domingo, 5 de agosto de 2018

POLICIÁRIO 1409




COMO RESOLVER UM CRIME IMPOSSÍVEL?

Sem mais delongas, que o desafio desta semana é mais longo que o costume, fica o teste às “células cinzentas”:

CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL – 2018
PROVA N.º 7 – PARTE I
“CRIME IMPOSSÍVEL” – Original de RIGOR MORTIS
Tarde de Novembro, bonita mas fria. No jardim, junto à casa senhorial, a conversa era tranquila, desde logo a seguir ao almoço. Amélia, na sua cadeira de rodas, ouvia com enlevo a tagarelice da filha, Rebeca, jovem a meio dos vintes que, feliz, descrevia as casas vistas com o noivo, António. Assim estivesse segura do carácter do futuro genro…
À porta da casa, Rafael, caseiro para todo o serviço, homem forte nos seus sessentas, pronto para o que fosse preciso. Ao seu lado Madalena, a enfermeira da Amélia. Apenas o calor que vinha da pequena instalação de sauna por detrás dos buxos evitava que enregelassem.
– Está a ficar frio – disse Amélia. Podemos jantar, Rafael? Ainda nem são sete horas, mas sabia-me bem jantar e deitar cedo.
– Vou-me encontrar ao fim da tarde com uma pessoa na vila – disse António. – Não me demoro, mas jantem. Como qualquer coisa quando chegar.
António seguiu de carro para a vila e Rebeca levou a cadeira da mãe até à sala de jantar, sentando-se a seu lado. Madalena ficou por perto, enquanto Rafael servia o jantar. A conversa entre mãe e filha continuou, com um ou outro comentário de Madalena.
Quando esperavam pelo café, que Rafael fora buscar à cozinha, ouviu-se um tiro.
– Meu Deus! Que foi isto?!
– Foi um tiro, mãe. Por estas alturas andam sempre aí à caça. Foi para os lados do ribeiro.
Rafael apareceu logo a seguir com o café e biscoitos, e a conversa ficou por aí. Eram oito horas quando Amélia pediu a Madalena para a ajudar a deitar-se. Rafael arranjou um lugar na mesa com uma refeição fria para o António e retirou-se.
Pelas dez da manhã seguinte a casa senhorial foi agitada pela chegada de uma viatura da polícia, com o inspector João Velhote e o seu assistente. Antes de entrar, o inspector observou atentamente o jardim, os buxos que o limitavam e a casota de sauna por detrás destes, de onde ainda vinha algum calor.
Já na sala, na presença dos cinco, João Velhote explicou que uma hora antes fora descoberto um corpo na margem do ribeiro que passava na propriedade. José Rodrigues, trinta anos, assassinado com um tiro na fronte.
Velhote ficou a saber que os cinco tinham passado a tarde em casa, que António fora à vila pelas sete, regressando às oito e meia. Comera uma refeição fria e pelas nove e meia deitara-se, tal como Rebeca, que lhe tinha feito companhia. A casa estava em silêncio, indicando que todos se tinham já retirado. Soube também que em casa existia uma velha pistola, do marido de Amélia, que António e Rafael tinham usado uns dias antes para fazer tiro ao alvo. A caixa onde era guardada a pistola foi-lhe entregue pelo Rafael – 2 balas no carregador, sinais de que tinha sido usada recentemente, um silenciador impecavelmente limpo, uma caixa de balas. O calibre da arma era o mesmo da bala que tinha morto o José Rodrigues…
O inspector interrogou cada um deles, a sós. Madalena nada acrescentou.
De Amélia soube que o marido, Manuel, falecera dez anos antes, no acidente de automóvel que a tinha deixado paralítica. Quando inquirida se conhecia o José hesitou vários segundos, mas acabou por revelar que era filho do seu marido, de um desvario antes de se casarem. Manuel tinha convencido o Dr. Felisberto Rodrigues, seu grande amigo e médico da vila, que atendera o parto em que a mãe falecera, a adoptar o José.
– Pouca gente sabe disto, muito menos a Rebeca. Nem o José o sabia.
– O Rafael, parece-me que lhe é muito dedicado…
– O Rafael está conosco desde pouco depois de nos termos casado – respondeu após nova hesitação. – Foi furriel na companhia do meu marido, na guerra em Angola. Ainda fez um ano de Medicina, sabe? Depois a vida deu-lhe umas voltas, perdeu os pais e foi chamado para a tropa. Há muito que sei que ele gosta de mim… Mas quando o Manuel morreu fiquei nesta cadeira de rodas e nunca… Achei que não devia…
De Rebeca soube dos preparativos para o casamento com António. Também ela hesitou quando lhe perguntou se conhecia o José, mas disse que sim, embora o evitasse porque era atrevido para com ela e não simpatizava com ele.
António não hesitou:
– Rebeca já me tinha falado dele, e dos seus avanços quando a via. Foi com ele que fui falar ontem ao fim da tarde, para lhe dizer que se devia afastar da Rebeca. Mas garanto-lhe que ele estava vivo quando o deixei, às oito horas! Aliás lembro-me bem do seu sobressalto quando ouvimos o tiro, ao sair de casa dele.
Rafael também não hesitou:
– O José era um tipo com mau feitio. Infelizmente não saiu ao pai dele.
– O Dr. Felisberto Rodrigues? – perguntou João Velhote. Rafael olhou de soslaio para o inspector:
– D. Amélia já lhe deve ter dito que o José era filho do seu marido… Sim, o senhor Manuel contou-me. Coitado, pagou cara a tentação! Foi ele que suportou a educação do José. Não serviu de nada… E o malandro andava a atirar-se à menina Rebeca, sem saber que era meio-irmão dela!
– Há quanto tempo conhece o António?
– Há um ano, desde que o namoro com a menina Rebeca se tornou sério. Outro que tal… Têm-me dito que vez por outra anda às voltas com duas moças da vila…
Saindo da casa pela porta da cozinha, o inspector foi a pé até ao ribeiro, onde o médico-legista acabava de examinar o cadáver. Em passo rápido, levou oito minutos. Olhou à volta. Entre o ribeiro e a casa senhorial um denso arvoredo, com o estreito caminho por onde tinha ido. Do outro lado, a uns cem metros, a casa do José.
– Isto está confuso… – disse o médico. – O cadáver estava meio imerso no ribeiro e a água está bem fria. Mas tendo isso em conta, diria que a morte foi entre as 14 e as 18 horas de ontem. Lamento, mas mais preciso só depois da autópsia.
– Para já chega-me, doutor – disse João Velhote, mordiscando o lábio superior e expondo os incisivos inferiores por baixo do bigode grisalho. – Há coisas a tirar a limpo, mas já começo a ter uma boa ideia do que aconteceu aqui ontem…
É a sua vez, caro leitor…
Quem terá morto José Rodrigues?
Que terá ali acontecido na véspera?

E pronto.
Resta aos “detectives” remeterem, impreterivelmente até ao próximo dia 10 de Setembro, as propostas de solução por um dos meios seguintes:
- Pelo Correio para Luís Pessoa, Estrada Militar, 23, 2125-109 MARINHAIS;
- Por entrega em mão ao coordenador da secção, onde quer que o encontrem.
Boas deduções e boas férias, para quem as tem!



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