domingo, 11 de novembro de 2012

POLICIÁRIO 1110



 Continuamos hoje um retrato necessariamente breve sobre a Literatura Policial, sob uma perspectiva pessoal, tendo a preocupação de tentar focar os autores, personagens e obras que tenham contribuído para uma evolução do próprio Policial.
Quando olhamos para os clássicos, para o modo como organizaram os seus romances e desenvolveram as tramas que “agarram” leitores de todas as épocas e de todos os pontos do mundo, ficamos com a noção perfeita do “marketing” que está subjacente à forma (mais do que ao conteúdo) como é feita essa construção.
Evidentemente que o Policial actual é completamente diferente, fez o acompanhamento dos tempos, fez o seu trajecto para se adequar às novas “regras” que os leitores estabelecem para seguirem os casos relatados. Hoje em dia, quem teria paciência para ler um romance policial longo, descritivo, maçudo, se o tempo disponível para a leitura é o de uma viagem de metro ou de autocarro?
Falamos, como é óbvio, de leitores comuns, não muito preocupados com as características técnicas dos casos descritos, mas mais com as consequências da decifração de cada caso.
Esta situação levava-nos a uma discussão sobre os modos de encarar e ler o Policial, que não cabe aqui e agora, mas a que voltaremos quando tal se propiciar.

Entretanto, prosseguimos a nossa resenha histórica:

Literatura Policial – Parte II

Nos anos 20 do século passado são as mulheres que mais se distinguem, com Agatha Christie e Dorothy Sayers que nos apresenta Lord Peter Wimsey.
Edgar Wallace cria o pequenito e perspicaz Mr. Reeder; Margery Alling oferece-nos Albert Campion; Ellery Queen um detective “caixa de óculos” com o mesmo nome; Dashiell Hammett um modelo de detective particular à sua semelhança, Sam Spade; o americano John Dickson Carr – também Carter Dickson -, especialista de enigmas tipo “quarto fechado” que trata como ninguém, traz-nos o Dr. Gideon Fell; Simenon assume a sua revolta contra os detectives por conta própria e faz nascer o Inspector Maigret, mais tarde Comissário; Rex Stout avança com o oposto de Maigret, um tipo gordíssimo que nunca sai de casa, Nero Wolfe, que conta para tudo com o seu braço direito Archie Goodwin; na América, Erle Stanley Garner cria Perry Mason, um advogado de sucesso.
Os anos 30 são atravessados por todos estes heróis e autores, com altos e baixos. Finalmente pode dizer-se que o romance policial é já tão americano como europeu.
Nos anos 40 assiste-se ao aparecimento de antologias, uma inglesa, a “Line Up” e uma americana, a primeira coordenada por Ellery Queen, que reune, de uma só vez, Hammett, Chandler e Ellery.
Estes terão sido os anos de ouro do romance policial, tal o número e qualidade de autores e personagens, que verdadeiramente desenvolveram a sua actividade ao longo de décadas, renovando sempre as suas propostas e actualizando processos. Tal longevidade, ao invés de criar saturação, produziu um efeito contrário, seduzindo legiões de novos leitores. O velho romance sem sentido, aventureiro e sensacional, era agora respeitado. Cada vez mais catedráticos e homens de letras faziam incursões no mundo do romance policial.
Os novos rumos conduzem-nos a uma indefinição sobre o que poderá vir a ser o Romance Policial do futuro.
O processo criativo que aconteceu nos anos de ouro, ainda não deixou de estender os seus tentáculos e ninguém hoje consegue ignorar Sherlock, Poirot, Ellery ou Maigret, que continuam omnipresentes e apresentados como modelo, apesar das vetustas idades.  Novos modelos de violência protagonizados por Mike Hammer de Mickey Spilane ou Lew Archer de Ross Macdonald, ao bom estilo de “olho por olho...” não parecem trilhar o caminho do futuro.
Resta-nos como verdadeiro bálsamo para o espírito, a magnífica obra policial global de Manuel Vásquez Montalbán, escritor catalão multifacetado que é já um modelo da nova Literatura Policial.

Por cá, o Policial segue as tendências, a alguma distância, claro. Colecções como a Vampiro, Xis, Romano Torres e outras, traziam tudo o que de melhor se publicava no mundo, criando em muitos leitores o desejo de escreverem os seus romances. O policial português é rico naquilo que se conhece, já que muitos autores foram obrigados a optar por pseudónimos para poderem publicar as suas obras. Alguns são hoje conhecidos, outros, possivelmente nunca o serão. Um exemplo bem flagrante é o de Mário Domingues, historiador, jornalista, editor e tradutor, que usou qualquer coisa como cerca de 150 pseudónimos, a maioria dos quais desconhecidos hoje em dia, o que o transformou no português que mais romances escreveu e editou!
Aquele que é considerado o pai do romance policial português é Francisco Leite Barros, nascido em Lisboa no ano de 1841 e falecido em 1886. A coincidência de ter nascido no mesmo ano em que Pöe publicava a primeira novela policial, parece ter influenciado este autor, que escreveu “O Incendiário da Patriarcal”, “O Crime de Mata Lobos”, “O Crime do Corregedor” e “As Aventuras do Homem Pardo”.
Nome fundamental do policial português é o de António Andrade Albuquerque, que assina as suas obras com o pseudónimo de Dick Haskins e que é o autor português mais editado no estrangeiro, com obras traduzidas em dezenas de países e passadas para o cinema.
Também Reinaldo Ferreira merece destaque com os pseudónimos Repórter X e Repórter Kiá. Com uma obra extensa, deixou marcas no policial português, nas décadas de 20 e 30, até ao seu falecimento em 1935.
Roussado Pinto é outro autor importante, não só pela extensa lista de cerca de 75 pseudónimos que usou até à sua morte, mas também pelo modo como organizou antologias policiais de boa qualidade. Ross Pynn é o seu pseudónimo mais conhecido.
                                                                                                                     (CONTINUA) 

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