ANTÓNIO ERNESTINO DE LIMA RODRIGUES
UMA HOMENAGEM NECESSÁRIA E JUSTA
Uma missiva do nosso confrade Karl
Marques, residente em Torres Vedras trouxe-nos novas de um dos vultos mais
importantes do Policial, não na vertente competitiva, que nunca abraçou de modo
continuado, mas como escritor, principalmente como contista de vastos recursos,
também ele torriense, mas desde há algum tempo residente em Santarém. Foi editor,
foi livreiro, escreveu bastante, publicou muito, principalmente de outros
autores, enfim, teve uma vida ligada ao Policial.
Falamos de Lima Rodrigues, do escritor
António Ernestino de Lima Rodrigues, que foi provedor do Policiário durante
muitos anos, nesta nossa secção, onde ganhou fama por ser justo e directo na
análise dos diferendos classificativos que iam surgindo. A sua missão principal
era essa mesma, ser o elo de ligação entre os leitores “detectives” e o
coordenador da secção Policiário.
Durante todos esses anos, em rodapé de
cada edição, aparecia a referência ao provedor, nessa altura residente em
Sobral de Monte Agraço.
Depois, novas directivas, outros rumos,
fizeram com que essa fórmula fosse abandonada, em grande parte porque eram cada
vez menos os “conflitos” em termos de pontuações, passando a ser resolvidos
directamente com o coordenador da secção.
Lima Rodrigues é um escritor que apostou
muito no conto de características policiais, em que o factor dramático e
imprevisível está sempre presente, como que dando autênticos socos no estômago
dos seus leitores, não os deixando indiferentes perante a crueza, quase
violenta, das histórias contadas.
Assim ficou bem vincado no seu mais
famoso livro de contos “Histórias Que Eu Não Contei”.
Em tempos mais recentes, o nosso
confrade Jartur, outro dos enormes vultos do Policiário, muitas vezes aqui
citado pelo excelente trabalho que vem desenvolvendo na recolha de secções e
trabalhos publicados desde sempre em Portugal e que vem reunindo no Arquivo
Histórico da Problemística Policiária Portuguesa (AHPPP), referiu num pequeno
texto evocativo da efeméride:
“Em Junho de 1981, apareceu o n.º 1 da
publicação mensal “SELECÇÕES MISTÉRIO”, que se definia, no seu Estatuto
Editorial, “como um órgão de imprensa divulgador de temas e assuntos que
abrangerão todo o vasto campo da literatura em geral e da policial, e de
mistério em especial, ficção científica, ovnilogia, parapsicologia,
espiritismo, passatempos (Bridge, Charadas, Damas, Palavras Cruzadas, Xadrez,
etc.) e de um modo geral tudo o que se relacione com mistério ou fenómenos
insólitos…”
O seu
director foi Lima Rodrigues, e tinha como Coordenadores de Edição: Domingos
Cabral, M. Constantino e Victor Dimas.
Foram seus
colaboradores: A. Varatojo, Carlos Alberto, Eurico da Fonseca, Fernando
Fernandes, Fernando Peres, Fernando Saldanha, Gentil Marques, Gustavo Barosa,
Hélia, João Artur, Jorge Rizini, José M. Pote, Luís Campos, Luís Gomes,
Mariália, Martinho Lopes, Raul Ribeiro, Roussado Pinto, Sena Carneiro e
Severina, alguns dos quais já ocupam no nosso ânimo um enorme lugar de muita e
respeitosa saudade.
Tão larga
plêiade de “policiaristas”, não poderia deixar de produzir escritos de grande
qualidade, que todavia não vamos citar caso a caso, já que apenas nos desejamos
ocupar do que à HISTÓRIA DA PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA PORTUGUESA se refere. E
nessa conformidade, festejamos o aparecimento da secção “MISTÉRIO POLICIAL”,
produzida e coordenada por Domingos Cabral, que iniciou o percurso da rubrica
com o problema escolhido, que já fora publicado na secção “Gabinete do Insp. Varatojo”:
“ERAM DE CAVALINHO”, da autoria de César Púlimo.
Esse, e os
restantes problemas publicados nos 8 números que a revista durou, estarão
disponíveis, para os interessados, num pequeno caderno do Arquivo Histórico da
Problemística Policiária Portuguesa.”
Pois bem, o confrade Karl Marques
revela-nos que encontrou no jornal Badaladas, que se publica em Torres Vedras,
duas cartas de autoria de Lima Rodrigues, em que este se lamenta por estar
internado na Santa Casa da Misericórdia de Santarém, após uma intervenção
cirúrgica que, afirma, o terá deixado tetraplégico e apela aos amigos para que
o visitem, minorando a solidão.
O Policiário, já por diversas vezes o
afirmámos, não é apenas um grupo de pessoas que gosta de resolver enigmas
policiais e que se reúnem de vez em quando, mas sim, principalmente, uma
verdadeira tribo, irmanada em valores que prezam o bem-estar de cada um dos
seus membros, mesmo quando estes de afastam, por motivos diversos. Estar no
Policiário é, antes do mais, um estado de espírito e nenhum policiarista
deixará de dizer presente a um dos nossos que precise de apoio.
Lima Rodrigues não é um daqueles
detectives que ganharam títulos, troféus e campeonatos, não foi campeão
nacional nem policiarista do ano, não é reconhecido como um grande decifrador,
nem tão pouco como produtor, enfim, não andou a concorrer connosco na tentativa
de chegar ao topo, nem tinha características nem vontade para o fazer, mas
esteve sempre presente, como editor de livros, como director de uma das revistas
mais bem-feitas de que há memória, como contista, como provedor do policiário…
O nosso Mundo Policiário tem de estar
agradecido a Lima Rodrigues pelo muito que fez pela sua credibilização.
Aqui deixamos o testemunho de que o
confrade António Ernestino de Lima Rodrigues é um dos nossos heróis
policiários, que não pode ser ignorado nem esquecido, tendo já o seu lugar
assegurado na nossa galeria dos vultos mais importantes, a quem muito devemos.