois fazerem a comparação da realidade vivida por eles com aquilo que alguns romances policiais retratavam, logo originou que as tardes das quartas-feiras se tornassem nos momentos de maior afluência dos jovens, não se registando faltas e, mais importante ainda, muitos outros alunos, colocados em outras actividades, começassem a aparecer pelo nosso “campus” de trabalho!
Foi uma experiência gratificante, que produziu excelentes resultados, validados pela própria escola, mas que terminou no final desse ano. Mudança – mais uma – de objectivos pedagógicos e de currículo escolar, fizeram com que se perdesse aquela mais-valia que foi conquistada e não permitiu que a continuação pudesse confirmar ou não a validade do trabalho, se os resultados foram mesmo reais ou apenas circunstanciais.
Temos consciência de que o policiário entrar no meio escolar como instrumento pedagógico, é difícil e altamente improvável, pelo menos em termos oficiais.
Nunca será natural que seja obtida uma autorização para um programa pedagógico de ensino, a ser aplicado pelo Ministério a nível escolar, digamos, no secundário - que antes é ainda mais fortemente improvável - até pela carga negativa que o Policiário transporta, embora indevidamente, como transmissor de violência ou propiciador de discussões sobre crimes, armas e instrumentos mais ou menos bélicos, numa sociedade extremamente violenta – mesmo em termos mentais - mas que quer aparecer como muito pacifista, muito politicamente correcta.
Isto, apesar de hoje ser universalmente aceite que as crianças e jovens devem aprender a lidar e conviver com os factos da vida e, por conseguinte, com a violência, adquirindo os instrumentos mentais necessários para a sua compreensão.
O POLICIÁRIO COMO ENTRETENIMENTO
É sem dúvida neste aspecto que o Policiário mais hipóteses tem e terá de alicerçar o seu desenvolvimento e captar novos aderentes.
Sem necessidade de grandes estudos e trabalhos e sem a obrigatoriedade de demonstração da sua bondade, antes apelando ao espírito de decifração que cada um de nós tem e ao prazer imenso que temos em conseguir desfazer as meadas que outros nos colocam como desafio, o entretenimento terá de ser por nós devidamente valorizado e constituir uma aposta muito efectiva.
Como entretenimento e sem a “ditadura” da pedagogia, embora nunca a possa ou deva abandonar, pode o Policiário ter uma intervenção em todos os escalões etários, desde tenra idade, assim haja a capacidade de produzir desafios adequados a cada idade e a cada grupo destinatário.
Desde logo se infere que damos completa prioridade à problemística sobre as outras vertentes – literatura policial, estudos e análises policiais, mesmo as notícias -, não por ser mais importante, mas simplesmente porque traduz a alma do enigma em que sabemos quem o produz e sabemos a quem é destinado. Tem muito de experimentação e poucas pessoas resistem a isso.
O POLICIÁRIO COMO LOCAL DE CONVÍVIO
Este é o tal ponto em que radica muita da confusão que hoje se faz em torno do êxito ou fracasso do Policiário em termos de captação ou de permanência.
Na verdade é nesta vertente que se verificam maiores carências em termos de mobilização, com as tertúlias em crise e os convívios pouco melhores.
Se os concorrentes aos torneios e aos desafios são muitos e bastante fiéis, pelo menos na secção que maior visibilidade apresenta, o mesmo já não se verifica quando a meta é trazer essas pessoas para o contacto personalizado, quer em tertúlia, quer em convívio.
Podemos dizer que é aqui que muito se joga, se bem que não seja completamente fundamental para a sobrevivência do Policiário enquanto desporto intelectual, nem enquanto entretenimento, mas apenas como instrumento de mobilização de amizades presenciais, algumas para uma vida inteira, como temos exemplos concretos.
Não parece que existam soluções para um problema que afecta de modo generalizado, toda a sociedade, mas já entendemos que é possível tomar medidas importantes no sentido de aproveitar aquilo que a Internet hoje nos pode proporcionar, nomeadamente tertúlias em que não seja indispensável a presença física ou uma aproximação geográfica.
A discussão dos assuntos on-line é hoje uma realidade que tem de ser tomada em conta e por nós plenamente apoiada e que já existe.
O POLICIÁRIO ENTRE A PEDAGOGIA, O ENTRETENIMENTO E O CONVÍVIO
O POLICIÁRIO COMO VEÍCULO PEDAGÓGICO
De uma forma geral todos temos a noção de que o Policiário pode e deve ser um poderoso auxiliar pedagógico, não só como objecto de clarificação e abertura na apresentação dos temas de ensino, mas igualmente como potenciador de desenvolvimento de capacidades lógicas.
Temos de concordar que numa sala de aulas será muito mais motivador para os alunos que se explique uma matéria pouco apetecível de forma desafiante, talvez até enigmática, não se transmitindo todo o conhecimento de forma maçuda. Um exemplo de enigma, um espicaçar de faculdades pode ser uma chave eficiente.
Por outro lado, um espírito exercitado para o raciocínio lógico e científico será sempre uma mais valia extraordinária para o confronto com as dificuldades de todos os dias e para o exercício de tomada de decisões, quando for necessário.
Estas características, que só o Policiário tem, tornam-no numa actividade completa na formação de jovens estudantes, já que estimula e exige um perfeito domínio da leitura, da interpretação de texto, de exercício lógico, de sistematização de ideias e sua catalogação em conformidade com a necessidade e importância, redacção e transmissão de ideias para serem lidas e entendidas por terceiros, finalmente uma cultura geral vasta ou, pelo menos, um conhecimento correcto dos locais e métodos de consulta.
Cabe aqui referir uma experiência que fizemos numa escola do concelho de Sintra, há mais de duas décadas.
Tratava-se de uma escola problemática, com grandes dificuldades em termos disciplinares e outros, onde foi possível desenvolver uma actividade extra-curricular para ocupação dos alunos durante uma tarde. Para o efeito foram criados alguns grupos, cada qual com o seu tema e os alunos foram incentivados a fazerem as suas escolhas.
Entre os temas estava o Policial e foram 16 os alunos que optaram por ele, a que foram acrescentados mais 8 que haviam indicado em segunda opção.
No princípio, havia no ar uma desconfiança, aquela tarde não representava mais do que uma tarde “perdida” para aqueles jovens, mas à medida que fomos avançando nos aspectos mais práticos da investigação criminal, em que o trabalho de campo se impôs, com os alunos a fazerem, eles mesmos, o levantamento de impressões digitais, moldes de pegadas, recolha de indícios em local de crime (obviamente simulado), etc. e depois fazerem a comparação da realidade vivida por eles com aquilo que alguns romances policiais retratavam, logo originou que as tardes das quartas-feiras se tornassem nos momentos de maior afluência dos jovens, não se registando faltas e, mais importante ainda, muitos outros alunos, colocados em outras actividades, começassem a aparecer pelo nosso “campus” de trabalho!
Foi uma experiência gratificante, que produziu excelentes resultados, validados pela própria escola, mas que terminou no final desse ano. Mudança – mais uma – de objectivos pedagógicos e de currículo escolar, fizeram com que se perdesse aquela mais-valia que foi conquistada e não permitiu que a continuação pudesse confirmar ou não a validade do trabalho, se os resultados foram mesmo reais ou apenas circunstanciais.
Temos consciência de que o policiário entrar no meio escolar como instrumento pedagógico, é difícil e altamente improvável, pelo menos em termos oficiais.
Nunca será natural que seja obtida uma autorização para um programa pedagógico de ensino, a ser aplicado pelo Ministério a nível escolar, digamos, no secundário - que antes é ainda mais fortemente improvável - até pela carga negativa que o Policiário transporta, embora indevidamente, como transmissor de violência ou propiciador de discussões sobre crimes, armas e instrumentos mais ou menos bélicos, numa sociedade extremamente violenta – mesmo em termos mentais - mas que quer aparecer como muito pacifista, muito politicamente correcta.
Isto, apesar de hoje ser universalmente aceite que as crianças e jovens devem aprender a lidar e conviver com os factos da vida e, por conseguinte, com a violência, adquirindo os instrumentos mentais necessários para a sua compreensão.
O POLICIÁRIO COMO ENTRETENIMENTO
É sem dúvida neste aspecto que o Policiário mais hipóteses tem e terá de alicerçar o seu desenvolvimento e captar novos aderentes.
Sem necessidade de grandes estudos e trabalhos e sem a obrigatoriedade de demonstração da sua bondade, antes apelando ao espírito de decifração que cada um de nós tem e ao prazer imenso que temos em conseguir desfazer as meadas que outros nos colocam como desafio, o entretenimento terá de ser por nós devidamente valorizado e constituir uma aposta muito efectiva.
Como entretenimento e sem a “ditadura” da pedagogia, embora nunca a possa ou deva abandonar, pode o Policiário ter uma intervenção em todos os escalões etários, desde tenra idade, assim haja a capacidade de produzir desafios adequados a cada idade e a cada grupo destinatário.
Desde logo se infere que damos completa prioridade à problemística sobre as outras vertentes – literatura policial, estudos e análises policiais, mesmo as notícias -, não por ser mais importante, mas simplesmente porque traduz a alma do enigma em que sabemos quem o produz e sabemos a quem é destinado. Tem muito de experimentação e poucas pessoas resistem a isso.
O POLICIÁRIO COMO LOCAL DE CONVÍVIO
Este é o tal ponto em que radica muita da confusão que hoje se faz em torno do êxito ou fracasso do Policiário em termos de captação ou de permanência.
Na verdade é nesta vertente que se verificam maiores carências em termos de mobilização, com as tertúlias em crise e os convívios pouco melhores.
Se os concorrentes aos torneios e aos desafios são muitos e bastante fiéis, pelo menos na secção que maior visibilidade apresenta, o mesmo já não se verifica quando a meta é trazer essas pessoas para o contacto personalizado, quer em tertúlia, quer em convívio.
Podemos dizer que é aqui que muito se joga, se bem que não seja completamente fundamental para a sobrevivência do Policiário enquanto desporto intelectual, nem enquanto entretenimento, mas apenas como instrumento de mobilização de amizades presenciais, algumas para uma vida inteira, como temos exemplos concretos.
Não parece que existam soluções para um problema que afecta de modo generalizado, toda a sociedade, mas já entendemos que é possível tomar medidas importantes no sentido de aproveitar aquilo que a Internet hoje nos pode proporcionar, nomeadamente tertúlias em que não seja indispensável a presença física ou uma aproximação geográfica.
A discussão dos assuntos on-line é hoje uma realidade que tem de ser tomada em conta e por nós plenamente apoiada e que já existe.
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