COMO
RESOLVER UM CRIME IMPOSSÍVEL?
Sem mais delongas, que o
desafio desta semana é mais longo que o costume, fica o teste às “células cinzentas”:
CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL – 2018
PROVA
N.º 7 – PARTE I
“CRIME
IMPOSSÍVEL” – Original de RIGOR MORTIS
Tarde de Novembro, bonita
mas fria. No jardim, junto à casa senhorial, a conversa era tranquila, desde
logo a seguir ao almoço. Amélia, na sua cadeira de rodas, ouvia com enlevo a
tagarelice da filha, Rebeca, jovem a meio dos vintes que, feliz, descrevia as
casas vistas com o noivo, António. Assim estivesse segura do carácter do futuro
genro…
À porta da casa, Rafael,
caseiro para todo o serviço, homem forte nos seus sessentas, pronto para o que
fosse preciso. Ao seu lado Madalena, a enfermeira da Amélia. Apenas o calor que
vinha da pequena instalação de sauna por detrás dos buxos evitava que
enregelassem.
– Está a ficar frio –
disse Amélia. Podemos jantar, Rafael? Ainda nem são sete horas, mas sabia-me
bem jantar e deitar cedo.
– Vou-me encontrar ao fim
da tarde com uma pessoa na vila – disse António. – Não me demoro, mas jantem.
Como qualquer coisa quando chegar.
António seguiu de carro
para a vila e Rebeca levou a cadeira da mãe até à sala de jantar, sentando-se a
seu lado. Madalena ficou por perto, enquanto Rafael servia o jantar. A conversa
entre mãe e filha continuou, com um ou outro comentário de Madalena.
Quando esperavam pelo
café, que Rafael fora buscar à cozinha, ouviu-se um tiro.
– Meu Deus! Que foi
isto?!
– Foi um tiro, mãe. Por
estas alturas andam sempre aí à caça. Foi para os lados do ribeiro.
Rafael apareceu logo a
seguir com o café e biscoitos, e a conversa ficou por aí. Eram oito horas
quando Amélia pediu a Madalena para a ajudar a deitar-se. Rafael arranjou um
lugar na mesa com uma refeição fria para o António e retirou-se.
Pelas dez da manhã
seguinte a casa senhorial foi agitada pela chegada de uma viatura da polícia,
com o inspector João Velhote e o seu assistente. Antes de entrar, o inspector
observou atentamente o jardim, os buxos que o limitavam e a casota de sauna por
detrás destes, de onde ainda vinha algum calor.
Já na sala, na presença
dos cinco, João Velhote explicou que uma hora antes fora descoberto um corpo na
margem do ribeiro que passava na propriedade. José Rodrigues, trinta anos,
assassinado com um tiro na fronte.
Velhote ficou a saber que
os cinco tinham passado a tarde em casa, que António fora à vila pelas sete,
regressando às oito e meia. Comera uma refeição fria e pelas nove e meia deitara-se,
tal como Rebeca, que lhe tinha feito companhia. A casa estava em silêncio,
indicando que todos se tinham já retirado. Soube também que em casa existia uma
velha pistola, do marido de Amélia, que António e Rafael tinham usado uns dias
antes para fazer tiro ao alvo. A caixa onde era guardada a pistola foi-lhe
entregue pelo Rafael – 2 balas no carregador, sinais de que tinha sido usada
recentemente, um silenciador impecavelmente limpo, uma caixa de balas. O
calibre da arma era o mesmo da bala que tinha morto o José Rodrigues…
O inspector interrogou
cada um deles, a sós. Madalena nada acrescentou.
De Amélia soube que o
marido, Manuel, falecera dez anos antes, no acidente de automóvel que a tinha
deixado paralítica. Quando inquirida se conhecia o José hesitou vários
segundos, mas acabou por revelar que era filho do seu marido, de um desvario
antes de se casarem. Manuel tinha convencido o Dr. Felisberto Rodrigues, seu
grande amigo e médico da vila, que atendera o parto em que a mãe falecera, a
adoptar o José.
– Pouca gente sabe disto,
muito menos a Rebeca. Nem o José o sabia.
– O Rafael, parece-me que
lhe é muito dedicado…
– O Rafael está conosco
desde pouco depois de nos termos casado – respondeu após nova hesitação. – Foi
furriel na companhia do meu marido, na guerra em Angola. Ainda fez um ano de
Medicina, sabe? Depois a vida deu-lhe umas voltas, perdeu os pais e foi chamado
para a tropa. Há muito que sei que ele gosta de mim… Mas quando o Manuel morreu
fiquei nesta cadeira de rodas e nunca… Achei que não devia…
De Rebeca soube dos
preparativos para o casamento com António. Também ela hesitou quando lhe
perguntou se conhecia o José, mas disse que sim, embora o evitasse porque era
atrevido para com ela e não simpatizava com ele.
António não hesitou:
– Rebeca já me tinha
falado dele, e dos seus avanços quando a via. Foi com ele que fui falar ontem
ao fim da tarde, para lhe dizer que se devia afastar da Rebeca. Mas garanto-lhe
que ele estava vivo quando o deixei, às oito horas! Aliás lembro-me bem do seu
sobressalto quando ouvimos o tiro, ao sair de casa dele.
Rafael também não
hesitou:
– O José era um tipo com
mau feitio. Infelizmente não saiu ao pai dele.
– O Dr. Felisberto
Rodrigues? – perguntou João Velhote. Rafael olhou de soslaio para o inspector:
– D. Amélia já lhe deve
ter dito que o José era filho do seu marido… Sim, o senhor Manuel contou-me.
Coitado, pagou cara a tentação! Foi ele que suportou a educação do José. Não
serviu de nada… E o malandro andava a atirar-se à menina Rebeca, sem saber que
era meio-irmão dela!
– Há quanto tempo conhece
o António?
– Há um ano, desde que o
namoro com a menina Rebeca se tornou sério. Outro que tal… Têm-me dito que vez
por outra anda às voltas com duas moças da vila…
Saindo da casa pela porta
da cozinha, o inspector foi a pé até ao ribeiro, onde o médico-legista acabava
de examinar o cadáver. Em passo rápido, levou oito minutos. Olhou à volta.
Entre o ribeiro e a casa senhorial um denso arvoredo, com o estreito caminho
por onde tinha ido. Do outro lado, a uns cem metros, a casa do José.
– Isto está confuso… –
disse o médico. – O cadáver estava meio imerso no ribeiro e a água está bem
fria. Mas tendo isso em conta, diria que a morte foi entre as 14 e as 18 horas
de ontem. Lamento, mas mais preciso só depois da autópsia.
– Para já chega-me,
doutor – disse João Velhote, mordiscando o lábio superior e expondo os
incisivos inferiores por baixo do bigode grisalho. – Há coisas a tirar a limpo,
mas já começo a ter uma boa ideia do que aconteceu aqui ontem…
É a sua vez, caro leitor…
Quem terá morto José
Rodrigues?
Que terá ali acontecido
na véspera?
E
pronto.
Resta
aos “detectives” remeterem, impreterivelmente até ao próximo dia 10 de Setembro,
as propostas de solução por um dos meios seguintes:
-
Pelo Correio para Luís Pessoa, Estrada Militar, 23, 2125-109 MARINHAIS;
-
Por e-mail para pessoa_luis@hotmail.com; lumagopessoa@gmail.com;
luispessoa@sapo.pt.
-
Por entrega em mão ao coordenador da secção, onde quer que o encontrem.
Boas
deduções e boas férias, para quem as tem!
Sem comentários:
Enviar um comentário