A ESTRANHA MORTE
DE MARIA VIGÁRIO
Iniciamos a publicação dos desafios da
prova n.º 9, num momento em que as classificações já se encontram mais
clarificadas e qualquer ponto perdido significará uma descida acentuada na
tabela, razão mais do que suficiente para reforçarmos o alerta para a maior
atenção.
CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL – 2016
PROVA N.º 9 –
PARTE I
“NUM BAIRRO
POPULAR” - Original de VERBATIM
Era
um bairro modesto, de gente de trabalho. Mas, por ali, também havia intriga,
traição, roubo e até crime de morte. Naquele rés-do-chão direito, onde a mãe
habitava, Ernesto Vigário disse tê-la encontrado morta, por estrangulamento, perto
das nove horas. As equipas da polícia chegaram ao local rapidamente.
A
vítima, Maria Antónia Vigário, viúva de 77 anos de idade, vivia sozinha há seis
anos. Não tinha bens susceptíveis de cobiça. O rés-do-chão, onde morava, era
propriedade dos seus dois filhos: Maria do Carmo, a viver em França, e Ernesto
que residia a cerca de quinhentos metros de distância. Este último confessou,
ao Inspector Flávio Alves, que andava há muitos meses de candeias às avessas
com a mãe, embora lhe telefonasse quase todos os dias e a visitasse pelo menos
uma vez por semana.
“Nunca deixei de
ter a chave desta casa – acrescentou Ernesto Vigário – e foi o que me valeu
esta manhã. Resolvi vir, embora seja quinta-feira, porque ontem a minha mãe não
atendeu o telemóvel nem o telefone fixo, o que me deixou apreensivo. É verdade
que já eram onze da noite… Quando hoje voltei a ligar e não me respondeu, vim
logo para aqui. Fiquei em estado de choque. Julgo que apesar disso tive o bom
senso de não mexer em nada e de vos chamar pelo meu telefone. Olhando em volta pareceu-me
tudo no seu lugar. Quando entrei, a minha preocupação logo dobrou, ao dar com a
porta só no trinco. A televisão estava acesa no canal que verificaram. Até
parece que a minha mãe estaria a vê-la quando foi atacada.”
Flávio Alves
reteve Ernesto Vigário até à remoção do corpo da mãe e proibiu-o de anunciar o
falecimento, pelo menos até ao dia seguinte.
A equipa médica
concluiu que a morte ocorrera entre 21:30 e as 23:30 do dia anterior e que se
devera, quase de certeza, a estrangulamento realizado com o auxílio de uma
gravata escondida sob o sofá onde a vítima se encontrava. A senhora estava com
um roupão ligeiro, vestido sobre uma camisa de dormir. Não se vislumbrou o
menor sinal de assalto. Encontrava-se tudo muito bem arrumado.
Ainda nesse dia,
foram ouvidos os vizinhos dos outros três apartamentos do prédio.
No rés-do-chão
esquerdo morava um casal sexagenário com uma neta de 11 anos. A pequena
deitara-se perto das dez horas do dia anterior e saíra às 7:30 para a escola,
afirmaram os três em separado. Disse a moça que vira a D. Antónia falar com a
avó e o avô antes e depois do jantar, no patamar de entrada. Os avós
confirmaram essas conversas. Teriam falado, primeiro, sobre a zaragata havida
num edifício vizinho. E, a seguir ao jantar, terão atendido a D. Antónia, que ali
viera oferecer um pedaço de bolo de chocolate que confeccionara. Os dois perguntaram
se era possível ir visitá-la ao hospital.
Os vizinhos do
primeiro esquerdo, um casal jovem, declararam ter ouvido dizer, quando passaram
pela barbearia, no regresso a casa, que a D. Antónia fora agredida por
assaltantes, na noite anterior. Manifestaram o seu espanto e asseveraram que,
se alguém tivesse entrado no rés-do-chão direito e feito mal à D. Antónia, eles
haviam de ter dado por isso. Entendiam que só uma pessoa bem conhecida da D.
Antónia a podia ter assaltado e agredido sem que houvesse barulho. Era verdade,
acrescentaram, que não se davam lá muito bem com a senhora por causa dos muitos
protestos dela, devidos a umas festinhas de fim-de-semana.
No primeiro
direito vivia uma senhora, conhecida por D. Patrocínio da Praça, dos seus
cinquenta anos, vistosa e forte, divorciada de Ernesto Vigário, mãe dos dois
filhos comuns, uma moça de 22 e um rapaz de 19 anos que viviam com o pai.
Apresentou-se com ar choroso por ter sabido que D. Antónia fora hospitalizada.
“Saí pelas seis e meia da manhã. Vi que não havia sinais de qualquer
perturbação e fui à minha vida descansada. Trabalho muito. Só voltei às cinco,
como viram. Dava-me muito bem com a minha sogra que, na verdade, já não o era.
Ainda ontem, depois do jantar, lá fui dar-lhe um beijinho. Ela estava tão
feliz! Estranho, não é? Mal sabia que a iam matar. Não me conformo. Só me
arrependo de não lhe ter feito companhia a ver a televisão, mas tenho de me
levantar muito cedo… O meu ex-marido é que tinha a chave da casa. E, se eu
tenho umas mãos fortes, as dele são capazes de estrangular um cavalo sem
qualquer ajuda. Deus me perdoe, que não quero acusar ninguém, mas o Ernesto era
muito ruim para a mãe. Ela só queria poder ficar completamente independente dele.
Eu tinha um plano…”
Os vizinhos confirmaram
as boas relações de D. Antónia com a D. Patrocínio e, ao contrário desta
última, mostraram apreço por Ernesto Vigário, que diziam ser muito atencioso,
apesar do ar agigantado e reservado.
A vítima tinha no
bolso do roupão uma carteira com diversos cartões pessoais, um recibo da
cabeleireira, um talão de caixa de jogos da Santa Casa, um rascunho de compras
a fazer e fotografias de uma rapariga e de um rapaz. O seu telemóvel, pousado
numa mesinha ao lado do sofá, registava, desde as 18:00 de quarta-feira até às
8:30 de quinta-feira, uma chamada para D. Patrocínio, às 19:10, e três chamadas
tentadas pelo filho, às 22:54, 23:01 e 8:20. O relógio do telemóvel estava
certo.
Ainda na tarde de
quinta-feira, foi procurado na casa da vítima o recibo do Euromilhões a que
respeitaria o talão de caixa, mas nada se encontrou. Confirmou-se que as
fotografias eram dos netos da D. Antónia e que a gravata encontrada debaixo do
sofá pertencia a Ernesto Vigário. Ele deixara-a lá na semana anterior, num dia
muito quente.
Flávio Alves já
mandara uma cópia do talão de caixa para o Departamento de Jogos da Santa Casa
da Misericórdia de Lisboa. Na terça-feira anterior, data do talão de caixa de
D. Antónia, os prémios mais altos em Portugal foram três terceiros, um pouco
acima dos cinquenta mil euros cada um. Mas, ainda antes dos vários resultados e
confirmações, cujo apuramento estava em curso e demoraria alguns dias, urgia,
talvez, proceder a uma busca.
Quais as
conclusões preliminares a que terá chegado Flávio Alves para poder requerer um
mandato de busca e que busca seria essa?
E pronto.
O desafio do confrade Verbatim espera
pelos relatórios dos “detectives”, que poderão ser enviados impreterivelmente
até ao próximo dia 31 de Outubro, podendo ser usado um dos meios seguintes:
-
Pelo Correio para: Luís Pessoa, Estrada Militar, n.º 23, 2125-109 MARINHAIS;
-
Por entrega em mão ao orientador, onde quer que o encontrem.
Boas
deduções!
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