Como temos vindo a referir, o crítico de
arte e escritor SS Van Dine marcou a época de ouro do romance policial, mais
mercê da sua obra, com romances de excelente nível, ainda hoje lidos e
decifrados com muito prazer pelas novas gerações, ao ponto de ver a sua obra
“The Bishop Murder Case” ser considerada por muitos como um dos 20 romances
policiais de referência a nível mundial e de todas as épocas.
De qualquer forma, também Van Dine
tentou criar uma escola para novos candidatos a escritores e daí ter partilhado
as suas ideias e regras para a feitura de romances policiais. Não serão, como
já referimos, regras fixas, inatacáveis, bem pelo contrário, em certos aspectos
revestem-se de uma rigidez há muito abandonada, mas não deixa de constituir uma
boa base de trabalho para quem pretender iniciar-se na escrita.
Recordamos
que o confrade Jartur, a verdadeira alma do Arquivo Histórico da Problemística
Policiária Portuguesa, reavivou a memória destas regras há algum tempo, numa
busca efectuada para fim diverso. Assim, o seu a seu dono, fica o agradecimento
ao confrade, que pode ser contactado pelo seu endereço electrónico, jarturmamede@aeiou.pt.
Vamos,
pois, publicar a terceira e última parte destas regras.
AS 20 REGRAS DO ROMANCE POLICIAL – PARTE
III
17. O autor
deve abster-se de escolher o culpado entre os profissionais do crime. Os
delitos dos gatunos por arrombamento e dos bandidos são do domínio da polícia e
não dos autores, ou dos polícias amadores, mais ou menos brilhantes.
18. O que
foi apresentado como um crime não pode, no fim do romance, redundar em acidente
ou suicídio. Imaginar um inquérito longo e complicado, para o terminar com uma
dessas desgraças, seria pregar ao leitor uma partida imperdoável. Se quem
compra um livro pudesse exigir o reembolso do seu dinheiro, invocando o motivo
de que o crime era uma fraude, qualquer tribunal com o sentido mais elementar
de justiça lhe daria razão e até mesmo uma forte reprimenda ao autor, por ter
abusado da confiança do leitor generoso e crédulo.
19. O motivo
do crime deve ser sempre estritamente pessoal. As conspirações internacionais,
ou as maquinações políticas, fazem parte do romance de espionagem. O romance
policial deve, pelo contrário, ser conduzido com cordialidade. Deve reflectir
as experiências e as preocupações quotidianas do leitor e oferecer-lhe ao mesmo
tempo um certo exutório às suas aspirações e emoções secretas.
20.
Finalmente, e como resumo dos parágrafos deste Credo, quero ainda enunciar
alguns dos truques ou ideias a que não recorrerá nenhum autor que se respeite.
São truques já muito sabidos e com que estão familiarizados há muito os
verdadeiros amadores do crime na literatura:
a ) - A
descoberta da identidade do acusado, comparando uma ponta de cigarro encontrada
no local do crime com a marca que fuma um suspeito.
b ) – A
falsa sessão espírita em que o criminoso, tomado de pânico, se denuncia.
c ) – As
falsas impressões digitais.
d ) – O
álibi por meio de manequim.
e ) – O cão
que não ladra, revelando assim que o intruso é um familiar do local.
f ) – O
culpado irmão gémeo do suspeito ou parente muito parecido.
g ) – A
seringa hipodérmica e o soro da verdade.
h ) – O
crime cometido numa casa fechada, na presença de representantes da polícia.
i ) – O
emprego da associação de palavras para descobrir o culpado.
j ) – A
decifração de um criptograma pelo
polícia ou a descoberta de um código em cifra.
CONCURSO DE CONTOS
Uma boa notícia que nos foi trazida pelo
responsável pelo espaço policial do semanário “Correio do Ribatejo”, o confrade
INSPECTOR ARANHA, “detective” de Santarém, é a da realização de um concurso de
contos de natureza policial e de mistério.
Quem segue a secção deste nosso
confrade, facilmente verifica o enorme relevo que é dado aos escritores e
contistas portugueses, sempre carentes de espaços para publicação dos seus
inúmeros trabalhos, uma prática que, de resto, sempre foi visível em todos os
espaços que este nosso confrade orientou ao longo das muitas décadas que leva
já de Policiário, bem como nas Selecções Mistério, uma publicação de excelente
nível que, infelizmente, teve vida efémera.
Aliás, a história dessa publicação há-de
ser tratada na nossa secção, tal foi a importância que teve no panorama policial
português.
Mas, o motivo que nos traz aqui é o
Concurso de Contos em que todos os nossos “detectives” vão poder participar,
para o que terão de enviar os trabalhos para d.cabral@sapo.pt,
até ao próximo dia 31 de Outubro, tendo como limitação os cinco mil caracteres.
Fica, pois, a notícia. É mais uma
oportunidade para que os textos que vão sendo “arquivados” nas gavetas, tenham
a possibilidade de verem a luz do dia, o que não é pormenor a desprezar, numa
altura em que as queixas dos escritores, por ausência de oportunidades de
publicação, se avolumam.
4 comentários:
Para quem já tem o conto pronto tudo bem mas para quem o tenha que idializar, escrever e reescrever por cauusa do espaço acho o praso muito curto.
Eu pelo menos não vi o anúncio desse concurso antes
Rip Kirby
Ao Confrade Rip Kirby
Amigo,respondo ao seu comentário sobre o muito curto prazo para o Concurso de Contos (se o Luis mo permitir, claro), informando que o
o respectivo Regulamento, publicado diversas vezes, consignou quase dois meses de prazo.
Só que se trata de uma iniciativa da Secção "Correio Policial", do Jornal "Correio do Ribatejo", que o Luis só teve possibilidade de divulgar no Público ( e o meu muito obrigado por isso) algum tempo mais tarde.
De qualquer forma, para um policiarista que concebe e redige com facilidade, creio que ainda será possível contar com a sua colaboração -- que fico aguardando. Ok?
Um abraço
Domingos Cabral
Meu Caro Confrade
Agradeço do fundo do coração os adjectivos elogiosos com que me agraciou e que vindos de quem veem sempre são para nos deixar babando.
Contudo eu sei que não os mereço.
Por outro lado o espaço cada vez mais reduzido de que dispomos para os problemas tornam a feitura, ou fazedura, conforme melhor soar, de uma produção policiária um autêntico exercício malabaristico e muitas vezes fazem de nós autênticos assassinos da nossa língua.
Iniciei um texto do que eu pretendia que fosse o conto com que eu concorreria ao concurso que o amigo dirige, mas depois não gostei do rumo que estava a levar e parei. Para além disso ligeiros incómodos no orgão mais importante quando pretendemos criar algo "A CABEÇA" impediram-me de continuar.
Em todo o caso a semente está lançada e tão logo a oportuniidade se proporcione deitarei mão à obra e não sendo possível neste concurso será em um outro que o meu amigo certamente num futuro mais ou menos próximo realizará.
Não pedi licença ao Luis para lhe responder neste espaço, mas certamente, que ele não porá qualquer objecção.
Um abraço do confraade e amigo
Rip Kirby
Eu estava precisando dessas regras. Obrigada por tê-las publicado!
Abraços
Enviar um comentário