I - ENIGMA POLICIÁRIO:
TORNEIO A. RAPOSO E TROFÉU CLUBE DE DETECTIVES:
3º PROBLEMA – "A MORTE DO GÉMEO FARIA" – SOLUÇÃO DO AUTOR (Inspector Boavida):
É óbvio que a morte do gémeo Faria não se deveu a suicídio. Isto porque o copo de água não continha arsénio e em lado algum da casa foram encontrados vestígios do veneno. Por outro lado, nenhum dos gémeos parecia ter motivos para atentar contra a sua própria vida. Um deles gozava a felicidade de um novo amor e o outro afirmava-se na arte que abraçara. E se dúvidas existissem sobre a causa do envenenamento, o inspector Gustavo dissipa-as ao afirmar que não se está apenas perante um crime de homicídio. O que, para além de nos afastar definitivamente da tese do suicídio, obriga-nos a esmiuçar todos os acontecimentos associados à morte do gémeo Faria.
Conjugando os depoimentos do irmão da vítima, de Lili, do carteiro, do homem da cave e da vizinha Gertrudes, podíamos concluir que o gémeo morto é o Pedro. Mas… Embora as quatro versões dos factos verificados nas escadas sejam coincidentes, convém sublinhar que a forma como o gémeo vivo se refere aos vizinhos, apelidando-os de «corno» e de «gorda», é completamente desajustada a uma pessoa sensível como o Paulo. Refira-se ainda que o gémeo vivo diz que acordou («com os guinchos da Lili» - outra frase desenquadrada de alguém com perfil humanista) às nove horas da manhã, quando é sabido que Paulo começava os seus dias muito cedo, quase de madrugada!
É Paulo o gémeo morto! O caderno A3 e os lápis de cera, encontrados junto ao cadáver, são “ferramentas” usadas por artistas plásticos na produção de esquissos (e que de nada serviam ao “absentista” Pedro). Perguntar-se-á como é que o gémeo vivo sabia o que se passou nas escadas, se não fosse ele o Paulo. É simples: Paulo contou ao irmão que saiu de casa para ir ao Café do Chico, por volta das 9 horas, devido aos ruídos registados no seu quarto, facto que motivou também o vizinho da cave a concentrar-se no piso da Gertrudes, a coscuvilhar o que se passava no andar de cima (isso explica a razão de Paulo se ter cruzado com aquele vizinho, quando subia as escadas…).
Perguntar-se-á também por que está ao lado do cadáver uma carta que era dirigida a Pedro, se é Paulo o gémeo morto. A explicação é simples: a missiva dirigida a Pedro tem como remetente um homem do norte (Gaia), ocasionalmente no Algarve, que solicita ao “amigo” o envio de uma carta para a sua mulher, a fim de a convencer de que se encontra na Capital (e não nos Algarves, como ela, provavelmente, desconfia). Diz o homem que a carta pode salvar o seu casamento! Para um sujeito insensível e sem escrúpulos como o Pedro, aquele pedido acabaria naturalmente por cair em saco roto. Só o bom coração de Paulo seria capaz de “sensibilizar” Pedro a satisfazer o pedido!
Paulo terá fechado ele próprio o envelope, pedindo ao irmão que o depositasse na estação dos correios mais próxima (na praça dos Restauradores!). Nunca se saberá se Paulo teve consciência de que o autor da carta podia ser o marido da mulher “do norte” com quem Pedro andava envolvido (recorde-se que não era a primeira vez que este se envolvia com duas mulheres ao mesmo tempo!), que queria efectivamente salvar o seu casamento, como dizia na missiva… eliminando o homem que o estava a pôr em causa. Só que a bondade de Paulo acabaria por colocá-lo no lugar errado e à hora menos própria para ser bonzinho, acabando por pagar com a vida culpas alheias!
Paulo humedeceu, com a língua, a goma do envelope, acabando por ingerir o arsénio aí contido. Ele terá ainda bebido alguma da água existente no copo encontrado no “local do crime”, o que acabaria por acelerar o efeito do veneno. O inspector Gustavo acabaria por confirmar as suspeitas quando encarregou o seu ajudante de efectuar uma diligência nas proximidades: na estação dos CTT dos Restauradores, onde foi recuperado e analisado o envelope que tinha o norte como destino. Após o sucesso desta diligência, Gustavo fez dois telefonemas. Um para a PJ do Porto (Gaia) e outro para uma das delegações da PJ no Algarve, para que vigiassem o assassino e a esposa.
O inspector ainda fora levado a pensar na possibilidade do envenenamento ter sido cometido por Lili Jardim ou pelo irmão da vítima, uma vez que apenas eles tiveram acesso ao local onde se registara a ocorrência. Mas depressa abandonou essa tese. Por uma simples razão: não foram encontrados quaisquer vestígios de arsénio em nenhum lugar da casa! Não podemos esquecer, porém, que Pedro podia retirar “benefícios” da morte de Paulo. E foi isso que ele tentou, logo que se viu confrontado com a morte do irmão, ao fazer crer subtilmente que era o Paulo, para usurpar a identidade deste e, assim, escapar a um conjunto de processos judiciais que ameaçavam levá-lo à cadeia.
Mas Pedro esqueceu-se de algo importante: os gémeos eram distinguidos aos olhos dos outros fundamentalmente pelo modo de vestir. O carteiro referiu-se a Paulo como o «gémeo das t-shirts», o que significa que ele vestia normalmente aquele tipo de roupa. Se os depoimentos recolhidos durante os processos de investigação criminal não fossem realizados em separado, tudo seria esclarecido quando o carteiro visse o gémeo vivo. Isto porque Pedro não trocou de roupa com Paulo quando regressou dos correios. Recorde-se que o corpo da vítima não fora mexido! Por outro lado, o telefonema feito para a esquadra teve lugar breves instantes após Pinguinhas ter visto o gémeo.
E era exactamente este facto que causava no espírito do sub-chefe Pinguinhas uma estranha sensação de que algo lhe escapava, sobretudo quando olhava para os dois gémeos. Ou seja: o gémeo vivo não envergava uma t-shirt. Ele estava exactamente vestido da maneira como Pinguinhas o havia visto momentos antes do telefonema para a esquadra… Por outro lado, o gémeo morto envergava uma das suas habituais t-shirts. Resumindo, o sub-chefe Pinguinhas podia confirmar com os seus próprios olhos que o gémeo vivo é o Pedro e o gémeo morto é o Paulo. Ambos Faria, como o Pedro Paulo de… Nove, um dos grandes amigos do homenageado Raposo!
Classificações: Com 10 pontos – Agente Guima; Alce Branco; Avlis e Snitram, Bernie Leceiro; Búfalos Associados; Cloriano Monteiro de Carvalho; Daniel Falcão; Danielux; Detective Jeremias; Dr. Gismondo; Insp. Boavida; Karl Marques; MedVet; Mister H; Rip Kirby.
Com 8 pontos: Insp. P.I.
As Melhores: 3 pontos: Daniel Falcão; 2 pontos: Inspector Boavida; 1 ponto: Medvet.
Comentários: Num problema que se perspectivava de decifração integral algo difícil, dado o número de pormenores que permitia detectar, haverá que dar o devido destaque à muito boa qualidade das respostas recebidas. Bom conjunto! Assim, referindo aqueles pormenores que eram considerados essenciais para a obtenção da pontuação máxima, a escolha das “Melhores” e a decisão relativamente às eliminatórias do “Troféu Clube de Detectives” teve como factor fundamental a indicação do maior número de pormenores assinalados e, especialmente, a maior identificação registada entre a solução recebida e a do autor. Por exemplo: a forma de administração do veneno (no envelope, para este; através do copo com água, depois substituído, para outros; e mediante o recurso a uma cápsula, segundo outros ainda), o caderno formato A3 e os lápis de cera coloridos, encontrados junto ao cadáver, “ferramentas” usadas por artistas plásticos na produção de esquissos (e que de nada serviam ao “absentista” Pedro)...
Acabou por ser uma jornada calma, sem alterações pontuais na classificação geral, contrariamente ao que se poderia esperar....
Troféu Clube de Detectives (Quartos de final): Avlis e Snitram venceu Insp. P.I.; Danielux venceu Detective Jeremias; MedVet venceu Búfalos Associados; Cloriano Monteiro de Carvalho venceu Rip Kirby.
Próximos confrontos (meias-finais, no problema nº 4):
Avlis e Snitram – Medvet; Cloriano Monteiro de Carvalho – Danielux.
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
domingo, 29 de novembro de 2009
SECÇÃO 958
HOMENAGEM A NATÉRCIA LEITE
Continuando na tarefa a que nos propusemos neste interregno que vai decorrer até ao início das nossas competições, a nossa homenagem de hoje é para uma figura importante do policiário, infelizmente um tanto esquecida, por não ter tido uma participação activa nas nossas competições, como decifradora, desde há muito.
Com uma vida literária intensa, quer como escritora de grande imaginação, com uma forte presença do mistério e grande poder de observação, quer na poesia, Natércia Leite foi sempre uma pessoa atormentada pela ausência de oportunidades, desaparecendo sem nunca ter podido cumprir o seu maior sonho: publicar um livro.
Natércia foi, podemos dizê-lo com certeza, uma das pioneiras do policiário, escrevendo muitos desafios e contos para o Quinto Programa, que Artur Varatojo manteve na rádio e onde se cruzou com muitos dos mais importantes vultos do policial, tais como, a título de exemplo, Sete de Espadas, M. Constantino, Lima Rodrigues, Domingos Cabral.
Na nossa secção, que Natércia seguia com a atenção que a sua doença permitia, muitos foram os textos que aqui viram a luz do dia e foi uma participante activa nos concursos de contos que promovemos, conquistando alguns prémios.
Mas, o prémio maior foi, sem dúvida, para todos os que tivemos a oportunidade de a conhecer nos convívios ou outros eventos.
O problema que hoje publicamos é um bom exemplo do seu modo de encarar o policiário, mas é um tanto diferente do que lhe era habitual, por ser curto. Natércia adorava escrever e a descrição dos personagens e dos ambientes era um exercício que raramente dispensava.
O caso de uma estranha morte foi publicado em 24 de Abril de 1945, na secção “Mistério e Aventura”, em “A Vida Mundial Ilustrada” e é o desafio que hoje vamos recordar, em memória desta Mulher que deixou uma marca indelével no Policiário.
A ESTRANHA MORTE DE FERNANDO FARIA
Desafio de Natércia Leite
O detective Santos foi chamado apressadamente a casa dos irmãos Faria, dois notáveis engenheiros. Aí, o criado, assustado, contou que um dos patrões há muito que fora para o banho e ainda não voltara. Como o outro patrão tivesse saído nesse intervalo de tempo, ele preferira recorrer à polícia.
Então, o detective Santos encaminhou-se para a sala de banho. A porta estava fechada. Mas como se tratava de uma fechadura vulgar, o detective utilizou uma das muitas chaves que sempre trazia consigo e conseguiu abri-la facilmente.
Lá dentro deparou-se-lhe um espectáculo bem triste. Entre os vapores de água jazia Fernando Faria. A sua cabeça estava tombada para o peito. E, na nuca, tinha uma horrível brecha.
O detective Santos pode constatar logo que a morte fora instantânea.
O detective fez um rápido esboço do que estava à vista.
Depois, voltou à outra sala para melhor interrogar o criado. Ainda assustado, ele confessou:
– O senhor Fernando discutiu furiosamente de manhã com o senhor Francisco. Depois, aí pelas onze horas, foi meter-se na casa de banho. O senhor Francisco saiu às onze e meia. Lá para o meio-dia e meia hora, como o senhor Fernando não aparecesse, fui bater à porta da casa de banho. Ele não respondeu. Ainda procurei ver pela fechadura mas a chave, do lado de dentro, não me deixou ver nada. Então, resolvi telefonar-lhe...
Passados momentos, regressou a casa Francisco Faria, o irmão do morto, interrogado logo pelo detective, ele declarou:
– Sim. Discuti com ele, de manhã, pois acusei-o de me ter roubado uns planos valiosos. Ele não mos devolveu, dizendo que não os tinha. Saí furioso. Mas, apesar de tudo, era bastante seu amigo.
O detective Santos olhou sorridente para os dois homens. Já tinha achado a “chave do caso”.
QUESTIONÁRIO
1º – O criado falou verdade? Porquê?
2º – Francisco Faria falou verdade? Porquê?
3º – Fernando Faria suicidou-se? Porquê?
4º – Qual deve ter sido a solução do detective Santos?
Boas deduções!
SOLUÇÃO DO ROUBO NA CAPELA
O desafio que publicámos na semana passada, de autoria do saudoso Detective Misterioso, desaparecido do nosso convívio no dia 24 de Novembro de 1990, quando saía de casa para o convívio policiário de Torres Vedras, teve a seguinte solução, dada pelo próprio:
ALGURES NUMA ALDEIA DA BEIRA ALTA…
1 - O Agente Prata verificou “in loco” que as pedras roubadas eram falsas, devido à existência de partículas prateadas nos orifícios onde as mesmas tinham sido coladas.
Ele era conhecedor de que a pedra falsa é uma pedra “morta” e sem brilho próprio.
Também era conhecedor de que, em ourivesaria e para suprir a falta de brilho natural, a pedra é espelhada a prateado ou a dourado, na sua base ou fundo, a fim de que as mesmas tenham reflexão da incidência (emissão de raios brilhantes semelhantes aos das pedras preciosas).
Ora, quando assim acontece, estas pedras, porque são coladas (é impossível outra forma de colocação pois tratava-se de uma imagem de gesso), ao serem arrancadas por um canivete ou faca, deixam no gesso as marcas e o pó prateado ou dourado, conforme o caso.
2 – O autor do roubo foi o Manuel António porque no seu depoimento refere que “há muito tempo que não passo junto à capela, por isso as pegadas não são minhas”. Ora, o texto refere que “ as pegadas de botas cardadas, eram visíveis em vários sentidos no interior da capela e mais nada digno de registo foi visto pelo agente da autoridade, que guardou só para si todas as suas descobertas”. Portanto o Manuel António, se não tivesse sido o autor do roubo, teria que desconhecer o facto.
3 – O caso passou-se mais ou menos da seguinte maneira:
O ladrão já há muito pensava roubar as pedras, convencido, como aliás toda a gente, do seu grande valor. Naquela noite, a coberto da escuridão forçou a janela da capela e entrou. Dentro, talvez servindo-se de alguma vela do próprio templo para se alumiar, dirigiu-se junto à imagem, utilizando, muito possivelmente um canivete (razão dos riscos e falhas de gesso que o investigador viu nos orifícios do manto da Santa), retirou todas as pedras, saindo por onde entrou, tendo no entanto o cuidado de deixar a janela fechada.
Encantado da vida, retirou-se para casa, mal sabendo que levava no bolso um montão de pedras sem qualquer valor.
CRIME PÚBLICO
O nosso blogue continua activo e receptivo às opiniões dos nossos “detectives” em tudo o que ao Policiário diga respeito.
Depois de alguma acalmia, enquanto nos preparamos para as duras tarefas que nos aguardam com o início da próxima temporada, vamos publicar os regulamentos definitivos, depois da discussão a que as propostas estiveram sujeitas.
Não sendo o quadro competitivo que desejávamos, mas o que é possível, não deixará por isso, certamente, de constituir motivo de agrado para todos os nosso “detectives”, já à beira de um ataque de nervos pela ausência da adrenalina própria dos grandes desafios!
Entretanto, no quadro das homenagens que temos vindo a fazer, têm sido publicados desafios, cuja resolução será parte do “aquecimento” das células cinzentas para o que se aproxima.
Relembramos os nossos novos “detectives” que um dos grandes “segredos” desta nossa modalidade é a persistência! Tal como acontece com a leitura de romances policiais em que, com a prática, conseguimos andar “à frente” do próprio autor e encontrar as respostas possíveis, assim acontece também na problemística policiária. Cada autor tem os seus métodos o que facilita a solução, tal como a maior ginástica mental que cada “detective” vai desenvolvendo progressivamente, criando uma cadeia de raciocínio lógico, que após algum tempo evitará que ande à procura da agulha no palheiro, como soe dizer-se, mas sim que vá directamente ao ponto importante!
E fica a recomendação para que todos passem pelo Crime Público, em http://blogs.publico.pt/policiario.
Coluna do “2”
FALTAM 42 SEMANAS PARA A EDIÇÃO N.º 1000
As Olimpíadas Policiarias constituíram um marco na nossa secção em 1996, em linha com os Jogos Olímpicos de Atlanta.
A competição teve apenas desafios do Inspector Fidalgo e consistiu em 10 provas em que eram nomeadas as 10 melhores soluções em cada uma. Os seus autores eram, assim, nomeados como candidatos às medalhas, de Ouro, de Prata e de Bronze, mas só no convívio final, para entrega de prémios, foram anunciados, ao vivo e no meio de grande emoção e expectativa, os medalhados!
A par das Olimpíadas, decorreu o Torneio Sete de Espadas, de homenagem a este grande mestre e o Torneio Detective Jovem, dirigido, como o nome indica, aos mais jovens iniciados no Policiário.
A participação foi enorme e já se anunciava novo máximo de presenças, quando, ainda a faltar uma semana para o final do primeiro prazo, já havia registo de 841 “detectives” a responder aos enigmas, numa altura em que, recordamos, o papel ainda era rei e senhor!
Continuando na tarefa a que nos propusemos neste interregno que vai decorrer até ao início das nossas competições, a nossa homenagem de hoje é para uma figura importante do policiário, infelizmente um tanto esquecida, por não ter tido uma participação activa nas nossas competições, como decifradora, desde há muito.
Com uma vida literária intensa, quer como escritora de grande imaginação, com uma forte presença do mistério e grande poder de observação, quer na poesia, Natércia Leite foi sempre uma pessoa atormentada pela ausência de oportunidades, desaparecendo sem nunca ter podido cumprir o seu maior sonho: publicar um livro.
Natércia foi, podemos dizê-lo com certeza, uma das pioneiras do policiário, escrevendo muitos desafios e contos para o Quinto Programa, que Artur Varatojo manteve na rádio e onde se cruzou com muitos dos mais importantes vultos do policial, tais como, a título de exemplo, Sete de Espadas, M. Constantino, Lima Rodrigues, Domingos Cabral.
Na nossa secção, que Natércia seguia com a atenção que a sua doença permitia, muitos foram os textos que aqui viram a luz do dia e foi uma participante activa nos concursos de contos que promovemos, conquistando alguns prémios.
Mas, o prémio maior foi, sem dúvida, para todos os que tivemos a oportunidade de a conhecer nos convívios ou outros eventos.
O problema que hoje publicamos é um bom exemplo do seu modo de encarar o policiário, mas é um tanto diferente do que lhe era habitual, por ser curto. Natércia adorava escrever e a descrição dos personagens e dos ambientes era um exercício que raramente dispensava.
O caso de uma estranha morte foi publicado em 24 de Abril de 1945, na secção “Mistério e Aventura”, em “A Vida Mundial Ilustrada” e é o desafio que hoje vamos recordar, em memória desta Mulher que deixou uma marca indelével no Policiário.
A ESTRANHA MORTE DE FERNANDO FARIA
Desafio de Natércia Leite
O detective Santos foi chamado apressadamente a casa dos irmãos Faria, dois notáveis engenheiros. Aí, o criado, assustado, contou que um dos patrões há muito que fora para o banho e ainda não voltara. Como o outro patrão tivesse saído nesse intervalo de tempo, ele preferira recorrer à polícia.
Então, o detective Santos encaminhou-se para a sala de banho. A porta estava fechada. Mas como se tratava de uma fechadura vulgar, o detective utilizou uma das muitas chaves que sempre trazia consigo e conseguiu abri-la facilmente.
Lá dentro deparou-se-lhe um espectáculo bem triste. Entre os vapores de água jazia Fernando Faria. A sua cabeça estava tombada para o peito. E, na nuca, tinha uma horrível brecha.
O detective Santos pode constatar logo que a morte fora instantânea.
O detective fez um rápido esboço do que estava à vista.
Depois, voltou à outra sala para melhor interrogar o criado. Ainda assustado, ele confessou:
– O senhor Fernando discutiu furiosamente de manhã com o senhor Francisco. Depois, aí pelas onze horas, foi meter-se na casa de banho. O senhor Francisco saiu às onze e meia. Lá para o meio-dia e meia hora, como o senhor Fernando não aparecesse, fui bater à porta da casa de banho. Ele não respondeu. Ainda procurei ver pela fechadura mas a chave, do lado de dentro, não me deixou ver nada. Então, resolvi telefonar-lhe...
Passados momentos, regressou a casa Francisco Faria, o irmão do morto, interrogado logo pelo detective, ele declarou:
– Sim. Discuti com ele, de manhã, pois acusei-o de me ter roubado uns planos valiosos. Ele não mos devolveu, dizendo que não os tinha. Saí furioso. Mas, apesar de tudo, era bastante seu amigo.
O detective Santos olhou sorridente para os dois homens. Já tinha achado a “chave do caso”.
QUESTIONÁRIO
1º – O criado falou verdade? Porquê?
2º – Francisco Faria falou verdade? Porquê?
3º – Fernando Faria suicidou-se? Porquê?
4º – Qual deve ter sido a solução do detective Santos?
Boas deduções!
SOLUÇÃO DO ROUBO NA CAPELA
O desafio que publicámos na semana passada, de autoria do saudoso Detective Misterioso, desaparecido do nosso convívio no dia 24 de Novembro de 1990, quando saía de casa para o convívio policiário de Torres Vedras, teve a seguinte solução, dada pelo próprio:
ALGURES NUMA ALDEIA DA BEIRA ALTA…
1 - O Agente Prata verificou “in loco” que as pedras roubadas eram falsas, devido à existência de partículas prateadas nos orifícios onde as mesmas tinham sido coladas.
Ele era conhecedor de que a pedra falsa é uma pedra “morta” e sem brilho próprio.
Também era conhecedor de que, em ourivesaria e para suprir a falta de brilho natural, a pedra é espelhada a prateado ou a dourado, na sua base ou fundo, a fim de que as mesmas tenham reflexão da incidência (emissão de raios brilhantes semelhantes aos das pedras preciosas).
Ora, quando assim acontece, estas pedras, porque são coladas (é impossível outra forma de colocação pois tratava-se de uma imagem de gesso), ao serem arrancadas por um canivete ou faca, deixam no gesso as marcas e o pó prateado ou dourado, conforme o caso.
2 – O autor do roubo foi o Manuel António porque no seu depoimento refere que “há muito tempo que não passo junto à capela, por isso as pegadas não são minhas”. Ora, o texto refere que “ as pegadas de botas cardadas, eram visíveis em vários sentidos no interior da capela e mais nada digno de registo foi visto pelo agente da autoridade, que guardou só para si todas as suas descobertas”. Portanto o Manuel António, se não tivesse sido o autor do roubo, teria que desconhecer o facto.
3 – O caso passou-se mais ou menos da seguinte maneira:
O ladrão já há muito pensava roubar as pedras, convencido, como aliás toda a gente, do seu grande valor. Naquela noite, a coberto da escuridão forçou a janela da capela e entrou. Dentro, talvez servindo-se de alguma vela do próprio templo para se alumiar, dirigiu-se junto à imagem, utilizando, muito possivelmente um canivete (razão dos riscos e falhas de gesso que o investigador viu nos orifícios do manto da Santa), retirou todas as pedras, saindo por onde entrou, tendo no entanto o cuidado de deixar a janela fechada.
Encantado da vida, retirou-se para casa, mal sabendo que levava no bolso um montão de pedras sem qualquer valor.
CRIME PÚBLICO
O nosso blogue continua activo e receptivo às opiniões dos nossos “detectives” em tudo o que ao Policiário diga respeito.
Depois de alguma acalmia, enquanto nos preparamos para as duras tarefas que nos aguardam com o início da próxima temporada, vamos publicar os regulamentos definitivos, depois da discussão a que as propostas estiveram sujeitas.
Não sendo o quadro competitivo que desejávamos, mas o que é possível, não deixará por isso, certamente, de constituir motivo de agrado para todos os nosso “detectives”, já à beira de um ataque de nervos pela ausência da adrenalina própria dos grandes desafios!
Entretanto, no quadro das homenagens que temos vindo a fazer, têm sido publicados desafios, cuja resolução será parte do “aquecimento” das células cinzentas para o que se aproxima.
Relembramos os nossos novos “detectives” que um dos grandes “segredos” desta nossa modalidade é a persistência! Tal como acontece com a leitura de romances policiais em que, com a prática, conseguimos andar “à frente” do próprio autor e encontrar as respostas possíveis, assim acontece também na problemística policiária. Cada autor tem os seus métodos o que facilita a solução, tal como a maior ginástica mental que cada “detective” vai desenvolvendo progressivamente, criando uma cadeia de raciocínio lógico, que após algum tempo evitará que ande à procura da agulha no palheiro, como soe dizer-se, mas sim que vá directamente ao ponto importante!
E fica a recomendação para que todos passem pelo Crime Público, em http://blogs.publico.pt/policiario.
Coluna do “2”
FALTAM 42 SEMANAS PARA A EDIÇÃO N.º 1000
As Olimpíadas Policiarias constituíram um marco na nossa secção em 1996, em linha com os Jogos Olímpicos de Atlanta.
A competição teve apenas desafios do Inspector Fidalgo e consistiu em 10 provas em que eram nomeadas as 10 melhores soluções em cada uma. Os seus autores eram, assim, nomeados como candidatos às medalhas, de Ouro, de Prata e de Bronze, mas só no convívio final, para entrega de prémios, foram anunciados, ao vivo e no meio de grande emoção e expectativa, os medalhados!
A par das Olimpíadas, decorreu o Torneio Sete de Espadas, de homenagem a este grande mestre e o Torneio Detective Jovem, dirigido, como o nome indica, aos mais jovens iniciados no Policiário.
A participação foi enorme e já se anunciava novo máximo de presenças, quando, ainda a faltar uma semana para o final do primeiro prazo, já havia registo de 841 “detectives” a responder aos enigmas, numa altura em que, recordamos, o papel ainda era rei e senhor!
sábado, 28 de novembro de 2009
NATÉRCIA LEITE
Dentro de algumas horas o Policiário vai publicar uma singela homenagem a Natércia Leite, uma "detective" que se destacou principalmente na produção e no conto.
Depois de uma vida de intensa produção literária, Natércia desapareceu, vencida por teimosa doença, sem cumprir o seu desejo maior: Publicar um livro com as suas histórias, com os seus poemas.
Dentro de algumas horas, vamos revisitar a nossa Natércia Leite.
Depois de uma vida de intensa produção literária, Natércia desapareceu, vencida por teimosa doença, sem cumprir o seu desejo maior: Publicar um livro com as suas histórias, com os seus poemas.
Dentro de algumas horas, vamos revisitar a nossa Natércia Leite.
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
HOMENAGEM
No próximo domingo prestaremos homenagem a outro vulto do Policiário, já desaparecido.
Não era presença assídua nas nossas secções, mas tinha sempre uma produção ou um conto para nós.
Falamos de NATÉRCIA LEITE.
No próximo domingo vamos recordar esta Mulher do Policiário!
Não era presença assídua nas nossas secções, mas tinha sempre uma produção ou um conto para nós.
Falamos de NATÉRCIA LEITE.
No próximo domingo vamos recordar esta Mulher do Policiário!
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
POLICIÁRIO 957
O confrade Rip Kirby relembrou que não tem acesso ao PÚBLICO lá nos "brasis" e por isso aqui fica secção de hoje.
RECORDAÇÃO DO DET. MISTERIOSO
Passa no próximo dia 24 mais um aniversário do desaparecimento - precisamente num domingo em que se levantou mais cedo para não falhar mais um convívio policiário, na cidade de Torres Vedras - de um dos vultos mais carismáticos do policiário nacional, o confrade Detective Misterioso, de Cacilhas, que dá, a partir desta próxima época, nome ao troféu de “N.º 1 do ranking”.
Assim se referia ao facto o mestre M. Constantino na sua obra monumental “O Grande Livro da Problemística Policiária”, edição da Associação Policiária Portuguesa, num pequeno texto evocativo da figura deste nosso confrade excepcional, com o título “Perda Irreparável”:
“ Quase a findar o ano, quando se preparava para, mais uma vez, comparecer no Convívio Anual de Torres Vedras, exactamente na madrugada de 24 de Novembro de 1990, faleceu um dos mais activos mestres da Problemística Policiária Portuguesa: Domingos Prata Rodrigues, o Detective Misterioso.
É uma perda irreparável... Exímio decifrador, área em que destacou a pontos de ser considerado quase imbatível, foi igualmente produtor de mérito, contista, fundador da Tertúlia Policiária de Almada, destacava-se, sobretudo, como Campeão na Modéstia, na Camaradagem, na Amizade!”.
É este vulto importante da nossa história policiária, com quem tivemos a felicidade de conviver inúmeras vezes ao longo de muitos anos, um pouco por todo o país onde os nossos convívios chegavam, que hoje homenageamos singelamente, publicando um dos seus desafios, que convidamos os “detectives” a decifrarem:
ALGURES NUMA ALDEIA DA BEIRA ALTA…
Um desafio do DETECTIVE MISTRIOSO
A santa venerada na capela era o orgulho do povo daquela aldeia Beirã.
Todos os que entravam no Templo não se cansavam de admirar a bela imagem que, apesar de moldada em gesso, resplandecia beleza! O seu rosto irradiava um sorriso enternecedor e, só de o ver, as pessoas sentiam um bem-estar e grande felicidade dentro de si. As suas vestes, também moldadas, eram de um lindo azul celeste e o manto, cravado de muita pedraria, cujo brilho penetrava no olhar de quem nele fixasse a vista, maior beleza dava à sua configuração.
Imagem muito antiga, levava o povo a dizer que todas aquelas pedras deveriam valer uma fortuna!
Até que um dia foi o pandemónio e a estupefacção na aldeia. Todas as pedras do manto da Santa tinham desaparecido. A indignação foi tanta que alguns diziam à “boca cheia”, se apanhassem o ladrão, fariam justiça pelas próprias mãos.
Ora aconteceu que, em gozo de férias numa aldeia vizinha se encontrava o Agente Prata e, a pedido dos seus familiares que o albergavam no seu mês de merecido lazer, concordou dar um jeito no assunto…
Assim, ele aí vai a pé com o seu familiar Serrano, para lhe indicar o caminho (o Agente Prata não tem carro, utilizando sempre os transportes públicos ou os carros dos amigos), até à aldeia onde o caso se passou.
Aí chegado e depois de se identificar, foi conduzido ao templo pelo encarregado da sua conservação e abertura ao povo nos dias de culto.
Pelo caminho, o Raul Silva (assim se chamava o homenzinho), foi dizendo ao Agente Prata que, naquela manhã, quando entrou na capela para proceder à sua limpeza, algo de estranho notou. Havia qualquer coisa que não estava certa com o ambiente habitual, até que verificou faltar o faiscar da pedraria do manto da Santa.
Pressentindo o pior, correu para a imagem, tendo constatado que a pedraria tinha desaparecido e no seu lugar só se viam as cavidades onde as pedras anteriormente tinham estado fixas! Na véspera, quando ao anoitecer tinha estado na capela, nada faltava, disso tinha a certeza.
Chegados à capela, o Agente Prata verificou que a porta não apresentava vestígios de arrombamento. Percorreu toda a área à volta do templo e averiguou a existência, na terra amolecida, de várias pegadas sobrepostas e em vários sentidos, notando-se no entanto, junto a uma janela que dava para o interior, algumas pegadas bem visíveis, de botas cardadas, no sentido da entrada e vice-versa. A referida janela também mostrava sinais de ter sido forçada.
No interior do Templo e junto à figura da Santa, o investigador, com a ajuda de uma pequena lupa, verificou que as entradas dos orifícios onde as pedras tinham estado embutidas, apresentavam riscos e falhas de gesso e no interior dos mesmos, partículas prateadas estranhas ao material da imagem. As pegadas de botas cardadas eram visíveis em vários sentidos no interior da capela e mais nada de digno de registo foi visto pelo agente da autoridade, que guardou para si todas as suas descobertas.
Dos nomes fornecidos pelo Raul Silva, de alguns suspeitos, baseando-se nas pessoas que diziam constantemente que a pedraria da Santa faria muitas pessoas felizes, o investigador ouviu:
Marquinhas, uma rapariga de 30 anos, vestindo roupa de trabalho de campo e calçando botas de borracha, declarou nada saber do roubo nem de quem o teria praticado. Não negou ter, por mais de uma vez, mencionado o possível valor das pedras que ornamentavam o manto da Santa.
Alberto Costa, homem por quem os 60 anos há muito tinham passado, tez curtida pelo sol no seu labutar diário na árdua faina do campo, vestindo roupa de trabalho e calçando botas cardadas, nas quais eram bem notados pedaços de terra húmida, declarou:
- Chamam-me o “Rei Herodes” por eu nunca ir à Missa, porque já me habituei a esse tratamento, deixei de ligar a isso. No entanto, o facto de não ir à Missa não me levaria a roubar os valores da imagem, tanto mais que sei respeitar qualquer casa de Oração.
Também não negou a referência feita ao valor das pedras.
Manuel António, 35 anos, trabalhador da construção civil, usando roupa domingueira, disse:
- Na verdade tenho-me referido frequentemente à felicidade que aquela pedraria faria a uma casa de família, mas não fui eu que roubei as pedras preciosas. Já há muito tempo que não passo junto à capela, por isso as pegadas não são minhas.
António Galvão, trinta e poucos anos, mal vestido, quase descalço, pouco amigo de trabalhar, não sendo bem visto na aldeia, devido aos frequentes roubos que fazia, nos galinheiros e não só, prestou as seguintes declarações:
- Na verdade, disse por mais de uma vez que, com todas aquelas pedras na minha mão, não necessitaria de voltar a trabalhar… Mas nunca me passou pela cabeça roubá-las! Mas olhe aí, senhor doutor, eu ontem, quando o sol de estava a pôr, vi o “Rei Herodes” andar perto da capela!
Neste momento, o Agente Prata pensou como tinha sido fácil descobrir o ladrão das pedras da Santa. Sorriu e voltou a pensar como adorava que os seus grandes amigos e colegas de profissão, Inspector Rodriguinho e o seu ajudante Lumafero, estivessem ali, com ele, para juntos gozarem aquele momento hilariante… Sim, é que a pedraria roubada não tinha valor algum, visto todas as pedras serem falsas!
E já imaginando o valente copo de “tintinaite” do bom vinho do “Dão” que beberia logo que chegasse à sua aldeia (por empréstimo), lá foi ele de regresso à casa dos seus parentes.
Antes, porém, deixou três perguntas:
1- Como soube ele que as pedras eram falsas?
2- Quem foi o autor do roubo?
3- Como se teria passado o caso?
A solução deste enigma será publicada na próxima semana.
Boas deduções!
D. PIO PERDEU… O PIO
Solução, curta e concisa, apresentada pelo seu autor A. Raposo ao desafio que publicámos na passada semana:
A acção passa-se no Inverno, em Portugal. Nessa época, as andorinhas emigram para as zonas quentes de África. Saem de Portugal no fim do Verão.
D. Perlimpim não poderia ter visto um casal de andorinhas, pelo que vai até às masmorras.
Num comentário igualmente curto, diremos que se trata de um problema muito simples, de pormenor único, mas sem deixar de exigir muita e muita atenção. Assim fica feita a prova de que este nosso confrade não faz só “bicos de obra” para dar cabo das “cinzentas” dos nossos “detectives”!
Coluna do “2”
FALTAM 43 SEMANAS PARA A EDIÇÃO N.º 1000
Os convívios policiários retomam a tradição, uma tradição que já vinha de longe, dos tempos em que o nosso mestre “Sete de Espadas” percorria o país em grandes manifestações de camaradagem e amizade.
Desta vez, a marca foi deixada pelo grande encontro da Amadora, numa organização da Tertúlia Policiária da Linha de Sintra (TPLS), que incluiu duas exposições na sede da Sociedade Filarmónica (SFRAA). Uma, a principal, sobre a vida e obra do Sete de Espadas, que contou com material inédito e de grande valor para história do policiário português, inaugurada pelo próprio homenageado; a outra foi sobre a Associação Policiária Portuguesa (APP), na altura em grande actividade editorial e produtora de eventos policiais.
Estávamos no ano de 1995 e a nossa secção preparava-se para um acontecimento marcante em termos competitivos, já que no ano seguinte a prova maior era constituída pelas Olimpíadas Policiarias - em linha com os Jogos Olímpicos de Atlanta 96 – com um formato inovador.
RECORDAÇÃO DO DET. MISTERIOSO
Passa no próximo dia 24 mais um aniversário do desaparecimento - precisamente num domingo em que se levantou mais cedo para não falhar mais um convívio policiário, na cidade de Torres Vedras - de um dos vultos mais carismáticos do policiário nacional, o confrade Detective Misterioso, de Cacilhas, que dá, a partir desta próxima época, nome ao troféu de “N.º 1 do ranking”.
Assim se referia ao facto o mestre M. Constantino na sua obra monumental “O Grande Livro da Problemística Policiária”, edição da Associação Policiária Portuguesa, num pequeno texto evocativo da figura deste nosso confrade excepcional, com o título “Perda Irreparável”:
“ Quase a findar o ano, quando se preparava para, mais uma vez, comparecer no Convívio Anual de Torres Vedras, exactamente na madrugada de 24 de Novembro de 1990, faleceu um dos mais activos mestres da Problemística Policiária Portuguesa: Domingos Prata Rodrigues, o Detective Misterioso.
É uma perda irreparável... Exímio decifrador, área em que destacou a pontos de ser considerado quase imbatível, foi igualmente produtor de mérito, contista, fundador da Tertúlia Policiária de Almada, destacava-se, sobretudo, como Campeão na Modéstia, na Camaradagem, na Amizade!”.
É este vulto importante da nossa história policiária, com quem tivemos a felicidade de conviver inúmeras vezes ao longo de muitos anos, um pouco por todo o país onde os nossos convívios chegavam, que hoje homenageamos singelamente, publicando um dos seus desafios, que convidamos os “detectives” a decifrarem:
ALGURES NUMA ALDEIA DA BEIRA ALTA…
Um desafio do DETECTIVE MISTRIOSO
A santa venerada na capela era o orgulho do povo daquela aldeia Beirã.
Todos os que entravam no Templo não se cansavam de admirar a bela imagem que, apesar de moldada em gesso, resplandecia beleza! O seu rosto irradiava um sorriso enternecedor e, só de o ver, as pessoas sentiam um bem-estar e grande felicidade dentro de si. As suas vestes, também moldadas, eram de um lindo azul celeste e o manto, cravado de muita pedraria, cujo brilho penetrava no olhar de quem nele fixasse a vista, maior beleza dava à sua configuração.
Imagem muito antiga, levava o povo a dizer que todas aquelas pedras deveriam valer uma fortuna!
Até que um dia foi o pandemónio e a estupefacção na aldeia. Todas as pedras do manto da Santa tinham desaparecido. A indignação foi tanta que alguns diziam à “boca cheia”, se apanhassem o ladrão, fariam justiça pelas próprias mãos.
Ora aconteceu que, em gozo de férias numa aldeia vizinha se encontrava o Agente Prata e, a pedido dos seus familiares que o albergavam no seu mês de merecido lazer, concordou dar um jeito no assunto…
Assim, ele aí vai a pé com o seu familiar Serrano, para lhe indicar o caminho (o Agente Prata não tem carro, utilizando sempre os transportes públicos ou os carros dos amigos), até à aldeia onde o caso se passou.
Aí chegado e depois de se identificar, foi conduzido ao templo pelo encarregado da sua conservação e abertura ao povo nos dias de culto.
Pelo caminho, o Raul Silva (assim se chamava o homenzinho), foi dizendo ao Agente Prata que, naquela manhã, quando entrou na capela para proceder à sua limpeza, algo de estranho notou. Havia qualquer coisa que não estava certa com o ambiente habitual, até que verificou faltar o faiscar da pedraria do manto da Santa.
Pressentindo o pior, correu para a imagem, tendo constatado que a pedraria tinha desaparecido e no seu lugar só se viam as cavidades onde as pedras anteriormente tinham estado fixas! Na véspera, quando ao anoitecer tinha estado na capela, nada faltava, disso tinha a certeza.
Chegados à capela, o Agente Prata verificou que a porta não apresentava vestígios de arrombamento. Percorreu toda a área à volta do templo e averiguou a existência, na terra amolecida, de várias pegadas sobrepostas e em vários sentidos, notando-se no entanto, junto a uma janela que dava para o interior, algumas pegadas bem visíveis, de botas cardadas, no sentido da entrada e vice-versa. A referida janela também mostrava sinais de ter sido forçada.
No interior do Templo e junto à figura da Santa, o investigador, com a ajuda de uma pequena lupa, verificou que as entradas dos orifícios onde as pedras tinham estado embutidas, apresentavam riscos e falhas de gesso e no interior dos mesmos, partículas prateadas estranhas ao material da imagem. As pegadas de botas cardadas eram visíveis em vários sentidos no interior da capela e mais nada de digno de registo foi visto pelo agente da autoridade, que guardou para si todas as suas descobertas.
Dos nomes fornecidos pelo Raul Silva, de alguns suspeitos, baseando-se nas pessoas que diziam constantemente que a pedraria da Santa faria muitas pessoas felizes, o investigador ouviu:
Marquinhas, uma rapariga de 30 anos, vestindo roupa de trabalho de campo e calçando botas de borracha, declarou nada saber do roubo nem de quem o teria praticado. Não negou ter, por mais de uma vez, mencionado o possível valor das pedras que ornamentavam o manto da Santa.
Alberto Costa, homem por quem os 60 anos há muito tinham passado, tez curtida pelo sol no seu labutar diário na árdua faina do campo, vestindo roupa de trabalho e calçando botas cardadas, nas quais eram bem notados pedaços de terra húmida, declarou:
- Chamam-me o “Rei Herodes” por eu nunca ir à Missa, porque já me habituei a esse tratamento, deixei de ligar a isso. No entanto, o facto de não ir à Missa não me levaria a roubar os valores da imagem, tanto mais que sei respeitar qualquer casa de Oração.
Também não negou a referência feita ao valor das pedras.
Manuel António, 35 anos, trabalhador da construção civil, usando roupa domingueira, disse:
- Na verdade tenho-me referido frequentemente à felicidade que aquela pedraria faria a uma casa de família, mas não fui eu que roubei as pedras preciosas. Já há muito tempo que não passo junto à capela, por isso as pegadas não são minhas.
António Galvão, trinta e poucos anos, mal vestido, quase descalço, pouco amigo de trabalhar, não sendo bem visto na aldeia, devido aos frequentes roubos que fazia, nos galinheiros e não só, prestou as seguintes declarações:
- Na verdade, disse por mais de uma vez que, com todas aquelas pedras na minha mão, não necessitaria de voltar a trabalhar… Mas nunca me passou pela cabeça roubá-las! Mas olhe aí, senhor doutor, eu ontem, quando o sol de estava a pôr, vi o “Rei Herodes” andar perto da capela!
Neste momento, o Agente Prata pensou como tinha sido fácil descobrir o ladrão das pedras da Santa. Sorriu e voltou a pensar como adorava que os seus grandes amigos e colegas de profissão, Inspector Rodriguinho e o seu ajudante Lumafero, estivessem ali, com ele, para juntos gozarem aquele momento hilariante… Sim, é que a pedraria roubada não tinha valor algum, visto todas as pedras serem falsas!
E já imaginando o valente copo de “tintinaite” do bom vinho do “Dão” que beberia logo que chegasse à sua aldeia (por empréstimo), lá foi ele de regresso à casa dos seus parentes.
Antes, porém, deixou três perguntas:
1- Como soube ele que as pedras eram falsas?
2- Quem foi o autor do roubo?
3- Como se teria passado o caso?
A solução deste enigma será publicada na próxima semana.
Boas deduções!
D. PIO PERDEU… O PIO
Solução, curta e concisa, apresentada pelo seu autor A. Raposo ao desafio que publicámos na passada semana:
A acção passa-se no Inverno, em Portugal. Nessa época, as andorinhas emigram para as zonas quentes de África. Saem de Portugal no fim do Verão.
D. Perlimpim não poderia ter visto um casal de andorinhas, pelo que vai até às masmorras.
Num comentário igualmente curto, diremos que se trata de um problema muito simples, de pormenor único, mas sem deixar de exigir muita e muita atenção. Assim fica feita a prova de que este nosso confrade não faz só “bicos de obra” para dar cabo das “cinzentas” dos nossos “detectives”!
Coluna do “2”
FALTAM 43 SEMANAS PARA A EDIÇÃO N.º 1000
Os convívios policiários retomam a tradição, uma tradição que já vinha de longe, dos tempos em que o nosso mestre “Sete de Espadas” percorria o país em grandes manifestações de camaradagem e amizade.
Desta vez, a marca foi deixada pelo grande encontro da Amadora, numa organização da Tertúlia Policiária da Linha de Sintra (TPLS), que incluiu duas exposições na sede da Sociedade Filarmónica (SFRAA). Uma, a principal, sobre a vida e obra do Sete de Espadas, que contou com material inédito e de grande valor para história do policiário português, inaugurada pelo próprio homenageado; a outra foi sobre a Associação Policiária Portuguesa (APP), na altura em grande actividade editorial e produtora de eventos policiais.
Estávamos no ano de 1995 e a nossa secção preparava-se para um acontecimento marcante em termos competitivos, já que no ano seguinte a prova maior era constituída pelas Olimpíadas Policiarias - em linha com os Jogos Olímpicos de Atlanta 96 – com um formato inovador.
domingo, 22 de novembro de 2009
COMPETIÇÃO
Muitos confrades têm posto questões sobre a próxima época, interrogando sobre o porquê de estarmos em paragem há tanto tempo.
Na verdade entendemos que há alguma razão na pergunta e que devemos uma resposta:
A nossa ideia era fazermos uma profunda remodelação das nossas competições, assumindo uma postura diferente, apostando num esquema mais competitivo e mais duradouro, com outros motivos de interesse.
Infelizmente as alterações ocorridas exteriormente à nossa secção vieram ocasionar uma frustrante impossibilidade, pelo menos para agora, de entrarmos na década com uma nova ideia, com uma nova moldura de competição.
Optimistas como somos, não atiramos a toalha ao chão após uma luta intensa de quase 18 (leram bem, DEZOITO!) anos nas páginas do PÚBLICO e quase 1000 (MIL) secções!!
Pelo contrário!
Estamos mais empenhados que nunca em partirmos para a luta e fazermos da próxima época uma época de ouro do policiário.
Não será como programámos e pretendíamos, mas será uma bela época, com muita luta, muita animação, muita competição, sempre com muita Amizade, muita Confraternização, muita Camaradagem!
Na programação que tinhamos, agora seria o momento de todas as discussões, de chegarmos, de encontrarmos os modelos finais, de modo a entrarmos em 2010 em força com as competições.
Não aconteceu dessa forma e daí este interregno que está a deixar alguns detectives à beira de um ataque de nervos, por inactividade!
Meus caros, as competições estão aí, logo depois das festas de Natal e Ano Novo e tomem nota do alerta que deixamos, para depois não aparecerem queixas de que não há mãos a medir!
Daqui a pouco mais de um mês queremos dar início a uma época de competições que fique na história do policiário como o princípio de algo mais importante que uma simples e normal época de competição!
Para isso, contamos com todos os Confrades e Amigos, com dedicação e empenho para que esta nossa querida modalidade seja, cada vez mais, a NOSSA MODALIDADE E A DE MUITOS MAIS!
Aproveitando uma boleia publicitária, diriamos que certamente todos eramos capazes de viver sem o Policiário, mas a vida não seria a mesma!
Na verdade entendemos que há alguma razão na pergunta e que devemos uma resposta:
A nossa ideia era fazermos uma profunda remodelação das nossas competições, assumindo uma postura diferente, apostando num esquema mais competitivo e mais duradouro, com outros motivos de interesse.
Infelizmente as alterações ocorridas exteriormente à nossa secção vieram ocasionar uma frustrante impossibilidade, pelo menos para agora, de entrarmos na década com uma nova ideia, com uma nova moldura de competição.
Optimistas como somos, não atiramos a toalha ao chão após uma luta intensa de quase 18 (leram bem, DEZOITO!) anos nas páginas do PÚBLICO e quase 1000 (MIL) secções!!
Pelo contrário!
Estamos mais empenhados que nunca em partirmos para a luta e fazermos da próxima época uma época de ouro do policiário.
Não será como programámos e pretendíamos, mas será uma bela época, com muita luta, muita animação, muita competição, sempre com muita Amizade, muita Confraternização, muita Camaradagem!
Na programação que tinhamos, agora seria o momento de todas as discussões, de chegarmos, de encontrarmos os modelos finais, de modo a entrarmos em 2010 em força com as competições.
Não aconteceu dessa forma e daí este interregno que está a deixar alguns detectives à beira de um ataque de nervos, por inactividade!
Meus caros, as competições estão aí, logo depois das festas de Natal e Ano Novo e tomem nota do alerta que deixamos, para depois não aparecerem queixas de que não há mãos a medir!
Daqui a pouco mais de um mês queremos dar início a uma época de competições que fique na história do policiário como o princípio de algo mais importante que uma simples e normal época de competição!
Para isso, contamos com todos os Confrades e Amigos, com dedicação e empenho para que esta nossa querida modalidade seja, cada vez mais, a NOSSA MODALIDADE E A DE MUITOS MAIS!
Aproveitando uma boleia publicitária, diriamos que certamente todos eramos capazes de viver sem o Policiário, mas a vida não seria a mesma!
HOMENAGEM
Dentro de algumas horas vai estar nas bancas o PÚBLICO e a nossa secção Policiária.
O prato forte vai ser uma homenagem a um confrade já desaparecido, que foi apelidado quase unanimemente por quem o conheceu por CAMPEÃO DA AMIZADE!
Dentro de algumas horas...
O prato forte vai ser uma homenagem a um confrade já desaparecido, que foi apelidado quase unanimemente por quem o conheceu por CAMPEÃO DA AMIZADE!
Dentro de algumas horas...
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
D O M I N G O
H O M E N A G E M
No próximo domingo a nossa secção vai prestar uma singela homenagem a um dos mais carismáticos policiaristas portugueses.
Grande camarada, excelente Amigo, policiarista de eleição, "praticamente imbatível", como a ele se referiu o confrade M. Constantino na sua monumental obra "O Grande Livro da Problemística Policiária", uma edição da Associação Policiária Portuguesa, este nosso confrade, infelizmente já desaparecido do nosso convívio, vai ser relembrado.
Domingo, no PÚBLICO.
No próximo domingo a nossa secção vai prestar uma singela homenagem a um dos mais carismáticos policiaristas portugueses.
Grande camarada, excelente Amigo, policiarista de eleição, "praticamente imbatível", como a ele se referiu o confrade M. Constantino na sua monumental obra "O Grande Livro da Problemística Policiária", uma edição da Associação Policiária Portuguesa, este nosso confrade, infelizmente já desaparecido do nosso convívio, vai ser relembrado.
Domingo, no PÚBLICO.
terça-feira, 17 de novembro de 2009
TORNEIO A. RAPOSO
(Publidado em O Almeirinense, secção MUNDO DOS PASSATEMPOS n.º 91 de 15 de Novembro)
TORNEIO A. RAPOSO E TROFÉU CLUBE DE DETECTIVES
Problema nº 4: O QUINTETO ERA DA CORDA, de BÚFALOS ASSOCIADOS:
“O concerto terminou por volta da meia-noite. Depois fomos cear num restaurante muito simpático onde estivemos até cerca das duas horas. Comemos bem e bebemos melhor. Mas o ambiente entre os elementos do grupo tem andado algo tenso. Eu fui o primeiro a sair e a vir sozinho, a pé, para o Hotel, que fica perto. No dia seguinte era preciso acordar cedo, tínhamos um concerto em Sagres e muitos quilómetros a percorrer. Fui logo para o meu quarto e devo ter adormecido quase sem dar por isso, pois quando acordei a meio da noite com a agitação toda que andou por aí, ainda estava vestido e a dormir em cima da cama. Antes disso não dei por nada. Acho que tinha bebido um pouco demais. Quando abri a porta do quarto vi o Damião, que dormia no meu andar e que me gritou: - “Parece que esfaquearam o Quim!” Fiquei siderado. Disse: “Não pode ser!” – “É verdade! Ligaram-me da recepção.” Não sei que horas eram porque tinha desligado o telemóvel como de costume. Corremos para os elevadores, mas estavam parados. E pelas escadas só conseguimos descer até ao 2º andar onde um soldado da GNR não nos deixou passar. Voltámos a subir e entretanto o telefone do meu quarto começou a tocar. Atendi, perguntei o que se passava e só me disseram que não saísse do quarto. Liguei então o telemóvel e eram 4 menos um quarto.”
Esta foi a declaração que o Sargento Paes recolheu, já passava das 4 horas da manhã, de David, contrabaixista do QUINTETO DA CORDA, conjunto de jazz que tinha tocado nessa noite em Caminha, mas que ficara hospedado em Vila Praia de Âncora num pequeno Hotel frente ao mar. Paes tinha uma forte costela de policiarista e fora encarregado pelo seu velho amigo Inspector Garrett, de Viana do Castelo, de colher declarações a quente dos mais próximos envolvidos, enquanto ele próprio não chegava ao local do crime.
Cornélio era o baterista e fora ele quem encontrara o corpo:- “Eu e o Quim saímos do restaurante logo a seguir ao David e viemos para o Hotel. Estávamos ambos bem bebidos. O Quim subiu logo ao quarto dele mas eu ainda fiquei numa sala ao lado da Recepção a ver na televisão os comentários sobre os jogos de futebol desse dia. Não estava preocupado com as horas porque há sempre um de nós (e desta vez não era eu...) encarregado de acordar todos antes das partidas. Deviam ser umas três horas quando me fui deitar. Cheguei ao meu andar e, ao sair do elevador vi um vulto a sair de um quarto e correr para as escadas que ficam ao fundo do corredor. As luzes do teto acendem por sensor, mas como demoram um certo tempo a reagir, quando acenderam já o homem tinha desaparecido. Não consegui ver quem era. Fui até à porta que ficara aberta, entrei e pude ver o Quim deitado de costas no chão, com os olhos abertos e uma faca espetada no peito. O sangue corria já para a alcatifa e ensopava a camisa. Não sei se fiz bem mas tomei-lhe o pulso, palpei-lhe a veia do pescoço e fiquei com a certeza de que estava morto. Corri à Recepção para dar o alarme, estava tão nervoso que nem fui pelo elevador que ainda devia estar no 2º andar. Desci pelas escadas, talvez por pensar que ainda podia encontrar o possível assassino, mas não vi ninguém, nem ouvi nenhuma porta fechar-se.”
A recepcionista confirmou o essencial das anteriores declarações, acrescentando:
- ”Pelas três horas e cinco minutos, já todos os elementos do grupo estavam nos quartos, fui abordada pelo hóspede Cornélio, que tinha acabado de subir. Informou-me assustado, que havia um colega seu morto no 2º andar. Pela descrição percebi que era no quarto 205. Telefonei imediatamente para a GNR de Caminha e vinte minutos depois chegava o Sargento Paes acompanhado por três guardas, os quais montaram logo um dispositivo de segurança para ninguém fugir, nem aceder ao quarto do crime. E foi mesmo daqui que o Sargento ligou para a Judiciária de Viana. Entretanto fez-me ligar para os quartos de todos os componentes do grupo para os acordar um a um, dizendo apenas que esperassem nos seus quartos onde o Sargento os iria ouvir. Também me pediu que desligasse os elevadores pois montara vigilância apenas nos três patamares das escadas.”
Os restantes elementos do grupo, aparentando razoáveis ressacas, foram todos ouvidos. Telo o trompetista, parecia-lhe, no meio da embriaguez, ter ouvido uma violenta discussão no andar de baixo. Pouco depois foi à casa de banho e julgou ter ouvido alguém correndo no corredor e uma porta a fechar-se. Já tinha adormecido de novo quando lhe ligaram da Recepção. Tomás o saxofonista, disse que corria o boato de que o Quim, o pianista e director musical, andava metido com a mulher de outro colega, dai o mal-estar que todos notavam, mas ninguém sabia quem ela era, ele como era solteiro e nem apreciava mulheres, estava tranquilo. Damião o técnico de som do grupo, declarou-se arrasado com a notícia da morte do amigo e muito preocupado em avisar a organização de Sagres para cancelar o previsto concerto, era ele que conduzia a carrinha que ainda não estava paga na totalidade, como iria ser, agora que o chefe do conjunto desaparecera?
Quando o Inspector Garrett chegou, recebeu do Sargento Paes todas estas informações e ainda uma folha A4 com as seguintes notas:
- O Hotel tem, além do rés-do-chão, 3 andares com 14 quartos em cada.
- Os quartos ímpares têm janelas viradas para a frente, ao contrário dos pares.
- A saída dos elevadores é feita para o lado da frente do Hotel, ficando seis quartos para o lado direito e oito para o esquerdo. Na ponta dos corredores, do lado esquerdo, fica o bloco de escadas, único acesso aos andares quando os elevadores estão parados.
- Em frente à porta dos elevadores está um dístico que diz: “Quartos de 101 a 108 e Escadas”, com uma seta para a esquerda, e “Quartos de 109 a 114”, com uma sete para a direita. Nos andares 2º e 3º o sistema é o mesmo.
- Quim, que além de pianista também se encarregava das contas do grupo, era solteiro e tinha fama de mulherengo. Alem dele e do Tomás, os outros quatro parceiros do grupo eram casados.
- A faca espetada no peito, bem na zona do coração, tinha gravada no punho a identificação do restaurante onde decorrera a ceia. Era uma daquelas facas de serrilha, pontiagudas, que se usam para cortar os bifes.
- Caídos no chão do quarto, entre o corpo e a porta, foram encontrados um recibo de portagem de auto-estrada com data do dia anterior, outro recibo de gasóleo e uma pequena folha de bloco com os seguintes apontamentos a lápis: “Tomás 109, Quim 205, Cornélio 211, Telo 305, David 307”. Os papéis estavam algo amachucados. Perto do corpo um guardanapo de pano branco com manchas de sangue.
- Todos os quartos do pequeno Hotel, com excepção dos nºs. 109, 205, 211, 305, 307 e 309, estavam ocupados por uma excursão de turistas alemães que recolheram cedo aos seus quartos pois partiriam pelas 07.00 h, com destino ao seu país.
- Só um quarto pedira para ser despertado às 07.30 h., o nº. 309.
"Belo trabalho, Paes, belo trabalho”, disse o Inspector após tomar conhecimento de tudo. “Creio mesmo que já calculo quem matou o pianista. E tu?
“Eu? Não tenho ainda nenhum palpite.”
“Pois eu, sim. E mais: é curiosa a forma com eles deram o nome ao conjunto. Deste por isso?”
Serão os leitores capazes de deslindar e justificar os palpites do Inspector Garrett?
Eis o que esperamos que os nossos detectives nos digam (até 5/12/09), para d.cabral@sapo.pt e gustavobarosa@hotmail.com; ou para Apartado 593 – 2000 Santarém.
TORNEIO A. RAPOSO E TROFÉU CLUBE DE DETECTIVES
Problema nº 4: O QUINTETO ERA DA CORDA, de BÚFALOS ASSOCIADOS:
“O concerto terminou por volta da meia-noite. Depois fomos cear num restaurante muito simpático onde estivemos até cerca das duas horas. Comemos bem e bebemos melhor. Mas o ambiente entre os elementos do grupo tem andado algo tenso. Eu fui o primeiro a sair e a vir sozinho, a pé, para o Hotel, que fica perto. No dia seguinte era preciso acordar cedo, tínhamos um concerto em Sagres e muitos quilómetros a percorrer. Fui logo para o meu quarto e devo ter adormecido quase sem dar por isso, pois quando acordei a meio da noite com a agitação toda que andou por aí, ainda estava vestido e a dormir em cima da cama. Antes disso não dei por nada. Acho que tinha bebido um pouco demais. Quando abri a porta do quarto vi o Damião, que dormia no meu andar e que me gritou: - “Parece que esfaquearam o Quim!” Fiquei siderado. Disse: “Não pode ser!” – “É verdade! Ligaram-me da recepção.” Não sei que horas eram porque tinha desligado o telemóvel como de costume. Corremos para os elevadores, mas estavam parados. E pelas escadas só conseguimos descer até ao 2º andar onde um soldado da GNR não nos deixou passar. Voltámos a subir e entretanto o telefone do meu quarto começou a tocar. Atendi, perguntei o que se passava e só me disseram que não saísse do quarto. Liguei então o telemóvel e eram 4 menos um quarto.”
Esta foi a declaração que o Sargento Paes recolheu, já passava das 4 horas da manhã, de David, contrabaixista do QUINTETO DA CORDA, conjunto de jazz que tinha tocado nessa noite em Caminha, mas que ficara hospedado em Vila Praia de Âncora num pequeno Hotel frente ao mar. Paes tinha uma forte costela de policiarista e fora encarregado pelo seu velho amigo Inspector Garrett, de Viana do Castelo, de colher declarações a quente dos mais próximos envolvidos, enquanto ele próprio não chegava ao local do crime.
Cornélio era o baterista e fora ele quem encontrara o corpo:- “Eu e o Quim saímos do restaurante logo a seguir ao David e viemos para o Hotel. Estávamos ambos bem bebidos. O Quim subiu logo ao quarto dele mas eu ainda fiquei numa sala ao lado da Recepção a ver na televisão os comentários sobre os jogos de futebol desse dia. Não estava preocupado com as horas porque há sempre um de nós (e desta vez não era eu...) encarregado de acordar todos antes das partidas. Deviam ser umas três horas quando me fui deitar. Cheguei ao meu andar e, ao sair do elevador vi um vulto a sair de um quarto e correr para as escadas que ficam ao fundo do corredor. As luzes do teto acendem por sensor, mas como demoram um certo tempo a reagir, quando acenderam já o homem tinha desaparecido. Não consegui ver quem era. Fui até à porta que ficara aberta, entrei e pude ver o Quim deitado de costas no chão, com os olhos abertos e uma faca espetada no peito. O sangue corria já para a alcatifa e ensopava a camisa. Não sei se fiz bem mas tomei-lhe o pulso, palpei-lhe a veia do pescoço e fiquei com a certeza de que estava morto. Corri à Recepção para dar o alarme, estava tão nervoso que nem fui pelo elevador que ainda devia estar no 2º andar. Desci pelas escadas, talvez por pensar que ainda podia encontrar o possível assassino, mas não vi ninguém, nem ouvi nenhuma porta fechar-se.”
A recepcionista confirmou o essencial das anteriores declarações, acrescentando:
- ”Pelas três horas e cinco minutos, já todos os elementos do grupo estavam nos quartos, fui abordada pelo hóspede Cornélio, que tinha acabado de subir. Informou-me assustado, que havia um colega seu morto no 2º andar. Pela descrição percebi que era no quarto 205. Telefonei imediatamente para a GNR de Caminha e vinte minutos depois chegava o Sargento Paes acompanhado por três guardas, os quais montaram logo um dispositivo de segurança para ninguém fugir, nem aceder ao quarto do crime. E foi mesmo daqui que o Sargento ligou para a Judiciária de Viana. Entretanto fez-me ligar para os quartos de todos os componentes do grupo para os acordar um a um, dizendo apenas que esperassem nos seus quartos onde o Sargento os iria ouvir. Também me pediu que desligasse os elevadores pois montara vigilância apenas nos três patamares das escadas.”
Os restantes elementos do grupo, aparentando razoáveis ressacas, foram todos ouvidos. Telo o trompetista, parecia-lhe, no meio da embriaguez, ter ouvido uma violenta discussão no andar de baixo. Pouco depois foi à casa de banho e julgou ter ouvido alguém correndo no corredor e uma porta a fechar-se. Já tinha adormecido de novo quando lhe ligaram da Recepção. Tomás o saxofonista, disse que corria o boato de que o Quim, o pianista e director musical, andava metido com a mulher de outro colega, dai o mal-estar que todos notavam, mas ninguém sabia quem ela era, ele como era solteiro e nem apreciava mulheres, estava tranquilo. Damião o técnico de som do grupo, declarou-se arrasado com a notícia da morte do amigo e muito preocupado em avisar a organização de Sagres para cancelar o previsto concerto, era ele que conduzia a carrinha que ainda não estava paga na totalidade, como iria ser, agora que o chefe do conjunto desaparecera?
Quando o Inspector Garrett chegou, recebeu do Sargento Paes todas estas informações e ainda uma folha A4 com as seguintes notas:
- O Hotel tem, além do rés-do-chão, 3 andares com 14 quartos em cada.
- Os quartos ímpares têm janelas viradas para a frente, ao contrário dos pares.
- A saída dos elevadores é feita para o lado da frente do Hotel, ficando seis quartos para o lado direito e oito para o esquerdo. Na ponta dos corredores, do lado esquerdo, fica o bloco de escadas, único acesso aos andares quando os elevadores estão parados.
- Em frente à porta dos elevadores está um dístico que diz: “Quartos de 101 a 108 e Escadas”, com uma seta para a esquerda, e “Quartos de 109 a 114”, com uma sete para a direita. Nos andares 2º e 3º o sistema é o mesmo.
- Quim, que além de pianista também se encarregava das contas do grupo, era solteiro e tinha fama de mulherengo. Alem dele e do Tomás, os outros quatro parceiros do grupo eram casados.
- A faca espetada no peito, bem na zona do coração, tinha gravada no punho a identificação do restaurante onde decorrera a ceia. Era uma daquelas facas de serrilha, pontiagudas, que se usam para cortar os bifes.
- Caídos no chão do quarto, entre o corpo e a porta, foram encontrados um recibo de portagem de auto-estrada com data do dia anterior, outro recibo de gasóleo e uma pequena folha de bloco com os seguintes apontamentos a lápis: “Tomás 109, Quim 205, Cornélio 211, Telo 305, David 307”. Os papéis estavam algo amachucados. Perto do corpo um guardanapo de pano branco com manchas de sangue.
- Todos os quartos do pequeno Hotel, com excepção dos nºs. 109, 205, 211, 305, 307 e 309, estavam ocupados por uma excursão de turistas alemães que recolheram cedo aos seus quartos pois partiriam pelas 07.00 h, com destino ao seu país.
- Só um quarto pedira para ser despertado às 07.30 h., o nº. 309.
"Belo trabalho, Paes, belo trabalho”, disse o Inspector após tomar conhecimento de tudo. “Creio mesmo que já calculo quem matou o pianista. E tu?
“Eu? Não tenho ainda nenhum palpite.”
“Pois eu, sim. E mais: é curiosa a forma com eles deram o nome ao conjunto. Deste por isso?”
Serão os leitores capazes de deslindar e justificar os palpites do Inspector Garrett?
Eis o que esperamos que os nossos detectives nos digam (até 5/12/09), para d.cabral@sapo.pt e gustavobarosa@hotmail.com; ou para Apartado 593 – 2000 Santarém.
domingo, 15 de novembro de 2009
PRODUÇÕES
Registamos que os nossos confrades começam a pensar nas produções para a época que se avizinha.
Há lugar para 20 desafios, 10 na modalidade mais divulgada, ou seja, problemas para os confrades decifrarem na íntegra e 10 numa modalidade de rápidas, ou seja, de escolha múltipla, em que aparecem as quatro (4) hipóteses de solução, em que apenas uma responde ao enunciado.
Assim sendo, são 20 as possibilidades de publicar um trabalho no PÚBLICO.
Alguns confrades já enviaram trabalhos, Rip Kirby, A. Raposo, H. Ráí...
Caríssimos:Está na altura de nos fazerem chegar os problemas novos ou de mandarem cá para fora os problemas que estão no fundo da gaveta, que nunca foram publicados. É altura de pegarem neles, relerem-nos, corrigirem-nos se for caso disso e... Cá estamos à espera!
As competições de 2010 estão à porta!
Boas produções!
Há lugar para 20 desafios, 10 na modalidade mais divulgada, ou seja, problemas para os confrades decifrarem na íntegra e 10 numa modalidade de rápidas, ou seja, de escolha múltipla, em que aparecem as quatro (4) hipóteses de solução, em que apenas uma responde ao enunciado.
Assim sendo, são 20 as possibilidades de publicar um trabalho no PÚBLICO.
Alguns confrades já enviaram trabalhos, Rip Kirby, A. Raposo, H. Ráí...
Caríssimos:Está na altura de nos fazerem chegar os problemas novos ou de mandarem cá para fora os problemas que estão no fundo da gaveta, que nunca foram publicados. É altura de pegarem neles, relerem-nos, corrigirem-nos se for caso disso e... Cá estamos à espera!
As competições de 2010 estão à porta!
Boas produções!
DENTRO DE HORAS...
Vai estar nas bancas o PÚBLICO, com a secção Policiário.
Lá vamos ler uma singela homenagem ao confrade A. Raposo que prossegue a sua saga contra a maleita que o apoquenta.
Faltam apenas algumas horas...
Lá vamos ler uma singela homenagem ao confrade A. Raposo que prossegue a sua saga contra a maleita que o apoquenta.
Faltam apenas algumas horas...
domingo, 8 de novembro de 2009
FOTOS E NÃO SÓ...
FOTOS DO CONVÍVIO
Era nossa ideia publicar fotos da entrega dos prémios no Convívio de Santarém, quer aqui, no blogue, quer na secção.
Assim, pedimos aos confrades que disponham desse registo e nos queiram facultar para publicar, o favor de nos enviarem as fotos.
DENTRO DE HORAS...
Dentro de algumas horas, a secção vai publicar uma pequena entrevista com a nossa querida Hélia, a propósito do seu mais recente lançamento, LUA DE LOBOS, que foi um evento de elevada qualidade, na FNAC de Cascais, onde estivemos presentes!
Vamos ter, também, mais um apontamento do que Somos e do que fomos, apropósito da nossa caminhad rumo à secção 1000!
Era nossa ideia publicar fotos da entrega dos prémios no Convívio de Santarém, quer aqui, no blogue, quer na secção.
Assim, pedimos aos confrades que disponham desse registo e nos queiram facultar para publicar, o favor de nos enviarem as fotos.
DENTRO DE HORAS...
Dentro de algumas horas, a secção vai publicar uma pequena entrevista com a nossa querida Hélia, a propósito do seu mais recente lançamento, LUA DE LOBOS, que foi um evento de elevada qualidade, na FNAC de Cascais, onde estivemos presentes!
Vamos ter, também, mais um apontamento do que Somos e do que fomos, apropósito da nossa caminhad rumo à secção 1000!
sábado, 7 de novembro de 2009
ESTRANHOS SILÊNCIOS
Pois é!
Também nós estamos silenciosos há muito tempo, há tempo demais, mas não é por causa de nenhum problema complicado, mas apenas e só por falta absoluta de tempo!
Muitas pessoas são capazes de vir dizer que só tem falta de tempo quem quer, que quando há querer tudo se consegue e outras coisas do género...
Somos tentados a concordar, mas...
O dia só tem mesmo 24 horas, pelo menos por enquanto e quanto a isso nada há a fazer!
Pois bem, vamos nadando e nadando, no sentido de não perdermos o pé!
As competições estão perto, há nuvens no ar mas não parecem muito carregadas e por isso continuamos a trabalhar para fazermos uma época de competição digna e capaz. Para tal, contamos com todos!
Sem perdermos de vista que, pé ante pé, estamos a caminho da secção 1000 do Policiário no PÚBLICO, um marco que queremos assinalar e que queremos se transforme na alavanca que "obrigue" o Policiário a prolongar-se por muito mais tempo.
Silêncios... Talvez não tão estranhos!
Também nós estamos silenciosos há muito tempo, há tempo demais, mas não é por causa de nenhum problema complicado, mas apenas e só por falta absoluta de tempo!
Muitas pessoas são capazes de vir dizer que só tem falta de tempo quem quer, que quando há querer tudo se consegue e outras coisas do género...
Somos tentados a concordar, mas...
O dia só tem mesmo 24 horas, pelo menos por enquanto e quanto a isso nada há a fazer!
Pois bem, vamos nadando e nadando, no sentido de não perdermos o pé!
As competições estão perto, há nuvens no ar mas não parecem muito carregadas e por isso continuamos a trabalhar para fazermos uma época de competição digna e capaz. Para tal, contamos com todos!
Sem perdermos de vista que, pé ante pé, estamos a caminho da secção 1000 do Policiário no PÚBLICO, um marco que queremos assinalar e que queremos se transforme na alavanca que "obrigue" o Policiário a prolongar-se por muito mais tempo.
Silêncios... Talvez não tão estranhos!
domingo, 1 de novembro de 2009
TORNEIO A. RAPOSO
TORNEIO A. RAPOSO E TROFÉU CLUBE DE DETECTIVES
PROBLEMA Nº 2: SOLUÇÃO OFICIAL DA AUTORA – DETECTIVE JEREMIAS:
A. Raposo tem uma longa e sólida ligação ao meio policiário e à decifração de enigmas. A. Raposo tem também uma relação próxima, quase de carácter familiar, com detective Tempicos. Esta vastidão de conhecimentos permitiu ao famoso policiarista fazer um comentário certeiro ao afirmar: “Este Tempicos saiu-nos cá um pantomineiro, começou quando chegámos e só acabou na despedida”.
De facto, o Tempicos, logo no acolhimento aos amigos, aldraba-os ao declarar ser dia de São Jerónimo e também, próximo da altura de dizer adeus, ao considerar este santo como protector dos detectives.
É certo que a data do “lanchinho” dos policiaristas não está identificada de uma forma directa, mas sabe-se que o S. Pedro − 29 de Junho − foi festejado há poucos dias, o que situa a acção no início do mês de Julho, bem distante do dia de São Jerónimo que se celebra a 30 de Setembro, segundo o calendário litúrgico.
A questão dos santos protectores não é consensual: varia de país para país, alguns santos têm a seu cargo mais do que uma profissão, ou, por outro lado, uma única actividade tem a protecção de vários santos, não vá o diabo tecê-las. Na verdade, São Jerónimo é o patrono de várias profissões, como os arquivistas, bibliotecários, livreiros e tradutores. Até à presente data, a protecção dos detectives tem sido assegurada pelo São Sebastião, que lá vai arranjando tempo para olhar também pelos atletas.
Tempicos tenta ainda uma aldrabice ingénua relacionada com o leitão servido no repasto, mas duvido que engane alguém, mesmo os vegetarianos mais radicais. Tempicos diz que acabou de ir buscar o leitão “aqui ao lado, à Mealhada”. Ora, a Mealhada fica a cerca de 200 km do local do “lanchinho”, que se desenrola algures na Serra de Monfirre. Ali próximo só o leitão à Negrais, rival do da Mealhada com o tempero igual, mas forma de apresentação diferente.
Estas pequenas mentiras são secundárias, talvez Tempicos pretendesse dar cor ao ambiente. A questão central é o relato, que o detective classifica como o seu melhor golpe de sempre, e foi que engendrado apenas para levar os policiaristas a cair num logro.
A primeira intrujice da história contada pelo Tempicos é a referência à inspiração nas cores da bandeira portuguesa, por parte de Dürer, ao executar o quadro de São Jerónimo. Esta obra está datada - foi pintada em 1521, altura em que a bandeira, de fundo branco com o escudo de Portugal, ostentava cores bem distintas do verde e rubro do actual símbolo nacional. Se esta mentira foi pensada ou não passou de um engano do Tempicos só ele o poderá esclarecer.
A segunda intrujice, esta seguramente deliberada, constitui a base para a decifração de um roubo que nunca poderia ter acontecido da forma como foi contado. É impossível transportar, enrolada dentro do tubo oco da canadiana, uma pintura sobre madeira.
Em resumo, Tempicos é bem merecedor da adjectivação de pantomineiro concedida por A. Raposo, porque montou uma história ardilosa. Altera a data de um dia santo, concede-lhe errados poderes de protecção, muda a origem gastronómica do leitão, troca a cores da bandeira e, finalmente, transforma um óleo sobre madeira de carvalho numa tela maleável. Tempicos inventa cinco mentiras, enrola-as numa complexa e ampla teia de verdades, construída com mil cuidados e paciência e apresenta um produto final capaz de enganar os incautos ou os mais distraídos.
Classificações – Com 10 Pontos: Agente Guima; Alce Branco; Avlis e Snitram; Búfalos Associados; Cloriano Monteiro de Carvalho; Daniel Falcão; Danielux; Detective Jeremias; Dr. Gismondo; Inspector Boavida; Inspector PI; Karl Marques; Medvet; Mister H; Rip Kirby; Vicktório.
Com 9 pontos: Bernie Leceiro e Flo.
As Melhores: 3 pontos – MedVet; 2 pontos – Rip Kirby; 1 ponto – Detective Jeremias.
Comentários:
Um problema bem escrito e construído – a assinalar a estreia da sua autora como produtora – proporcionou uma jornada calma (com apenas dois concorrentes penalizados), mas caracterizada pela recepção de excelentes relatórios. Excepcional o de Medvet (explanado, fundamentado e muito ilustrado ao longo de 27 páginas!); muitíssimo bons os de Rip Kirby e Detective Jeremias (com o seu relatório de solucionista). Este trio estacou-se, assim, dos restantes, conquistando os lugares de pódio das "Melhores", mas Insp. Boavida, Búfalos Associados e Avlis e Snitram também assinaram excelentes trabalhos.
Troféu Clube de Detectives (Oitavos de Final): Avlis e Snitram venceu Vicktório; Rip Kirby venceu Alce Branco; Danielux venceu Mister H; Búfalos Associados venceram Dr. Gismondo; Medvet venceu Insp. Boavida; Detective Jeremias venceu Agente Guima; Cloriano Monteiro de Carvalho venceu Bernie Leceiro; Insp. PI venceu Karl Marques.
Próximos confrontos (problema nº 3): Avlis e Snitram – Insp PI; Rip Kirby -Cloriano Monteiro de Carvalho; Danielux – Detective Jeremias; Búfalos Associados – Medvet.
PROBLEMA Nº 2: SOLUÇÃO OFICIAL DA AUTORA – DETECTIVE JEREMIAS:
A. Raposo tem uma longa e sólida ligação ao meio policiário e à decifração de enigmas. A. Raposo tem também uma relação próxima, quase de carácter familiar, com detective Tempicos. Esta vastidão de conhecimentos permitiu ao famoso policiarista fazer um comentário certeiro ao afirmar: “Este Tempicos saiu-nos cá um pantomineiro, começou quando chegámos e só acabou na despedida”.
De facto, o Tempicos, logo no acolhimento aos amigos, aldraba-os ao declarar ser dia de São Jerónimo e também, próximo da altura de dizer adeus, ao considerar este santo como protector dos detectives.
É certo que a data do “lanchinho” dos policiaristas não está identificada de uma forma directa, mas sabe-se que o S. Pedro − 29 de Junho − foi festejado há poucos dias, o que situa a acção no início do mês de Julho, bem distante do dia de São Jerónimo que se celebra a 30 de Setembro, segundo o calendário litúrgico.
A questão dos santos protectores não é consensual: varia de país para país, alguns santos têm a seu cargo mais do que uma profissão, ou, por outro lado, uma única actividade tem a protecção de vários santos, não vá o diabo tecê-las. Na verdade, São Jerónimo é o patrono de várias profissões, como os arquivistas, bibliotecários, livreiros e tradutores. Até à presente data, a protecção dos detectives tem sido assegurada pelo São Sebastião, que lá vai arranjando tempo para olhar também pelos atletas.
Tempicos tenta ainda uma aldrabice ingénua relacionada com o leitão servido no repasto, mas duvido que engane alguém, mesmo os vegetarianos mais radicais. Tempicos diz que acabou de ir buscar o leitão “aqui ao lado, à Mealhada”. Ora, a Mealhada fica a cerca de 200 km do local do “lanchinho”, que se desenrola algures na Serra de Monfirre. Ali próximo só o leitão à Negrais, rival do da Mealhada com o tempero igual, mas forma de apresentação diferente.
Estas pequenas mentiras são secundárias, talvez Tempicos pretendesse dar cor ao ambiente. A questão central é o relato, que o detective classifica como o seu melhor golpe de sempre, e foi que engendrado apenas para levar os policiaristas a cair num logro.
A primeira intrujice da história contada pelo Tempicos é a referência à inspiração nas cores da bandeira portuguesa, por parte de Dürer, ao executar o quadro de São Jerónimo. Esta obra está datada - foi pintada em 1521, altura em que a bandeira, de fundo branco com o escudo de Portugal, ostentava cores bem distintas do verde e rubro do actual símbolo nacional. Se esta mentira foi pensada ou não passou de um engano do Tempicos só ele o poderá esclarecer.
A segunda intrujice, esta seguramente deliberada, constitui a base para a decifração de um roubo que nunca poderia ter acontecido da forma como foi contado. É impossível transportar, enrolada dentro do tubo oco da canadiana, uma pintura sobre madeira.
Em resumo, Tempicos é bem merecedor da adjectivação de pantomineiro concedida por A. Raposo, porque montou uma história ardilosa. Altera a data de um dia santo, concede-lhe errados poderes de protecção, muda a origem gastronómica do leitão, troca a cores da bandeira e, finalmente, transforma um óleo sobre madeira de carvalho numa tela maleável. Tempicos inventa cinco mentiras, enrola-as numa complexa e ampla teia de verdades, construída com mil cuidados e paciência e apresenta um produto final capaz de enganar os incautos ou os mais distraídos.
Classificações – Com 10 Pontos: Agente Guima; Alce Branco; Avlis e Snitram; Búfalos Associados; Cloriano Monteiro de Carvalho; Daniel Falcão; Danielux; Detective Jeremias; Dr. Gismondo; Inspector Boavida; Inspector PI; Karl Marques; Medvet; Mister H; Rip Kirby; Vicktório.
Com 9 pontos: Bernie Leceiro e Flo.
As Melhores: 3 pontos – MedVet; 2 pontos – Rip Kirby; 1 ponto – Detective Jeremias.
Comentários:
Um problema bem escrito e construído – a assinalar a estreia da sua autora como produtora – proporcionou uma jornada calma (com apenas dois concorrentes penalizados), mas caracterizada pela recepção de excelentes relatórios. Excepcional o de Medvet (explanado, fundamentado e muito ilustrado ao longo de 27 páginas!); muitíssimo bons os de Rip Kirby e Detective Jeremias (com o seu relatório de solucionista). Este trio estacou-se, assim, dos restantes, conquistando os lugares de pódio das "Melhores", mas Insp. Boavida, Búfalos Associados e Avlis e Snitram também assinaram excelentes trabalhos.
Troféu Clube de Detectives (Oitavos de Final): Avlis e Snitram venceu Vicktório; Rip Kirby venceu Alce Branco; Danielux venceu Mister H; Búfalos Associados venceram Dr. Gismondo; Medvet venceu Insp. Boavida; Detective Jeremias venceu Agente Guima; Cloriano Monteiro de Carvalho venceu Bernie Leceiro; Insp. PI venceu Karl Marques.
Próximos confrontos (problema nº 3): Avlis e Snitram – Insp PI; Rip Kirby -Cloriano Monteiro de Carvalho; Danielux – Detective Jeremias; Búfalos Associados – Medvet.
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