domingo, 9 de março de 2014

POLICIÁRIO 1179

[Transcrição da secção n.º 1179 publicada hoje no jornal PÚBLICO] 

PROVA N.º 2 ENCERRA COM CENAS DE NAMOROS E MENTIRAS


Dizia-nos um confrade com muitos anos de Policiário, que esta nossa actividade era, também, um “antro de mentiras e fantasias”, a propósito da arte de ilusão que um problema policial sempre encerra.
Sendo certo que procuramos reproduzir a realidade, em tudo que fazemos na nossa actividade policiaria, nunca podemos esquecer que da parte dos autores dos problemas que nos são propostos há sempre uma certa “malandragem”, no bom sentido. Quer isto dizer que um produtor tem que ser um “manipulador” das cenas que propõe, colocando cada personagem no exacto local e tempo que mais jeito lhe dá para os seus propósitos, que são, como é óbvio, iludir os decifradores dos enigmas.

Precisamente por isso, os nossos “detectives” terão que estar sempre de “pé atrás” quando os casos são apresentados. Tal como acontece nos romances policiais dos grandes mestres, o suspeito mais óbvio e natural nunca é o responsável pelos crimes. É quase obrigatório que os leitores sejam manipulados e conduzidos para conclusões que não se confirmam, sendo responsabilizado, normalmente, os personagens menos óbvios, que menos dão nas vistas.
Chamamos ainda a atenção para uma situação que é recorrente no nosso passatempo e que é o facto de considerarmos, muitas vezes, como criminoso, alguém que, em qualquer momento, mente. Ora, mentir não é sinónimo de autoria de um crime. Poderá ser um indicador de que esconde algo, mas nunca uma prova infalível do cometimento do acto, pelo que podemos ter um problema em que todos mentem descaradamente e não são responsáveis pelo crime e, eventualmente, uma personagem que não mente e que é o criminoso!

Por tudo isto, renovamos o apelo para que os problemas publicados sejam lidos e interpretados com o máximo cuidado pelos investigadores, para que saibam com toda a precisão quem está onde e quem pode ou não ter feito o quê, com relevância para o caso que tentamos decifrar. É que muitas vezes perdem-se torneios por questões tão pequenas e aparentemente tão desprezíveis, que até parece mentira!



CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL - 2014
PROVA N.º 2 – PARTE II
UM NAMORO COMPLICADO – Original de POVOLEZ


O João chegou à escola naquela segunda-feira, em grande alvoroço. Não conseguia entender o motivo que levara um dos seus amigos a fazer-lhe aquela desfeita!
Em poucas palavras, conta-se a história: o João andava apaixonado pela Teresa, mas a sua timidez impedia-o de fazer uma abordagem directa, até que, depois de muito andar às voltas, acabou por se apetrechar com a dose indispensável de coragem e esperou por ela à porta da sua casa, logo pela manhã, à hora de ir para as aulas e acabou pedindo-lhe namoro. Qual não foi o seu espanto ao ouvir da boca dela que já sabia, porque um dos amigos do João a tinha alertado, na véspera, no café, dizendo-lhe que ele era muito tímido mas que gostava dela.
O João convocou os seus amigos. Estava determinado em saber qual deles se tinha metido onde não era chamado:
– Senti-me muito envergonhado pela figura que um de vocês me obrigou a fazer perante a Teresa e quero saber qual de vocês provocou isto tudo. Portanto, Carlos, Tó, Zeca e Nico, toca a dizer o que fizeram ontem…
E ouviu um de cada vez e em privado.
O Carlos justificou-se, dizendo que estivera a estudar na véspera e não tivera tempo para mais nada. Os exames estavam à porta e ele tinha andado a cabular uma grande parte do ano e não podia continuar assim, ou acabava com um valente chumbo! Nem sequer saíra de casa e muito menos fora ao café.
O Tó foi dizendo que não sabia de nada do que se passara, aproveitara a véspera para ir até à praia porque tinha sido o primeiro dia do ano capaz de se fazer praia e bronzear um bocado. As ondas estavam boas e deu mesmo alguns mergulhos, passando lá todo o dia. Não esteve com a Teresa, nem a viu sequer.
O Zeca disse que andou por aí, que até estava no café e viu a Teresa entrar, com umas amigas, mas não lhe falou sequer. Depois foi à casa de banho e quando regressou ia a Teresa a sair e ele ainda lá ficou. Pensou ir até à praia, mas acabou por se ficar pelo café, foi ao cinema ver uma comédia, onde encontrou o Nico e depois foram para casa dele jogar no computador.
O Nico revelou que tivera um dia muito aborrecido, sem nada para fazer. Só à tardinha é que encontrou o Zeca no cinema e foram jogar para sua casa. Não viu a Teresa durante todo o dia.
O João juntou os amigos e olhou cada um deles nos olhos. Notou que o Carlos estava divertidíssimo, fazendo das tripas coração para não desatar às gargalhadas; que o Tó estava pálido, quase a desmaiar, se calhar com as mentiras que disse; que o Zeca sorria e ia dizendo que não tinha nada com a coisa; que o Nico brincava com umas chaves e sorria de gozo.
Foi então que o João disse, alto e bom som:
– A Teresa aceitou! Vamos beber um copo!
E todos mandaram vivas e foram alegremente comemorar…
Mas quem terá avisado a Teresa? O João já sabia, ou não?

A-  Foi o Zeca;
B-   Foi o Tó;
C-   Foi o Carlos;
D-   Foi o Nico.

E pronto.
Depois deste atribulado namoro, resta aos nossos “detectives” indicarem que foi o “linguarudo” que lançou toda esta confusão e enviarem a resposta, impreterivelmente até ao próximo dia 31 de Março, para o que poderão usar um dos seguintes meios:
- Pelos Correios para Luís Pessoa, Estrada Militar, 23, 2125-109 MARINHAIS;
- Por e-mail para um dos endereços:
- Por entrega em mão ao orientador da secção, onde quer que o encontrem.

Boas deduções

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