domingo, 29 de novembro de 2009

SECÇÃO 958

HOMENAGEM A NATÉRCIA LEITE



Continuando na tarefa a que nos propusemos neste interregno que vai decorrer até ao início das nossas competições, a nossa homenagem de hoje é para uma figura importante do policiário, infelizmente um tanto esquecida, por não ter tido uma participação activa nas nossas competições, como decifradora, desde há muito.
Com uma vida literária intensa, quer como escritora de grande imaginação, com uma forte presença do mistério e grande poder de observação, quer na poesia, Natércia Leite foi sempre uma pessoa atormentada pela ausência de oportunidades, desaparecendo sem nunca ter podido cumprir o seu maior sonho: publicar um livro.
Natércia foi, podemos dizê-lo com certeza, uma das pioneiras do policiário, escrevendo muitos desafios e contos para o Quinto Programa, que Artur Varatojo manteve na rádio e onde se cruzou com muitos dos mais importantes vultos do policial, tais como, a título de exemplo, Sete de Espadas, M. Constantino, Lima Rodrigues, Domingos Cabral.
Na nossa secção, que Natércia seguia com a atenção que a sua doença permitia, muitos foram os textos que aqui viram a luz do dia e foi uma participante activa nos concursos de contos que promovemos, conquistando alguns prémios.
Mas, o prémio maior foi, sem dúvida, para todos os que tivemos a oportunidade de a conhecer nos convívios ou outros eventos.
O problema que hoje publicamos é um bom exemplo do seu modo de encarar o policiário, mas é um tanto diferente do que lhe era habitual, por ser curto. Natércia adorava escrever e a descrição dos personagens e dos ambientes era um exercício que raramente dispensava.
O caso de uma estranha morte foi publicado em 24 de Abril de 1945, na secção “Mistério e Aventura”, em “A Vida Mundial Ilustrada” e é o desafio que hoje vamos recordar, em memória desta Mulher que deixou uma marca indelével no Policiário.


A ESTRANHA MORTE DE FERNANDO FARIA

Desafio de Natércia Leite

O detective Santos foi chamado apressadamente a casa dos irmãos Faria, dois notáveis engenheiros. Aí, o criado, assustado, contou que um dos patrões há muito que fora para o banho e ainda não voltara. Como o outro patrão tivesse saído nesse intervalo de tempo, ele preferira recorrer à polícia.
Então, o detective Santos encaminhou-se para a sala de banho. A porta estava fechada. Mas como se tratava de uma fechadura vulgar, o detective utilizou uma das muitas chaves que sempre trazia consigo e conseguiu abri-la facilmente.
Lá dentro deparou-se-lhe um espectáculo bem triste. Entre os vapores de água jazia Fernando Faria. A sua cabeça estava tombada para o peito. E, na nuca, tinha uma horrível brecha.
O detective Santos pode constatar logo que a morte fora instantânea.
O detective fez um rápido esboço do que estava à vista.
Depois, voltou à outra sala para melhor interrogar o criado. Ainda assustado, ele confessou:
– O senhor Fernando discutiu furiosamente de manhã com o senhor Francisco. Depois, aí pelas onze horas, foi meter-se na casa de banho. O senhor Francisco saiu às onze e meia. Lá para o meio-dia e meia hora, como o senhor Fernando não aparecesse, fui bater à porta da casa de banho. Ele não respondeu. Ainda procurei ver pela fechadura mas a chave, do lado de dentro, não me deixou ver nada. Então, resolvi telefonar-lhe...
Passados momentos, regressou a casa Francisco Faria, o irmão do morto, interrogado logo pelo detective, ele declarou:
– Sim. Discuti com ele, de manhã, pois acusei-o de me ter roubado uns planos valiosos. Ele não mos devolveu, dizendo que não os tinha. Saí furioso. Mas, apesar de tudo, era bastante seu amigo.
O detective Santos olhou sorridente para os dois homens. Já tinha achado a “chave do caso”.

QUESTIONÁRIO

1º – O criado falou verdade? Porquê?
2º – Francisco Faria falou verdade? Porquê?
3º – Fernando Faria suicidou-se? Porquê?
4º – Qual deve ter sido a solução do detective Santos?

Boas deduções!



SOLUÇÃO DO ROUBO NA CAPELA



O desafio que publicámos na semana passada, de autoria do saudoso Detective Misterioso, desaparecido do nosso convívio no dia 24 de Novembro de 1990, quando saía de casa para o convívio policiário de Torres Vedras, teve a seguinte solução, dada pelo próprio:




ALGURES NUMA ALDEIA DA BEIRA ALTA…


1 - O Agente Prata verificou “in loco” que as pedras roubadas eram falsas, devido à existência de partículas prateadas nos orifícios onde as mesmas tinham sido coladas.
Ele era conhecedor de que a pedra falsa é uma pedra “morta” e sem brilho próprio.
Também era conhecedor de que, em ourivesaria e para suprir a falta de brilho natural, a pedra é espelhada a prateado ou a dourado, na sua base ou fundo, a fim de que as mesmas tenham reflexão da incidência (emissão de raios brilhantes semelhantes aos das pedras preciosas).
Ora, quando assim acontece, estas pedras, porque são coladas (é impossível outra forma de colocação pois tratava-se de uma imagem de gesso), ao serem arrancadas por um canivete ou faca, deixam no gesso as marcas e o pó prateado ou dourado, conforme o caso.
2 – O autor do roubo foi o Manuel António porque no seu depoimento refere que “há muito tempo que não passo junto à capela, por isso as pegadas não são minhas”. Ora, o texto refere que “ as pegadas de botas cardadas, eram visíveis em vários sentidos no interior da capela e mais nada digno de registo foi visto pelo agente da autoridade, que guardou só para si todas as suas descobertas”. Portanto o Manuel António, se não tivesse sido o autor do roubo, teria que desconhecer o facto.
3 – O caso passou-se mais ou menos da seguinte maneira:
O ladrão já há muito pensava roubar as pedras, convencido, como aliás toda a gente, do seu grande valor. Naquela noite, a coberto da escuridão forçou a janela da capela e entrou. Dentro, talvez servindo-se de alguma vela do próprio templo para se alumiar, dirigiu-se junto à imagem, utilizando, muito possivelmente um canivete (razão dos riscos e falhas de gesso que o investigador viu nos orifícios do manto da Santa), retirou todas as pedras, saindo por onde entrou, tendo no entanto o cuidado de deixar a janela fechada.
Encantado da vida, retirou-se para casa, mal sabendo que levava no bolso um montão de pedras sem qualquer valor.



CRIME PÚBLICO


O nosso blogue continua activo e receptivo às opiniões dos nossos “detectives” em tudo o que ao Policiário diga respeito.
Depois de alguma acalmia, enquanto nos preparamos para as duras tarefas que nos aguardam com o início da próxima temporada, vamos publicar os regulamentos definitivos, depois da discussão a que as propostas estiveram sujeitas.
Não sendo o quadro competitivo que desejávamos, mas o que é possível, não deixará por isso, certamente, de constituir motivo de agrado para todos os nosso “detectives”, já à beira de um ataque de nervos pela ausência da adrenalina própria dos grandes desafios!
Entretanto, no quadro das homenagens que temos vindo a fazer, têm sido publicados desafios, cuja resolução será parte do “aquecimento” das células cinzentas para o que se aproxima.
Relembramos os nossos novos “detectives” que um dos grandes “segredos” desta nossa modalidade é a persistência! Tal como acontece com a leitura de romances policiais em que, com a prática, conseguimos andar “à frente” do próprio autor e encontrar as respostas possíveis, assim acontece também na problemística policiária. Cada autor tem os seus métodos o que facilita a solução, tal como a maior ginástica mental que cada “detective” vai desenvolvendo progressivamente, criando uma cadeia de raciocínio lógico, que após algum tempo evitará que ande à procura da agulha no palheiro, como soe dizer-se, mas sim que vá directamente ao ponto importante!
E fica a recomendação para que todos passem pelo Crime Público, em http://blogs.publico.pt/policiario.







Coluna do “2”



FALTAM 42 SEMANAS PARA A EDIÇÃO N.º 1000



As Olimpíadas Policiarias constituíram um marco na nossa secção em 1996, em linha com os Jogos Olímpicos de Atlanta.
A competição teve apenas desafios do Inspector Fidalgo e consistiu em 10 provas em que eram nomeadas as 10 melhores soluções em cada uma. Os seus autores eram, assim, nomeados como candidatos às medalhas, de Ouro, de Prata e de Bronze, mas só no convívio final, para entrega de prémios, foram anunciados, ao vivo e no meio de grande emoção e expectativa, os medalhados!
A par das Olimpíadas, decorreu o Torneio Sete de Espadas, de homenagem a este grande mestre e o Torneio Detective Jovem, dirigido, como o nome indica, aos mais jovens iniciados no Policiário.
A participação foi enorme e já se anunciava novo máximo de presenças, quando, ainda a faltar uma semana para o final do primeiro prazo, já havia registo de 841 “detectives” a responder aos enigmas, numa altura em que, recordamos, o papel ainda era rei e senhor!

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