domingo, 2 de março de 2014

POLICIÁRIO 1178


[Transcrição da secção n.º 1178 publicada hoje no jornal PÚBLICO]

UM PROBLEMA POLICIAL COM “PASSARINHOS”
PARA DECIFRAR.


Como se costuma dizer, “a pedido de várias famílias”, o prazo para envio das propostas de solução dos problemas da prova n.º 1 foi alargado em dois dias, terminando às 24 horas de hoje, dia 2 de Março.
A concessão de mais um fim-de-semana poderá permitir aos nossos “detectives” mais algum tempo para ultimarem as suas propostas, preparando-as para a selecção das melhores 512 que vão passar à eliminatória seguinte da Taça de Portugal.
Entretanto, seguindo o calendário previamente definido, hoje é dia de ficarmos a conhecer o problema que integra a parte I da prova n.º 2, de autoria de uma dupla de confrades, dos mais activos e ao mesmo tempo mais antigos, do Policiário: A. Raposo & Lena.
Depois de uma longa carreira “a solo” do confrade A. Raposo, a qualidade manteve-se, integrando uma dupla de grande sucesso, com a sua companheira de sempre, Lena. Podemos dizer com toda a propriedade que temos uma dupla decifradora de bons recursos, produtora de grande qualidade e conviva de excelência!
A parceria A. Raposo & Lena é bem um símbolo do que é o Policiário, em todas as suas vertentes e a quem agradecemos a sua renovada intervenção e presença assídua.


CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL – 2014

PROVA N.º 2 – PARTE I

“HOJE HÁ PASSARINHOS…” Original de A. RAPOSO & LENA


Estamos nos anos 60, na cidade de Lisboa, mais propriamente nos arredores do conhecido bairro da Picheleira.

Como peça fundamental de convivência citadina, existe a Cova Funda, uma taberna à maneira, onde se joga à sueca, se consomem passarinhos fritos, jaquinzinhos e umas iscas com elas. O vinho, em barril, vem diretamente do produtor, o bom carrascão, do Cartaxo.

Na cozinha temos a menina Fatucha, filha do Taberneiro Elias – homem da serra da Estrela que aterrou na cidade grande e se estabeleceu, faz um tempão.

Fatucha é o elo de ligação entre a rapaziada que vai ou voltou da guerra colonial.
A moçoila era cheiinha de carnes, faces rosadas, fartos seios e trato fácil.

A rapaziada, a rebentar de hormonas, gostava do clima e frequentava a casa.

Naquele dia, lá estavam eles: o Pinguinhas, o Peida Gadocha, o Malacueco, o Marreco, o Pingarelho e o Olho Vivo.
Andavam todos a azucrinar a Fatucha e segundo constava a moça não permitia avanços.

Tempicos, nessa altura, morava por perto, e fazia parte do grupo. Ao passar à porta da Cova Funda chegava-lhe os cheiros das iscas cruzado com o perfume barato da Fatucha e, não resistia, sempre lhe ficou o gosto dos petiscos e de molhar o pãozinho em prato alheio.  
Ficou fã dos passarinhos fritos, um amor de toda a vida, tal como o seu Benfica.
A cozinheira (Fatucha) raramente mudava o óleo da frigideira e os jaquinzinhos perdiam a piada.
  

Lá estavam todos. No bairro eram conhecidos como “os seis da vida airada”. Quatro numa mesa no meio da tasca a jogar à sueca e um ao balcão a fazer companhia a Tempicos a trincar passarinhos fritos. O resto era a paisagem das pipas, por detrás do balcão, cujas torneiras ao abrir chiavam como se chorassem o carrascão a sair, era a zona da estrita responsabilidade de Elias.

Pelo meio das pipas um estreito corredor levava à cozinha e aos lavabos.

Em fundo uma ladainha vinha do televisor, apesar de a preto e branco mas já com o locutor a fazer o relato da bola, aos berros mas que ninguém ligava, pois o Benfica não jogava naquele dia.
A Fatucha andava num vaivém, a bandear as grossas coxas, e a levar pratinhos com jaquinzinhos enfiados em palitos e um ou outro apalpão às escondidas e que ela invariavelmente respondia com um “teja quieto!”.
A jogatina a certa altura parou para balanço dos resultados e foi aproveitado por um jogador para pôr a bexiga em ordem. A natureza inexorável.

Quando o anafado Zé regressava para a continuação da jogatina, aproxima-se da mesa do jogo e caiu na cadeira a queixar-se das costas. De facto, alguém, no entretanto dera-lhe uma bela facada nos rins. O seu parceiro de jogo ficou boquiaberto.

Tempicos, de costas para a cena, a trincar os passarinhos, empurrados por uns copos de três, não deu por nada. Nem o companheiro Quim – ambos a petiscar ao balcão - avançado centro do Penha-de-França que sofria de acentuada escoliose mas era o melhor marcador de golos de cabeça da equipa. Elias arrepanhou os poucos cabelos.

Tempicos naquela época andava a fazer o tirocínio para Inspetor da PJ e avocou o caso, já naquele tempo lhe atribuíam um olhar perspicaz.
Diziam-lhe as células cinzentas que a moça tinha um rapaz debaixo de olho e aos outros não passava “cartolina” e isso criava um ambiente de competição e ciúme no grupo. Começou a tomar as suas notas num caderninho de capa preta:

“- O espertalhão do Manel estava a fazer as contas do jogo e não viu nada. Aliás, tinha ganho a última vasa, mais o seu infortunado parceiro anafado:

- O pelintra do Tozé estava a ver o jogo de futebol na tv e… nada enxergou.

- O Zé só se queixava e queria ir para o hospital.

- O tacanho do Tó estava a olhar a rua e nada viu.

- O Elias estava a encher copos e não se apercebeu de nada.”
           
Tempicos, à socapa, revistou por todo o lado e conseguiu descobrir, escondido num bolso do avental da Fatucha, um papel com o seguinte texto:

“Espero-te às nove na esquina da mercearia.”- Pingarelho.

.....

Passaram-se quase 50 anos e Tempicos voltou ao caderninho preto entretanto guardado. Recordou o caso e redesenhou a cena e os intérpretes e a pergunta mantinha-se:
-Quem tem mais hipóteses de ter esfaqueado o Peida Gadocha?

Desenhe a cena do crime e ponha em todos os actores os nomes e respectivas alcunhas.


E pronto!

Resta aos “detectives” seguirem a sugestão dos autores e elaborarem os seus relatórios, que terão de ser enviados, impreterivelmente até ao próximo dia 31 de Março, para o que poderão usar um dos seguintes meios:

- Pelos Correios para Luís Pessoa, Estrada Militar, 23, 2125-109 MARINHAIS;
- Por e-mail para um dos endereços:
- Por entrega em mão ao orientador da secção, onde quer que o encontrem.
Boas deduções!




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