(Publidado em O Almeirinense, secção MUNDO DOS PASSATEMPOS n.º 91 de 15 de Novembro)
TORNEIO A. RAPOSO E TROFÉU CLUBE DE DETECTIVES
Problema nº 4: O QUINTETO ERA DA CORDA, de BÚFALOS ASSOCIADOS:
“O concerto terminou por volta da meia-noite. Depois fomos cear num restaurante muito simpático onde estivemos até cerca das duas horas. Comemos bem e bebemos melhor. Mas o ambiente entre os elementos do grupo tem andado algo tenso. Eu fui o primeiro a sair e a vir sozinho, a pé, para o Hotel, que fica perto. No dia seguinte era preciso acordar cedo, tínhamos um concerto em Sagres e muitos quilómetros a percorrer. Fui logo para o meu quarto e devo ter adormecido quase sem dar por isso, pois quando acordei a meio da noite com a agitação toda que andou por aí, ainda estava vestido e a dormir em cima da cama. Antes disso não dei por nada. Acho que tinha bebido um pouco demais. Quando abri a porta do quarto vi o Damião, que dormia no meu andar e que me gritou: - “Parece que esfaquearam o Quim!” Fiquei siderado. Disse: “Não pode ser!” – “É verdade! Ligaram-me da recepção.” Não sei que horas eram porque tinha desligado o telemóvel como de costume. Corremos para os elevadores, mas estavam parados. E pelas escadas só conseguimos descer até ao 2º andar onde um soldado da GNR não nos deixou passar. Voltámos a subir e entretanto o telefone do meu quarto começou a tocar. Atendi, perguntei o que se passava e só me disseram que não saísse do quarto. Liguei então o telemóvel e eram 4 menos um quarto.”
Esta foi a declaração que o Sargento Paes recolheu, já passava das 4 horas da manhã, de David, contrabaixista do QUINTETO DA CORDA, conjunto de jazz que tinha tocado nessa noite em Caminha, mas que ficara hospedado em Vila Praia de Âncora num pequeno Hotel frente ao mar. Paes tinha uma forte costela de policiarista e fora encarregado pelo seu velho amigo Inspector Garrett, de Viana do Castelo, de colher declarações a quente dos mais próximos envolvidos, enquanto ele próprio não chegava ao local do crime.
Cornélio era o baterista e fora ele quem encontrara o corpo:- “Eu e o Quim saímos do restaurante logo a seguir ao David e viemos para o Hotel. Estávamos ambos bem bebidos. O Quim subiu logo ao quarto dele mas eu ainda fiquei numa sala ao lado da Recepção a ver na televisão os comentários sobre os jogos de futebol desse dia. Não estava preocupado com as horas porque há sempre um de nós (e desta vez não era eu...) encarregado de acordar todos antes das partidas. Deviam ser umas três horas quando me fui deitar. Cheguei ao meu andar e, ao sair do elevador vi um vulto a sair de um quarto e correr para as escadas que ficam ao fundo do corredor. As luzes do teto acendem por sensor, mas como demoram um certo tempo a reagir, quando acenderam já o homem tinha desaparecido. Não consegui ver quem era. Fui até à porta que ficara aberta, entrei e pude ver o Quim deitado de costas no chão, com os olhos abertos e uma faca espetada no peito. O sangue corria já para a alcatifa e ensopava a camisa. Não sei se fiz bem mas tomei-lhe o pulso, palpei-lhe a veia do pescoço e fiquei com a certeza de que estava morto. Corri à Recepção para dar o alarme, estava tão nervoso que nem fui pelo elevador que ainda devia estar no 2º andar. Desci pelas escadas, talvez por pensar que ainda podia encontrar o possível assassino, mas não vi ninguém, nem ouvi nenhuma porta fechar-se.”
A recepcionista confirmou o essencial das anteriores declarações, acrescentando:
- ”Pelas três horas e cinco minutos, já todos os elementos do grupo estavam nos quartos, fui abordada pelo hóspede Cornélio, que tinha acabado de subir. Informou-me assustado, que havia um colega seu morto no 2º andar. Pela descrição percebi que era no quarto 205. Telefonei imediatamente para a GNR de Caminha e vinte minutos depois chegava o Sargento Paes acompanhado por três guardas, os quais montaram logo um dispositivo de segurança para ninguém fugir, nem aceder ao quarto do crime. E foi mesmo daqui que o Sargento ligou para a Judiciária de Viana. Entretanto fez-me ligar para os quartos de todos os componentes do grupo para os acordar um a um, dizendo apenas que esperassem nos seus quartos onde o Sargento os iria ouvir. Também me pediu que desligasse os elevadores pois montara vigilância apenas nos três patamares das escadas.”
Os restantes elementos do grupo, aparentando razoáveis ressacas, foram todos ouvidos. Telo o trompetista, parecia-lhe, no meio da embriaguez, ter ouvido uma violenta discussão no andar de baixo. Pouco depois foi à casa de banho e julgou ter ouvido alguém correndo no corredor e uma porta a fechar-se. Já tinha adormecido de novo quando lhe ligaram da Recepção. Tomás o saxofonista, disse que corria o boato de que o Quim, o pianista e director musical, andava metido com a mulher de outro colega, dai o mal-estar que todos notavam, mas ninguém sabia quem ela era, ele como era solteiro e nem apreciava mulheres, estava tranquilo. Damião o técnico de som do grupo, declarou-se arrasado com a notícia da morte do amigo e muito preocupado em avisar a organização de Sagres para cancelar o previsto concerto, era ele que conduzia a carrinha que ainda não estava paga na totalidade, como iria ser, agora que o chefe do conjunto desaparecera?
Quando o Inspector Garrett chegou, recebeu do Sargento Paes todas estas informações e ainda uma folha A4 com as seguintes notas:
- O Hotel tem, além do rés-do-chão, 3 andares com 14 quartos em cada.
- Os quartos ímpares têm janelas viradas para a frente, ao contrário dos pares.
- A saída dos elevadores é feita para o lado da frente do Hotel, ficando seis quartos para o lado direito e oito para o esquerdo. Na ponta dos corredores, do lado esquerdo, fica o bloco de escadas, único acesso aos andares quando os elevadores estão parados.
- Em frente à porta dos elevadores está um dístico que diz: “Quartos de 101 a 108 e Escadas”, com uma seta para a esquerda, e “Quartos de 109 a 114”, com uma sete para a direita. Nos andares 2º e 3º o sistema é o mesmo.
- Quim, que além de pianista também se encarregava das contas do grupo, era solteiro e tinha fama de mulherengo. Alem dele e do Tomás, os outros quatro parceiros do grupo eram casados.
- A faca espetada no peito, bem na zona do coração, tinha gravada no punho a identificação do restaurante onde decorrera a ceia. Era uma daquelas facas de serrilha, pontiagudas, que se usam para cortar os bifes.
- Caídos no chão do quarto, entre o corpo e a porta, foram encontrados um recibo de portagem de auto-estrada com data do dia anterior, outro recibo de gasóleo e uma pequena folha de bloco com os seguintes apontamentos a lápis: “Tomás 109, Quim 205, Cornélio 211, Telo 305, David 307”. Os papéis estavam algo amachucados. Perto do corpo um guardanapo de pano branco com manchas de sangue.
- Todos os quartos do pequeno Hotel, com excepção dos nºs. 109, 205, 211, 305, 307 e 309, estavam ocupados por uma excursão de turistas alemães que recolheram cedo aos seus quartos pois partiriam pelas 07.00 h, com destino ao seu país.
- Só um quarto pedira para ser despertado às 07.30 h., o nº. 309.
"Belo trabalho, Paes, belo trabalho”, disse o Inspector após tomar conhecimento de tudo. “Creio mesmo que já calculo quem matou o pianista. E tu?
“Eu? Não tenho ainda nenhum palpite.”
“Pois eu, sim. E mais: é curiosa a forma com eles deram o nome ao conjunto. Deste por isso?”
Serão os leitores capazes de deslindar e justificar os palpites do Inspector Garrett?
Eis o que esperamos que os nossos detectives nos digam (até 5/12/09), para d.cabral@sapo.pt e gustavobarosa@hotmail.com; ou para Apartado 593 – 2000 Santarém.
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