quinta-feira, 1 de novembro de 2012

JARTURICE OU... JARTURADA - VIII




Bons Amigos:
Em recolhimento, pela memória e em homenagem aos "Sherlocks"
que já se transferiram, para as "secções" da ETERNIDADE, aí vai
mais uma produção do saudoso e insubstituivel: SETE DE ESPADAS.
Abraços do    Jartur

TORNEIO DE PREPARAÇÃO
3.ª Problema
A MORTE PASSOU PELO RCW 1
Original de: “SETE DE ESPADAS
       Publicado na secção POLICIÁRIO em: 01.Novembro.1992

Há um bom par de anos, existia em Portugal, com sede em Lisboa, um semanário monárquico (muito antes do 25 de Abril de 1974), que tinha por título “O Cronista”.
Nessa altura começava eu a escrevinhar umas tantas ideias sobre a temática policiária e lembro-me de ter escrito um problema passado com locutores de rádio e com uma “chave” que estava logo à vista… Pelo menos parecia-me isso, claro, porquanto, e pouco naturalmente, os leitores não foram dessa opinião, pois, nas poucas dezenas de soluções que teve, nem uma só se aproximou daquilo que o autor pretendeu com a sua “chave”.
Eu não acredito muito em plágios, mas sei que eles existem… Tal e qual o outro das bruxas… Por outro lado, também não acredito que uma empresa norte-americana, cheia de talentos e capitais, especialista no fornecimento neste género de passatempos para o mundo inteiro, se fosse servir da minha “chave” mais de 30 anos depois, de eu a ter usado em “O Cronista”… Mas o que é facto é que isso aconteceu… Não me perguntem por quê. Aconteceu.
Eu começava assim a minha especulação literário/policiária:
“Naquela tarde cinzenta as nuvens arrastavam-se baixas e uma humidade pegajosa envolvia tudo e todos.
Na quietude do seu gabinete de trabalho, Ruy de Villalba olhava o exterior, numa visão adulterada devido às mil gotículas que quase embaciavam os vidros das amplas janelas. O seu campo de visão era, por outro lado, extremamente baixo, devido a o “plafond” também o ser…
A rádio, quase em surdina, trazia até ele as vozes bem timbradas daquele casal de locutores que tinha o condão de “agarrar” o ouvinte fazendo-o sonhar… E Ruy, naquela tarde modorrenta, quase sonhava… Até que…
E no texto americano já referido, o problema começava assim:
“O nosso detective encontrava-se no enorme estúdio de emissão de rádio, na altura em que os maqueiros da polícia vêm buscar o corpo da cantora Dorothy Dream, morta a tiro cerca de meia hora antes. E quando a pesada porta almofadada e à prova de som se fecha automaticamente após a saída do corpo, dos maqueiros e do polícia, o nosso investigador volta-se para as três pessoas presentes no estúdio e dirige-se a…
E no “meu caso” também havia três suspeitos. Assim…
“O detective Ruy de Villalba olhava lenta e atentamente, um a um, os três suspeitos reunidos no estúdio, onde os “pratos” agora estavam em repouso e os microfones fechados… Depois, voltando-se para o locutor que às quinze horas, com a Ivone, estava “no ar” com o tal programa que fazia sonhar os adolescentes e os mais maduros…

- O senhor disse-me há pouco que deixou a Ivone aqui, sozinha, enquanto se deslocava ao bar para tomar um café…
- É verdade. Saí cerca das quinze e vinte, passei pelo corredor, subi a escada e fui ao bar, onde bebi um café, servido pela Fátima. Estava lá, também, o Simões, que saiu logo a seguir…
Villalba voltou-se para este, o técnico Jorge Simões, e viu-o com um aspecto perturbado, fumando nervosamente um cigarro.
- Sei que saiu lá de cima cerca das quinze e vinte e cinco. E depois?
- Tinha acabado o meu serviço e saí. Desci a escada, passei pelo corredor e, ao passar pela ampla parede envidraçada do estúdio, vi a Ivone na locução e apresentação de discos… Desci para o piso inferior (que é o rés-do-chão, como sabe) e cruzei-me, na entrada, com a Filipa…
Filipa era uma jovem bonita, alta, elegante e loura, colaboradora da Rádio, que respondeu o seguinte:
- Cruzei-me, de facto, com o Jorge, que saiu. Subi ao primeiro andar e aqui, ao passar pelo corredor, não vi ninguém no estúdio de locução e pensei que tinham experimentado já a “fita magnética”, que lhes irá deixar mais tempo livre… Subi ao bar, tomei um café e desci. Foi ao entrar no corredor que ouvi o tiro. Corri para o estúdio, de onde me parecera vir o ruído, empurrei a porta automática e pesada e encontrei a pobre Ivone aqui, caída, com aquela arma na mão. – E apontou um revólver agora pousado na mesa de montagem…
- Desci atrás de Filipa e quando me dirigia de novo para aqui atalhou o locutor, colega de Ivone – ao entrar no estúdio encontrei a Ivone caída e a Filipa debruçada sobre ela e a chorar…”
Quanto ao texto americano, com os respectivos nomes em inglês, claro!, pouco mais acrescentava, mas indicava-nos um móbil a apontar para um dos suspeitos… E no “meu caso” eu acrescentava:
“A arma não era conhecida de nenhum dos presentes, como afirmaram. Tinha as impressões digitais da locutora. Ivone era uma moça alegre, sempre bem disposta, optimista a cem por cento e comunicativa. Ninguém lhe conhecia qualquer depressão que a levasse àquele acto. O “furo”, chamuscado, estava no parietal direito…
No gabinete do inspector Gervásio, o processo ia ser fechado e levar a chancela de “Suicídio”… se Ruy de Villalba não entrasse quase a despropósito, violentamente, a atroar os ares:
- Já sei quem matou!...
E dezenas de anos depois, perguntamos:
- Por qual das hipóteses ventiladas opta: suicídio ou crime?
- Porquê? Explique convenientemente a razão da sua escolha.         


NOTA:
Coincidindo o envio desta “efeméride”, com o dia de Fiéis Defuntos, permitam-me relembrar a memória do “Grande Chefe das Forças Policiárias”: «SETE DE ESPADAS».
                Jartur
      
Um grupo de enorme "peso policiário", nossos modelos e heróis! da esquerda: M. Lima; Sete de Espadas; Inspector Aranha; Inspector Moisés; Jartur; Detective Misterioso; Dr. Aranha e Big Ben

Solução do 3.ª Problema
A MORTE PASSOU PELO RCW 1
Solução apresentada por: ANN METAL ROSE (Lisboa)
                                                           Publicado na secção POLICIÁRIO em: 13.Dezembro.1992

A partir das declarações dos três suspeitos, conclui-se o seguinte: O locutor que estava com a Ivone “no ar” às 15h, e saiu para tomar um café no bar, não é o assassino, pois a Ivone ainda foi vista com vida pelo técnico Jorge Simões, que saiu do bar assim que o locutor aí chegou. Assim, restam dois suspeitos: Jorge Simões e Filipa.
O técnico diz que, quando passou pelo corredor e olhou para dentro do estúdio, viu a Ivone na locução e depois cruzou-se com a Filipa na entrada do edifício.
Quanto às declarações da Filipa: esta confirma que se cruzou com Jorge Simões e diz que, quando olhou para dentro do estúdio, não viu ninguém e continuou o seu caminho até ao bar. Afirma que, depois de tomar um café, desceu as escadas e, quando estava no início do corredor, ouviu um tiro que lhe parecia ter vindo do estúdio. Depois, encontrou a Ivone morta.
Mas será que a Filipa diz a verdade? Como é que ela pode afirmar que ouviu um tiro vindo do estúdio? Na verdade, isso é impossível pois o estúdio é à prova de som, como é afirmado no texto americano plagiador: “E, quando a pesada porta almofadada e à prova de som se fecha automaticamente…”
Assim, conclui-se que a Filipa mente! E mesmo sabendo-se que o locutor, colega da Ivone, tenha descido logo atrás da Filipa e se tenha dirigido para o estúdio, encontrando a Ivone caída e a Filipa a chorar, não iliba de maneira nenhuma esta última.
Filipa assassinou a Ivone e fê-lo antes de ir tomar o café. Assim que entrou no edifício, subiu as escadas e entrou pelo corredor. Viu a Ivone sozinha no estúdio e resolveu entrar. Estava uma música “no ar” e o microfone estava fechado. Filipa tira a arma da sua bolsa e desfere o disparo mortal no parietal direito da Ivone. Ninguém no edifício ouviu nada e também nenhum ouvinte da rádio deu pelo sucedido. Filipa teve ainda tempo para limpar a arma (caso não tenha usado luvas) e colocá-la na mão da Ivone para dar a entender que tinha havido um suicídio. E, para que o crime fosse perfeito, assim que a música acabou, Filipa põe uma fita magnética para que não houvesse interrupção no programa de rádio. Seguidamente sai do estúdio e vai tomar o seu café ao bar. E depois já nós sabemos o resto da história.
Com tudo isto, o hipotético suicídio da Ivone fica fora de questão, pois, para além de não haver razões para isso ter acontecido, foi encontrado um dos suspeitos a mentir, o que encerra automaticamente o caso.
E pronto, mais um caso foi resolvido pela detective Ann Metal Rose. Despeço-me até ao próximo desafio, que será a prova n.º 4.
Até breve,                 
                                                        Ann Metal Rose 

  

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